Memórias do Outono escrita por Maxine Sinclair


Capítulo 10
Capítulo 10


Notas iniciais do capítulo

Obrigado por estarem lendo, espero que deguste.



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Sorrisos da indiferença, de novo,
Que eu tanto escondo!
Qual é a sensação de recuar um passo à frente?

Athousand faces – Creed

— Você é o cara! — Scott declarou invadindo o escritório do chefe e amigo.

— O que eu fiz?

— Que mulher era aquela? Você se faz de lerdo, mas de lerdo não tem nada. — Seu sorriso estava de orelha a orelha.

— Não aconteceu nada. Você veio aqui para isso?

— Não, me deu vontade de vir aqui. Para de ser chato e conta.

— Não aconteceu nada, fomos até o cais, só trocamos algumas palavras e ela me beijou.

Scott ficou o olhando por um minuto e depois voltou a falar:

— Só isso?

— Sim, apenas isso.

— Tem nome ou número da moça?

— Não me deu nada.

Ele riu debochadamente.

— Retiro o que eu disse.

— O que foi?

— Não, cara, nem o nome dela você perguntou.

— Eu não vou nem te dar ideia. — Aaron se levantou.

— Aonde você vai? — ele perguntou caindo no riso.

— Eu vou almoçar em casa.

— Espera, não vamos juntos ver a obra? — Ele continuava rindo.

— Perdi a vontade.

— Temos reunião.

— Depois eu volto.

Scott continuava tentando caçoar de Aaron, mas esse saiu sem dar ouvidos e foi para casa. Poucos minutos, e já estava em sua residência, e todos estavam se preparando para almoçar.

— Papai!

Foi recebido logo pelo carinho de Abby.

— Vamos almoçar?

— Sim, eu queria ir para a estufa, mas Deb disse que só vai me levar se eu comer.

— É claro, como vai cuidar das plantas se não ficar forte? — questionou piscando.

— Boa tarde, Senhor Carter.

— Boa tarde, Senhorita Bennet. — Calou-se por uns segundos, então continuou: — Será que pode me chamar de Aaron e, se não for pedir muito, de você? Ainda sou novo.

— Claro. — Ela pensou por uns instantes e continuou: — Você vai almoçar conosco?

— Sim.

Quando chegaram à cozinha, o cheiro estava maravilhoso. A mesa estava repleta de comidas e bebidas, a sobremesa estava exposta para quem quisesse se servir. Algo chamou a atenção de Aaron: Debra e Abby agradeceram a Deus pela comida antes da refeição. Ele nunca tinha visto Abby fazer aquilo, era como se Deb fosse o espelho da garota.

Após o almoço, Aaron decidiu ir tomar um banho e logo se esparramou no seu enorme e confortável sofá. Enquanto descansava, viu Debra pegando à sua frente a carteira dela, que estava na mesa de centro, e sua bolsa, que estava na poltrona ao lado. Então a moça reparou que estava sendo observada. Só não contava que os olhos que a olhavam não o fizesse à toa.

— O que foi? — perguntou sorrindo.

— Nada. — Ele se sentou, arrumando-se.

— Vamos à estufa, vai querer ir?

— Qual a graça de uma estufa? — brincou.

— Não quer descobrir?

A curiosidade o fez querer ir. Ele tinha mudado tanto por causa de Debra em tão pouco tempo que queria saber mais sobre ela. Sentia a necessidade de saber mais sobre aquele anjo que sempre estava por perto em suas horas mais difíceis atualmente. Ela era uma menina reservada sobre si mesma, ele só sabia algumas coisas de seu passado graças a outras pessoas, mas nada de seu presente, só do quanto ela amava fotografia, tanto que sempre tirava fotos de cada momento.

— Está bem, eu vou.

— Vamos sair daqui a uma hora mais ou menos para dar um tempo de descanso, depois te chamo.

Ele passou o tempo em casa enquanto esperava dar o horário de ir para a estufa lendo, e no meio de seus livros na estante achou uma espécie de diário de Annie. Ele era médio, a capa era de um roxo-escuro e tinha poucas páginas escritas. Sua letra cursiva parecia desenhada, e era sempre muito meiga em suas palavras.

