Memórias do Outono escrita por Maxine Sinclair


Capítulo 5
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

Bem vindos de volta, obrigado por estarem acompanhando, tenham uma boa leitura.



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Diga isso para mim
Diga isso por mim
E eu deixarei essa vida para trás
Diga se vale a pena me salvar...

Savin me – Nickelback

A vista de seu escritório continuava bonita. Pelo menos o acalmava. E agora você ficou pior. Cada letra corroía sua mente, e não importava o quanto Aaron tentasse, as palavras do pai não sumiam.

— O que faz aqui? — Scott perguntou entrando na sala.

— Esta é minha sala.

— Eu sei, mas seu horário é às 7h. — Ele ergueu as sobrancelhas. — Passou a madrugada aqui?

— Isso importa?

— Aaron, sou seu amigo, então pare de ser orgulhoso e converse comigo, me diga o que aconteceu! — seu tom era alto. Estava cansado das atitudes de seu amigo. Ele queria ajudá-lo, ao menos ser um ouvinte.

— Briguei com meu pai.

— Ótimo começo. — Ele fez um gesto para que Aaron se sentasse na poltrona e continuasse a se abrir.

— Ontem me exaltei com a Abby por causa de um desenho que ela fez da Debra comigo com o título Família. — Respirou fundo, pois até ele já tinha percebido que fora longe demais com ela. — Eu disse em tom alto que Debra não era a mãe dela, e sim a Annie, após mandá-la para o quarto, só que ela disse que queria que fosse.

— E você brigou com ela por isso?

— Sim, eu estava de cabeça cheia por causa da presença de meu pai em casa, querendo se intrometer em tudo, e então começamos a discutir sobre meu papel de pai. — Aaron respirou fundo e contou até cinco antes de continuar: — Ele não tem o direito de me dizer nada e disse que sou pior que ele.

— Bom, por um lado, seu pai fez tudo aquilo porque era o início de sua empresa e ele precisava trabalhar muito, mas ele te amava. Você pegou tudo pronto e só precisava manter. Seu maior problema é que você não teve uma figura paterna presente e então não sabe que nem sempre dar de tudo demonstra amor. Seu pai não soube ser pai, mas você ainda tem tempo de mudar e começar do zero.

Aaron analisou as sábias palavras de seu amigo, palavras que ele nunca achara que viriam dele.

— E como eu faço isso?

— O aniversário de Abby está chegando. Faz uma festa para ela, mas de criança, e não iguais aquelas que você frequenta.

— E como é uma festa de criança?

— Palhaços, bolo colorido, princesas, não sei muito, mas sei de alguém que sabe — ele olhou para Aaron e tentou falar com um sorriso de lado.

— Quem?

— Mas é lerdo mesmo — disse, bufando. — Debra.

— Ah, mas ela não vai querer voltar.

— Você tentou?

— Não.

— Então cale a boca e tente, mas dessa vez confie nela, porque ela sabe o que está fazendo. Ela já me ajudou muito.

Os dois ficaram se olhando por alguns segundos, e Scott levou a mão à testa.

— O que foi? — Aaron questionou.

— O que está fazendo aqui ainda?

— Meu trabalho?

— Vá logo falar com a Debra — mandou.

— Calma... Estou indo.

Pegou seu carro na garagem da empresa e foi em direção à casa da garota. Não sabia o que dizer e nem como reagir, nem sabia por que estava indo até ela, uma vez que existiam várias outras babás até mais capacitadas para o trabalho do que a morena. Porém, alguma coisa – além de Scott – o fazia querer ir em sua direção.

Aaron estava deixando seu orgulho de lado pela primeira vez. Estacionou e ficou parado em frente à casa da menina. Era um bairro bem tranquilo. As casas, por mais que fossem de cores diferentes, eram bem parecidas. As pessoas caminhavam, corriam, crianças brincavam nos jardins. Ele ficou pasmo com a ideia de uma criança brincar num jardim sem nenhuma cerca ou algo para protegê-las de serem atropeladas. Aaron não estava acostumado a ver essa cena, e ao vê-las tão felizes brincando com seus pais, pensou em como nunca tirara um sorriso daqueles de sua filha, nunca tirara um tempinho para fazer o que quer que fosse da vontade da menina.

Saiu do carro, foi até a porta branca e tocou a campainha. Foi recebido por uma linda mulher loira de cabelos ondulados e um vestido vermelho que delineada seu corpo escultural.

— Em que posso ajudar? — a loira indagou reparando no homem a sua frente de cima a baixo em uma pose na qual encostava a lateral do corpo na porta.

— Procuro a Senhorita Bennet.

— Está falando com ela.

Ou Debra me mostrou a casa errada, ou mentiu sobre morar sozinha.

