Anna Selina escrita por Georgeane Braga


Capítulo 6
Capítulo Seis - Adeus, John


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoal! Enfim, vim postar mais um capítulo de Anna Selina.
Obrigada a todos que estão lendo e acompanhando ♥

E tenho novidades:
O Projeto Coletâneas voltou!!! E depois de Amores Virtuais, apresento a vocês Amores Militares! Já são dois contos postados, mas será um total de dezoito. Gente, estão maravilhosos os contos ♥
Quem ainda não conhece o projeto, deem uma olhadinha aqui mesmo no meu perfil, tá?

Beijão ♥
Boa leitura!

Música para acompanhar o capítulo: Thousand years - Christina Perri



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Selina andava de um lado para outro esfregando as mãos. O rosto estava inchado por não conseguir parar de chorar desde a visita do Conde, seu futuro marido.

─ Não posso Alexia! Não posso me casar com o Conde! Prefiro fugir!

─ Acalme-se, Selina, veja o seu estado? Não podes ficar assim! Titia acabará suspeitando e castigando-a ─ clamou a prima.

Selina sentou-se na cama ao lado de Alexia e suspirou fundo. Estava cansada de manter a calma. Cansada de não poder expressar seus verdadeiros sentimentos.

─ Minha prima, sei que não há mais recursos para mim. Mas peço-te que me ajude com uma coisa ─ pediu Selina.

─ O que tens em mente? Farei o possível para ajudar. ─ Respondeu Alexia.

─ Preciso ver John e quero que peça um lacaio para lhe enviar um bilhete. Se eu fizer, levantará suspeitas em papai. Quero encontrá-lo nas ruínas e peço que vá comigo.

 A amiga pensou um pouco e disse em seguida:

─ Eu temo por essas aventuras, todavia, sei o quanto estás sofrendo e também por que essa conversa precisa acontecer. Vou ajudá-la, minha prima.

Selina deu um sorriso tristonho para Alexia e a abraçou em agradecimento.

—---AS--------------

John estava verificando a carruagem e os cavalos quando um jovem aproximou-se dele, perguntando:

─ Você é John?

Ele virou-se achando estranha aquela abordagem, pois, ninguém ali naquela cidade o conhecia. Mesmo assim, respondeu:

─ Sim, sou eu.

─ Esse bilhete é para vós? ─ E o rapaz voltou-se para ir embora.

─ Hey, espere! Quem o enviou? ─ indagou o lacaio.

─ Não tenho permissão para dizer, senhor. Apenas leia o bilhete. ─ E partiu.

John olhou aquele pedaço de papel e abriu. Era uma caligrafia feminina e, automaticamente seus olhos rolaram para a assinatura. Apenas um nome: Alexia.

Alexia? Nunca ouvira falar.

 

“Senhor John,

Sei que deves estranhar tal atitude, porém, preciso lhe falar sobre a senhorita Selina Becker, de modo que, peço que me encontres nas ruínas esta tarde.

Alexia.”

 

Selina? Como alguém poderia querer conversar algo sobre a futura condessa e sua patroa? Preocupou-se.

Guardou o bilhete e foi se informar sobre o local do bilhete.

—---AS----------------

            ─ Mais um lindo presente de casamento chegou! Olhe que maravilha, Anna? ─ Disse a senhora Becker toda orgulhosa segurando uma caixa de couro que continha uma gargantilha com uma opulenta pedra azul turquesa. ─ Anna? Anna Selina está me ouvindo?

            ─ Sim senhora! ─ Disse desanimada.

            ─ Simplesmente não te entendo, Anna Selina. Após o baile estava toda radiante com a ideia de se casar com o Conde, e agora, novamente lamentas? Erga as mãos aos céus, menina! Ele é rico, tem título e és um belo rapaz. O que mais podia querer?

            Selina apenas suspirou ignorando o comentário da mãe, e depois disse:

            ─ Minha mãe, darei um passeio rápido com Lexy pela cidade esta tarde, não demoraremos. Apenas para espairecer.

─ Vá sim, minha querida! Precisa estar bem para o casamento que se aproxima. Mas levem uma dama de companhia. Não daremos motivos para as línguas invejosas dessa cidade.

