Anna Selina escrita por Georgeane Braga


Capítulo 4
Capítulo Quatro - Céu inalcançável


Notas iniciais do capítulo

Olá queridos leitores! Estou de volta trazendo mais um capítulo de Anna Selina. Espero sinceramente que apreciem e gostaria muito da opinião de vocês, tá bom?

Agradecimentos eternos pelas queridas Nicoly Simarque, Chars, Amanda Fg, Paty Everllark e Carol Rochaa que estão acompanhando e comentando a história ♥
As palavras de vocês são minha recompensa, meninas. Muito obrigada! *---*

Boa leitura a todos!

*Música-tema do capítulo: Sonata Nº11 in A maior (Mozart)



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─ Estou achando tudo muito estranho, senhor meu marido! Não temos notícia alguma da chegada do Conde em Viena ou mesmo em Brno, onde fixará residência? ─ questionava a senhora Becker.

─ Não há o que se preocupar, minha senhora. Ele já confirmou presença no baile de hoje a noite e acredito que não manchará sua reputação descumprindo sua palavra ─ respondeu o marido.

─ Sim, de fato, porém, deveria ter ao menos enviado flores ou um bilhete nos informando de sua chegada. Acho muito descortês esse tipo de atitude.

─ Não se apegue às minudências, mulher, o acordo entre as famílias já está praticamente firmado, isso é o suficiente. Em breve nosso exército se aliará novamente à Inglaterra e aniquilaremos de vez aqueles franceses insolentes!

─ E Anna Selina se tornará a Condessa de Blanchard! ─ Disse sonhadora, a senhora Becker, abanando seu leque ─ Isso tapará a boca das invejosas dessa sociedade!

O General Nicolau balançou a cabeça enquanto olhava para o seu jornal, como se quisesse dizer: “mulheres e seus anseios idiotas!”, mas a verdade é que ele bem sabia o prestígio que isso renderia À família Becker. Tanto em questões militares quanto sociais.

─ Bem, eu vou ver como estão os preparativos para Selina. Quero que ela esteja deslumbrante nesse baile! Não há nessa cidade uma moça  com beleza esplêndida como nossa filha...

E saiu da presença do marido ainda falando e expressando sua satisfação com o futuro de sua filha.

 

—----------------AS----

 

O jovem conde George já estava estabelecido na casa de campo de sua família esperando pela senhora Olívia Green. O casal de caseiros já sabia dessa “infâmia”, como costumava dizer a senhora Bertland, ao marido, sobre tal atitude do conde.

O casal trabalhava há anos na casa de campo onde presenciavam, por várias vezes, as escapadas de George com mulheres comprometidas. Mas já há algum tempo, com a senhora Green.

“Deixe isso pra lá, mulher! Não temos nada a ver com isso! ralhava o senhor Bertland com sua senhora.”

À tarde, a senhora Green apareceu e foi diretamente aos aposentos do Conde, como de praxe. Aos beijos, ela dizia a ele:

─ Quanta saudade tive de ti!

─ Eu também, minha senhora! Eu também! ─ respondia ele.

E se entregavam a louca paixão que sentiam um pelo outro sem pensar nas consequências do ato proibido.

Naquela tarde do primeiro dia de seu encontro com Olívia Green, George não quis dizer a ela sobre as mudanças que ocorreriam dali para frente em vossas vidas. Queria aproveitar com ela, o máximo daquela despedida. Sabia que seria difícil.

Mas no terceiro dia do encontro, quando George já precisava partir para Viena, não teve como adiar mais aquela conversa.

─ Olívia... Preciso dizer-lhe algo e não será um assunto fácil ─ disse ele enquanto acariciava os cabelos de Olívia, deitados na cama.

Ela o olhou, espantada e curiosa e indagou:

─ O que se passa?

Ele a aconchegou mais ainda em seu corpo e disse:

─ Eu vou me casar, Olívia, assim que eu partir para a Áustria.

Ela deu um pulo soltando-se dele e sentando-se na cama; olhando-o como se fosse uma assombração.

─ O que me diz? Estás louco? Que brincadeira é essa?

─ Não... Não é brincadeira, minha querida. Tenho recebido pressão do Conselho para fazer aliança com a Áustria e a noiva já foi escolhida ─ declarou.

