Memórias do Outono escrita por Maxine Sinclair


Capítulo 18
Capítulo 18




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/706621/chapter/18

Talvez eu seja um tolo, mas eu ainda me rendo
Pedindo aos céus acima de mim
Por um anjo para me amar
Pelo resto da minha vida

 

Angel – Casting Crowns

            Eu realmente ouvi isso? Ela realmente disse em alto e bom som?, era só o que Aaron conseguia pensar.

            Scott segurava Mason, Petra estava com as mãos tampando a boca, assustada, e Aaron ainda se encontrava em choque pelo que tinha acabado de ouvir e com a situação. Parecia que, depois do beijo que ele dera em Debra, tudo de ruim acontecera, como um dia de temporal. Todavia, agora surgia um lindo arco-íris no final. A melhor parte tinha chegado, mas também havia a possibilidade de ela ter dito aquilo da boca para fora, apenas para aquietar seu irmão.

            — Você está iludida, Debra, deixando todos que se importam com você de lado.

            — Que se importam? — Scott se intrometeu. — Eu estive ao lado dela! Quando precisou de um lugar, ela ficou em minha casa. Ela tem tudo com a gente, e você só traz aborrecimento. Você quer a casa dela, e a única coisa que vai conseguir é um calo na sua bunda de tanto esperar sentado! — Scott sempre exagerava em suas palavras.

            — Você nunca mais vai saber de mim, Debra. Depois que tudo der errado, não venha atrás de mim — Mason saiu com pressa, e em seu olhar havia ódio. Como alguém como ele conseguira uma noiva? Como alguém tinha a coragem de abandonar a própria irmã?, era o que Aaron se perguntava.

            — Me desculpem por isso — ela disse abaixando a cabeça.

            — Você não tem culpa. Estaremos sempre ao seu lado — disse Aaron, tentando apoiá-la.

            — Ele fugiu do controle, você não tem culpa de ele ser um completo idiota — Scott, por ser o mais íntimo, sabia o que falar. — Você sabe que nunca precisou dele e nunca vai precisar. Sempre correu atrás do que queria, e isso é o que importa.

            A moça sorriu.

            — Debra, participa com a gente? Vamos fazer uma baguncinha na casa de Aaron — Petra tornou a pedir.

            — Por que logo na minha? Scott que gosta de bagunça. — Ele bufou.

            — Por isso mesmo, lá é parado demais. — Petra olhou para cada um daqueles rostos suplicantes, e um sorriso apareceu em sua face. — Vocês dois podiam ir buscar o carro. Eu e Scott vamos terminar de comprar tudo rápido e vamos pagando.

            Scott fez uma careta, e ela o cutucou.

            — É, vão buscar, porque ela é maluca e vai comprar tudo que vê.

            — Está bem — Debra disse começando a andar, e Aaron foi logo atrás.

            No percurso, ele não sabia o que dizer, afinal muitas coisas estranhas estavam acontecendo. O que dizer... Ele tinha medo de falar algo errado e ela não reagir bem. Às vezes ele a olhava de lado, e ela parecia estar viajando ao olhar para as belas árvores que aparentavam ser pintadas a mão com os toques do outono.

            — É verdade — ela disse sem tirar seu olhar das árvores.

            — O quê? — perguntou confuso.

            — O que eu disse ao Mason. É tudo verdade, até o que eu sinto.

            Ele não conseguiu esconder o sorriso, e pararam no meio do caminho.

            — No dia do baile, quando você me beijou, eu estava confusa em relação a você, ainda mais porque é meu chefe, e ainda tinha o Logan, mas depois, quando eu falei que foi um erro e você concordou, eu fiquei sem rumo. É estranho dizer isso em voz alta, e logo para você. Eu nem sei o que fazer, nem muito menos o que falar...

            Aaron agiu com atitude: puxou-a pela cintura e a beijou. Estava cada vez se reconhecendo menos. Foi tudo mágico e até que duradouro, parecia que não havia mais ninguém no mundo. Os lábios macios dela tocando os seus eram como uma linda melodia. O gosto de sua boca, o cheiro de seu cabelo, tudo nela era perfeito para ele.

            — Uau, Senhor Carter, cada dia me surpreendendo — disse debochando.

