Memórias do Outono escrita por Maxine Sinclair


Capítulo 19
Capítulo 19




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Não seja só lazer, não se perca pela trilha

Aproveite um bem querer mesmo que for na despedida

Dentro de um velho quarto tentando me convencer

Que o rosto no retrato não vai mais envelhecer...

 

Lembranças – Maneva

            Aquelas palavras faziam o coração de Aaron doer. Era como se Annie já soubesse o que iria acontecer e tivesse que se certificar de que sua filha tivesse um pedaço dela. Annie sempre fora atenciosa e demonstrava isso em cada letra daquela carta. Aaron sentia tanta falta dela... A dor de perder alguém às vezes transforma as pessoas.

            Ele fechou o diário. Não sabia o que fazer com aquilo, mas compreendia que tinha de entregar a carta para Abby, só que ela ainda era muito nova para entendê-la.

            Ouviu alguém bater à porta.

            — Entre.

            — Bom dia, trouxe café — Debra entrou no escritório e disse, mostrando a bandeja com um sorriso no rosto.

            — Bom dia. — Levantou-se e beijou a morena. — Obrigado pelo café.

            — Ainda vou me acostumar com isso — ela sussurrou ao seu ouvido, referindo-se ao beijo.

            — Dormiu bem? — ele perguntou se encostando à mesa.

            — Muito bem. O que está fazendo?

            — Apenas terminando de ler isto. — Estendeu o diário para ela.

            — Diário de Annie Carter — leu. — Nossa, que letra bonita.

            — Verdade.

            — Ela o deixou para você?

            — Eu o encontrei por acaso e o li.

            Ela revirou as páginas, empolgada.

            — Nossa... — murmurou. — Que lindo...

            — O quê?

            — Esse colar. — Mostrou-lhe.

            Era um colar de prata com um pingente em formato de uma folha de outono, que Annie usava bastante e no qual tinha gravada a frase Só procura metades quem não é por inteiro. Era a mesma frase que estava na carta de Annie destinada a Abby.

            — Annie o usava com frequência. Onde estava? — questionou ele enquanto analisava o colar.

            — Estava preso na última folha do diário. — Ela se levantou e sorriu. — Dê a Abby. Afinal é uma parte da mãe dela.

            — Vamos comer? — Aaron indagou enquanto pegava as mãos macias da morena.

            — Vamos.

            Desceram e foram para a cozinha.

            — Vocês estão juntos? — Amber questionou.

            — Sim — ele assentiu.

            — Bem-vinda à família, Senhorita Bennet.

            — Sabia que isso aconteceria. Fico feliz que você seja minha nora — Clarck afirmou tirando a atenção de seu jornal.

            — Obrigada, de verdade. Fico feliz por vocês me aceitarem. Podem me chamar de Debra.

            — Tenho que ir trabalhar. — Aaron deu um beijo em Debra.

            — Tenha um bom dia.

            Eles só puderam notar os olhos atentos dos pais de Aaron.

Um mês depois.

            Assim que chegou ao seu escritório, Aaron viu que nem Petra, nem Scott estavam. Decidiu analisar todos os gastos do hotel e, para sua surpresa, ele estava virando um ponto importante na cidade. Todas as pessoas “VIP” queriam se hospedar nele.

            — Senhor Carter — sua secretária o chamou.

            — Sim?

            — O Senhor Bane está aqui querendo vê-lo.

            — Deixe-o entrar.

            Ela saiu e ele entrou em seguida, como sempre muito bem arrumado.

            — Desculpe interromper.

            — Não interrompeu nada. Como está?

            — Muito bem, e você?

            — Digo o mesmo.

            — Fiquei sabendo por Petra que você está namorando aquela jovem que foi na obra naquele dia. Ótimo gosto.

            — Agradeço.

            — Sabe, lembro quando conheci a mãe de Petra. Depois que nos separamos, passei a amar todas — brincou. — Meu coração é de todas, como diz na Bíblia, amai o próximo como a si mesmo. — Riu com a própria piada. Como sempre, Bane estava de ótimo humor em qualquer situação. — Quando se acha novamente a pessoa certa, não devemos deixá-la ir. — Piscou.

            — Vou me lembrar disso, Senhor Bane.

            Ele se aconchegou na cadeira.

            — Trouxe os lucros para você ver o quanto estamos indo bem. Seu pai tinha razão sobre você.

