Memórias do Outono escrita por Maxine Sinclair


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Oiii gente linda, obrigado por estarem lendo esse segundo capítulo e espero que gostem.



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Meus vizinhos pensam que eu sou louco
Mas eles não entendem
Você é tudo que eu tenho...

Talking to the moon – Bruno Mars

Aaron mostrou todos os cômodos da casa a Debra. Ela estava completamente impressionada com o tamanho e a beleza do imóvel, e um sorriso se mantinha em seu rosto. Quando Aaron apresentou a enorme lista com a rotina de Abby, a morena ficou completamente assustada.

Ela é uma criança e faz tudo isso? Meu Deus..., pensou.

— Sua filha faz tudo isso? — externou seus pensamentos, correndo os olhos por todo o papel.

— Sim — ele respondeu com um tom orgulhoso. — E a partir de agora seu motorista irá levar você com ela a todos esses lugares.

— Não é muita coisa para uma criança?

— Nunca é demais, é para o futuro dela, então pretendo lhe dar as melhores escolas, os melhores cursos, a melhor vida possível.

— Entendo. — Embora falasse, seu rosto mostrava o contrário.

— Agora eu vou trabalhar. Cuide bem dela e seja pontual. — Ele tirou da carteira um cartão de crédito dourado e o deu a Debra. — Isso é para você comprar o que ela pedir, ou se caso precisar, tudo bem?

— Claro, obrigada.

Quando Aaron chegou ao escritório, a sua secretária estava ao telefone, mas lhe entregou as pastas com tudo atualizado. Ele entrou o mais rápido possível em sua sala para recuperar o tempo perdido em casa. Passou grande parte da manhã resolvendo problemas da empresa e confirmando a reunião que aconteceria em alguns dias, que era muito esperada, para apresentar seu primeiro projeto desde que assumira a presidência da empresa.

— Aí está meu grande homem — Scott disse se sentando.

— O que você quer?

— Não posso vir aqui?

— Adianta dizer que não? — Retornou seu olhar para ele.

— Não, mas como vai a Debra?

— Como vou saber, Scott? Estou aqui desde às 9h30. A única coisa que espero dela é que esteja fazendo o seu trabalho.

— Insensível.

Aaron encarou Scott por cima dos papéis.

— Eu estou trabalhando, Scott. Estou com a cabeça cheia por tantos papéis e por ter perdido uma hora e meia pela manhã com a menina, então, se for para ficar fazendo perguntas ridículas sobre qualquer coisa que não seja a empresa ou algo importante, por favor, retire-se.

— Primeiro, você me conhece, sabe que nada de bom sai da minha boca, e segundo, eu estou tentando saber se ela chegou bem, pois Debra é como uma filha, e eu me preocupo com ela. Se alguma coisa acontecer, eu me sentiria mal. — Sua expressão, que era sempre a mais amigável possível, estava séria. — E ela é importante para mim.

Ele se levantou e saiu chateado, obviamente. Seu amigo nunca conseguia ser gentil com ninguém, e Scott tinha medo de que ele descontasse na doce Debra.

Aaron levou as mãos à cabeça. Sabia que não deveria ter falado aquilo e não sabia que ele ficaria tão irritado. Porém, continuou seu trabalho; já não tinha tempo a perder.

Não saiu em momento algum do escritório, permanecendo até depois do expediente. Já era meia-noite, e ainda não havia comido nada. Decidiu ir direto para casa para que pudesse descansar. Sabia que não haveria mais ninguém trabalhando, a maioria de seus empregados estaria em seus quartos – os que moravam com ele – ou em suas casas.

Assim que Aaron chegou, tudo estava apagado, e apenas um abajur perto do sofá iluminava difusamente o ambiente. Quando olhou para o sofá, deparou-se com a jovem Debra, que estava dormindo como um anjo. Parecia bem confortável. Aaron sentiu um desconforto, e não por não gostar da bela garota, mas por nunca ter uma presença feminina em seu lar que não fosse as empregadas domésticas.

Ele foi até o sofá, puxou a mesinha de centro para perto do mesmo e se sentou. Havia umas madeixas negras caídas no belo rosto da moça, e ele as colocou por trás de sua pequena orelha. Algo naquela menina chamava sua atenção, algo que ele não podia explicar.

