Memórias do Outono escrita por Maxine Sinclair


Capítulo 17
Capítulo 17




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/706621/chapter/17

Eu vou dar um tempo para isto, dar espaço
E ficar tranquilo por um tempo
Quando for hora de andar por aquele caminho
Nós vamos querer andar direito...

 

Love is waiting – Brooke Fraser

            Aaron ficou surpreso, achara que Debra fosse tirá-lo de lá, que iria fazer tudo, menos sorrir.

            — Sério que foi você?

            — Como assim?

            — Meu irmão me ligou avisando que Logan tinha brigado e me disse que nem tudo é o que parece ser. — Ela soltou um riso irônico. — Mas então? Por que brigaram?

            — Você não está com raiva?

            — Por que estaria? Você não é uma pessoa agressiva, ele deve ter feito alguma coisa.

            — Entendo.

            Ela foi até um armário e pegou toalhas e uma caixa primeiros socorros.

            — Sente-se aí — disse apontando para a mesa. Ela o envolveu com uma das toalhas e começou a limpar o sangue e as poucas feridas com delicadeza. — Me conte.

            Ele estava com receio de falar, e ela percebeu.

            — Aaron, pode me contar. Nada do que me falar vai me surpreender.

            — Ele estava com uns amigos e algumas amigas. — Deu um tempo para encontrar palavras. — Olha, eu estava bebendo, me exaltei.

            — Ele estava com outra, não é? — Parou com os curativos e fixou seu olhar neles.

            — Debra... eu...

            — Aaron, fale. Seja sincero comigo.

            Ele respirou fundo. Tinha medo de magoá-la. Por mais que ele não quisesse que ela ficasse com Logan, não queria deixá-la triste.

            — Ele estava, sim, ele parecia um pouco mais...

            — Íntimo com uma delas. — Voltou o seu olhar para o dele. Aaron estava sem jeito ao ver que em seus olhos tinha um ar de confirmação, como se já soubesse de algo.

            — Sim.

            Ela soltou uma risada, talvez por estar em estado de negação.

            — Eu já tinha uma ideia. — Ela percebeu o quanto ele estava confuso e começou a explicar: — Eu conheço Logan desde criança. Meus pais o adoravam e sempre diziam que um dia ficaríamos juntos. Logo após o acidente, Logan e eu nos aproximamos e, quando tive mais idade, começamos a namorar. Sempre fomos eu e ele. Eu não tinha meu irmão por perto porque ele estava ocupado demais com o trabalho e a mulher, então eu me acostumei com o Logan. Ele era minha família. — Ela parecia admirada ao lembrar. — Mas infelizmente eu não era a pessoa certa para ele. Eu comecei a ver as coisas de uma maneira diferente, não lhe dava atenção devida e, por mais que ele tentasse, nunca era o suficiente. Eu tinha uma certa desconfiança, e agora está confirmado.

              O seu sorriso, que sempre fora meigo, estava se desfazendo, e logo algumas lágrimas ameaçaram cair.

            — Nossa, tenho que terminar este curativo — disse olhando para o mesmo e enxugando suas lágrimas com a manga da blusa antes que caíssem. — Logo isso irá melhorar.

            — Debra — Aaron chamou, tentando achar palavras certas em meio às incertezas.

            — O quê? — Parou com a toalha na testa dele.

            — Não fica assim.

            — Eu vou ficar bem.

            Ela terminou o curativo na sua testa, mostrando-se forte. Aaron imaginava que, por mais que ela não tivesse dado a devida atenção ao noivo, doía nela. Ela sentia algo por Logan, ele era importante, e Aaron queria ajudá-la a amenizar aquilo.

            — Pronto — ela falou, afastando-se. — Vou preparar um chá.

            Na hora em que Debra se virou, Aaron não conseguiu se segurar. Sabia que aquela não era a hora, mas se não o fizesse naquele momento, ele não iria conseguir depois, e a pegou pelo braço.

            — O que foi? — Em seu olhar havia surpresa.

            — Debra, sobre o beijo...

            — Foi um erro, eu sei. Não tem que se explicar.

            — Não foi um erro.

            Ela se ajeitou e ergueu as sobrancelhas. Estava pasma com o que aquele homem poderia dizer.

            Será que ele vai dizer?, ela pensou tentando não demonstrar nada.

            — Como?

            — O único erro foi eu ter dito isso por medo do que você pudesse pensar ou falar... Debra, tudo o que eu mais queria naquele momento era te beijar, tudo o que eu mais quero é tê-la ao meu lado, e não me arrependo de nada, apenas de não ter percebido o que sentia antes.

            Ela parecia não saber o que falar, mas ele já tinha começado e queria terminar.

