Herdeira da Lua escrita por Julipter, Julipter


Capítulo 17
Capítulo Dezessete – Les raisons pour Isabela


Notas iniciais do capítulo

Geralmente eu posto na sexta, mas esse aqui já tava pronto e essa sexta não vou conseguir entrar no Nyah, então... Capítulo adiantado pra vocês!
Espero que gostem ♥



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Itália

—Ah, olha pra você! Olha pra ela, Matteo, você está olhando?

—Estou olhando, Adrien. – Matteo respondeu, fazendo uma careta longe do campo de visão da webcam.

—Quando eu cheguei aí você estava tão magrinha! Olha só como engordou! Está até menos pálida... Você parece tão saudável.

—Eu juro que estou saudável. – Itália disse, segurando o riso. – Pare com essa coisa de irmão mais velho.

—Mas é o que eu sou, né? E aí, parou com aquelas sopas? E conseguiu fazer o feijão?

—Minhas sopas são ótimas! E o feijão... Está em processo.

—Certo, se você está dizendo. Mas... – Adrien então, passou a falar em francês. – Você falou com a Isabela mais alguma vez? Eu estou atrás de um advogado e conversei com ela, mas ela nem mencionou você diretamente.

—Tenho ignorado as mensagens dela. – Itália respondeu, na mesma língua em que o irmão falava.

—Por quê?

—Eu... Não sei. Acho que guardei rancor. A naturalidade com que ela dizia ter me deixado, Adrien, eu não sei se consigo.

—Você precisa tentar. É importante, pra que eu consiga te trazer de volta. Sei que ela não é a melhor pessoa do mundo, mas, por favor.

Itália suspirou.

—Eu vou pensar. – Ela olhou para Matteo, que antes mexia no celular. Ele retribuiu seu olhar e andou até ela. – Tenho que ir trabalhar. Te amo.

—Tudo bem. Também te amo.

Matteo alcançou a cadeira e abraçou Itália por trás, a fazendo se arrepiar, como sempre.

—Até, Matteo. – Adrien disse, e Matteo acenou com a cabeça antes que Itália desligasse a webcam.

Ele apertou os braços ao redor da garota e sorriu, distribuindo beijinhos na bochecha dela.

Itália riu.

—Vamos, eu preciso ir pro café. E você precisa estudar.

—Ah, vamos ficar aqui mais um pouquinho.

—A dengosa aqui sou eu, lembra?  - Ela disse, se levantando. – Vamos, vamos, vamos.

—Tudo bem! – Matteo se deu por vencido. – Parece que alguém só quer me usar de motorista.

—Bem, isso é só um bônus. – Ela provocou, o empurrando para a porta. – Eu volto logo, Cheshire!

Eles se dirigiram ao estacionamento.

—O seu gato me odeia.

—Relaxa, ele odeia todo mundo. Menos a mim! – Itália disse, convencida, entrando no carro.

—Primeiro o Leonardo. Agora esse gato!

—Leo nunca te odiou!

Houveram alertas, é claro. Ele se preocupou. Afinal, teoricamente, Leo “conhecia” Matteo a mais tempo que Itália. Mas conforme eles foram se aproximando, percebeu duas coisas: Itália era teimosa demais e não lhe dava ouvidos; e Matteo não era tão ruim. Não é como se fossem grandes amigos agora, mas conseguiam conversar e se dar bem. Além disso, ele não fora o único a perturbar Itália com o assunto “Matteo”. A lista incluía Julia, Adrien e até Alice.

—Ah, não? – Matteo retrucou, com aquele sorrisinho irônico e irritante.

—O único responsável pela fama que você tem é você mesmo, Matteo, não se esqueça disso.

—A culpa é mais de Thiago do que minha. – Ele tentou.

—Ah, então quer dizer que depois dos rumores de “ninfomaníaco”, você não ficou com várias e várias garotas? – Matteo se calou. – Foi o que eu pensei. – E Itália sorriu, vitoriosa.

A relação deles continuava praticamente a mesma.

—Como vão as sessões com o Jorge? – A garota perguntou, depois de um tempo.

—Ah, o de sempre. Eu fico lá em silêncio até que o horário acaba. Então vou pra casa, pergunto a minha mãe por que raios ela pediu que as sessões continuassem, ela foge do assunto e me dá alguma gordice pra comer. E eu nunca como, porque o Pedro rouba!

