Deixe-me te amar escrita por Nathália Francine


Capítulo 9
Nove




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Assim que paramos no Louvre cada um seguiu por um lado. Eu vaguei com o pensamento perdido em Amy. No seu desespero, nas lagrimas, na dança, na pintura...tudo. Acabei parando na frente da obra de Antonio Canova. Uma estátua que me arrepiou e me fez sussurrar o nome dela.

— Amy...

A estátua me encarou: Psiquê revivida pelo beijo de Eros.

O Cupido beijando a dama.

Revivendo-a para o amor.

Morte parou ao meu lado e me trouxe de volta a realidade.

— Você nunca gostou dessa representação.

— Sim...sabe, eu não acho que fique bem de fraldas e asinhas.

Honestidade se pôs no meio de nós dois e observou a peça.

— Você deve ficar tão lindo assim. Gosto dessa ideia que os Materiais têm de você.

Eu a fuzilei.

— Você sabe que a imagem que eles têm de alguém que rege a honestidade, é de uma freira. Um padre ou até mesmo um político. Eles não veem a regente da honestidade como uma...

Ela sorriu:

— Uma dançarina do Moullin Rouge?

Eu e Morte nos engasgamos com o ar.

Ela riu e passou a mão pelo cabelo fazendo aparecer uma coroa de diamantes.

— Ora, meninos – ela nos olhos e piscou para cada um de nós – Diamantes são os melhores amigos das mulheres.

Nós rimos e caminhamos por mais algum tempo até que Morte nos olhou.

— Esta chegando a hora. Vamos?

Concordamos e passamos pela Porta que ele havia aberto.

O homem morava alguns quarteirões da onde o orfanato existiu um dia.

Assim que entramos, eu me senti zonzo. A vontade de sair dali me doeu.

Ouvi os gritos de todas as crianças. Vi o sangue que já havia sido limpo a muitos anos e o que havia sido lavado a algumas horas.

Pensei em correr. Fugir dali e nunca mais voltar.

Minha respiração falhou e minhas flechas zuniram dentro do meu peito.

Minha perna resistiu ao impulso de correr para fora dali no momento em que eu lembrei do sonho dela.

Seus gritos.

Seu desespero.

Sua dor.

Honestidade e Morte me olhavam preocupados.

— Não se preocupem. Eu estou bem. Vamos.

Eles assentiram e Morte nos guiou até o escritório.

Ele estava com o terno marrom e arrumava a mesa.

Eu sabia o que tinha acontecido ali.

Ouvi os gritos de desespero da pobre garota de oito anos que fora amarrada ali durante a tarde.

Morte colocou a mão em meu ombro.

— O nome dele é Eduardo.

— Não me importa o nome dele. Eu sinto o que ele fez.

Honestidade passou na nossa frente e foi até ele. Levantou a mão e fez um “xis” em sua nuca com seu anel.

No mesmo instante, Eduardo se sentou e pegou um caderno. Ele escreveu por meia hora.

Olhei para Honestidade e ela veio até mim e acariciou meu cabelo.

— Não se preocupe loirinho. Ele vai resumir, mas não vai deixar de citar nenhuma atrocidade. As informações que ele vai dar, serão suficientes. Confie em mim.

Eu encostei minha testa em sua cabeça e fechei os olhos. Minha cabeça girava e minha garganta estava seca. Honestidade continuou ali parada com as mãos na minha cintura me dando apoio. Assim que ele terminou, Morte caminhou até ele, se pôs ao seu lado e o olhou com nojo.

— Eu esperei por muitos anos para vir lhe buscar.

Eduardo estava olhando tudo que havia escrito sem saber da nossa presença.

Morte retirou do seu peito uma lamina preta e a puxou rapidamente para fora. Ela tomou a forma de uma foice grande com o cabo preto com espinhos e a lamina feita de diamante negro. Ele me encarou:

— Cupido...tem certeza de que quer ficar?

Eu engoli em seco e olhei para o velho sentado absorto em pensamentos.

— Faça.

“Por ela e por todas as outras que perderam os sonhos aqui.”

Com um movimento rápido, Morte o cortou de cima a baixo e Eduardo se foi.

Seus olhos petrificaram e perderam o brilho.

A lamina da foice de Morte ficou branca e zuniu.

Eduardo caiu de cara na mesa.

Sua alma fora sugada pela foice do Morte para todo o sempre.

Eu soltei o ar que nem tinha percebido que segurava e Honestidade me abraçou com mais força.

Assim que saímos da casa Morte abriu uma Porta e se foi por ela o mais rápido possível para garantir que a alma não fugiria da sua foice.

Eu olhei para Honestidade:

— Eu tenho que ir...

— Encontrar o motivo que lhe levou a fazer isso?

— Honestidade...

Ela levantou a mão para que eu me calasse:

— Não quero saber o que o levou a isso. Quando você estiver pronto para ser honesto comigo, me procure. Eu sempre vou te apoiar em suas decisões mesmo que elas quebrem todas as regras.

Ela piscou para mim ao dizer essa ultima frase e abriu a Porta.

O barulho do cassino jorrou pela abertura. Ela me olhou de novo:

— Se for me procurar, por favor, demore um pouco mais. Estou de férias.

Ela se foi e eu fiquei ali ouvindo os fantasmas do sofrimento de tantas crianças se calando aos poucos descansando pela eternidade.

Olhei para o céu e vi a lua me encarando cercada por seus guardas brilhantes.

— Sei que fui contra as regras da minha criação. Mas eu não podia...espero que entenda e que me ajude a entender.

As estrelas se mexeram e no meio de cada grupo, uma nova brilhou. Uma nova alma. Pequena e delicada.

Como uma criança.

A lua brilhou mais forte e eu não senti culpa pelo acontecido.

Abri uma Porta e voltei para o apartamento de Amy.

Ela dormia no meio da cama e Draco ainda estava ali. Protegendo-a em um ronronar que por um minuto pareceu um ronco.

Me aproximei da cama e acariciei a pele dela.

Tão macia quanto a mais pura seda.

Beijei a ponta da sua orelha e cochichei:

— Amy?

Ela acordou imediatamente.

— Eros? Que horas são? Quanto eu dormi?

— Calma ae. Uma pergunta de cada vez.

Ela se sentou e esfregou os olhos.

— Quanto eu dormi?

— Acabamos pegando no sono. Mas você me jogou da cama então decidi te acordar.

Ela deu risada e pediu desculpas.

Se levantou e tomou um banho. O cheiro do shampoo de frutas vermelhas invadiu o apartamento e eu me permiti grava-lo em minha mente.

Ela voltou em um short preto curto e uma blusa larga com ovelhinhas pretas.

— Você é a ovelha negra?

— Sim. Assim como você.

Ela bocejou e se jogou na cama se aninhando em meu peito.

— Dormi tanto e ainda tenho sono...como isso é possível?

— Não sei...mas fique quieta e durma.

Ela me beliscou e eu a abracei.

Pela primeira vez em toda minha existência, eu realmente estava com sono.


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