Memórias do Outono escrita por Maxine Sinclair


Capítulo 12
Capítulo 12


Notas iniciais do capítulo

Oi amores, espero que gostem do capítulo.



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E eu estou perdido atrás

Das palavras que eu nunca vou achar

E eu fui deixado para atrás

Como as estações que se vão...

Seasons – Chris Cornell

Três meses depois.

— Eu não queria nada além de um chocolate quente, mas a vida me fez amar café.

— Eu nunca gostei, prefiro sucos. Você é tão jovem. Sinto falta disso.

As vozes vinham da cozinha, seguidas de risos.

— Mãe, você está na flor da idade — Aaron falou ao entrar na cozinha.

— Fale isso mais cem vezes, e talvez eu acredite. — Piscou, saindo da cozinha.

— Bom dia, Debra.

— Bom dia, Aaron.

— Me desculpe por ter chegado tarde, fiquei adiantando as coisas.

— Sem problemas.

— Posso te pedir uma coisa?

— Mas é claro.

— Passa a dormir aqui durante a semana. É perigoso ir embora tão tarde, e você mora sozinha mesmo.

— Eu não quero atrapalhar.

— E você não atrapalha, eu garanto.

— Mas, Aaron, eu...

— Sem mais.

— Tudo bem.

— Obrigado. — Levou a mão ao peito para mostrar alívio.

— Sobre o evento na escola de Abby, ela me disse que queria que eu fosse e que até falou com você sobre isso. Eu disse que não queria causar intriga e...

— Eu sei e quero que você vá comigo — disse antes mesmo que ela pudesse completar.

— Quê? Sério?

— Sim, você sempre está com ela, não vejo problema algum. — Pegou uma garrafa de suco. — A menos que você não queira ir.

— Eu quero. Quando ela veio falar comigo, parecia animada.

— Mas antes eu tenho que trabalhar.

— Como sempre. Notei que você anda pensativo.

— Um pouco, já está próximo da inauguração do hotel e ninguém conseguiu pensar num bom tema para a festa, mesmo que Petra tenha dito que queria organizá-la com antecedência.

— Um tema qualquer?

— Sim. Petra falou em festa havaiana.

— Não acho muito apropriado — disse pensativa.

— Eu disse a mesma coisa, tem que ser algo sofisticado e marcante.

— Hum... O que acha de máscaras?

— Como?

— Um baile de máscaras. — Ela se aproximou e fez uns gestos engraçados como se ele fosse olhar para o alto e ver a cena. — Imagina aquele baile cheio de gente importante e todos de máscaras, e à meia-noite todos se revelam para as pessoas amadas.

— Sério, isso?

— É, ignora a parte do amadas, já que eu exagerei e pense no baile de máscaras. — Me lembrei de O fantasma da ópera. — Soltou uma risada.

— Nada — disse ele com um sorriso estampado no rosto.

Debra se expressava de uma maneira diferente de qualquer pessoa, em pequenos gestos que o lembravam de Annie, seu modo de agir sem pensar, falar o que vinha à cabeça, sonhar acordada, e o que mais chamava a atenção do frio Carter era seu sorriso. Ele podia admirá-lo o dia todo, era encantador.

— O que foi? — ela perguntou.

— Nada. — Desviou o olhar. — É à tarde, não é?

— Sim.

— Nos vemos mais tarde, então. — Saiu sem olhar para trás.

— Queria falar comigo? — Petra indagou entrando com alguns papéis nas mãos.

— Sim, acho que tive uma ideia de tema para a festa.

— Ah, que bom, então diga — pediu enquanto caminhava em sua direção com seu vestido justo até os joelhos.

— A ideia não foi minha, mas a achei muito boa. — Sentou-se, e ela fez o mesmo. — O que acha de um baile de máscaras?

Ela o olhou por um tempo, e um sorriso de lado apareceu em seu rosto.

— Perfeito — disse sem demonstrar dúvidas.

— Mesmo?

— Claro, um baile de máscaras é algo muito sofisticado, lindo. — Ela arrumou o porta-canetas em cima da mesa.

Ele não tinha pensado no quão boa era a ideia. Debra realmente sabia o que falar em todos os momentos.

— Quem teve a ideia? — ela inquiriu, tirando-o de seus pensamentos.

— Debra Bennet. — Um sorriso surgiu em seu rosto ao se lembrar do momento.

— A menina que veio aqui naquele dia, no início do projeto? Me lembro dela. Por que você não a convida?

— O quê? Por que a convidaria?

— Ela teve a ideia. Não acho ruim, e você parece gostar dela.

— Eu já te disse que é profissional. Ela trabalha cuidando de minha filha, eu não quero nada com ela.

— Sei.

— Vocês estão juntos? — Scott questionou invadindo a sala.

— Até você, Scott? Como eu disse para Petra, não temos nada.

— Então diga isso para os jornais.

— Os jornais falaram dela? — Aaron já estava confuso. Logo percebeu que não tinha como falarem de Debra nos jornais. Scott não estava se referindo à garota. — Do que está falando?

— Saiu no jornal sobre a parceria do momento, e aqui diz que vocês dois estão tendo um caso. — Apontou para Petra e Aaron.

Ela riu.

— Essas coisas saem nos jornais, é normal — ela afirmou se aproximando.

— Verdade, não me importo com notícias que não são reais — Aaron falou sem pensar nas consequências.

— Já decidimos o tema da festa — ela disse parecendo animada e cortando o assunto.

— Qual?

