Herdeira da Lua escrita por Julipter, Julipter


Capítulo 10
Capítulo Dez – Opération catastrophe


Notas iniciais do capítulo

I'M BACK!
Explicações nas notas finais aos interessados :3



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/706833/chapter/10

Itália

A primeira reação de Matteo foi congelar.

Ele ficou com a boca imóvel – o sorriso já parecia maníaco, com olhos de quem não queria realmente sorrir – e sem piscar.

—O que você ta me pedindo é impossível.

—Eu só pedi pra você montar uma banda até segunda.

—Hoje é sábado. – Ele contestou.

—Todo mundo de quem você precisa está aqui.

—Não é tão simples assim!

—Então me diz o que é complicado, porque estamos perdendo tempo. Você podia estar recrutando eles agora mesmo. – Itália cruzou os braços, contrariada. Ele não ia mesmo ajudá-la? É claro que Matteo não lhe devia nada, mas ela pensara...

—Eu já fiquei com a Alice. – Ele colocou as mãos nos ombros dela. – E digamos que o Téo também não vai muito com a minha cara.

—Quer saber? Você tem razão, é impossível. A Lili nem poderia pagar vocês. Eu só achei que música ao vivo traria mais clientes, sabe, uma noite por semana... Mas ninguém trabalha de graça. Foi uma ideia maluca.

Itália sorriu como quem diz ah, tudo bem então.

Matteo vacilou.

Droga, garota.

—Eu dou um jeito. – Ele falou, sabendo que se arrependeria.

Itália já estava saindo dali. Ela o encarou nos olhos e alargou imensamente o sorriso.

—Obrigada! – Abraçou-o pelo pescoço. Tudo que Matteo pôde fazer foi rir e retribuir o abraço. – Vai dar certo. Eu vou fazer dar certo. Vocês vão ver. – Ela prometeu, antes de voltar a sala da oficina de artes, já vazia.

Matteo

O que foi que eu fiz?

Era só o que ele conseguia pensar desde que Itália fugira de seu campo de visão, virando o corredor.

Uma banda.

É claro que, como músico, ele já havia fantasiado essa ideia muitas vezes. Mas nenhum de seus amigos tocava nada, ou cantava. Thiago aliás tinha um gosto musical muito ruim.

Quando ele namorou Alice - namoro? Foi o mês mais longo de sua vida -, a tecladista dera a ideia algumas vezes, mas ele nunca levou muito a sério.

E veja só, agora ele estava precisando de Alice. Para concretizar um favor que Itália lhe pedira. A garota que estava mexendo com ele atualmente.

Um belo desastre.

Mas, como dissera à menina de olhos coloridos enquanto fazia a lição de matemática: ele se livrava dos mais difíceis primeiro.

Então, começou por Téo.

(...)

O rabo de cavalo era inconfundível.

Téo Medina era o típico rebelde sem causa.

Ele estava no segundo ano, o mesmo em que reprovara duas vezes.

Tinha um cabelo loiro que não se preocupava em cortar, mas que devia lhe incomodar de alguma forma, já que ele deixava preso num rabo de cavalo curto. A barba também estava sempre por fazer. Ele não se importava. Usava calças rasgadas e camisetas pretas quando não eram de alguma banda.

Matteo invejava a sua habilidade de não se importar.

—Medina! – Ele chamou, preparado pra levar um soco. O loiro se virou, nada enfurecido. Confuso, até.

Suas sobrancelhas estavam sincronizadas em duas linhas retas, como sempre. Aquela carranca séria.

—Niara.

—E aí, tudo na paz? Como vai o boxe?

—Diz logo o que quer comigo que aí eu penso se soco o seu nariz ou o seu olho. – O rapaz cruzou os braços.

—Certo. Quero você numa banda comigo. – Foi direto ao ponto.

Téo não pereceu surpreso. Na verdade, pareceu indiferente.

—Hum. Nós e quem mais?

—É... Lucy e Alice. – Se elas aceitarem, completou mentalmente.

—E o que eu ganho com isso?

Matteo suspirou. O quê? O que ele ganha?

O que sobrou da minha dignidade.

—Garotas adoram caras em bandas, você sabe. – O loiro revirou os olhos.

—Não é suficiente.

Eu pensei mesmo que você fosse gay, Matteo quase disse. Mas não, não estrague tudo agora, você está quase lá.

—Te dou trinta por show. – Ele percebeu que parecia pouco, e logo acrescentou.  – Considere que vamos nos apresentar uma vez por semana.

Téo passou os dedos da mão direita pela barba, pensando na proposta.

