Herdeira da Lua escrita por Julipter, Julipter


Capítulo 15
Capítulo Quinze – Coleurs d’automne




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Itália

As poucas folhas que restavam cair no outono estavam menos laranjadas e mais marrons. O clima esfriava para um lugar como São Paulo, e as pessoas saíam cada vez mais com mais roupas, enquanto Itália continuava andando por aí com camisas sem mangas.

O inverno estava próximo. O tempo parecia passar mais depressa.

Era domingo. No dia anterior, ela havia dado suas aulas de desenho e alegrado criancinhas. Mas a cada aula, parecia que menos crianças compareciam. Teriam sido adotadas, enfim?

Ela podia perguntar para os do terceiro ano, já que eles visitavam os orfanatos. Sim, faria isso.

Já que estava indo para a casa de Leo, de onde iriam juntos ao Parque Ibirapuera encontrar os outros. Sim, toda aquela galera que estava muito presente na vida dela no último mês, e provavelmente até o fim do ano.

A Lua já havia feito mais dois shows desde o show. Tanto Itália quanto Matteo não entraram no assunto do pequeno feito dele. No entanto, ambos pensavam muito nisso.

Itália não entendera imediatamente. Num instante ela havia pseudo-beijado ela, e no outro, estava cantando Paradise para todo um público naquele Café. “Presta atenção, garota.” Dissera a funcionária nada simpática que a atendeu no dia do atraso, antes de atender duas mesas que acenavam freneticamente para Itália.

Ela não teve tempo de degustar aquilo, de saber como era. Beijar Matteo. E isso a irritou.

—Pelo amor de Deus, Arco-Íris, coloca um casaco.

Itália riu.

Bota casaco, tira casaco. — Ela disse, fazendo os irmãos mais novos de Leo rirem atrás dele. – Boa tarde, Sra. Duarte.

—Oi, Itália! – Cumprimentou, com um sorriso. – Leonardo tem razão, está frio, coloque um casaco.

Leo voltou para dentro da casa.

—Vocês não fazem ideia do quanto está calor perto do que eu me acostumei em Paris. – Informou. – Mas, se insistem tanto...

—Sim, por isso mesmo, essa mudança brusca pode deixar você doente. Vamos, Leonardo!

—Tô aqui, tô aqui. – Anunciou, aparecendo de novo, com um casaco nas mãos e outro no corpo.

—Ótimo. Divirtam-se! – Ela desejou. Então Leo saiu, e sua mãe fechou a porta.

—Você é uma girafa, isso aí vai cair como um vestido pra mim.

—Veste logo, Arco-Íris. – Itália riu e fez o que ele pedia. As mangas cobriam suas mãos, e o casaco ia até as coxas. Pelo menos não era largo. Como seria? Ele era tão magrinho...

Leo estendeu o braço para ela e Itália o enganchou no seu. Andaram assim até o ponto de ônibus.

—Então, amiguinha, quando vamos falar?

—Sobre...?

—Sobre você gostar do Matteo e não fazer nada sobre isso.

Itália riu.

—A situação está inversa aqui, não acha?

—Eu não gosto de ninguém, por isso não faço nada sobre. – Apertou o nariz dela.

—Ele me beijou. – Confessou ela. – Quer dizer, não foi um beijo exatamente, digo... Foi um mero encostar de lábios. No dia de estréia da Lua.

—Foi um selinho.

—É assim que vocês chamam?

—É, é assim que chamamos.

—Então tá. –Ela riu, entrando no ônibus.

—Você já sabia da fama dele quando ficaram amiguinhos, e... Apesar de ele parecer muito mais tranquilo ultimamente...

—Leo, eu sei o que faço. – Segurou numa barra para manter-se em pé. – E eu sei que se preocupa, mas eu me preocupei sobre você e a Julia, e você se machucou da mesma forma. Se for pra acontecer comigo, vai acontecer, independente dos seus alertas. Além disso, é só uma coisa adolescente. Não é como se eu fosse morrer por isso.

Ele olhou para baixo e riu.

—Que foi?

Levantou o olhar novamente para ela.

—Ás vezes você é tão madura, Arco-Íris.

(...)

Lucy e Alice estavam dando estrelinhas na grama. E parecia que Julia estava prestes a se juntar a elas, enquanto Thiago tirava fotos.

Era uma cena tão bonitinha!

—Sabe, esse seu casaco é muito confortável, acho que vou roubar e usar de pijama.

—Então você vai pra escola com ele?

Itália deu um tapa no amigo.

—Sem graça. – Ela deu uma olhada nos demais que já estavam ali, até que seu olhar parou em Julia e Téo. – Mon Dieu.

—O quê? – Leo tentou acompanhar o olhar dela. – Que foi?

—Nada... - Ela riu.

Porém, era muito mais do que nada. A cena era: Julia discutia com o loiro como se sua vida dependesse de não dar a última palavra a ele, enquanto o mesmo sorria como se tudo o que quisesse fosse ouvi-la falar. Por fim, Téo tocou o cabelo dela e Júlia pareceu paralisar por um instante, antes de voltarem a discutir. Então Alice apareceu para estabelecer a paz.

Não era possível que mais ninguém houvesse percebido!

—Corrida até aquela árvore? – Leo desafiou, apontando para uma árvore onde Matteo e Flávia conversavam debaixo.

Itália sorriu para seu adversário e começou a correr.

