Herdeira da Lua escrita por Julipter, Julipter


Capítulo 1
Capítulo Um - Bonjour, Brasil


Notas iniciais do capítulo

Esperamos que gostem!



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Itália

Como começar?

Ah, olá, nova escola. Olá, novo apartamento. Olá, Brasil, lugar onde agora tenho que morar (e sozinha) porque fui deportada do meu país.

Escrever aqui será um bom exercício ao meu português. Apesar de conviver com dois brasileiros na França, meus tios Oliver e Marjorie, ainda preciso me esforçar para não fazer biquinho ao falar. Também não tive muito contato com a língua desde que os dois se foram.

Deixe-me resumir. Esses aí não eram meus tios de verdade. Não conheço minha família biológica. Enfim, eu esteava sob responsabilidade do filho deles (meu suposto primo) nos últimos meses. Mas ele é jovem, e eu queria deixá-lo tranqüilo com a faculdade, então entramos num acordo para eu me emancipar e ser responsável por mim mesma. No processo, acabei por descobrir documentos que eu não sabia que existiam, os quais diziam que a minha nacionalidade é brasileira.

Significa que vivi na França ilegalmente por dezesseis anos. E só fiquei sabendo disso semana passada.

Peguei o que, segundo o testamento dos meus tios, me pertencia. Me emancipei. Fui deportada. E aqui estou; com um emprego pra arrumar, uma matrícula pra terminar e muitas caixas para desembalar.

Itália não estava realmente nervosa, ela nunca ficava. Se acostumaria com o português, com São Paulo, com o sol – apesar de prejudicar sua visão – e com o apartamento de três cômodos. Mas, naquele momento, queria socar o computador.

Primo Adrien jurou que manteria contato.

Foi a última coisa que ela escreveu naquele dia.

(...)

—Pode me emprestar uma caneta? – O garoto atrás de Itália cutucou seu ombro.

—É o mês de recuperação. Você só tinha que trazer uma caneta.

—E você tem um estojo cheio delas. Irônico, não? – Ele retrucou. Quando a menina se virou, um sorrisinho de canto estampava o rosto dele.

— Bem, faz sentido. – Falou, dando de ombros e entregou ao garoto uma caneta.

Mal começou, e ela já sentia tanta falta da França. Não que lá tivesse notas maravilhosas, mas também nunca ficou de recuperação.

Ah, pare de reclamar. Você finalmente está morando sozinha! Tudo está bem.

E estava mesmo.

Itália não ficou de recuperação. Ela apenas estava sendo avaliada para poder concluir sua matrícula. Sim, era uma escola pública, mas a diretora dissera que Itália "precisa se acostumar com o sistema brasileiro de educação".

Fora a aula de história, tudo parecia uma revisão.

Mais tarde, Itália descobriu que o garoto se chamava Leo. Eles passaram a conversar nas aulas, e foram se entendendo. Itália era completamente despreocupada e distraída. Gostava de Leo porque ele a fazia rir.

Leo era hiperativo e energético; daqueles que nunca deixam uma conversa morrer. Gostava de Itália porque ela ria de suas piadas sem graça.

Complementos perfeitos.

(...)

Na última semana da recuperação, todos estavam conversando animados quando a professora de literatura entrou na sala, junto à uma aluna. Itália não deu atenção, então voltou a falar com Leo, visto que as duas na frente da classe pareciam ocupadas.

—Então, eu meio que não tenho sobrenome. É meio estranho, mas adoro ver as expressões das pessoas quando... Leo? – Itália balançou a mão esquerda em frente ao rosto do amigo, que encarava algo sem piscar. – Terra chamando. Juliana? Katrina? Romero Brito! – Ela estalou os dedos, mas o garoto continuou sem reação. – Acorda!

Leo era bonito. Tinha a pele levemente bronzeada, cabelos castanho escuros e olhos de mesma cor. Era magro, com os músculos não muito avantajados. Mais alto que Itália, mas isso não é tão difícil de ser.