—Ele está em fase de crescimento. – Itália contestou, rindo.

Percorreram o resto do caminho em silêncio, e de vez em quando Matteo cantarolava as músicas que passavam na rádio. Ele se irritava com os cortes que faziam nas músicas que eram “muito grandes”.

Itália ouvira uma vez que, quando se está com alguém que já lhe é confortável, que lhe faz bem, não é preciso falar o tempo todo. O silêncio basta.

De repente, If You Ever Want To Be In Love começou a tocar. Sem se olhar, os dois sorriram.

Saw you today after so much time, felt just like it used to be.— Matteo cantou a plenos pulmões, não dando a mínima para as buzinas infernais que ecoavam no transito.

Talking for hours about a different life, surrounded in memories. We were close, never close enough… — Itália continuou, não se dando ao luxo de fazê-lo em tom tão alto, como o cantor ao seu lado.

Estavam pensando exatamente na mesma coisa. Itália lembrava-se de se olhar no espelho e deparar com um cabelo horrendo devido a umidade. De abrir a porta e dar de cara com Matteo. De chamá-lo de gatinho do banheiro, derrubar o celular, ser convidada para dançar e fazer isso ao som da música que tocava agora.

I’ll come around, — Eles cantaram juntos, se encarando por um momento. Matteo voltou os olhos para a estrada, mas Itália não se mexeu. – if you ever wanna be in love. I’m not waitting, but I’m willing if you call me up. If you ever wanna be in love, I’ll come around!

A música continuou a tocar, e eles riram como os idiotas que eram.

—Chegamos. – Ele anunciou. – Acho que vou pra casa, assim consigo me concentrar melhor.

—Tudo bem. – Itália inclinou-se para beijá-lo rapidamente. – Obrigada pela carona.

E saiu do carro.

Lucy estava ali, no balcão, conversando com Henri. Não que fosse uma situação incomum.

Bonjour. – Itália cumprimentou, sorrindo para os dois antes de adentrar a cozinha. – Amanda!

—Nossa sessão é aqui. – Amanda disparou.

—É... O quê?

—Jorge vai precisar da sala dele a semana inteira, então nossa conversa é aqui hoje. – Ela explicou, entregando uma bandeja de massa para Itália. – Eu te passo o frango e você finaliza a coxinha.

—Hum, ok. – O jeito impulsivo de Amanda assustava ás vezes. – Então... Eu falei com Adrien hoje. Contei que tenho evitado Isabela, e ele pediu pra eu tentar conversar com ela.

—Certo. Mas, por que você a tem ignorado mesmo?

—Bem, ela disse com todas as letras que não se importava comigo quando me deixou, lembra? Eu te contei isso. Porque não deixar a Europa era extremamente mais importante do que criar a filha dela!

—Aham. Mas, e o seu pai?

—O que tem ele? – Amanda a encarou com uma sobrancelha arqueada.

—Ele não te procurou também?

—Não. Quer dizer, isso importa?

—Itália, a Isabela foi atrás de você uma vez. Você escolheu não ir com ela. – A professora cruzou os braços.

—Isso porque eu já tinha uma família.

—Família para a qual Isabela lhe entregou. Entende? Ela não te deixou a mercê do escuro, num orfanato ou te vendeu. Lhe deixou com alguém que ela conhecia, alguém que ela sabia que cuidaria muito bem de você. Ela foi embora, mas seu pai também foi, Itália. Por que só guarda rancor de um deles?

—Eu não sei os motivos dele. – Itália encarou a massa em suas mãos.

—E os motivos dela?

—Ela... Simplesmente não me queria. Não é justo.

—O que não é justo é você pensar que ele poderia ter algum motivo mais nobre. Itália, ele não quis o sobrenome dele na sua certidão. Ele não te quis também. Pode imaginar o que sua mãe sentiu? Se ele não sente a obrigação de estar presente, por que eu tenho que sentir? Por que não posso ser livre também? Ela seria deportada com você ainda recém nascida, e iria te criar em situações precárias aqui. Mas ela te deixou lá. Você foi bem criada, e hoje consegue até morar sozinha. É claro que nenhum tipo de abandono é justificável, mas tente pensar no lado dela. Você esteve bem com isso  vida toda, por que todo esse rancor agora?