Tentou não a acordar ao se levantar, mas foi impossível pois derrubou um objeto que estava sobre a mesinha. Ao ver que ela tinha acordado, ele quase tropeçou no sofá e em seguida fez uma careta.

Vendo aquela situação estranha e ao notar que Aaron havia ficado sério, ela se lembrou de que Scott havia lhe avisado como ele era difícil de lidar. Ela engoliu o riso.

— Me desculpa, não queria acordá-la — ele falou sem jeito.

— Sem problemas. — Espreguiçou-se.

— O que faz aqui até essa hora?

— Abby não queria ficar sozinha, e ela é uma ótima menina, então eu a coloquei para dormir e acabei apagando aqui.

— Você tem suas coisas aqui?

— Sim, comprei muitas coisas com seu cartão — ironizou.

Aaron ergueu as sobrancelhas.

— Ah, sim, tudo bem — disse tranquilo, e ela notou como dinheiro não era um problema para ele.

Levantou-se sorrindo e lhe deu um tapa no ombro que o deixou confuso.

— É brincadeira, a única coisa sua que usei foi seu motorista para me levar em casa para buscar roupas.

— Está bem.

— Comeu alguma coisa no trabalho? — indagou enquanto ele ia andando em direção à escada.

— Não, vou tomar um banho e ver se consigo descansar. Sinta-se à vontade.

Ele subiu ao seu quarto. Não conseguia se acostumar com a presença dela, sentia-se incomodado. O jeito de Debra era completamente extrovertido, e ele só queria a calmaria. Enquanto a água quente batia em seu corpo, tentava esquecer os seus problemas. Estava exausto e morto de fome, mas achava que o cansaço venceria. Colocou uma calça de moletom confortável, permaneceu sem a camisa e pôs a toalha por cima do ombro.

Pelo menos água tenho que beber, acabava de decidir que desceria, pegaria uma garrafa de água e a beberia em seu quarto.

Para sua surpresa, a mesa estava posta. Sobre ela havia uma refeição que parecia arroz com estrogonofe e algo que lembrava batata palha.

Debra o olhava e logo ficou corada ao ver o belo corpo de Aaron. Seu abdômen era bem definido e seu rosto tão bonito quanto. Ele realmente era um homem que seria desejado por muitas mulheres.

Aaron também ficou sem jeito. Não que nenhuma outra mulher o vira; muitas já o tinham visto como viera ao mundo, mas a reação da garota o deixou sem jeito.

— O que é isso? — questionou tentando tirar atenção dela de seu peitoral.

— Comida comum de onde vim. — Ela parou de falar e pensou por alguns minutos. — Na verdade, nem sei se é típica de lá, porém muitos por lá comem.

— De onde você é?

— Sim... bem... mais ou menos.

Ele se sentou na cadeira em frente à mesa no meio da cozinha e sentiu aquele cheiro delicioso.

— Coma — ela disse se sentando na cadeira em frente a dele.

— Então é meio brasileira? Como veio parar no Canadá? — inquiriu enquanto se servia.

— É uma longa história, Senhor Carter, quer mesmo ouvi-la? — indagou com compostura.

— Por que não?

Ela deu de ombros.

— Minha mãe era brasileira e conheceu meu pai aos vinte anos enquanto cursava a faculdade. Quando ela engravidou, eles moravam no Brasil, e quando eu tinha seis anos, vim para o Canadá, mais ou menos isso. É uma história bem mais longa, mas os detalhes não são necessários.

— Entendi. — Bebeu um pouco de suco. — E você pretende fazer faculdade?

— Não, eu gosto de fotografar e procuro fazer o que gosto. Estou juntando dinheiro para viajar e tirar fotos de vários lugares.

— E por que aceitou cuidar da Abby?

— Por que não aceitaria?

Ele ficou sem saber o que responder, então voltou a comer a comida, que, por sinal, estava muito boa.

— Como foi seu dia? — a morena perguntou com uma expressão muito doce.

Aaron olhou para ela, paralisado. A jovem tinha tocado tão inocentemente em uma lembrança de Annie. Ele voltou sua atenção ao prato e sacudiu ao lembrar que apenas Annie perguntava isso a ele quando Aaron chegava de qualquer lugar. A sua preocupação com ele era uma das coisas de que ele mais sentia falta.

— E você se importa? — inquiriu em tom seco.