Selina recolheu-se em silêncio e foi preparar-se para seu encontro.

—---AS-------------

John escalou algumas escadas de pedra que davam acesso às ruínas. Era uma antiga construção em um terreno bastante íngreme, um palacete, talvez, mas ainda assim, aquelas paredes destruídas demonstravam a beleza que compunha aquela arquitetura do passado.

Entrou naquele lugar e aos poucos, explorava aquele labirinto. Ouviu um assovio baixo e olhou para a direção do som. Uma moça de cabelos negros aproximou-se dele e disse:

─ Senhor John? Sou Alexia Becker, prima de Anna Selina Becker. Ela pediu-me que intermediasse esse encontro. Ela está ali ─ e apontou para uma parede onde provavelmente estaria escondida ─ Ela precisava ver-te, portanto, peço-te, senhor: seja o mais breve possível, contudo, faça-a entender a realidade dessa situação. Ela deve ser a Condessa de Blanchard e sei que o senhor também pensas assim. Estarei do outro lado.

E retirou-se do local.

John estava estupefato diante daquela circunstância. Por que Anna Selina precisava vê-lo?  O que quereria dizer-lhe? Caminhou lentamente para o local que a moça o esperava e a cada passo que dava, o coração acelerava.

Quando atravessou a parede que separava os dois, ele a viu. Aqueles olhos caramelos o observavam; tristes, curiosos, assombrados, questionadores... Ela estava ainda mais linda do que a noite do baile.

Eles apenas se olharam nos primeiros instantes e Selina teve a certeza de que o desejava para si como naquela noite. Quem sabe mais do que aquela noite. Ele tinha o rosto fino, olhos e cabelos negros. O semblante dele era sereno, apesar da apreensão que sabia que ele sentia naquele momento. Olhava-a com ternura e medo ao mesmo tempo.

─ Senhorita Becker... ─ Conseguiu dizer finalmente.

Anna Selina sentiu uma fisgada de decepção no peito. Ele não dissera o primeiro nome dela como na primeira conversa que tiveram. Isso transmitiu a ela certa raiva dele. Teria mentido a ela? Onde estava toda aquela cumplicidade de sentimentos? A frase que dissera a ela?

─ Então és o usurpador? ─ A indagação saiu fria. John estremeceu. Tentou dizer algo:

─ Senhorita Becker, creio que esteja ciente das razões que me levaram a tomar o lugar do Conde de Blanchard aquela noite. Devo-lhe o mais sincero pedido de perdão. ─ E curvou-se diante dela.

A moça segurou as lágrimas ao sentir tanta formalidade por parte de John que fora seu grande amigo e que conseguira ganhar seu coração.

─ Por quê? ─ A voz saiu trêmula e John olhou para ela. Os seus olhos marejados de tristeza cravaram como facas afiadas no peito dele. ─ Por quê John... ─ e já não mais conseguia conter as lágrimas.

Ele a abraçou num ímpeto sem pensar em mais nada. Aquele “Por que” dizia tanta coisa.

─ Oh Selina... eu não sei... ─ e passou a mão nos seus cabelos levemente ruivos enquanto ela chorava copiosamente no peito dele. As lágrimas também desciam do rosto dele ao passo que olhava sem piscar, para um ponto fixo qualquer.

Era tão injusto. Tão cruel.

Alguns minutos depois eles se olharam novamente e ele enxugou com os dedos, as lágrimas que ainda escorriam na face rosada dela.

─ Selina... ─ recomeçou John ─ Tudo o que eu queria nesse momento era poder voltar no tempo e nunca ter aceitado a proposta de Michael, assim, não teria a ousadia de colocar os olhos em ti e me apaixonar.

─ Apesar das circunstâncias, foi a noite mais feliz da minha vida, John. Eu o amo e agora estou perdida para sempre. ─ e retornou a chorar abraçando-o novamente.

─ Eu nunca lamentei nada em minha vida, Selina... Mas nesse momento, lamento por não poder ser alguém para desposar-te. Não sou ninguém; sou um mero lacaio e você, a filha de um general e a futura Condessa de Blanchard. ─ Disse com voz amarga.