Amanda tocou o ombro da garota, e só então percebeu que a mesma começara a chorar.

—Me desculpe, não quis ser rude. – Amanda a abraçou. – Mas você entende que tem sido infantil?

—Eu quero ser infantil, Amanda. – Itália a apertou. – Eu tenho dezesseis anos. Não quero pagar aluguel, não quero trabalhar pra alimentar meu gato. Eu quero morar com os meus pais e estudar pra faculdade, fazer a minha sopa e saber que minha família está em casa quando eu for dormir. Eu não queria crescer rápido assim.

Ela soluçava e sujava a camiseta de Amanda com a massa em seus dedos.

—Ninguém quer, meu amor. – A mais velha acariciou os cabelos de Itália. – Vai melhorar, tudo vai melhorar. Eu prometo.

(...)

—Quer dizer, o show é amanhã e eles nem trouxeram os instrumentos ainda! Ah, Itália, tem algo que não estão me contando. Eles foram convidados pra tocar em outro lugar, eu tenho certeza. Mas, por que não contar? É uma coisa boa! – Júlia gesticulava com as mãos, andando para lá e para cá pela cozinha enquanto roubava um donnut quase pronto.

—Isso era de um cliente.

—Eu sei que vocês têm mais congelados! – Ela acusou, mordendo o pobre donnut.

—Julia, fica calma. Eles vão trazer os instrumentos.

—Não me peça para... – Ela parou de mastigar. – Ouviu isso?

—Parece o Téo. – Itália constatou.

—É, parece o... Téo... – Julia pareceu entrar num transe e saiu da cozinha.

Itália podia ouvir Téo cantando, sem nenhum instrumento. Só ele e sua voz. Provavelmente estava passando o som do microfone.

Quando o segundo sol chegar

Para realinhar as órbitas dos planetas...

Itália espiou a área dos clientes. Julia não tirava os olhos do loirinho cantante em cima do palco.

Ridículos, ela pensou. Esses dois são ridículos!

—Você ouviu? – Julia perguntou, voltando para a cozinha. – Cássia Eller que me perdoe, mas a voz dele...

—Julia. Para com isso.

—O quê?

—Essa bipolaridade em relação a ele, pelo amor de Deus! Você gosta dele, aceita isso logo. Não precisa dizer pra ele, nem pra ninguém, mas por favor, seja capaz de dizer isso pra si mesma. – Ela colocou um café e um croissaint numa bandeja. – Com licença.

E deixou a cozinha.

—Uau. – Foi a única coisa que Julia disse, observando a amiga sair.

(...)

Tudo bem Itália, não é porque você finalmente está com o Matteo que precisa obrigar todo mundo a confessar seus amores.

Foi o que Leo disse. Antes do jogo. Ele tinha razão, sim, mas ela não pediu para Julia confessar nada. E elas não brigaram. Mas, de qualquer forma, ele tinha razão.

Então ela mandou uma mensagem para Julia pedindo desculpas.

E logo ali, estava o contato de Isabela.

—Então? O que acha? – Leo sorria, empolgado.

—Desculpa, o quê? – O sorriso dele diminuiu um pouco.

Era sexta feira, e eles estavam na quadra do colégio.

—Não sei por que eu ainda tento. – Balançou a cabeça negativamente. – Eu estava perguntando se tudo bem a festa pós jogo do sábado ser na sua casa. Se vencermos.

—Na... Na minha casa?

—O certo seria na casa do capitão do time, mas você sabe que a minha mãe me mataria. E pra esconder isso eu deveria chocolate pros meus irmãos pelos próximos cinco anos.

—Ah, eu não sei, Leo... – Itália mordeu o lábio inferior, visivelmente apreensiva.

—Vamos, por favor. Não vai ser muita gente, eu prometo. E você não tem que comprar nada, nós levamos.

—Mas é óbvio que eu não vou comprar nada! – Leo sorriu e pegou as mãos dela.

—Então isso é um sim?

Itália bufou.

—Tá bom. Mas... Mas vai acabar exatamente a uma da manhã! E... Se o Cheshire atacar alguém, não me responsabilizo por nada e ainda rio muito do sujeito!

—Você é a melhor amiga do mundo! – Leo depositou um beijo na testa dela e correu para a quadra.

Itália posicionou os cotovelos sobre os joelhos e apoiou a cabeça nas mãos, numa careta aborrecida.

