OBSÉDANT

PROLOGUE

A ruiva andava delicadamente e em postura perfeita, com seus cabelos vermelhos balançando atrás de si. Para James aquela era a visão do paraíso, como se um anjo beijado pelo fogo habitasse a terra e fosse o seu maior pecado. Ou talvez o maior pecado de James Potter fosse nunca ter tido coragem de ir conversar com a garota que o encantava desde que começara a frequentar a aula de psicologia. Aliás, coragem ele tinha de sobra, mas parecia que tudo se esvaía de seu corpo quando se aproximava dela, então lhe restava apenas a contemplação, como se ela fosse uma pintura raríssima. A ruiva era a obra de arte favorita de James e ele não conseguia parar de admirá-la, mesmo não sabendo nada sobre a tal.

No máximo ele tinha ciência de seu nome, Lílian Evans ou apenas Lily, como a maioria a chamava.  E quando se tratava da maioria, entraria na conta apenas os professores, que a viam como um exemplo de perfeccionismo e responsabilidade a ser seguido, e Dorcas Meadowes, a única pessoa que andava com ela. Mas todas essas características não a tornavam estranha para o Potter, como todos pensavam que ela era, esses detalhes a tornavam uma criatura única, como um belo lírio de fogo em um jardim cheio de ervas daninhas.

O garoto fitava Lily enquanto ela se direcionava para sua habitual mesa, no canto ao lado da janela, o mais perto possível do quadro. Ela sempre se sentava ali, quieta, quase nunca se pronunciava na aula, James mal sabia qual era o som de sua voz, mas imaginava que deveria ser a mais doce que algum dia conheceria. Ela passava parte da aula apreciando a paisagem do lado de fora, as árvores que balançavam e desprendiam folhas de seus galhos, os poucos pássaros que existiam naquela região, até mesmo a neve fofa que se formava no inverno parecia algo que realmente prendia sua atenção.

Ao contrário de Lily, ela mesma era quem roubava a atenção do Potter. Às vezes ele se perdia na coloração de seu cabelo, que brilhava mais ainda, como chamas vivas, em contato com a luz alaranjada do sol.

— Cara, se continuar se inclinando assim para frente vai cair de cara no chão e você sabe que eu vou rir muito — escutou Sirius soar sarcástico atrás de si, retirando-o de seu transe diário.

— Aposto que ele acaba babando antes mesmo de bater o nariz no piso.

Marlene ria histericamente acompanhada do Black, parecendo dois loucos que realmente deveriam ser. Tendo amigos como eles não era necessário nenhum inimigo, eles faziam um ótimo trabalho ocupando os dois cargos.

— Calem a boca — rebateu se encostando emburrado na cadeira.

Marlene suspirou, sentindo pena de James. Ela, assim como Sirius e Remus, sabia perfeitamente do amor platônico que ele nutria pela ruiva misteriosa, mesmo que mostrasse o contrário, saindo com mais da metade das garotas do colégio.

— James — chamou, controlada dessa vez. — Você é sempre tão corajoso e cheio de si, só não é mais aparecido que o Pads, porque seria meio impossível né, ele acha que o sol gira em torno dele e não o contrário — revirou os olhos, sendo contemplada por um olhar mortal vindo do homem ao seu lado. — Mas a questão é, eu não entendo como essa sua coragem desaparece perto dela.

— Eu também não sei, Lene.

— Bom, mas eu acho que deverias ir atrás dela, nem que fosse para receber um belo tapa na cara, ano que vem nós vamos para a faculdade — refletiu. — Vá saber se algum dia você vai voltar a encontrar com ela de novo.

— Aproveita, amigão — Sirius lhe encorajou com um tapinha no ombro. — Mas se nada der certo, lá em casa tem muito lenço para você limpar suas lágrimas de garoto apaixonado.

James revirou os olhos, abaixando a cabeça sobre seus braços cruzados na mesa. Mas no final das contas Marlene estava certa, assim como Padfoot e Remus. Fazia anos que ele apenas apreciava Lily de longe, nunca haviam trocado uma mera palavra, ele nem sabia como ela reagiria. Por que tinha tanto medo?

Essa era a sua última chance de se aproximar da garota que encantava seus dias e ele não poderia desperdiçá-la. Lily era diferente, e era isso que não permitia que sua atenção fosse desviada dela. Ele sentia uma enorme vontade de desvendar a pureza no olhar esverdeado da ruiva, de escutar a voz que por anos imaginava como deveria ser, de entender os pequenos detalhes que apenas ela parecia notar, de saber sobre o mundinho particular no qual ela vivia, sempre com um sorriso encantador e olhos brilhantes. James precisava dizer a ela o que queria antes que não tivesse mais tempo.

Pois ela era como um mistério a ser desvendado e a curiosidade dele estava quase o levando à loucura.