Olívia levantou-se da cama devagar e colocou um penhoar. Passou a mão pelos longos cabelos negros. George a observava. Parecia transtornada. Ela, por fim o fitou e disse:

─ Não terás a audácia de deixar-me, não é? Como podes fazer isso? Depois de tudo o que me arrisquei por você! ─ gritou

Ele também se levantou da cama a fim de tentar se explicar:

─ Ouça, Olívia, não há nada que se possa fazer. Mais cedo ou mais tarde sabíamos que isso aconteceria. Tenho agora minhas responsabilidades como Conde e isso...

─ Não! ─ ela o interrompeu ─ Nunca te preocupou com isso! Agora vem dizer-me que se casará e ainda partirás para outro país? És um grande bastardo e mentiroso!

─ Olívia, pare. Estás fora de si. Não podemos ficar juntos, és uma senhora casada, não percebes? ─ quis mostrar os fatos.

─ Ah, agora eu sou a culpada aqui! Prometeu que nunca me deixaria, esquecestes? Mesmo que se casasse, continuaríamos nos encontrando. Agora partirá para sempre. Como podes fazer isso?

─ Olívia, entenda... ─ tentou aproximar-se dela, mas ela o recusou:

─ Não me toque! Estou com ódio de você! ─ alterou-se novamente ─ Quem é ela? Diga-me! Ela é bonita? Jovem?

─ Eu ainda não a conheço.

A senhora Green começou uma risada irônica mesmo em meio às lágrimas; andou pelo aposento balançando a cabeça.

─ Não posso acreditar nisso ─ ela disse. ─ Mas tens a opção de negar, sabes disso. Por que não o faz? Você é o Conde de Blanchard. Pode escolher uma esposa aqui mesmo na Inglaterra!

─ Não posso. Não tenho essa opção ─ ele negou.

─ Pode sim, só não quer fazer! Tenho certeza de que queres partir para se ver livre de mim e por causa de uma mulher mais jovem e bela. Você não passa de um enganador e cretino!

─ Chega Olívia! Basta! ─ berrou ele. ─ Estou farto de suas lamúrias. Não entendes que não tem volta? Partirei para a Áustria e me casarei. Acabou!

Ela o olhou com raiva e depois de alguns segundos, anunciou:

─ Estás bem. Tudo bem. Mas lembre-se de que uma mulher ferida é pior que dez mil inimigos juntos. Vingar-me-ei de você, Conde de Blanchard. Pode aguardar-me.

 

—------------------AS------

 

Mais uma carruagem parou à porta do casarão iluminado. Era a Casa Becker. Jonh o olhou, depois para o anel de seu amigo no dedo mínimo. Ele seria seu acesso de entrada para o baile. Somente homens poderosos e com títulos usavam tal adorno. Ajeitou sua máscara e seus cabelos e desceu da carruagem.

Sentiu um frio na barriga, pois sabia que lá dentro todos aguardavam a grande atração da noite: O Conde de Blanchard. Temeu ser descoberto; temeu não cumprir tal tarefa.

─ George, tu me pões em cada façanha... ─ falou consigo mesmo.

Dentro do salão, elegância e riqueza eram as palavras de ordem. Damas em seus magníficos vestidos abanavam seus leques impacientes; sorrisos por toda parte; máscaras escondendo segredos.

O ambiente era lúgubre, mesmo com os castiçais e lustres, que propositalmente, eram mantidos com menos velas do que o normal. Tudo para que se houvesse uma atmosfera de mistério e encantamento. Ideias da senhora Becker.

Mesmo assim, nenhum detalhe passava despercebido. Tudo era analisado minuciosamente pelos olhos ávidos da sociedade vienense dentro daquele salão.

A jovem Anna Selina parecia ser a única que não queria estar ali. Os olhares sobre a moça eram inevitáveis, sendo eles invejosos ou cobiçosos, ou mesmo por saberem que era ela a “quase” prometida ao Conde. Ela, por sua vez, tentava apresentar uma leveza que não dispunha naquele momento, a cada cumprimento ou aceno.

─ Pare de esfregar essas mãos, Selina, vai rasgar as luvas! ─ ralhou a senhora Becker ─ O conde deve chegar a qualquer momento. Precisa estar bem apresentável, e, por favor, sorria.

Sorrir era a última coisa que Selina queria. O baile, que sempre fora para ela um evento divertido, estava sendo torturante. Seu coração disparava toda vez que alguém mencionava a chegada de um convidado.