—Tudo bem. – Mesmo assim, ainda não parecia completamente convencido. – Eu aceito.

—Esteja na minha casa amanhã umas... Quatro horas. Da tarde. – Dã.

Téo riu debochado e revirou os olhos mais uma vez antes de voltar para a sala em que dava uma aula de canto.

Nós já fomos amigos.

Nível hard completo.

Hora do nível médio.

(...)

Alice não estava na sala dos tecladistas. Ninguém estava, aliás. A primeira aula dela já havia acabado. A morena estava no refeitório.

A garota de traços indígenas e lábios cheios usava, como sempre, umas roupas que não lhe serviam bem. A calça era jeans e larga demais, parada no devido lugar graças a um cinto. A camiseta era curta demais, deixando a barriga à mostra. Se bem que isso devia se proposital. E os típicos coturnos marrons.

—E aí, Lice? – Matteo cumprimentou, sentando-se ao lado dela.

Era estranho ver o refeitório vazio.

Alice empurrou o saco de salgadinhos na direção dele. Matteo não recusou.

—Então, eu quero te fazer uma proposta.

—Não estou interessada. – Ela disse friamente, com a voz melodiosa e enfiou mais um Doritos na boca.

‍—Mas eu nem...

—Nada que venha de você me interessa.

Ele precisou rir.

—Não foi isso que você disse quando nós...

Ela arregalou os olhos e enfiou um punhado de salgadinhos na boca dele.

—Não. Estou. Interessada.

Alice ameaçou se levantar, mas ele segurou seu pulso. Ela se dignou a esperá-lo engolir o salgadinho.

—Você prefere me deixar ir ou levar um chute nas bolas!? – Ela estava ficando sem paciência. E Matteo achava extremamente engraçado.

—Nós dois sabemos que você não é capaz. – Ele sorriu. – Vai me deixar falar ou não?

Ela bufou e fez que sim com a cabeça.

—Eu, você, Téo e aquela menina de cabelo rosa. Uma banda. Topa?

—O nome dela é Luciana. – Declarou, irritada. – E ela é uma garota muito legal.

—Eu sei, só achei que você não soubesse.

 —Tá, tudo bem. Eu toco na sua banda.

—E canta?

—Se precisar. Quer dizer, o Téo canta.

Eu também, e você sabe!

—É. Ele canta. – Matteo resmungou. – Vai pra minha casa amanhã ás quatro.

E deixou o refeitório.

(...)

Aqui estamos, eu, o Nível Fácil e um cara.

É, um cara. Que seja. Ele não é importante.

—Luciana? – Ela levantou os olhos, antes cravados nas partituras.

—Por favor, não me chama pelo meu nome. Só Lucy.

Ela falava baixinho.

O garoto ao lado dela riu.

Que risadinha mais apaixonada.

Lucy tinha cabelos curtos, nos ombros como os de Flávia. Mas eram cor-de-rosa como algodão doce. Era branquinha, tinha olhos castanhos e os lábios estavam marcados com vermelho.

Ela usava um suéter comprido com um unicórnio estampado na frente. Por baixo, uma calça legging preta e sapatilhas para completar.

Matteo olhou para cima, desejando que ali houvesse um céu. Mas era apenas um telhado mesmo.

Parece que ninguém em sua nova banda era muito normal.

—Então, Lucy. Eu te acho uma ótima baterista. – Ele sorriu. – E estava pensando se você não quer fazer parte da minha banda.

—Você tem uma banda? – Ela parecia surpresa.

—É recente. – Matteo deu de ombros.

—Ah. Então... – A garota entrelaçou os dedos das mãos em frente ao corpo e mordeu o lábio. – Obrigada, mas eu não acho que...

—Ela topa. – O garoto pronunciou.

Lucy olhou-o irritadiça.

Ele tinha a pele escura e os olhos eram verdes. Usava um boné para trás, mas seu cabelo parecia bem curto. Do jeito que cortam quando você vai para o exército.

—O quê? Vai ser ótimo pro seu medo de palco. Você sabe. Precisa tocar em público uma hora, Lu. – Ele colocou uma mexa de cabelo dela atrás de sua orelha.

É fofura demais pra mim.

Matteo cruzou os braços, impaciente. Resolveu não prestar muita atenção na conversa do casal.

—Tudo bem então. – Ela disse, vencida. Matteo sorriu, vitorioso e resistiu ao impulso e abraçá-los ali mesmo. – Eu toco.

—Isso. Ótimo. – Matteo pegou um giz e escreveu na lousa o endereço. – É a minha casa. Esteja lá amanhã ás quatro.