            — Senhorita Bennet, o que acha de se juntar a esse senhor mais chato e careta do mundo e tentar ser isso tudo com ele?

            — Seria magnífico.

            Aaron estendeu a mão, e ela a segurou.

            Esse é nosso primeiro momento juntos como um verdadeiro casal, pensou ele.

            — Vocês sujaram tudo — Scott disse olhando ao redor.

            Havia muita farinha espalhada. Petra estava completamente banhada por ela. Já Debra estava comendo.

            — Olha quem fala, já se olhou? — Petra foi até ele e passou o dedo em seu rosto. — Até chocolate tem. — Riu.

            — Pelo menos é chocolate; você está coberta de farinha — retrucou.

            — Estou sentindo romance no ar — Aaron brincou, mas sentiu os dois olhares vindo em sua direção e querendo o fuzilar.

            — Está completamente louco, Aaron — Petra falou. — Cada dia pior.

            — Eu concordo com ela — Scott disse.

            Ele e Debra se entreolharam, e ela concordou com ele.

            — É assim que começa — a morena sussurrou.

            Eles reviraram os olhos e voltaram a comer. Abby chegara um pouco antes com o motorista e adorara a bagunça, tanto que nem se preocupou com o piquenique que não fizera com Debra. Foi uma tarde completamente inimaginável, mas Aaron sentia que faltava algo.

            Debra pegou sua câmera e registrou todos os momentos, os primeiros deles juntos.

            À meia-noite, todos foram embora, inclusive Debra, que tinha um encontro com Victoria cedo no dia seguinte, e Aaron apenas foi dormir.

            Logo quando acordou, decidiu correr. Durante todo o caminho a brisa batia em seu rosto, e se sentiu bem consigo mesmo, mas ainda tinha aquela sensação estranha dentro dele, algo difícil de explicar, então voltou para casa.

            — Eu só acho que ele se deu bem com isso, não vou me intrometer nos negócios dele, se ele tinha algo a provar... conseguiu.

            A voz que vinha da sala era a de seu pai. Foi até lá saber o que estava acontecendo, e ele falava ao telefone.

            — Aaron! — ele exclamou parecendo surpreso. — Pensei que fosse chegar mais tarde.

            — Cheguei cedo da corrida.

            — Está bem. O que vai fazer agora?

            — Vou para o meu escritório.

            Saiu sem olhar para trás. Por mais que ele quisesse saber do que Clarck tratava, não lhe perguntou e fez o que dissera que faria, foi até seu escritório particular. Olhando para a mesa, viu o diário de Annie e decidiu lê-lo.

            Diário de Annie Carterdizia a contracapa.

            Primeiro mês. Hoje descobri que estou grávida. É uma sensação incrível e indescritível. Ainda tenho que contar para o Aaron, mas tenho certeza de que ele amará assim como eu. Aaron é sempre tão atencioso que me pergunto se sou boa o suficiente. Tenho muita sorte por tê-lo encontrado.

            — Como ela pôde pensar que não era o suficiente? E essa foi a melhor notícia.

 

            Contei para o Aaron, e ele ficou tão alegre quanto eu. Quem diria que eu estaria com um ser dentro de mim? Estou ficando louca, ou vou ser realmente mãe? É tão empolgante, toda garota sonha em se casar e construir uma família perfeita. Normalmente só fica em sonhos, mas eu tenho tudo aqui... um marido que me ama e sempre está ao meu lado, por mais teimoso que seja – essa parte adoro –, um bebê a caminho, que sinto que será uma menina, e uma vida muito perfeita. Nada pode estragar esse momento.

            Hoje é segunda, e o terceiro mês de gravidez, e estou virando uma bolinha. Aaron vive me tratando como se eu estivesse doente, faz tudo sem eu ao menos pedir. Um marido tão perfeito... Será que eu mereço?

            Quarto mês com muita felicidade e carinho. Ainda sinto que será uma menina, e se realmente for, quero pôr o nome de Abby, um nome bonito e com uma linda história. Infelizmente Aaron acha que é menino, até quis apostar.

            Aquelas palavras eram tão simples e tão espontâneas, como Annie sempre fora. Às vezes a vida te dá algo tão bom de primeira que, quando você perde, fica perdido e não sabe o que fazer ou onde ir. Foi assim que me senti quando ela se foi, quando perdi minha pequena Annie, quando percebi que não teria mais seu cafuné ou até mesmo seu sorriso, seu jeito alegre de ser. Voltou à leitura.