“Tomara que ele não venha”, pensava ela.

A prima, percebendo seu quase infarto, resolveu intervir:

─ Minha tia, gostaria de cumprimentar as senhoritas Hauser. Selina pode me acompanhar? ─ perguntou Alexia.

─ Permito, mas não se demorem. Selina precisa estar aqui quando seu noivo chegar.

─ Mamãe, ele não é o meu noivo ─ contestou a filha.

─ Por uma questão de horas, minha querida. E não me contradiga, menina!

As jovens então posicionaram suas máscaras à frente dos olhos e caminharam pelo salão. Agradecida por desvencilhar da mãe, Selina resolveu tentar se esconder, mas a cada passo que dava, era barrada por alguma dama faladeira.

─ Como você está linda, senhorita Becker! Não é pra menos que está entre as escolhidas para ser a futura condessa. O conde seria um louco se não escolhesse você. ─ disse a senhora Hauser que se encontrava acompanhada de suas duas filhas.

─ Obrigada, senhora Hauser ─ falou.

Anna Selina chamou Alexia reservadamente para falarem:

─ Alexia, preciso de sua ajuda ─ Selina pediu.

─ O que pensas, Selina? ─ perguntou a prima já alarmada.

─ Vou esconder-me. Pensei no escritório de papai, mas ele me encontraria facilmente, portanto, pensei em um lugar que ninguém costuma ir e lá ficarei até que o Conde vá embora.

─ Selina... isso não dará certo! O que direi aos meus tios?

─ Diga que fui espairecer ou que fui ao lavabo retocar-me e saia para me procurar... Preciso de tempo, Lexy, não suportarei esse conde perto de mim ─ concluiu aflita.

─ Acalme-se, minha prima. Vá, eu darei meu jeito.

Minutos antes dessa conversa entre as primas, o suposto conde adentrava ao recinto e, sendo já abordado pelos anfitriões, após ser identificado pelo anel com seu brasão,  começou uma conversa com poucas palavras com um grupo de nobres do qual fora direcionado.

O General recebeu o ilustre convidado com todas as honras e com grande orgulho, deslanchou uma conversa sobre suas condecorações e estratégias militares. 

John sabia que não poderia ficar por muito tempo. Deus sabe o quanto estava suando por baixo daquela máscara negra. Tinha medo de dizer algo que não devia, ou, não dizer algo que devia. Não sabia ao certo; nunca fora um nobre, apesar de conviver bem de perto com alguns.

Resolveu ir direto ao ponto:

─ A senhorita Becker se encontra presente?

─ Oh, mas é claro! ─ respondeu rápido demais, a mãe orgulhosa ─ Tenho certeza de que se agradará dela, Conde Campbell. Olhe, ali está ela. ─ e apontou a frente para um grupo de damas, e assim, a viu ─ É a de vestido lilás ─ completou a senhora Becker.

Não precisava dizer, pois, no momento em que a olhou, descuidada com sua máscara nas mãos e não no rosto, sentiu o coração falhar uma batida. Ela era tão linda! Seus cabelos levemente ruivos, estavam presos num coque com algumas mechas ondulada caídas indo até o meio das costas. Sua boca era pequena e bochechas róseas. Simplesmente graciosa!

Conversava com outra jovem e tinha um semblante um pouco tenso, como se estivesse preocupada, mas que ainda assim, não tirava a delicadeza de sua tez e nem a extrema beleza que a compunha.

“Estou no céu e ela é um anjo?”, pensou ele. Ao virar-se para falar com os pais da moça, percebeu que ficara além do devido, admirando-a. Disfarçou e perguntou diante dos olhos divertidos dos pais da moça:

─ General Becker, permita-me uma valsa com vossa filha?

─ Mas é claro, Conde Capmbell! Terei muito gosto. Mandarei chamá-la.

─ Não se faz necessário, general. Irei até ela se assim o senhor me permitir.

─ Obviamente, senhor Conde. Apenas gostaria que antes fossem apresentados formalmente, mas nada que não possa ser feito após a dança ─ respondeu satisfeito.

E com um cumprimento formal, John saiu de encontro à moça. Contudo, ela já não se encontrava no seu campo de visão. Caminhou-se pela borda do salão a fim de avistá-la. De vez em quando era parado por algum cavalheiro para dar-lhe as boas vindas à Viena.