Cansada de tentar, Itália se acomodou novamente na posição correta em sua cadeira. Só então percebeu o que ele tanto encarava: a aluna. Itália olhou a garota dos pés á cabeça e sorriu, entusiasmada, antes de voltar seu olhar para Leo.

—Aquela é a garota! – Ela exclamou, finalmente chamando a atenção do rapaz.

—O quê? – Ele ainda estava desnorteado.

— A garota que você me falou... – E ela, doida para bancar o Cupido. – Sabe, você está hipnotizado por ela, e não consegue sequer dizer 'oi'...?

— Não estou hipnotizado! Você é que adora dramatizar as coisas. – Leo tentou disfarçar, mas o sorriso bobo o entregava.

Itália pigarreou.

—Não estamos falando de mim, Sr.Duarte. – Leo riu ao ouvir seu sobrenome pronunciado com o sotaque dela. – Quero saber tudo sobre essa garota.

—Depois, Itália.

—Mas eu...

—Depois! – Ele ficou vermelho.

Ele está com raiva ou o quê?

Uma folha pequena foi colocada sobre a mesa de Leo. Itália olhou para cima, vendo que a própria garota sobre a qual falavam há pouco havia deixado a folha ali. Confusa, Itália olhou para sua mesa. Tinha uma folinha ali também.

DISPENSADO

Era a única coisa que dizia.

Itália olhou ao redor. Alunos felizes, pulando e balançando seus papeizinhos.

Isso é o que eu acho que é?

—Meu Deus, Itália! – Leo levantou da cadeira pelos ombros e abraçou-a forte. - Você é muito lerda. Nós passamos!

Ela retribuiu o abraço, mas continuou na mesma calmaria.

—Por isso todo mundo surtou? Vocês são exagerados...

—E você é uma sem graça. Estamos no segundo ano!

(...)

—Super Mário é demais, sério. E o seu sofá é muito confortável. Mas faz três semanas, Leo. Pare de tentar me distrair e abra a boca.

Os dois jogavam videogame na sala de Leo, enquanto a senhora Duarte fazia algo barulhento na cozinha.

—Tá bem! Mas se largar o controle, eu paro de falar. Não quero que me olhe nos olhos. – Itália riu.

—Porque eles estarão brilhando! Qual é, e depois sou eu que dramatizo as coisas. – Ele suspirou.

—Ela é a garota mais inteligente que eu conheço. Tenho uma quedinha por ela desde a quarta série, mas depois de tanto tempo, foi ficando mais difícil. Ela ficou mais... Sabe? – Ele fez gestos com a mão abaixo no peitoral.

—Gostosa? – Ela chutou. – Pode falar, estamos entre amigos. – sorriu, matando um Gumblle. – E, realmente, ela é linda.

—É; - Foi a resposta dele. – E obviamente, não fui o único que percebeu. Ela é parte do grêmio e representante de turma, por isso estava lá na escola aquele dia. É isso.

—Você esqueceu um ponto importante, jovem Padawan. – Itália fingiu uma expressão séria.

—Qual?

—O nome dela! – Ela disse, como se fosse óbvio. Afinal, era. Leo riu.

—Julia Barcellos. E pare de abandonar o Yoshi, sua alma cruel.

(...)

Assim que botou os pés dentro da escola naquele primeiro dia de aula, Itália sentiu que, talvez, sua nova vida não fosse tão ruim como imaginou que seria. Estava com um bom pressen

E,afinal, eram só dois anos até ela se formar. O que poderia dar errado?

—Leo, por que as pessoas estão olhando para mim? – Leo andava com as mãos no bolso da calça, e cumprimentava com um aceno de cabeça os alunos conhecidos.

Ele deu de ombros.

—Vamos contar. – Ele passou a andar de frente para Itália, sem se preocupar com a possibilidade de cair. – Você é bem bonita. – Leo olhou -a dos pés á cabeça, e parou por tempo demais no busto, fazendo-a cruzar os braços na frente do corpo. Ele se tocou e passou a analisar o rosto de Itália. – Tem olhos de duas cores diferentes.