Então eles correram em direção à árvore cheia de folhas em todos os tons de laranja.

Ela queria ser Thiago naquele momento. Ver aquilo com a perspectiva de alguém que tirava fotos tão bonitas.

Afinal, ali estava ele, tirando fotos.

Itália venceu a corrida, apesar nas pernas longas de Leo.

—O que é que há, velinho? – Ela brincou, e o amigo riu, ofegante. – Voir? Com toda essa roupa não consegue nem se movimentar direito.

—Espertinha. – Falou, se jogando no chão. – E aí, Niara? Flávia.

Matteo e Leo fizeram um high five enquanto Flávia sorria.

—Vocês são uns frescos, aposto que não está menos que dezenove graus. – Ela disse.

—Foi mal aí, européia. – Matteo zombou.

Mas bem que Itália já notara um sotaque diferente...

—Você não é daqui, Flávia? – A francesa perguntou.

Ela negou com a cabeça.

—Sou de Curitiba, no Paraná.

—Ah, no sul. – Itália sorriu ao responder, feliz por saber disso.

—Ui, ela fez a lição de geografia. – Brincou Julia, entrando na conversa.

—Eu disse que ela prestava atenção em umas aulas! – Leo disse para Matteo, como se tivessem apostado algo.

—Pois fiquem sabendo que lá na França eu era uma nerd nata e... – Começaria uma longa explicação sobre como era a melhor da turma, mas Matteo  a interrompeu.

—Pode ser, Leonardo, mas com ela por perto, sou eu quem não consegue prestar atenção em nada.  – Matteo disse.

Itália demorou para assimilar a frase, e quando o fez, corou mais que a Lucy em dia de show por não pensar numa resposta boa o suficiente.

Todos ficaram quietos, com pequenos sorrisinhos no rosto, até que Téo quebrou o silêncio.

—Se acha o galanteador, esse Niara. Você não sabe de nada! – Ele mordeu o lábio e olhou para Alice. – Você tem umas sardinhas tão bonitas, Lice... E esses lábios...

Por um momento Itália achou que Alice teria a mesma reação que ela. Mas, é claro que não. Aquela era a Alice!

—Ah, é mesmo, Medina? – Ela disse, com voz de tédio. – Pois venha aqui provar, e a gente vai ver essa sua masculinidade que você tanto tenta mostrar.

Téo ficou quieto, enquanto todos os outros deram risada.

(...)

Itália não tirava fotos, mas ela fazia desenhos.

Eles tiveram a ideia de fazer algum jogo e sentaram todos em rodinha, um pouco distantes de um banco do parque.

Já Itália não estava muito a fim de ver as briguinhas momentâneas que esse jogo causaria, então se afastou um pouco do grupo e sentou-se no banco, para observar a paisagem.

—É diferente de coisas como o Arco do Triunfo... – Ela sussurrou, falando sozinha, antes de sorrir e tirar um caderno da mochila, que obviamente carregara para lá também.

E desatou e a desenhar, modificando a paisagem ao seu modo.

Quando estava terminando, parecia que faltava algo. Ela sorriu com a ideia.

—Tá desenhando o quê? – Sentiu um arrepio ao ouvir aquela voz conhecida ao pé de seu ouvido.

Itália virou a cabeça, mas os olhos de Matteo estavam em foco na folha.

Aos pés da árvore, ela desenhava uma guitarra vermelha.

—É muito bonito. – Ele sorriu, pulando o encosto do banco e sentando-se ao lado dela. – Mas... Eles não combinam nada.

—São quase opostos. – Ela concordou, voltando a desenhar.

—Mas estão juntos.

Itália riu.

—É, eles estão juntos.

Matteo deitou a cabeça no ombro dela.

—Para sempre? – Perguntou.

—Não acho que exista para sempre, sabe, como nos contos de fadas. Alguém pode tirar a guitarra dali a qualquer momento, e um dia... A árvore pode perder as folhas e cair.

—Mas eles sempre terão alguém por perto. A guitarra nunca funcionará sozinha, e a árvore sempre precisará da água e do sol.

—Então eles não precisam um do outro. – Itália olhou para ele, fazendo com que levantasse a cabeça novamente.

—Não.

—Mas podem fazer bem um ao outro enquanto estão juntos.

— É, eu acho que podem. – Itália o encarou, com um sorriso e um olhar duvidosos. – Bem que isso aqui podia ser um conto de fadas.

Eles riram, e Matteo se inclinou na direção dela. Itália não hesitou desta vez, e de algum modo ele sabia que ela não o faria.

Itália podia sentir a respiração dele, e talvez seu coração finalmente estivesse tão acelerado quanto o dele. Matteo posou os dedos de um lado de seu rosto, se aproximando mais. Itália não pode conter um pequeno sorriso antes que ele selasse seus lábios num beijo calmo, como os das últimas páginas de um conto de fadas.

Os lábios dele eram secos, e Itália imaginava como seria a sensação, por tantas as vezes que o vira arrancar a pele. Mas era muito melhor do que poderia imaginar. Não podia descrever o que sentia. Não sabia dizer como era: beijar Matteo.


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Notas finais do capítulo

Oie! Desculpem pelo capítulo curtinho, mas valeu a oena, né?

Amanhã (sábado), eu vou estar viajando e só vou voltar daqui dez dias. Então, na próxima semana não vai ter capítulo. Mas, não se preocupem, depois disso as postagens voltam ao normal.

Espero que tenham gostado!



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