─ Eu não quero nada disso, John! Eu quero ficar com você. Fugimos se preciso for! Mas vivamos nosso amor! ─ Fitou-o esperando uma resposta.

O rapaz suspirou e abaixou o olhar quando respondeu:

─ Não podemos, Selina... Não posso tirá-la do conforto que estás acostumada e te submeter a uma vida de privações. Você é jovem demais.  As dificuldades chegariam e, com elas, as frustrações. E há outro motivo... ─ Selina, desconsolada, apenas ouvia ─ O Conde Campbell é meu amigo. Eu não poderia traí-lo dessa forma, entendes? Não é da minha natureza por mais que amo e sempre amarei a sua futura esposa. Partirei logo após a cerimônia...

─ Não John! Eu lhe imploro! Se não podemos ficar juntos ao menos fique perto de mim! ─ Dizia a moça desesperada.

─ Seria sofrer demais... Não posso. Ao menos não agora...

A senhorita Becker ficou em silêncio, olhando para o chão enquanto as lágrimas pingavam.

─ Eu não quero acreditar que passarei minha vida inteira sendo de outro quando eu o amo... ─ disse ela.

─ Vou te esperar para sempre. Eu prometo Selina... És o meu céu, o meu paraíso. Um dia seremos felizes de alguma forma, creia nisso.

─ Eu contarei os dias, John...

Ele pegou nas mãos dela e a trouxe para perto de si. Olhos nos olhos. Ele a tocou no rosto e não pensaram em mais nada. Um beijo romântico e cheio de tantos sentimentos selou aquele momento de angústia. Era o primeiro beijo dela e nunca se arrependeria de tê-lo dado ao homem amado.

Ficaram mais algum tempo abraçados antes de encararem a realidade de suas vidas.

—---AS-------------

─ Estás linda filha! ─ A senhora Becker dizia extasiada à filha, já com o vestido de noiva, esperando o momento de sair de seu aposento e apresentar-se ao salão onde todos a esperavam. Principalmente, o Conde.

Seria uma grande cerimônia, pois, sendo de família influente e com a grande aliança com os Miller&Campbell, toda a elite vienense estaria presente.

A mãe saiu para dar ordens aos criados e Selina, diante de sua amargura, cogitou a possibilidade de uma fuga. Ir atrás de John e dizer a ele que não importava se era um lacaio ou se teria uma vida de escassez, ela o queria. Queria ser feliz e só teria isso com ele, seu único e verdadeiro amor.

Tentara ser cordial com o Conde durante suas visitas. Ele sempre se mostrando atencioso e querendo agradá-la em tudo, no entanto, não conseguia vê-lo ao menos como um amigo. Ele era o seu maior inimigo. Tudo acontecera por culpa dele.

Ela olhou pela janela de seu aposento e calculou a altura para descer pelos galhos de uma árvore que atravessava sua janela, como fazia na infância. Enquanto planejava, a porta de seu aposento foi aberta e uma senhora foi anunciada e que gostaria brevemente de falar com a noiva. Era a Condessa de Blanchard, mãe do Conde.

─ Senhorita Becker, desculpe abordá-la dessa forma, ainda em seu quarto, porém, desejo apenas trocar algumas poucas palavras. ─ Disse a senhora com muita simpatia.

Selina não queria, mas, já havia gostado daquela mulher aparentemente tão amável.

─ Sei que ainda não tivemos oportunidade de nos conhecer. A viagem foi longa e desgastante, de modo que, consegui chegar a Viena apenas ontem. Pois, bem... E por isso estou aqui... ─ continuava a falar, a senhora Campbell. ─ Meu filho tinha razão, você é uma linda mulher, senhorita Becker, e estou tão feliz por trazer alegria ao coração outrora tão fútil de meu filho...

Selina apenas a olhava sem nada dizer.

─ Sabe, ─ continuou a senhora ─ Michael não queria arcar com as responsabilidades de seu título. Apesar de se mostrar rebelde, ele sofreu bastante com a morte de seu pai. Ele, no fundo, tem um grande coração, Selina, e só precisa de uma esposa que o ajude nessa caminhada que o espera. Ele já não está tão desanimado como antes e isso me fez perceber que faz parte dessa conquista. Estou muito feliz com a escolha de meu filho e quero dizer que tudo o que precisares, minha menina, pode me dizer. Moverei céus e terra, se possível, para que vocês sejam felizes. Pode tratar-me como uma segunda mãe, pois, já te tenho como uma filha que nunca tive. Já a considero como tal.