— Máscaras, a Senhorita Bennet que deu a ideia, e achei fantástica. Não acha?

— Como sempre, ela tem boas ideias.

— Tanto faz, tenho que ir agora — Aaron declarou pegando seu paletó.

— Aonde você vai?

— Vou à festa da escola de Abby, Debra já deve estar me esperando com minha filha.

— Você a convidou? — ele indagou surpreso.

— Não, Abby a convidou, e eu permiti.

— Uau, Senhor Carter, achei que nunca chamaria ninguém além de mim para as coisas da escola — Scott ironizou. — Fui trocado.

— Não é uma coisa, e sim um evento.

— Ao qual normalmente você mandaria um empregado ou até mesmo a mim.

— Eu mudei e quero passar a ir nessas coisas, por mais que sejam...

— Chatas? — Petra completou.

— Isso.

Assim que ele chegou, Debra estava na frente da escola. Ela sorriu ao o ver e acenou. Estava bem-vestida com um vestido cor-de-rosa de renda e um sobretudo preto, mantinha uma bolsa em sua mão. Seus cabelos negros caíam em ondas. Muitas pessoas chegavam, pareciam encher o local.

— Que bom que chegou, Abby estava ansiosa e com medo de você não vir.

— É claro que eu viria, não perderia isso... — Olhou ao redor. Nem sabia que evento era esse, muito menos o que ia acontecer. — Por nada — completou.

— E o senhor sabe o que é isso? — Olhou ao redor.

— Isso é um evento sobre... sobre...

— É um evento de estações do ano. A escola faz isso todo ano. Vamos entrando que eu explico, porque senão você pode fugir.

Ele lhe deu o braço, e ela apenas a olhou por uns segundos. Então pegou o braço dela e o colocou no seu.

— Não vai doer, Senhorita Bennet.

Ela sorriu.

— Vai haver várias atividades e apresentações como peças, músicas, comidas, brincadeiras, talvez. Não sei se as colocaram esse ano.

— E como você sabe? Já veio?

— Eu vim à reunião para responsáveis, e eles explicaram.

Ele se sentiu um péssimo pai. Nunca havia comparecido em nenhuma reunião de Abby, muito mal havia vindo em algum evento da escola.

— Entendi, parece divertido.

Ao redor estava tudo ornamentado de acordo com as estações do ano, flores por todos os lados, luzes, estava tudo muito bonito. Entraram no teatro, que ficava atrás da escola e se sentaram na quinta fileira. As luzes se apagaram, e a diretora começou a apresentação.

— Boa tarde a todos. Primeiro quero agradecer à presença de todo mundo. É muito bom tê-los conosco. Espero que curtam o evento das estações do ano e tenho certeza de que todas as crianças estão felizes por ter os senhores aqui. Nada do que uma família reunida. Fiquem à vontade e se divirtam com as apresentações.

Logo que ela saiu do palco, as luzes se apagaram e as cortinas se abriram. Uma garotinha de cabelos castanhos, que aparentava ser um pouco mais velha que Abby, cantava um dos sucessos atuais no mundo pop. Sua voz era tão suave que fazia a todos que estavam no recinto quererem ouvir mais e mais. Algumas crianças dançaram, outros cantaram, fizeram números de mágicas e também recitaram poesias. Enfim começaram uma peça sobre as estações do ano, e Abby estava fantasiada de outono. Aaron sentiu pela primeira vez como era um pai bobo e orgulhoso pelo que a filha acabava de fazer.

— Está orgulhoso? — Debra perguntou.

— Muito, ela está atuando tão bem e parece feliz com o que está fazendo — falou sem tirar seus olhos da menina.

— Ela vinha três vezes por semana ensaiar, e quando soube que seria a princesa do outono, ficou feliz.

— Imagino.

Abby dançou músicas contemporâneas junto com os outros alunos, e como fazia ballet, provavelmente se dera bem nos ensaios. Ela amava dançar, estava em seu sangue, não tinha como negar.

— Senhor Carter — Margareth sussurrou enquanto se sentava ao seu lado. — Que bom que veio.

— Está muito bonito o evento.

— Fico feliz que esteja gostando, achei que não viria.

— Eu não podia perder e vejo que estava certo.

A peça acabou, e todos aplaudiram. As cortinas se fecharam novamente, e tudo se apagou.

— Esta é a melhor parte, preciso ir. Sinta-se à vontade.

— Obrigado.

Os aplausos duraram alguns segundos. As cortinas se abriram, e lá estava Abby ao lado de um piano. Ela se curvou e sorriu ao ver seu pai na plateia pela primeira vez. Sentou-se no banco do piano e respirou fundo. Aaron estava completamente curioso com o que ela faria, nunca a tinha escutado tocar piado, nem sabia que ela tocava. Todavia, seu coração gelou quando ela começou a tocar. Ele se arrepiou ao ouvi-la dizer as primeiras frases da música. Sua filha estava tocando a música que Annie cantara quando seus pais não aceitaram o noivado de ambos. A canção que ela dizia ser a música deles.

...Oh, uma vez na sua vida você acha alguém
Que irá fazer seu mundo virar
Te colocar para cima quando você se sentir para baixo

É, nada pode mudar o que você significa para mim
Oh, tem muitas coisas que eu poderia dizer
Mas só me abrace agora
Porque o nosso amor vai iluminar o caminho...

E então lágrimas que ele nunca havia deixado cair depois da morte de Annie desceram sem que ele ao menos pudesse notar.

 


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado e obrigado por me acompanharem.



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