— Procuro a Senhorita Debra Bennet. Sabe onde ela mora?

Um sorriso surgiu em seu rosto.

— Ah, procura minha cunhada. — Ela dá uma risada. — Ela mora aqui.

— Poderia chamá-la, por favor? Eu preciso muito conversar com ela.

— E o senhor é...?

— Sou Aaron Carter, o ex-chefe dela.

— Sou Hannah. — Ela esticou sua mão para que ele pudesse beijá-la. — Prazer em conhecê-lo.

— O prazer é meu, Senhorita. — Levou a seus lábios a sua bela mão.

Ela fez um sinal para que ele a seguisse, e Aaron aguardou perto da escada que ficava logo na entrada. Hannah subiu para chamar Debra e logo desceu com um sorriso. Atrás dela estava Debra, com um moletom cinza, cabelo em um coque com uns fios soltos em torno do rosto e óculos que pareciam de grau e tinham armação quadrada roxo-escura.

Eu não sabia que ela usava óculos.

— Senhor Carter... O que faz aqui?

— Será que podemos conversar em particular?

— Claro!

Ela fez um sinal para que ele a seguisse até o cômodo ao lado. Na parede do pequeno corredor ao lado da escada havia algumas fotos em um formato de onda, bem diferentes de qualquer outras que ele já vira em sua vida. Tinha algumas fotos espontâneas de Abby. Admirou-as por alguns segundos, mas logo seguiu Debra. Quando chegou ao cômodo que ela mencionara, viu que era bem menor que seu banheiro, mas era bem aconchegante, com um sofá cinza e uma televisão grande.

A loira voltou e entregou a ela um pote de sorvete, deixando uma colher em cima da mesa de centro.

— Vou dar uma volta, Debra.

— Está bem, Hannah.

A loira saiu.

— Quer? — Debra estendeu o sorvete.

— Não, obrigado.

— Então aceita um chá ou café?

— Um café seria bom.

Okay.

Ela se levantou, foi até a cozinha e pouco tempo depois voltou com a bebida.

— Aqui está.

— Obrigado. Eu pensei que você morasse sozinha.

— E moro. A minha cunhada fica aqui quando meu irmão está a serviço militar. E então, o que o senhor deseja?

— Bem... Não sei como explicar e nem como começar.

— Que tal do início? — sugeriu ela, colocando uma colher cheia de sorvete na boca.

Será possível que essa menina vai comer esse pote todo?, ele pensou.

— Eu queria primeiro lhe pedir desculpas, não somente por tê-la despedido, mas sim por ter sido tão grosso contigo sem necessidade.

— Sem problemas, eu não guardo mágoas — declarou enquanto saboreava o sorvete de baunilha.

— E eu fiz algo de ruim para a Abby, gritei com ela, que está muito triste com isso. Ontem também briguei com o marido de minha mãe por causa disso e percebi que você estava certa, eu estava praticamente espelhando meu pai, e isso era o que eu menos queria. — Respirou fundo e continuou: — Eu sabia que estava parecendo com ele, só não queria enxergar.

— Pelo menos viu a tempo.

Ele estava sem jeito.

— Verdade.

— Senhor Carter, posso lhe ser sincera?

— Claro.

— Eu não tenho meus pais comigo há muito tempo, mas no tempo em que os tive, fui amada completamente. O seu caso ainda pode ser resolvido, o senhor pode mostrar a ela o quanto a ama. Eu vi isso no senhor, por mais que não demonstrasse. — Ela tocou em seu ombro, e ele sentiu um arrepio, mas o ignorou, achou que era algo normal. Debra continuou: — Por mais que o senhor não tenha tido uma espécie de amor, eu tive, então saiba que pode se abrir comigo. Isso vai ajudar muito.

— É aí que está, eu não sei como mostrar a ela. Me sinto mal por tudo o que eu fiz a Abby, mas não foi com má intenção.

Colocou sua cabeça apoiada em suas mãos, que se apoiavam nas pernas.

— Eu sei, e isso já é um começo.

— Será que você poderia voltar a trabalhar lá em casa? O aniversário de Abby está chegando, e eu queria fazer algo, só que até hoje nunca fiz uma festa de criança... Você pode me ajudar?

No olhar de Debra havia ternura.

Como uma menina tão nova pode me fazer sentir confortável?

— Mas é claro, seria um prazer.

— Não sei por quê, mas parece que tirei um peso de meus ombros.

— O senhor é um homem bom, só que tem muitas coisas para administrar, e às vezes se distrair, sair e conversar pode te fazer pensar e relaxar.

— Muito obrigado, de verdade.

— De nada. E sobre o local da festa?

— Pode escolher tudo. Se tiver ainda aquele cartão, pode comprar tudo com ele sem se preocupar com o valor.