—Se chama heterocromia.

—E o seu cabelo tem uma cor que é impossível de definir. – Completou, ignorando o comentário da amiga.

—Ele é... Sei lá, jeans? Meio roxo? Só sei que gosto dessa cor.

—O ponto é que a sua beleza é exótica. Você chama atenção. – Ele sorriu galanteador. – Não se preocupe, logo passa.

Uma beleza exótica. A ideia quase a fazia rir.

Aparentemente, os alunos mais velhos estavam livres enquanto os do primeiro ano escutavam, no pátio, as regras do colégio Dom Pedro II. Regras que Itália não conhecia.

Mas por favor, existe pessoa mais tranqüila que ela? Não precisava ouvir as regras para se manter na linha.

Seus devaneios foram interrompidos quando Leo parou bruscamente fazendo Itália sentir como se tivesse acabado de dar de cara com uma parede.

—Caramba, Duarte. – Ela o contornou, percebendo que ele havia caído em mais uma hipnose.

A pele escura de Julia se destacava em suas roupas de tons claros. Um vestido florido marcado na cintura e um par de sapatilhas, por mais simples que fossem, lhe caíam muito bem. Os cachos cheios estavam livres de qualquer acessório, e ela carregava uma pasta com o logotipo no colégio.

Itália olhou para si mesma. Usava uma calça jeans escura, tênis e uma blusa de fio estampada com o W da Mulher Maravilha. O cabelo, preso num meio rabo de cavalo, e o resto livre. Como podia chamar atenção desse jeito?

—Ah, já chega. – Itália revirou os olhos, e, pacientemente, começou a empurrar o amigo na direção de Julia.

—O que está fazendo? – Ele questionou, sem se dar conta da situação.

—Sendo sua melhor amiga. – Ela parou ao ver que eles já estavam próximos.

Itália nem se deu ao trabalho de olhar para Julia ou saber se a mesma estava confortável com aquilo. Apenas acenou para os dois, e já ao longe, gritou para Leo:

—Guarde um lugar para mim!

E assim, feliz por ser um bom Cupido, se dirigiu ao banheiro feminino.

Ignorou a maioria dos olhares que se dirigiam a ela enquanto passava, mas percebeu também que estavam diminuindo. Leo tinha razão.

Ao chegar na porta do banheiro, Itália percebeu tarde demais que puxar a maçaneta não era uma boa ideia.

No instante em que tentou, alguém do lado de dentro abriu a porta, e os corpos se chocaram.

Itália fechou os olhos, pronta para o impacto que teria com o chão, porém, mãos firmes a seguraram pela cintura, trazendo-a de volta à realidade. Assim que se sentiu firme no chão, levantou o olhar para o ser humano em sua frente.

—Foi mal, garota. Eu não... – não era uma garota. – Quer dizer... Hm... E-esse é o banheiro feminino, certo? Não estou no lugar errado, estou?

O garoto sorria. Um sorriso debochado.

Meu Deus, como era bonito. O cabelo escuro estava como se alguém tivesse acabado de bagunçar (suspeito, sim, mas Itália estava distraída com outras coisas), com alguns fios para baixo, e isso o deixava ainda mais lindo. Os olhos cor de âmbar tinham um ar brincalhão, assim como o sorriso, e sua pele era clara.

Itália estava tento um momento estranho com um cara bonito.

Ele balançou a cabeça negativamente, apesar de ela estar tão perdida que nem sabia mais o que ele estava negando.

—Não, eu é que estou no lugar errado. – Ele declarou. Sua voz era rouca. – Mas talvez você esteja na hora errada.

Ela nem tentou entender.

—Tudo bem, é... Tchau, garoto. – Itália saiu de lá a passos apressados, desejando apenas que o sinal tocasse logo, enquanto o rapaz seguia na direção oposta.