— Sou educada, Senhor Carter, e é normal perguntar às pessoas como que foi o seu dia.

Ele a encarou novamente, até que desistiu de se manter firme.

— Foi cansativo. Trabalhei, e só.

— Viu? Não doeu. — Ela se levantou sorrindo. — Vou me deitar. Boa noite.

— Boa noite.

O dia logo amanheceu, e Aaron não queria sair da cama. Parecia que seu corpo carregava um imenso peso. Queria voltar a dormir, já que era final de semana, mas com toda aquela claridade, ficava difícil de ele retornar ao sono. Tomou seu banho e se arrumou.

Quando decidiu descer e abriu a porta do quarto, sentiu que bateu em algo e ouviu um barulho de algo se chocando no chão. Ao olhar nessa direção, ele quis rir, embora ao mesmo tempo se sentisse culpado. Debra estava ao chão com um líquido vermelho em sua blusa e um copo caído.

— Me desculpa. — Ele estendeu sua mão para a ajudar a se levantar e então pegou o copo.

— Sem problemas, acordei um pouco distraída.

— E o suco se derramou em você.

— Eu só trouxe essa blusa — ela resmungou.

— Te empresto uma minha, não será problema algum. Aí você dá a sua para a empregada lavar.

— Eu sei lavar roupa e aceito a sua.

— Não tem vergonha de andar com uma blusa de homem?

— Vergonha a gente tem de roubar — disse brincalhona.

Ele fez um sinal com os braços para que ela entrasse em seu quarto. Ao entrar, Debra ficou completamente encantada e surpresa com o cômodo. Observou cada canto e detalhes da suíte cor de gelo, e Aaron notou a admiração em seus lábios e abriu um sorriso gentil.

— Feio? — perguntou.

— O quê? — Ela sacudiu a cabeça. — Não, é muito bonito, achei que seria algo assombroso, mas daqui tem uma vista linda.

— Verdade. Quem decidiu fazer o quarto nesse local, virado para trás da casa, foi a mãe de Abby. Antes mesmo de ter esse jardim, ela já o imaginava. Eu duvidava de que seria bom, até pensei na época em apostar com ela.

— Ainda bem que não apostou, ela tinha muito bom gosto.

A menina de cabelos negros então sorriu sem tirar sua atenção do jardim, observando a pequena casa que ficava nos fundos da propriedade. Aaron a admirou por alguns segundos, até que logo se lembrou da blusa.

— Aqui está, essa é a mais justa que encontrei. — Entregou-lhe uma blusa social branca.

— Obrigada, depois eu prometo devolvê-la.

— Pode ficar tranquila.

— Vai trabalhar hoje? — ela perguntou curiosa.

— Não, é fim de semana. Trabalho em casa.

— Vai precisar de mim?

— Não. Se quiser pode ir embora. Pode tomar café da manhã antes se desejar. Você que sabe.

— Acho que vou em casa arrumar umas coisas.

Okay. Troca a sua blusa aqui. — Ele a olhou novamente. Seus olhos se encontraram, e ele sacudiu a cabeça. — Te espero aqui no corredor.

— Está bem.

Logo a moça saiu, e a blusa, por mais que estivesse um pouco larga, com o short até o meio das suas coxas a fez ficar um pouco sensual. Aaron engoliu em seco por pensar em algo que fosse desrespeitoso.

Desceram as escadas conversando, e ele estava encantado com o fato de que, para uma menina da idade dela, Debra fosse completamente diferente. Ela falou algumas coisas engraçadas em relação à filosofia, como piadas, e tirou risos de Aaron, algo que dificilmente alguém conseguia apenas conversando. Seu lindo sorriso se desfez ao chegar ao fim da escada e ver seus pais.

— Aí está você. Acordou tarde, e agora sei por que! — No rosto de Clarck, seu pai, havia um sorriso malicioso enquanto analisava a menina de cima a baixo.

— Não é nada disso que o senhor está pensando, ela é a babá da Abby. — Bufou ao perceber o que o pai quisera dizer com aquilo. — Debra, esses são meus pais.

— Bom dia, Senhor e Senhora Carter — ela os cumprimentou gentilmente com uma leve reverência.

— Então você é a babá de minha neta. Vejo que ela está em boas mãos — o pai de Aaron declarou.