— Mas vou querer a sua ajuda.

— Eu não acho que seja uma boa ideia, não sei nada sobre aniversários.

— Mesmo assim só topo te ajudar se você também participar. Você quer ser um bom pai? Quer mudar? Então participe.

— Está bem, vou participar. — Aaron olhou para o relógio e viu que precisava ir. — Obrigado pelo seu tempo e pelo café, que estava uma delícia.

— De nada.

— Nos vemos amanhã?

— Claro.

Levantou-se, e ela o levou até a porta. O café dela ainda amargava em sua boca, e ele se lembrou completamente do café de Annie. Despediu-se e foi em direção ao seu escritório novamente. Chegou menos tenso, graças a Debra. Por algum motivo ele se sentiu mais leve e, quando entrou em seu escritório, Scott estava lá novamente. Não tinha um dia sequer que ele não fosse ali.

Acho que ser advogado dessa empresa deve ser o mesmo que não ter nada o que fazer, pensou Aaron.

— Parece que você nunca tem nada para fazer — externou seus pensamentos.

— Eu tenho, só que não faço o tempo todo, resolvo tudo e depois relaxo te vendo trabalhar — ele disse se jogando na cadeira.

— Sei...

— Como foi lá?

— Estava me aguardando para isso?

— Também, mas quero te apresentar minha assistente.

— Por que um advogado que não faz porra nenhuma precisa de uma assistente?

— Que bom, vejo que está de bom humor. — Ele mandou uma mensagem pelo seu celular, e uma ruiva alta entrou em seguida. — Essa é Celeste, minha assistente.

A mulher era linda, seus cabelos iam até a metade de suas costas, sua blusa tinha alguns botões abertos, mostrando uma parte de seus seios, e a saia vinha da cintura até a metade de suas coxas.

— Prazer em conhecê-la, Senhorita Celeste.

Apertaram suas mãos.

— Prazer, Senhor Carter.

— Posso te fazer um pedido? — perguntou piscando.

— Claro!

— Feche ao menos dois botões da blusa e use a saia no máximo um palmo acima do joelho. As políticas da empresa servem para todos os empregados.

— Claro, Senhor, não seria problema algum.

— Obrigado.

— Será que você poderia voltar para a minha sala? — Scott pediu a ela enquanto encarava o amigo.

Ela sorriu e saiu.

— Linda, muito linda — Aaron disse enquanto arrumava os papéis em cima da mesa.

— Por que fez isso?

— Porque aqui é um lugar em que se recebe pessoas, e os empregados tendem a se vestir de um modo que não venha trazer nenhum desconforto para ambas as partes. — Ele encarou Scott e completou: — Não foi por mal, eu só não quero que tratem as mulheres com desrespeito.

— E como foi com Debra? Ela voltou?

— Fluiu bem, ela aceitou voltar a trabalhar e vai me ajudar com a festa, porém tenho que participar dos preparativos.

— Vamos comemorar essa nova fase?

— Que fase? Comemorar por qual motivo?

— Não preciso de motivos. — Ele piscou para Aaron. — Se eu quiser comemorar um dente quebrado, eu comemoro. Eu vivo muito, querido amigo, então vamos comemorar qualquer coisa.

— Onde?

— Venha comigo e verá.

Aaron pensou em recusar, mas o amigo não lhe deu tempo e o empurrou para o carro. Scott queria que ele se divertisse, e a sua ideia de diversão era uma boate, bebidas e mulheres.

Aaron estava se sentindo estranho por entrar em uma boate usando terno.

— O que faremos nesse lugar à tarde? — inquiriu.

— Isso aqui funciona 24 horas, meu caro.

Pelo horário, ele achou completamente estranho que o lugar estivesse cheio. As luzes estavam piscando, e era difícil de se locomover. Muitas pessoas dançavam e bebiam.

Subiram uma escada, e Scott mostrou as identificações. Era uma área VIP, e se sentaram. Aaron tirou seu paletó e a gravata, continuou apenas com o colete e a blusa social, da qual subiu as mangas por causa do ar abafado. De início ficou meio na sua, mas queria começar uma nova fase, então tinha que tentar se distrair.

Scott encheu o copo de seu amigo com uma bebida alcoólica colorida que ele não reconhecia, mas tinha um ótimo gosto. Aquelas pessoas reunidas, brindando a coisas aleatórias, era algo que ele achava engraçado. Aaron não sabia se divertir, mas tinha certeza de que aprenderia – por mais que ele tivesse preferência por um lugar mais reservado e um bom livro. Aquele momento foi único, e ele se sentiu muito bem.

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Notas finais do capítulo

Aguardo você no próximo ein, quem quiser compartilhar alguma história deixem nos comentários que terei prazer em ler ♥