"Tchau, garoto"? Só seria pior se eu dissesse "tchau, gatinho do banheiro".

E dentro daquele banheiro, no momento uma garota qualquer terminava de ajeitar o sutiã.

Mesmo atrasada, Itália chegou na sala antes da professora. Sorriu ao ver que Leo realmente havia guardado um lugar em frente a ele – como na recuperação – e se dirigiu até lá.

—Você me paga. – Ele disse. Em seguida, um bilhete pousou em seu ombro.

"Você vai pra festa do terceiro ano?"

Ela preparou a caneta para responder o bilhete, mas no mesmo instante, a professora adentrou a sala. Sorridente, como se fosse o melhor dia de sua vida.

—Bom dia, alunos. – Cumprimentou. – Meu nome é Amanda, e eu sou sua professora de Literatura. – Itáia notou que não era a mesma da recuperação. Ainda bem, esta parecia mais simpática. – Muito bem, vamos começar com o básico. Quero que todos levantem e se apresentem conforme a ordem da chamada.

—Qual é, professora. – Interveio uma morena de traços asiáticos. – Não precisamos mais disso, estamos no segundo ano.

—Pois bem, claro. Não precisam. – A professora ajeitou os óculos. – A senhorita sabe me dizer o nome de cada aluno nessa classe, então? – a asiática não respondeu. – Suspeitei que não. Vocês têm dois anos. Dois anos, até o vestibular, ENEM, faculdade ou cursinho. Dois anos para aproveitarem as coisas simples da vida. Dois anos para conhecerem pessoas. Para amarem e odiarem. Então, sim, quero que se apresentem. Quero conhecê-los e quero que me conheçam. Quero que criem laços, porque vocês não têm ideia do quão é difícil fazer amigos depois de adulto.

Alguns sorrisos estamparam os rostos de alunos que achavam aquilo inspirador, inclusive Itália. A classe continuou em silêncio.

—Ana Carolina de Paiva. – Começou.

Itália tentou prestar atenção nos alunos.

Desistiu no terceiro.

—Itália...? – a professora chamou e encarou o papel, confusa. – Desculpe, qual o seu sobrenome? – Itália se levantou, desconfortável, e puxou as mangas da blusa.

—Ah, eu não tenho sobrenome. Órfã, sabe. – Ela sorriu, para mostrar que não se importava com isso e que era muito normal. A última coisa que queria era um bando de alunos a olhando como se tivesse saído de uma novela. – Bom, eu... Tenho dezesseis anos, e sou nova aqui. – e voltou à cadeira

A curiosidade da professora parecia insaciável.

—A senhorita tem um sotaque encantador! Poderia nos dizer qual é a sua nacionalidade?

—Italiana, dã. – Brincou um aluno no fundo da sala. Itália riu.

—Francesa. – Como se já não tivesse chamado atenção o bastante. Mesmo assim, ela estava okay com a situação.

—Ah, que chatice. – Comentou a asiática, agora denominada Débora. Mas Itália não lembrava disso. – França é tão out. Sou muito mais o Canadá.

—Não se preocupe, a França não precisa de pessoas como você. – Ela respondeu, quase que automaticamente.

Um "uou" coletivo tomou conta da turma.

Posso me acostumar com isso.

—Tudo bem, tudo bem. – A professora Amanda chamou a atenção dos alunos. – Obrigada, senhorita Itália. Agora, Julia Barcellos.

Ah, sobre esta Itália queria saber.

Aparentemente, Julia tinha uma irmã gêmea que, não só era branca, como também era loira. Os pais e Julia eram negros, o que gerava algumas confusões, e ela conseguiu tratar do assunto com humor, mesmo que Itália conseguisse perceber em seu olhar o peso do racismo que carregava.

Era uma boa observadora quando queria.

Leo também não tirava os olhos. Por estar sempre em público, fazendo anúncios do grêmio, ela era boa em apresentações. Parecia uma garota legal.