            São 1h53 da manhã. Hoje foi um dos dias mais cansativos para Aaron. Ele está ao meu lado, dormindo, parece um anjo, e para ser sincera, ele é tão gato. A cada dia mais me encontro perdidamente apaixonada por ele. Está chegando o dia de saber se é menina ou menina, e sim, duas vezes, porque sei que virá uma princesa e que vou fazer muitas trancinhas em seus lindos cabelos. Agora a minha dúvida é qual cor de cabelo irá puxar.

            Seis meses, e hoje fomos ao hospital descobrir se virá a Abby, e para minha grande felicidade, sim, é uma menina. Quando vi a imagem, meu coração acelerou e chorei... Chorei muito, sou muito emotiva, o que posso fazer? Mas fico feliz em saber que terei minha pequena flor e que cuidarei dela com tanto amor, que ajudarei com os assuntos de meninos e, se um dia seu coração se partir, eu farei chocolates e a alegrarei e direi palavras sábias tiradas de um livro qualquer de filosofia, mas pelo menos ela saberá que sempre estarei ao seu lado.

            Sétimo mês já. Cada dia passando mais rápido. Estou aproveitando que Aaron aprendeu a fazer massagens e pedindo muitas, mas muitas mesmo, porque as costas doem e para dormir é difícil. Mas quando eu ver seu rosto e você brincando por aí, Abby, espalhando todos os seus brinquedos, e eu atrás, irritada e admirada e arrumando tudo, sei que vai valer a pena toda a dor sentida.

            Hoje começa o oitavo mês. Passei muito mal e fui parar no hospital. Eles me deram uma notícia triste, mas que não irá tirar o meu maior desejo, que é ter minha linda Abby. Disseram que eu posso ter riscos durante o parto e talvez tenha que escolher entre mim e ela, mas só se caso houver algum problema na hora. Provavelmente vai correr tudo certo. Aaron despencou com a notícia, sei que é difícil para ele, e também é para mim.

            Aaron conseguiu finalmente sentir as lágrimas. O papel tinha algumas manchas, como se ela também chorasse ao escrever, assim como ele chorara por ter lido. Aquele dia fora tão difícil que ele ficara quieto durante o dia todo. Pôde sentir o quanto ela estava triste e o quanto ele se sentia mal por não poder ajudar. Olhou para o diário, e tinha algumas fotos deles e uma folha solta. Era uma carta endereçada a Abby.

            Querida Abby,

 

            hoje é o grande dia, e gostaria de deixar algo para você saber o quanto foi amada antes mesmo de nascer. Deixo essa carta para você nunca se sentir sozinha e saber que, por mais que eu não tenha te visto crescer em Terra, estarei contigo onde eu estiver, estarei cuidando de você. Seu nome é pequeno, mas originou uma grande história de amor. Te dei esse nome em homenagem à avó de seu pai. Ele a admirava, era um amor tão meigo e puro que, quando ela faleceu, ele ficou tão triste, tão mal que eu aproveitei para me aproximar dele e dar o apoio necessário para que ele ficasse bem. Eu tinha sete anos e queria ver todos felizes, daí surgiu o que tivemos até o momento. Quando fiz a minha escolha ao me perguntarem, caso seja necessário decidir entre a minha vida ou a sua, os médicos me pediram para que eu pensasse mais um pouco, só que eu não precisava pensar, eu queria dar a Aaron o maior presente que alguém poderia ter, você.

            É tão lindo isso o que estou sentindo, é algo que nunca senti. É um medo, não de ir embora, e sim por ter a ideia de que talvez eu nem veja seu rosto, não participe de sua criação, não dê todo o carinho e amor que você precise, mas fico feliz por saber que terá uma vida e alguém como seu pai para se espelhar. Ele pode ter cabeça-dura, mas é um ótimo homem. Eu poderia te contar nessa carta muitos momentos bons que passei com seu pai, mas você ficaria um tanto admirada e também entediada. Espero que você encontre alguém que te faça bem assim como encontrei, porém, lembre-se: Só procura metades quem não é por inteiro.

           

            De sua mãe que te ama muito,

 

Annie Carter.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Memórias do Outono" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.