—Eu sei.

Matteo (que estava ali o tempo todo) passou o braço ao redor dela.

—Vocês vão, né? Vão me salvar?

—Eu acho que posso. – Julia disse.

Lucy fez careta, balançando a cabeça em negativa.

—Tenho que cuidar do Pedro, minha mãe deu folga pra Clara. – Matteo disse.

—Argh. – Itália soltou.

—Você tem um sério problema em falar não para as pessoas. – Alice constatou, encarando as próprias unhas.

É, eu sei disso também.

—Eu sei como é. – Lucy disse, baixinho. Alice sorriu e apertou as bochechas dela.

—Você é tão fofa! – Matteo riu e Itália sentiu que uma piada interna estava acontecendo ali.

Ela era bem observadora.

—Então, o que vão tocar hoje? – A francesa perguntou.

—O Téo quer cantar O Segundo Sol.— Itália olhou para Julia enquanto Matteo falava. – Depois eu sigo com Lego House, cantamos Stand by Me e a Alice fecha com Too Young.

Alice sorriu, empolgada.

—O resto é o que o público pedir. – Lucy finalizou.

—Eu adoro Stand by Me. – Itália disse.

—Então, no domingo vocês vão tocar em outro lugar, né? Acho que o nome é... Hush, aquele barzinho hipster?

Alice e Matteo se entreolharam de forma culpada.

—Ahá! – Julia gritou, atraindo alguns olhares. – Eu e a Flávia estamos desconfiando desde a semana passada! Eu fucei os seus e-mails, Matteo!

—Você o quê?

—Vocês não podem esconder essas coisas. Acham que iríamos os impedir de tocar lá? Não temos um contrato com o Café da Lili! Gente, eu e a Flávia estamos aí pra apurar essas coisas pra vocês. Caramba. Todos os vídeos postados a partir de agora vão ter o meu contato e o dela. Eles não podem falar diretamente com vocês.

—Você não pode decidir isso! – Alice retrucou.

—Vocês chegaram a discutir o que vão ganhar? O horário que querem tocar? Ou eles mandaram um e-mail dizendo todos os números e vocês simplesmente aceitaram? – Julia estava muito brava. Um pouquinho decepcionada, talvez. Matteo engoliu em seco. – É claro que não. Somos uma equipe, sabia? Temos que discutir essas coisas juntos. Mesmo que eu não conduza um dos instrumentos, só estou nisso pra ajudar, ok? E você não contou nem pra Flávia, Matteo. Ela é sua melhor amiga!

—Sei disso. – Ele disse, apertando um pouco os ombros de Itália. – Desculpa, acontece que é um lugar ótimo pra ter reconhecimento e eu queria responder o mais rápido possível.

—Tudo bem. – Julia suspirou. – Mas fale com a gente da próxima vez. Eu divulgo a Lua porque conheço vocês. Não posso divulgar o que não conheço. Somos amigos também.

Alice e Lucy se encararam, levantaram-se e puxaram Julia pela mão.

—Desculpa! Vem, eu te pago uma Coca. – Disse Alice.

—E pra Flávia também. Ei, olha ela ali! – Lucy saiu correndo, com as outras duas no encalço.

Matteo encostou o nariz na bochecha de Itália.

—Você anda bastante carente, sabia? – Ela provocou, e pode sentir que ele sorriu. O garoto aproximou a boca do ouvido dela.

—Eu descobri por que minha mãe queria que eu continuasse indo à orientação. – Matteo anunciou, com a voz um tanto tristonha.

Itália virou o rosto para ele.

—Descobriu? – Ela questionou, apenas para ter certeza, acariciando a bochecha dele com um polegar. O garoto assentiu.

—Ela acha que...

Foram interrompidos pelo sinal. Matteo suspirou.

Eles não estavam mais na mesma sala, pois Matteo havia atingido o necessário e passado para o segundo semestre do terceiro ano.

—Podemos matar essa... – Itália sugeriu. Ele sorriu.

—Não seja uma garota má, Itália. – Ele brincou. – Tudo bem, nos falamos depois. Ok? Não se preocupe.

Itália suspirou.

—Certo. – Beijou a bochecha dele e foi para a sala.

Eles podiam ser quase opostos, mas se tinham algo em comum, esse algo era os problemas com a família.


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