—Obrigada, senhorita. Boa sorte com isso! – Comentou a professora, com um risinho abafado. – Leonardo Duarte.

O que dizer? Filho de mãe solteira, com três irmãos mais novos, um videogame, e apenas dois controles. Esta era a vida conturbada na residência dos Duarte.

—Matteo Niara. – Foi quando Itália voltou a rabiscar no caderno, esquecendo o bilhete e os alunos.

A professora Amanda pediu para que Itália fosse vê-la no intervalo. Ela não entendeu o contexto, então Leo explicou que a professora também era orientadora da escola e, com a brilhante lerdeza de Itália, isso foi tudo o que ela entendeu. Aconteceu mais ou menos assim:

'Então ela é uma psicóloga?

Não, ela não é formada em psicologia. É professora.

Mas se ela cuida dos problemas dos alunos, e os ouve...

Ela os orienta. Orientadora.

Tá, claro.'

Até que desistiu fácil.

Bem, também havia um tal de Jorge, e como só estava no colégio para orientação, ele tinha que ser psicólogo.

Quando foi que esse bando de adolescentes surtou tanto ao ponto de colocarem especialistas em problemas psicológicos para trabalharem com a mente deles dentro da escola?

Itália acordou por um instante quando ouviu Débora dizer algo como "é o pegador mais feio que eu já vi", assim que um garoto se sentou. Ele devia estar se apresentando.

"Não era belo

Mas mesmo assim

Havia uma garota a fim

Cantava Help, And Ticket to Ride,

Oh Lady Jane e Yesderday

Cantava viva à liberdade..."

A música que seus tios sempre ouviam lhe veio à cabeça assim que entendeu a cena.

Talvez tivesse acontecido, quando eles pararam de ouvir músicas como essa. Era a única música brasileira que Itália conhecia.

Um sinal a fez despertar.

—Leo!? – Ela virou para trás, como quem acabou de levar um susto. – Que aula é agora?

—Terceira.

—Significa que passaram quarenta e cinco minutos desde que eu me mexi pela última vez? – Agora, sua voz continha uma ponta de indignação.

—É, você ficou aí parada. Sem se mexer, sem falar.

—E você nem sequer me deu um peteleco?

—Achei que era normal, você ficou assim por vinte minutos quando estávamos jogando Mário ontem. Mas, se é o que quer, posso te bater da próxima vez. – Ele sorriu, travesso.

Ainda confusa, Itália voltou à posição inicial. Havia perdido uma aula inteira. O que aconteceu?

Decidiu se concentrar na aula que agora se seguia, para talvez sentir-se um pouco mais normal.

(...)

—Sabe, quando te mandarem um bilhete na sala, saiba que fazem isso na intenção de receber outro de volta. – Leo reclamou. Ele a levava até a sala da orientação.

—Ah, eu esqueci, foi mal... Qual era a pergunta mesmo?

—Você vai à festa do terceiro ano.

— Não pareceu uma pergunta. – Itália encarou as unhas roídas.

Eu não costumava roer unhas! Elas eram impecáveis... Que hora eu fiz isso? Foi no meu apagão?

—É porque você vai!

—Não estou muito a fim, sabe. Não conheço ninguém, eu ia ficar sozinha enquanto você pegaria alguma garota...

—Nada te impede de pegar um carinha. E não se preocupe, não vou sair do seu lado.

—Não, só vai ter gente mais velha. Acho que vou ficar em casa, desenhar, fazer uma sopa...

—Prefere uma sopa, a ir numa festa com o seu melhor amigo? – Ele fez beicinho.

—Golpe baixo, me chantageando com a nossa amizade...

—Cada um usa as armas que tem! – Itália revirou os olhos.

—*Bougre. — Ela xingou. – Tudo bem, você venceu. Mas no próximo fim de semana, eu escolho o programa.