E outra vez a avistou. Estava na soleira da porta de acesso a uma varanda. Ela olhou de um lado para o outro e saiu. “Hum! Muito suspeito!” disse consigo mesmo e tentou desvencilhar de uma mãe com apresentações infindáveis sobre suas duas filhas. Era a senhora Hauser.

Foi então em direção as sacadas que ladeavam o salão. Olhou todo o espaço, mas estava deserto. Deu alguns passos e apoiou-se no parapeito da varanda; havia um imenso e bem cuidado jardim a sua frente, mas não era isso que queria ver. Queria vê-la de perto. No entanto, ao pensar na moça, isso o forçou a olhar para si. Não era um Conde, ao menos um nobre cavalheiro, era um simples lacaio e a senhorita Becker, a futura condessa de Blanchard. Seus extintos diziam que deveria voltar e dizer ao conde que sim, ela era a mulher mais linda que já vira. E pronto. Cumprira seu papel sem mais dispersões. 

Mas ao olhar para ela...

Não. O melhor era ir embora dali. E ao dar meia volta para sair, ouviu um espirro baixo que o fez olhar para o lado. Estreitou os olhos e percebeu um vulto atrás de uma balaustrada que separava uma ala da outra dentro da mesma sacada. Era um espaço escuro, porém sabia que ela era escondida ali.

Aproximou-se devagar e apoiou-se novamente no parapeito da sacada.

─ Então é aqui o refúgio dos descontentes? Vou lembrar-me disse na próxima vez ─ Ele disse e ela se assustou.

Isso era estranho e imprudente, pensou Selina. Soubera de várias histórias de moças e rapazes descobertos em lugares inapropriados e forçados a se casarem.

─ Não tenhas medo. Não lhe farei mal e não insistirei para que saias daí. Mas se achares em mim alguém para compartilhar suas mazelas, as ouvirei com prazer. ─ disse John sentando-se no chão ─ Veja, não sei quem és e você não sabes quem sou. Poderemos ser amigos confidentes por uma noite. O que me diz?

Selina deu um leve sorriso e mesmo que ele não visse, sentiu sua respiração mais leve. Era um bom sinal. Mais uma vez ela espirrou.

─ Deves estar se resfriando. O clima de Viena é bem frio nessa época do ano. Aceite o meu lenço. ─ E passou para ela através do vão da balaustrada e no momento em que ela o pegou, tocou seus dedos. Mais uma sensação estranha se apossou dele, mas tentou não pensar nisso.

─ Obrigada. ─ respondeu baixo ─ O senhor é daqui? Seu sotaque é diferente...

─ Não sou. Mas não vamos falar de mim. A senhorita tem algum segredo para compartilhar?Aproveite ou amanhã lamentarás por perder essa chance. ─ seu tom era divertido o que fez Selina rir.

─ Bem, senhor “diário” ─ e John riu mais ainda, fazendo-a acompanhar ─, na verdade, apenas fujo de um destino injusto.

Ele suspirou e sorriu compreensivo. Acabava de saber o que era isso. Nunca tinha almejado nada além de ter uma casa no campo e cuidar de alguma plantação. Quem sabe casar-se com uma mulher simples como ele e ter seus três ou quatro filhos; um cachorro também seria bom. Mas a vida estava colocando-o numa difícil situação. Seu coração sinalizava algo que nunca sentira antes e ele estava com medo.

Lado a lado sentados no chão, separados apenas por uma escultura de pedra, John podia sentir o  calor; a leveza de sua presença e o encantamento que ela transmitia a ele.

Ficaram quase uma hora conversando. Riram juntos contando histórias engraçadas de suas infâncias, falaram de preferências. Ela soubera que ele não cortejava nenhuma moça e seu coração, por um momento, desejou ser livre para que talvez, pudessem conhecê-lo melhor. Sentia-se segura ao lado dele; confiante; feliz. Soubera também que seu momento preferido era sentar e olhar para o céu num fim de tarde. Isso lhe transmitia paz, esperança.

─ Eu sempre gostei do céu ─ dizia ele. ─ Ele me encanta com sua beleza e mistério; as cores no final do dia. Quando olho para ele parece dizer-me para eu não desistir de algo aparentemente inalcançável, pois na hora certa eu terei meu paraíso. Parece utópico demais?