E beijou-lhe a face da moça, e emocionada, saiu do aposento.

Essa atitude inesperada da Condessa, desarmou Selina sobre seus planos de fuga. Sempre quis que sua mãe a entendesse e se importasse com ela, tal qual a senhora Campbell acabara de fazer. Aquela atitude aqueceu-lhe o coração.

E John?

Seu coração palpitou. Não podia chorar. Suas escolhas refletiriam o futuro de todos ao seu redor, e percebeu que, se fugisse com John, afetaria ele também, pois seu pai os perseguiria e com suas influências, os achariam, fazendo seu amado pagar um alto preço: a própria vida.

            Não tinha escolha.

            Enxugou o canto dos olhos com seu lenço. Pensou em John. Em Michael. Em seus pais. Em sua sogra. Em sua própria vida. Tinha apenas dezessete anos, mas tinha uma decisão de peso nas mãos.

            Alexia bateu na porta e entrou. Ela olhou para a prima e a abraçou. Sabia sua dor.

            E com a escolha feita, saiu do quarto para cumprir seu destino.

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Os noivos preparavam-se para sair. A carruagem já estava à espera, pois, viajariam para a Polônia  e, por lá, ficariam por um mês inteiro. Depois, iriam direto para a residência dos Blanchard em Brno, na República Tcheca.  

            Anna Selina procurara John por toda a festa, mas ele não encontrara. Certamente, pois, sua presença não seria permitida entre as pessoas presentes.

            Entretanto, o próprio Conde Michael, perguntava por ele de vez em quando, como se fosse para si mesmo, então Selina chegara a conclusão de que Michael desejava a presença dele, assim como ela, na festa, porém, John preferira não participar.

            Na saída, e com os infindáveis cumprimentos dos convidados, os noivos foram se desvencilhando para tomarem lugar na carruagem. Eis que, quando chegaram lá, John segurava a portinhola aberta, com os trajes devidos de um lacaio. Ele não ousou olhar para ela, mas ela o olhava tentando disfarçar seu semblante.

            ─ O que significa isso, John? Não era esse o nosso combinado? ─ Ralhou Michael ─ Hã... Desculpe, minha esposa, este é John, meu melhor amigo, e que não cumpriste a promessa de agir como tal no dia de meu casamento.

            Selina não soube o que dizer, então apenas acenou levemente a cabeça para ele.

            Jonh ergueu a mão para que Selina apoiasse ao entrar na carruagem, e disse:

            ─ Condessa Blanchard, faça uma boa viagem.

            Aquilo gerou um sentimento terrível nela. E para não entrar em desespero, respirou fundo para manter seu autocontrole, e sem fitá-lo, disse com todas as forças que tinha:

            ─ Adeus John...

E segurando em sua mão, subiu na carruagem e acomodou-se. Mas John repassara a ela um pedaço de papel em sua mão. Ouviu seu marido despedir-se do amigo e desejar uma boa viagem de volta À Londres, dizendo que em breve o veria de novo. John voltaria com a senhora Campbell. Colocou o papel entre o lenço.

O Conde de Blanchard também se acomodou na carruagem, sentando ao seu lado, e sorriu para Selina. Ela tentou retribuir, e antes que a portinhola fechasse, ela olhou novamente para John. Seus olhos se cruzaram por dois segundos e pronto. Ali acabava tudo. Não veria mais o homem da sua vida. A carruagem começou a movimentar-se e teve que deter a vontade de olhar para trás.

Uma última vez. Para ele. Para se despedir.

Mas não pôde.

Então, só lhe restou a despedida muda que sangrava em seu coração. E mentalmente disse: “Adeus, John!"

E disfarçadamente, abriu o bilhete entre o lenço e leu as palavras que tudo lhe dizia:

"Mein Himmel. Mein Paradise."


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Notas finais do capítulo

Comentem, tá bom pessoal? *-*

Beijão ♥



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