            Aaron ficou surpreso ao ouvi-lo falar sobre Clarck. Não tinha a mínima ideia de que eles tinham falado sobre ele.

            — Como?

            — Logo quando você não conseguiu realizar a primeira reunião, eu desisti de incluí-lo na licitação privada, mas quando conversei com o seu pai, ele me disse que você me apresentaria um ótimo projeto e que ele tinha fé em você. Disse também que acreditava que você elevaria a empresa e que nunca duvidara disso.

            — Ele falou isso? Meu pai? — inquiriu, cético no que acabava de ouvir.

            — Sim, ele sempre me falou muito bem de você, Aaron. Ele tem muito orgulho, até quando decidiu passar tudo para o seu nome.

            — Ele fez o quê? — Seus olhos pareciam saltar de sua face.

            — Passou toda a empresa, tudo o que ele tem para você. Não sabia?

            — Não, ele não me contou.

            — Pois bem, você tem um pai que te admira. Isso é algo muito bom.

            Aaron realmente não podia acreditar. Seu pai orgulhoso do filho que criticava.

            À tarde foi tomar café com Scott, que passara boa parte da manhã trabalhando na própria sala, e lhe contou o que descobrira.

            — Então por que não dá uma chance ao seu pai? — o amigo perguntou enquanto bebericava seu café. — Você tem que parar de ser orgulhoso. Vá para casa e converse com ele, porque eu sei que tudo o que você mais quer é um pai presente, e nunca é tarde para perdoar.

            Por mais que Aaron não quisesse admitir, isso era verdade.

            Chegou a casa sem saber o que fazer. Sentia-se culpado por ter julgado tanto o seu pai. Logo o viu na sala. Parou olhando para ele, que estava de pé com a ajuda da bengala perto da lareira. Clark retornou um olhar confuso para o filho.

            — Aconteceu alguma coisa? — indagou preocupado.

            Aaron foi em direção ao seu velho.

            — Me perdoa?

            — O quê? — Ele olhou para o filho, surpreso com a atitude repentina.

            — Eu te julguei mal por tanto tempo, mas nunca reparei em tudo o que você fez. Eu fui cego e orgulhoso e, por mais difícil que seja de admitir, eu preciso ser realista.

            Clarck não disse nada e apenas o abraçou... Abraçou forte como nunca fizera antes. Foi uma sensação tão diferente para Aaron. Então, com o abraço rígido, porém aconchegante de seu pai, vieram lembranças esquecidas de quando era criança, um tempo que nunca voltaria, mas que estaria sempre em sua memória e coração.

            — Eu que peço perdão por tudo, por não saber me expressar — sussurrou Clarck. E pela primeira vez Aaron viu seu pai chorar.

            — Nossa, estou tão orgulhosa de vocês — Sua mãe se aproximou e beijou a testa de ambos.

 

            — Ficou bom? — Abby perguntou na loja, provando um vestido laranja.

            — Ficou lindo — Aaron comentou enquanto a observava sentado.

            Debra voltou com ela para o provador. Sempre que aparecia com uma roupa que Aaron achava legal, a pequena fazia careta. Aaron estava achando engraçado, mas não entendia o porquê de a filha querer tanto sua opinião, se nunca a aceitava.

            — Já volto — avisou.

            Deu uma caminhada pela rua. Havia várias lojas por lá, mas uma lhe chamou a atenção. Era uma joalheria. Entrou para dar uma olhada, pois queria dar algo para Debra, só não sabia o que. Olhou em um dos balcões um anel. Era lindo e com delicadas pedras.

            — Quer dar uma olhada? — a mulher morena de cabelos cacheados perguntou, e ele assentiu. — É um anel de noivado, chegou ontem e está chamando muita atenção.

            — Anel de noivado? Acho melhor outra coisa.

            — É para sua noiva?

            — Namorada.

            — Se você a ama, qual o problema? Dar um anel de noivado nem sempre requer que o casamento seja no outro dia. Ela vai saber que você quer algo mais sério com ela, e aos poucos vão preparando a vida em conjunto — disse simpaticamente.

            — Você acha que ela vai gostar? É que não namoramos há muito tempo.

            — Contanto que seja especial, não importa o tempo.

            — Vou comprá-lo e, no momento certo, darei a ela.

            A moça sorriu e lhe entregou uma linda caixinha.

            — Boa sorte.


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