─ Não... Parece-me lindo! Admiro sua confiança. Queria poder sentir o mesmo, mas...

─ Não perca as esperanças, senhorita. Se desistires, não farás mais sentido a vida ─ respondeu ele.

Por alguns segundos os dois se calaram. Ouvia-se apenas a respiração. Até que ela cortou o silêncio:

─ Meu nome é Anna Selina. ─ Surpreendeu quando ela disse. Já sabia, mas foi diferente. Ela o disse. Tinham criado uma espécie de elo ─ Mas eu prefiro apenas Selina.

─ É um belo nome. Como tenho certeza de que a dama que o possui, também é.

─ Obrigada ─ agradeceu. ─ Minha mãe disse que significa “céu” ou “paraíso”. ─ deu um risinho ─ Isso é... Lembrei-me do significado, pois estavas falando sobre.

─ Acreditas em coincidências ou destino? ─ John lhe perguntou.

─ Acredito que não podemos ter tudo que almejamos. ─ Soou como um lamento.

O lacaio lembrou-se das aulas em alemão que George tinha quando criança e ele presenciava, quando aprendera a frase que mais gostava:

Mein himmel.  Mein paradise.* ─ saiu da boca dele sem pensar e ela estremeceu.

─ Como?

─ Guarde essas palavras consigo. ─ suspirou mais uma vez ─ Jamais subestime o poder de um nome, Selina. A partir desse momento, tornaste o meu céu; o meu paraíso.

Os olhos da moça marejaram. Nunca pensara dessa forma, que seria especial para alguém. Levantou-se para sair dali e olhar para o homem que tocou profundamente seu coração, mas, um burburinho na entrada da varanda a fez recuar. Era sua mãe a procurando e não podia vê-la ali com um estranho.

─ Eu vou sair. ─ sussurrou ele ─ Fique mais um pouco e depois vá. Há outras entradas, não há?

─ Sim, mas...

─ Posso pedir-lhe algo?

─ Sim.

─ Dance comigo. Eu a esperarei no salão. Vá para junto de seus pais e eu a tomarei para uma valsa.

Então ele se encaminhou para o salão e ela tomou outra direção. Ajeitou seu vestido e cabelos, suspirou fundo e entrou.

Sua prima Alexia veio ao seu encontro rapidamente:

─ Onde estivestes, Selina! Vossa mãe está aos nervos à sua procura. Meus argumentos não são mais suficientes!

─ Explicar-lhe-ei depois. Agora preciso voltar para junto de papai. Vamos!

─ Anna Selina Becker! Seu comportamento é intolerável! Como podes sumir assim? Espero que tenha uma ótima explicação para tal...

─ Com licença, senhores, mas gostaria de nova permissão para valsar com vossa filha ─ o julgado conde interferiu na repreensão da senhora Becker, que logo abriu largo sorriso para ele.

─ Permissão concedida! ─ Disse o senhor Nicolau Becker.

John curvou-se diante da dama e lhe estendeu a mão. Selina o olhava através da sua máscara, aquele homem misterioso. Quem seria ele, além de seu amigo confidente daquela noite?

Ele a guiou para o centro do salão e todos os olhares estavam voltados para eles. A música que tocava naquela hora era Sonata N.11in A major, de Mozart. Não falavam nada. Apenas se olhavam nos olhos através das máscaras. Era um momento tão mágico que idealizavam serem apenas os dois naquele imenso salão.

E no final da música, quando ele se curvou novamente para cumprimentá-la pela dança, ela se aproximou e perguntou:

─ Quem és tu?

Então ele beijou a mão dela e disse:

─ Eu nunca a esquecerei, Selina. Mein himmel. Mein paradise!

E se foi.

Ela o observou caminhar rumo à saída do salão e pensou se o veria de novo. Como ela o encontraria? Ao menos sabia seu nome! Quis correr até ele, mas não seria apropriado.       

E assim, quando ele passou por dois senhores, eles o cumprimentaram:

─ Conde Blanchard!

E este retribuiu levemente com a cabeça e virou-se a fim de olhar para ela, mais uma vez, antes de desaparecer porta a fora.

Seu coração se exultou. Era ele. Seu futuro noivo e marido.

De volta à carruagem, John, de olhos fechados, só sabia pensar em uma coisa: o céu nunca foi tão inalcançável.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por lerem!



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