— Aaron, já vamos. Você vem?

— Sim, já estou descendo.

Aaron guardou de volta o diário e desceu para sair com as meninas para visitar a estufa e saber qual era a graça de ver plantas, plantar ou o que quer que fizessem naquele lugar.

Chegando ao local, parecia tudo normal, menos a cesta que Debra havia levado. Não tinha muita gente, e ela forrou com o pano que estava dentro da cesta um canto perto das roseiras e colocou algumas coisas que estavam dentro da mesma por cima.

— O que está fazendo? — Aaron perguntou.

— Isso se chama piquenique.

Ele se sentou perto de Debra.

— Olha para ela — Debra falou, e ele olhou para a filha, que estava animada. — Não é legal ver o quanto ela gosta de cuidar das flores?

Ele observou Abby por alguns instantes para poder comentar. Ela pegava as mudas com calma e arrumava a terra, mas ficava só naquele canteiro.

— Ela só fica nesse canteiro porque é mais bonito?

— Na verdade, quem fez esse canteiro foi ela.

Ficou surpreso.

— Como?

— Ela vem aqui desde quando comecei a trabalhar na sua casa. Ela estava triste, e aprender botânica a ajudou a tirar o que estava em seu coração e fez muito bem a ela — na voz e no rosto de Debra havia admiração. — De início, não achei que ela iria gostar, mas ela aprendeu muito rápido, e então passei a vir toda semana. Venho e, enquanto ela tem sua aula, eu faço qualquer outra coisa. Como dessa vez você veio, eu trouxe comida.

— Não sabia que aqui tinha aula disso.

— É uma ótima aula, Aaron, Abby aprende a ter paciência e dar todo o seu carinho àquilo que faz, e ela o faz com tanta dedicação que me dá um prazer ver todas as aulas dela.

Aaron fechou os olhos por alguns segundos e depois sorriu. Annie amava o outono e as flores. Abby tinha mais da mãe do que ele podia imaginar.

— Ela faz isso por tanto tempo e eu nem sabia.

— Ela faz muitas coisas, porém na escola ela está muito melhor, e o mais bonito é que ela não faz por mim e nem por você... Ela faz por amor.

— Estou orgulhoso da filha que tenho.

— E deveria mesmo, o senhor tem uma filha muito boa.

— Tenho mesmo.

— E como vai a obra? — inquiriu pegando uma torrada.

— Eu ainda não fui vê-la, eu tenho que ir hoje. Espero que esteja adiantada, porque quero tudo pronto o mais rápido possível.

— Pelo visto você é ansioso.

— Deu para notar? — brincou.

— Só um pouco — piscou. — É muito importante isso, não é?

— Sim, em todo esse tempo que estou administrando, não tem nada que eu realmente tenha feito, nenhum projeto, nem obra e nem contrato. Tudo quem realizou foi o meu pai, até que vi esse lugar abandonado. Por algum motivo me encantei e imaginei coisas que estavam fora da realidade, e por mais que eu reconheça isso — Aaron demonstrou toda a paixão pelo seu trabalho —, quero tentar, eu quero ser capaz de fazer o inimaginável.

Debra o observou enquanto ele se expressava. Sentiu uma certa admiração e, por mais que tentasse, não conseguia parar de olhá-lo.

— O que foi? — perguntou ao ver o olhar da jovem.

— Nada, é que... eu nunca te vi tão empolgado com algo e confesso que é bom.

— Você deve me achar um louco que só trabalha, não é?

— Você está perguntando isso para alguém que está atrás de um propósito que talvez nem exista.

Eles riram juntos, e seus olhares se encontraram novamente, mas não disfarçaram, apenas deixaram o momento passar.

— Mas não te acho assim, pelo menos não agora — ela completou.

— Sério?

— Você mudou bastante, eu te achava estranho, ignorante, egocêntrico, maluco, um péssimo pai.

— Eu já entendi.