—Deixa eu adivinhar... – Leo fingiu uma expressão séria e fechou os olhos, estalando os dedos. Então, abriu, como se tivesse tido uma grande descoberta. - Sopa?

—Eu adoro sopa! – Ele riu.

—Bem, é aqui. Boa sorte. – Leo apontou para a da orientação.

—Não faço a menor ideia do que estou fazendo aqui. – Itália riu e entrou no lugar. Um homem extremamente alto e magro revirava alguna papéis.

—Niara. A praga do Matteo Niara, de novo. – Ele resmungava, pensando ainda estar sozinho.

Itália arqueou uma sobrancelha, mordendo o lábio inferior.

Onde eu já ouvi esse nome?

O homem percebeu sua presença.

—Ah, a seção da Amanda. Você é caloura? Tem alguma reclamação, sobre alguém?

—Hm... Segundo ano, e, não.

—Ótimo. Sou Jorge, o outro orientador. Você não vai me ver muito. Espere, a Amanda já vai chegar. – E assim, ele deixou a sala.

Itália deitou-se no sofá designado aos alunos.

—*Estranho? Bien sûr. Je me soucie... ?— Ela riu de si mesma. – *Bien sûr que non. — piscou os olhos e mordeu novamente o lábio, punindo a si mesma. – Português, Itália. Português.

Ela olhou para a parede. Haviam retratos, alguns da professora Amanda com outra mulher e uma garotinha muito fofa. Outros levavam pinturas em preto e branco de grandes nomes da música dos anos oitenta.

—Uh, desculpe o atraso! Alguns alunos queriam tirar dúvidas... – Amanda entrou eufórica na sala, e parou de falar assim que viu a bagunça deixada em sua mesa. – Jorge esteve aqui, não é?

—É, ele mexeu nos papéis e resmungou umas coisas... – Itália respondeu, batucando os dedos no sofá.

—Ah, vejo que já se acomodou. Bom! – Amanda sorriu. – Nossa conversa será rápida, não se preocupe. Mas eu gostaria que você viesse me ver aqui toda semana, certo?

—Claro, tudo bem. Algum dia em especial?

—Quando quiser. Apenas venha. Enfim, eu estava pensando que você precisaria de ajuda nesse processo de adaptação. Qualquer coisa que precisar, fale comigo. Estarei aqui para ajudar você. Então diga! Já tem amigos? Está precisando de algo?

Só um amigo. Só um favor.

— Sim. Na verdade... – A garota olhou pra cima, nervosa por estar pedindo um favor assim, logo de cara. – Eu estou morando sozinha. Preciso de um emprego.

A professora ponderou por alguns instantes, pensando nas possibilidades. Sorriu entusiasmada ao chegar à conclusão perfeita. Então, anotou num post-it cor de rosa um endereço e entregou a Itália.

—Vá até esse endereço no domingo. Entre as oito da manhã e quatro da tarde.

Oito da manhã num domingo!

—Obrigada, - Itália sorriu sem mostrar os dentes, numa expressão aliviada. – é um grande favor.

Amanda deu uma piscadela.

—Sempre que precisar.

A última aula era sociologia,

(...)

—Eu odeio sociologia. – Foi a primeira coisa que ela resmungou ao chegar em casa.

Pensou em escrever como seu fim de dia foi péssimo, e como o inicio dele não fora tão ruim assim, mas ela não estava disposta. Gastou os dedos rabiscando seu caderno de desenhos nos intervalos entre prestar atenção na aula e viajar na maionese.

Havia um garoto babaca em sua sala, e ele aparentemente adorava discutir com o professor babaca de sociologia, que além de dar aula muito mal, e esfregar os olhos cheios de olheiras, arrumava um tempinho para secar as garotas.

Se pensar bem, esse aluno e o professor têm muito em comum.

—O que não se resolve com uma sopa? – Ela encarou as panelas recém desembaladas em cima de uma caixa na sala, e não pôde deixar de pensar em como sobreviveria agora, sendo que a única coisa que sabia cozinhar era sopa.


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