            — Pode parecer loucura para você, mas em minha vida fui sempre movido pelo amor de Annie, e ninguém conseguia suprir aquele vazio. Comecei a ir por um caminho escuro e tortuoso, só que, depois que te conheci, tudo mudou. Você me mostrou um caminho, me mostrou a luz. — Eu disse, realmente acabei de expressar meus sentimentos, pensou. — Eu sinto muito por estragar tudo e dizer isso logo agora, mas eu não quero guardar isso. Quando vi Logan com aquela mulher, eu não me segurei e realmente não sinto culpa, mas não me sinto bem em vê-la triste. Eu estou completamente apaixonado por você.

            — Eu nem sei o que dizer.

            — Não precisa, sei que na hora certa saberá o que fazer. Não vou pressioná-la, você está noiva, mas agora você já sabe o que sinto, e só o que me importa é que você esteja bem. — Ele percebeu que tinha exagerado, então achou que era melhor sair antes que piorasse. — Eu vou embora, já está tarde e não quero atrapalhar, muito menos piorar a situação.

            — Você não atrapalha — falou simpaticamente.

            — Agradeço por seus cuidados — disse indo até a porta, que ela havia aberto.

            — E não se meta em mais brigas.

            Ele assentiu.

 

            Acordou animado. Sabia que precisava de um café, então, após um delicioso banho quente, desceu e foi ver se já estava pronto e deu de cara com Debra na cozinha.

            — Bom dia.

            Ele gelou ao ouvir a sua voz.

            — Bom dia, achei que não viria hoje. — Tentou disfarçar pondo o café na xícara.

            — Por que eu não viria? Você que está meio indisposto. — Apontou para o rosto dele fazendo uma careta.

            — Engraçadinha, você — retrucou.

            Foi em direção à mesa sorrindo, mas virando o rosto para que ela não percebesse. Contudo, não tinha visto que seus pais estavam lá. Ficou sem graça enquanto o encaravam.

            — O que foi? Um homem trabalhador não pode sorrir?

            Logo deram de ombros, mas sua mãe continuava com um sorriso de lado, voltando seu olhar para o suco a sua frente.

            Comeu algumas torradas; era o primeiro café da manhã que tomava direito após tanto tempo só pensando em trabalho. Comeu uma fatia de butter tart e se aprofundou em meio a tantos bolinhos.

            — Desse jeito você vai acabar se entupindo de comida — Clarck falou sem tirar seus olhos do jornal.

            — Comer é viver, Senhor Carter — Debra disse se sentando ao lado de Aaron.

            Ela pegou uma torrada e passou um molho meio amarronzado na mesma.

            — Prova isso — disse colocando-a na boca do jovem. Aaron já estava se acostumando com os cuidados da morena, mas o pai dele ficou pasmo com a cena, enquanto a sua mãe ajeitava os óculos para ver se estava enxergando direito.

            — Nossa, perfeito.

            — Papai! — Abby foi gritando em direção ao colo macio de seu pai.

            — Bom dia para você também. — Sorriu.

            — Hoje vamos fazer um piquenique.

            — Nossa, vocês duas só pensam em comer. É isso mesmo?

            — Você quer ir ou tem algo mais atraente para fazer? — a morena perguntou encarando-o.

            — Vou trabalhar, mas divirtam-se. — Levantou-se e saiu.

            Logo quando Aaron chegou ao escritório, Petra já estava lá trabalhando, perdida em seus relatórios. Ele entrou, sentou-se a sua mesa e puxou assunto com ela.

            — Bom dia — disse com um sorriso largo.

            — Bom dia, gatão.

            — A cada dia suas brincadeiras começam mais cedo.

            — Estou com fome, mais alguém está? — Scott adentrou, dizendo.

            — Estou cercado por pessoas que só sabem comer. — Bufou Aaron.

      — O que aconteceu com seu rosto? Caiu com a cara na mão de alguém? — Scott perguntou rindo.

      — Talvez — respondeu sorrindo. — Mas valeu a pena.

      — Como assim? — a ruiva questionou.

— Ontem eu briguei com o Logan, o noivo de Debra, num bar onde eu gosto de beber e depois me declarei a ela — falou de forma tão serena que ninguém quis acreditar em suas palavras.

      — Alguém te drogou? — Scott perguntou analisando seu rosto.

      — Vai ficar tão próximo? Mais um passo e você me beija.

            — Agora nos conte o que aconteceu.

            — Eu fui beber e o encontrei com outra. Eu estava com raiva e bêbado, então o agredi, e depois teve uma discussão entre mim e os amigos dele, e ele me atacou também. Logo após fui, no meio da chuva, para a frente da casa de Debra.

            — Parece cena de filme — disse Petra empolgada. — Continue!