— Mas agora minha visão sobre você mudou muito, vejo um cara que, por mais que erre, está tentando consertar as coisas com a filha, um cara que quer fazer algo próprio, que venha do próprio esforço, um cara que, por mais complicado que seja, se preocupa em fazer o melhor, e não é para se sentir melhor que os outros, e sim consigo mesmo.

Debra era a única que dizia as coisas que ele menos queria ouvir, sempre fora sincera em tudo, mas naquele momento ela falou o que realmente pensava dele, e essa nova visão o surpreendeu, o fez sentir algo estranho, mas era um sentimento bom. Por mais que doesse admitir, ela era alguém que o deixava maluco e ao mesmo tempo bem. Sentia-se completamente confuso sobre ela.

— Toma. — Ela colocou uma fruta em sua boca.

— Desse jeito vou ter que começar a frequentar uma academia.

— Mas é fruta.

— Com chocolate e chantili.

— Não deixa de ser fruta — a morena resmungou.

Ela olhou para o relógio e viu que já estava na hora de levar Abby para a natação.

— Aaron, vou levá-la para a natação.

— Levo vocês.

Pouco tempo depois já estavam na aula. Deixaram Abby com a professora e logo retornaram ao carro.

— Ela sai que horas? — perguntou ele.

— Às 6h.

— Então vamos fazer alguma coisa enquanto esperamos?

— Sério que vai ser o motorista hoje?

— Já me fizeram sair de casa, então vão me aturar pelo resto da tarde. — Bateu no volante sem querer, o que fez um barulho ao encostar-se à buzina.

As pessoas que estavam no estacionamento o olharam ao tomarem um susto.

— Você não tinha um compromisso?

Ele olhou para a hora e viu que tinha se esquecido, por mais que tivesse acabado de falar sobre ele.

— É verdade, tenho que ir à obra. — Levou a mão à cabeça. — Você quer ir?

— Eu não vou atrapalhar?

— Não, é só uma visita de rotina, e provavelmente Scott também vai. Além disso eu sou o presidente. Quem iria querer falar algo contra?

— Então será um prazer.

No celular de Aaron chegou uma mensagem de Scott.

Será que você pode vir aqui me buscar? Aconteceu uma coisa com meu carro, e preciso de carona para ver a obra. Já estou à sua espera.

Aaron achou graça na mensagem. Scott nunca pedira carona na vida, tinha um enorme ciúme daquele carro. O que poderia ter acontecido para ele pedir tal coisa?

— Antes vamos buscar Scott, aconteceu alguma coisa com o carro dele.

— É, ele bateu com o carro — Debra contou naturalmente, como se fosse algo simples.

— Como?

— Bateu na porta da garagem. Ele estava bêbado.

Vinte minutos depois tinham chegado à obra. Scott, revoltado por estar no banco de trás, passou a viagem toda reclamando.

— Obrigado por ter ido me buscar, amanhã já pego o carro de novo.

— Na próxima, você não se embebede tanto.

— Quem te contou?

Aaron assobiou, e Scott logo olhou para Debra.

— O que foi? Uma hora ele iria saber. — Ela deu de ombros.

A obra, por fora, ainda não tinha mudado tanto, mas por dentro estava muito adiantada. Aaron estava maravilhado com o que tinham feito até o momento.

— Senhor Carter, que bom o ver aqui.

Aaron ficou feliz, pois o presidente da outra empresa estava controlando a obra de perto.

— Eu que o diga, Senhor Bane. — Ele olhou ao redor. — Está tudo tão... tão magnífico.

— Bom, seu projeto é ótimo, como eu disse, então eu contratei o dobro de funcionários com o orçamento que me deu, e como não queria muitas mudanças porque a estrutura desse lugar estava em perfeitas condições, decidi aumentar o ritmo para que pudéssemos inaugurar o mais rápido possível.

— E realmente está magnífica — Aaron ouviu uma voz doce dizer atrás de si, uma a qual ele já tinha escutado, porém não se lembrava de onde, e quando se virou, surpreendeu-se.

A mulher da noite anterior, que não lhe tinha dito nem mesmo seu nome e que se fora após um beijo.

 


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Notas finais do capítulo

Obrigado por acompanharem e realmente espero que estejam gostando, beijos e até o próximo capítulo.



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