—Ele pode ir? – Ela apontou o garoto com o polegar.

Ela deve precisar muito dele.

—Claro. Claro, pode sim. Vejo vocês lá. E obrigado!

Quem diria. Missão cumprida!

E ele pensando que seria difícil...

Mas teria que pagar Téo.

Tudo bem. Detalhes, detalhes.

 Matteo pensou na oficina de artes para dar a notícia a Itália, e Henri estava lá.

—O que você esperava? Eu estudei isso no sétimo ano! – O loiro dizia. Os dois rindo.

—Mas é tão básico, tipo, azul mais amarelo igual à verde.

—Atrapalho? – Matteo chamou a atenção dos dois.

Ele estava tentando parecer irritado, mas Itália tinha tinta roxa na bochecha. Então ele não pôde conter o sorriso.

—Matteo! – Ela se aproximou e o puxou pelo pulso até a mesa. Henri lhe deu um sorriso simpático.

Filho da mãe.

—E então? Conseguiu? Pode me falar se não, sabe, eu vou lidar perfeitamente bem...

—Você e essa mania de começar a falar e não parar. – Ela riu e logo voltou a olhá-lo com expectativa. – Eu consegui, Itália. Temos uma banda!

Matteo abriu os braços descaradamente, conseguindo o merecido abraço da garota.

—Eu realmente achei que não ia dar certo. – Ela disse. – Mas você conseguiu. Obrigada. De novo.

—Não f...

—Não diga que não foi nada demais.

Ele pigarreou.

—Eu ia dizer não faz ideia de como foi difícil...— Brincou, recebendo um tapa no braço como retribuição. Ele riu. – Vamos tomar as primeiras decisões amanhã, talvez tentar tocar algo. Você vai?

—Eu disse que vou fazer dar certo, não disse? Me espere por lá.

—Vou fazer isso. – A encarou.

Por que raios seu olhar sempre ia parar na boca dela?

Droga, garota.

—Eu... Vou indo então. Minhas aulas de hoje já acabaram. Até amanhã. – Se afastou de Itália e deu um aceno de cabeça para Henri.

—Até.

Itália

—É perfeito, pefeito, perfeito, Adrien! – Ela pulou no sofá ao lado do irmão, quase fazendo ele derrubar o café.

—Claro, tudo perfeito. Fora uma pequena coisa. – Passou um braço ao redor dos ombros dela. – Não acha que ta abusando desse menino?

—O Matteo? Por quê?

—Sabe que ele gosta de você e fica pedindo favores.

—Eu não...

—Você sabe sim, Itália. Ele dançou com você naquela festa, e nós dois sabemos que você não é nem de longe uma boa dançarina. Ele te levou pra casa, te chamou pra sair, viu que você tava chateada e me mandou uma mensagem. Você pediu uma banda, ele te conseguiu uma. Se você ainda não percebeu, então a sua lerdeza chegou a níveis extremos.

Itália fez um biquinho e cruzou os braços.

—Tá. Talvez eu tenha percebido.

—Sabe, não tem nada de errado em ele gostar de você. Quer dizer, quem não gostaria? – Adrien apertou o nariz dela. – Mas, sabe... Você gosta dele também?

Eu gosto?

Eu gosto do abraço dele. E eu gosto quando ele divide o fone

 comigo. Eu gosto quando ele me dá carona, porque o carro tem o cheirinho dele. Eu gosto do piercing no lábio dele, e gosto de como ele fala de Pedro. Gosto dos olhos. Ah, como eu gosto dos olhos dele.

—Eu acho que gosto. Talvez. Não sei exatamente... O que ele me faz sentir.

—Tudo bem. – Adrien fez que sim com a cabeça, sorrindo. – É um começo.

—Quer ir pra lá comigo amanhã?

—Claro, eu não tenho nada pra fazer mesmo.

—Falei pra Lili que não vou trabalhar.

—Simples assim?

—É, eu disse que iria resolver detalhes do meu projeto pro Café.

—Você não mentiu. – Ela encheu as bochechas de ar e balançou a cabeça negativamente.

—Não menti. Agora, vamos ver Flash desde o episódio dezessete porque você terminou a temporada sem mim e isso não se faz. Vai ser obrigado a ver de novo.

(...)

—Por que ta se vestindo bem?

—Está insinuando que eu não me visto bem?

—Estou.

Adrien estava cheio de alfinetadas hoje, não?

—Sai. – Ela o empurrou pra fora do quarto. – Sai, sai, sai, sai, sai!

E fechou a porta.