            — Então, enquanto eu contava o que aconteceu e ela cuidava de todo o estrago em meu rosto, eu me declarei.

            — O que você falou? — Petra indagou.

            — Não irei dizer, já foi muito estrago para uma semana inteira.

            — Mas o que ela disse? — Scott parecia apreensivo.

            — Nada. Eu deixei que ela pensasse, não queria pressioná-la, ainda mais após descobrir o que o noivo fez. Eu só estou feliz por ter contado.

            — Viu? Eu disse que era o certo. De nada — Petra disse se gabando. — Sempre me escute.

            Voltaram ao trabalho. O silêncio rondava enquanto Scott analisava o nada, Petra assinava alguns papéis e Aaron preenchia os cronogramas de eventos futuros. Era incrível como, de repente, sua vida havia mudado. Scott e ele começaram a ter uma vida juntos fora do trabalho, conhecera Petra, que logo se tornara uma grande amiga, e começara a sentir algo de verdade por alguém além de Annie, por mais que ele não tivesse deixado de amá-la e nunca deixaria.

            — Queria entender o porquê de ela ainda vir aqui — Scott cochichou olhando para Petra.

            — Porque somos parceiros, não do jeito que eu queria, é claro, mas somos parceiros nos negócios — disse brincalhona.

            — Ela agora é da família, Scott, vai ter que aturá-la.

            Ela se levantou de forma espalhafatosa.

            — Já sei, vamos ao mercado comprar algumas coisas.

            — E por quê? — Scott perguntou.

            — Vamos comemorar e fazer uma confraternização, e eu vou cozinhar.

            — Meu Deus, vamos perder os dentes — retrucou.

            Os três se levantaram, saíram e foram andando em direção ao mercado que ficava ali por perto. Petra andava no meio dos dois, agarrada em seus braços, arrastando-os até o local. Parecia uma criança, e toda hora sumia ao pôr as coisas no carrinho, enquanto ele e Scott só observavam.

            — Vejam quem eu encontrei — ela declarou animada com Debra ao seu lado com uma cestinha na mão.

            — Olá — acenou a morena.

            — Pensei que estaria em um piquenique com Abby — argumentou Aaron.

            — Abby está em um de seus cursos, vamos após a aula dela e, enquanto isso, estou comprando o que falta — explicou.

            — Que atenciosa — Petra disse tocando em seu ombro. — Vamos fazer uma confraternização; se quiser, pode aparecer. — Ela sussurrou: — Eu vou cozinhar.

            — Eu já tinha combinado com Abby, mas divirtam-se.

            Os caminhos de Debra e Aaron se cruzaram. Ela o olhou e sorriu.

            É tão estranha a sensação, pensou e olhou para sua mão, onde o anel de noivado não mais residia.

            — Debra?! — uma voz grossa ecoou atrás de Aaron.

            — Mason — falou ela friamente.

            — Pelo visto já está bem em relação ao que aconteceu — ele afirmou indo em direção a Aaron.

            — Mason, aqui não é a hora e nem o lugar, então não começa — a morena pediu, tentando afastar o irmão.

            — Ele agrediu o Logan! Como você pôde terminar com ele por causa desse cara? Como você deixa uma pessoa que esteve sempre ao seu lado por alguém que mal conhece?!

            Ela terminou, Aaron pensou, surpreso.

            — Olha, ela não teve culpa pelo que eu fiz. Eu o agredi, então resolva comigo, mas você devia estar ao lado de sua irmã e não daquele moleque — impôs-se.

            Mal pôde terminar suas palavras, e Mason já o foi agredindo com um soco. Ele já estava cansado das coisas como estavam.

            Logan a traiu, mas é a atitude do irmão dela que me impressiona.

            — Chega! — Debra disse em alto e bom som. — É verdade, eu terminei com Logan porque era preciso. Ele sempre esteve ao meu lado enquanto você estava ocupado demais em outros lugares e com outras pessoas, enquanto você, que era para ser mais achegado, que era para ser minha família, me abandonava por causa de uma mulher tão sem conteúdo que chega a dar raiva. — Ela se ajoelhou perto de Aaron. — E por ele ser tão especial, eu tinha que ser sincera com ele. Há muito tempo esse relacionamento está se desfazendo, e o que eu sentia foi se acabando. O que eu tenho por ele é carinho e admiração; o respeito acabou com a traição. Fora isso, antes de Aaron eu já estava mal com esse namoro.

            Ele a encarou.

            — E você, como meu irmão, deveria me apoiar — ela completou.

            — Eu nunca vou apoiá-la nessa sua escolha.

            — Eu o amo. — Aaron conseguiu sentir seu coração desacelerando aos poucos. — Amo Aaron, e nada do que você disser vai mudar isso.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Memórias do Outono" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.