— Agradeço. Se me dão licença, vou-me embora.

— Não quer nem tomar café da manhã? — a mãe de seu patrão, que aparentava ter uns cinquenta anos, perguntou.

— Não... Não, agradeço o convite, é que eu tenho que resolver algumas coisas, mas de qualquer jeito, espero que tenham um bom dia.

Debra saiu sorridente e, assim que ela cruzou a porta da frente, os olhares dos pais de Aaron se cravaram no filho, que logo bufou e foi para a cozinha a fim de ignorá-los, principalmente a seu pai.

— Então ela é a babá?! — ele comentou, indo atrás dele.

Aaron pensou muito antes de lhe responder. Clarck nunca fora de elogiar e estava sempre na primeira fila para apontar seus erros.

— Sim, achei que seria o melhor para Abby.

— E você tem um fetiche pela babá? — Ergueu as sobrancelhas.

— Não acredito que disse isso. — Levou as mãos à cabeça. Olhou para ele, que estava com sua bengala entre as pernas e com seu melhor amigo – o jornal.

— Qual é, Aaron? Você é homem, e ela, uma linda jovem. Ela estava com sua blusa, e vocês estavam sorrindo. O que queria que eu dissesse?

— Nada, porque você, quieto, me irrita, imagina falando. — Encarou-o. — Eu a respeito, ela é uma menina de 19 anos e babá da minha filha. Eu não quero mulher alguma na minha vida, ainda mais uma criança como ela.

Após dizer essas palavras, avistou a morena atrás de seu pai e perto da porta. Ela o olhava de forma inexpressiva.

— Desculpa interromper, só vim pegar a minha blusa, que deixei pendurada aqui. — Ela estava um pouco sem jeito, e Aaron também. A garota não falou mais nada, apenas pegou sua blusa e saiu.

— Você é um trouxa mesmo — criticou o pai de Aaron enquanto bebericava seu café.

— Um filho puxa ao pai.

Aaron passou o dia com seu pai. Ele estava com uma sensação estranha e não conseguia se concentrar no que quer que fosse durante o momento dos dois.

— O que foi? — Clarck indagou.

— Nada.

— Certeza?

— Quanto tempo vocês vão ficar aqui, na minha casa?

— Indeterminado ainda, queremos passar um tempo com minha neta.

— Com sua neta? Ou quer se intrometer na minha gestão?

— Primeiro, a presidência só é sua porque eu te coloquei nela e porque eu montei a empresa com muita dificuldade; segundo, eu só quero ajudar; e terceiro, minha neta é importante para mim.

Como se alguma coisa importasse para ele... E como sempre, jogando na minha cara, pensou Aaron. Então deu de ombros e continuou falando sobre exportações ou algo parecido. Na verdade, ele nem sabia direito sobre o que falava. Sentia-se incomodado por ter falado aquelas palavras e Debra as ter ouvido. Uma hora ele não aguentou mais e se levantou. Precisava beber com um amigo, precisava ver Scott.

— Aonde você vai?

— Não é da sua conta, Senhor Clark.

Tentou chegar à casa de Scott o mais rápido possível. As luzes estavam acesas. Talvez ele estivesse em um encontro ou em uma festa, não sabia ao certo, seu amigo era meio imprevisível. Tocou a campainha três vezes direto, e quando Scott abriu a porta, estava vestido como se fosse dormir. O que Aaron mais achou estranho era que ele não ficava assim às 7h da noite.

— Oi — disse Scott quase sem fôlego.

— Estava correndo? — Aaron perguntou surpreso.

— Hã?... Ah, não. Nós estamos brincando. Entre.

Estamos e brincando na mesma frase... Aaron entrou com medo do que veria e, quando olhou para a sala, teve uma surpresa. Debra e Tori estavam lá, com os cabelos presos. No teto, luzes giravam e trocavam de cor. Na tela da TV gigante que ficava na parede, havia a letra de uma música oriental, ele não sabia ao certo qual, e microfones jaziam em cima da mesa de centro. Pelo chão havia refrigerantes e salgadinhos, e as duas também vestiam roupas de dormir.

— Não repara na bagunça, estamos fazendo uma festa do pijama.

̎dMt


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Notas finais do capítulo

Obrigado por lerem, eu sou eternamente grata por isso e os amo profundamente.



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