Na verdade, ele tinha razão. Por que ela estava usando um terninho? Por que raios ela tinha um terninho?

Talvez ela quisesse dizer Ei, sou a empresária de vocês.

No fim, colocou uma saia longa amarela, uma regata branca justa e fez duas trancinhas.

Apesar da chuva repentina nos últimos dias, ainda estava bastante abafado.

Ela saiu do quarto e Adrien riu ao ver que tinha trocado de roupa.

—Nem uma palavra. – Ela ameaçou.

Quando abriu a porta, Leo e Julia estavam ali.

—Você vai sair? Sem a gente?

—Tão fazendo o que aqui?

—Oi, Adrien.

—Julia.

Calma aí.

—Estamos indo ver a banda do Matteo em ação, porque eu estou administrando-a. Sua vez.

—Viemos te levar pro cinema, você nunca sai desse apartamento. Adrien pode vir. – Leo disse, parecendo chateado.

—Que tal irmos todos pro Matteo? – Adrien propôs.

—Ótimo! Vamos, minha mãe me trouxe. Nos dá uma carona.

Adrien e Julia andaram na frente até o elevador.

—Desculpa ter deixado você de lado esses dias.

—Tudo bem. – Ele andava com as mãos nos bolsos. – Acho que só me acostumei a ter você por perto. Eu nunca tive um amigo próximo assim.

—Vai me fazer chorar. – Itália beijou a bochecha dele. – Você é o meu melhor amigo. Não se preocupe.

—Você não tinha amigos na França?

—É claro que eu tinha! E ainda falo com eles. Só... Não é a mesma coisa. – Itália encostou a cabeça no ombro dele ao entrarem no elevador.

E ficaram assim até a casa de Matteo.

(...)

Itália recebera uma ligação.

Ela estava prestes a recusar, já que o porteiro do condomínio onde Matteo morava finalmente tinha os deixado entrar, mas era uma ligação internacional.

—Gente, eu preciso atender. Vão na frente, digam que já estou indo.

Os três apenas fizeram que sim com a cabeça, sem dar muita importância.

E ela atendeu.

—Isabela.

—Itália.

—Por quê? – Itália perguntou, sem condolências.

—O quê? – Sua voz soava confusa.

A voz dela. Áspera, fria. Sem entonação.

—Eu não quero saber nada de você, Isabela. Não quero perguntar se está tudo bem, ou o que você está fazendo, porque eu não me importo. Só me importo com as respostas que você me dá. Então me diz, por quê? Por que entregar um bebê nas mãos de outra pessoa, sabendo que poderia desencadear no que eu estou passando hoje?

Isabela suspirou, de forma impaciente.

—Lhe entreguei porque eu também não me importava, Itália. Seu pai não queria você como filha. Eu não era uma imigrante legal, e não queria sair daqui. Nós duas seríamos mandadas de volta. E eu confiava em Marjorie. Lhe deixei com ela, e fui embora. Se eu colocasse o meu sobrenome no seu registro, alguém poderia me descobrir. Subornei uma pessoa no cartório para que ficasse somente Itália.

—Espera. Se você ainda é uma imigrante ilegal, como supostamente pode me ajudar a voltar? Provar que sou uma cidadã francesa?

—Eu estou num processo para conseguir a legalidade. É garantido que vou conseguir, já que há anos não considero voltar ao Brasil e posso dizer que “sirvo completamente para com este país.”

Foi a vez de Itália suspirar.

—E por que Itália? Por que esse é o meu nome?

Itália de alguma forma pôde sentir que ela sorria do outro lado da linha.

—Sabe, seu pai era realmente francês. Nos conhecemos durante um mochilão. Na Itália.

Pai.

O meu pai.

—Você sabe o que houve com ele?

—Não faço a menor ideia.

(...)

Mesmo em tantos anos de babá, mesmo ás vezes cuidando de famílias com mais de cinco filhos, Itália nunca vira tamanha bagunça como aquela na casa de Matteo no momento.

—Itália! – O anfitrião exclamou. E, por um breve momento, todos pararam de gritar uns com os outros.

Essa banda seria um longo projeto.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Bom, acontece que eu estou sem internet no computador já faz um bom tempo. E aí, o notebook resolveu não ligar mais também. Fiquei com internet só no celular por umas três semanas. Peço desculpas :3 mas as postagens voltarão ao normal! Estou postando esse aqui hoje, e o capítulo onze sai amanhã!

Espero que não tenham me abandonado :3
E, aliás, eu tô vendo todas essas visualizações aí e nenhum comentário, viu?



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Herdeira da Lua" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.