Deixe-me te amar escrita por Nathália Francine


Capítulo 8
Oito




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Para a minha sorte, a Porta se abriu no meio do salão de piso vermelho aveludado. O barulho de maquinas, moedas, gritos de alegrias, dados rolando, cartas distribuídas e lagrimas dos perdedores dominava o ar.

Olhei ao redor e vi as garçonetes caminhando com bebidas caras em bandejas de prata polidas.

Os crupiês sorriam simpáticos nas mesas e as acompanhantes dos magnatas se embebedavam. Caminhei pelo lugar observando as perdas e os ganhos em uma noite normal no Cassino Wynn.

Após um tempo andando, eu a vi.

Ela estava sentada em frente a uma maquina olhando-a de um jeito tedioso.

— Você não precisa de dinheiro.

Ela se virou assustada.

— Cupido? O que está fazendo aqui?

— Olá Honestidade.

Ela se levantou e me abraçou.

Honestidade era linda. Um corpo escultura em um vestido vermelho sangue longo e decotado. Os cabelos pretos lisos em uma trança e o batom vermelho dando contraste com os olhos lilases.

— O que esta fazendo aqui Sr. Amor?

Bufei.

— Não me chame assim. Estou procurando você.

— Aconteceu alguma coisa?

— Preciso de um favor.

— Claro...onde está o problema?

— No Brasil.

— Droga...odeio aquele lugar!

— Eu sei. Mas por favor, é importante para mim!

Ela bufou e me olhou:

— Você tem que me tirar das minhas férias, não é?

— Desde quando Imateriais tiram férias?

Ela sorriu e me deu a mão para passarmos pela Porta que ia nos levar ao terreno baldio.

Assim que passamos, ela me olhou assustada.

— Tudo bem...e agora?

Eu a olhei e contei para ela o que era aquele terreno baldio omitindo as partes em que a garota que Morte nunca achará, ainda estava viva e sob minha proteção. Assim que terminei ela suspirou.

— Uau! Isso é horrível.

— Eu sei.

Ela se pôs na minha frente e grudou meu queixo com as unhas vermelhas me obrigando a encara-la.

— Não sei o que está escondendo de mim Cupido, mas tenho certeza de que você tem um bom motivo para passar por cima da sua criação e mentir. Deve valer a pena então não vou força-lo a me contar. – Ela me soltou – O que você quer de mim exatamente? Não posso matar Materiais. Posso coloca-los no caminho do Morte, mas não posso fazer isso no lugar dele.

— Eu sei. Por isso vamos até ele. Eu só te trouxe aqui para te convencer.

Ela sorriu.

— Não precisava ter me trazido aqui Cupido. Eu aceitaria te ajudar mesmo que você tivesse me dado uma explicação rápida no cassino.

Eu suspirei aliviado.

Honestidade e eu éramos muito ligados, afinal, não há nada melhor para um amor verdadeiro do que honestidade. Não é?

Eu a ajudava em tudo sem questionar e ela fazia o mesmo por mim. Sempre fora assim. Ela foi meu pilar quando Ódio e eu nos separamos.

Assim que Sodoma e Gomorra foram desfeitas, Honestidade surgiu. Ela nasceu na minha frente no Rio Nilo, no Egito. Lembrei dela na camisola de seda longa, roxa e transparente com os cabelos voando ao vento. Ela sorrira para mim e se apresentara. Eu peguei sua mão e ela me levou para uma pirâmide abandonada. O lugar se iluminava a cada passo que ela dava e seu interior se transformava em tecidos vermelhos e roxos com tapetes egípcios e ouro banhando o chão. No centro do teto um lustre enorme com diamantes iluminou o lugar. Pufes e almofadas cobriam os cantos e um leve som de lira cobriu tudo e fez com que ela dançasse em torno de mim.

“- Quem é você loirinho?

— Sou o Cupido. Um Ser do Amor. E você?

Ela parou na minha frente, o cabelo lhe cobria metade do rosto e seus olhos brilhavam.

— Sou a Honestidade.

Ela saltitou e dançou pelo lugar decorando ele a cada passo que dava. A vida nascia dentro daquela pirâmide abandonada de uma forma tão linda e extravagante, que eu me esqueci de tudo que havia acontecido.

Por fim, quando o lugar estava do agrado dela, ela veio até mim e estendeu a mão direita sacudindo o dedo indicador exibindo um anel de ponta com a unha dourada como ouro e emendando uma serpente que descia ao dedo com os olhos vermelhos rubis.

— O que é isso Honestidade?

— Não sei. Estive com ele todo esse tempo, mas só reparei agora.

A serpente do anel se mexeu e sibilou para ela.

— Ah...claro.

Eu a encarei:

— É o seu Objeto, não é?

— Sim. Qual é o seu?

— Um arco e flecha.

Ela assoviou impressionada. Olhou ao redor e depois me encarou.

— Tenho que faze-los, não é?

— Sim.

— Posso escolher entre menino e menina?

— Não.

Ela bufou e foi para um canto na parede onde havia um quadro representando a união do Sol e da Lua em um Eclipse.

Assim que o tocou, ele se abriu dando caminho para um corredor escuro.

Ela me olhou:

— Você vem comigo?

— Não posso.

— Por que?

— Você deve fazer isso sozinha. Quando terminar, me procure.

Ela sorriu:

— Onde?

Eu sorri de volta:

— Você saberá.

Ela entrou no corredor e eu sai para o vento quente do Egito me sentindo renovado.

Lembro que mais tarde, quando estava passeando pelas ruas de Roma, ela apareceu ao meu lado em um vestido preto de camurça longo com um decote na perna até o alto de sua coxa e os cabelos negros trançados. Os lábios vermelhos carnudos destacavam os dentes brancos como perolas.

— Menino ou menina?

— Menino. Um lindo menino loiro de olhos cor-de-rosa.”

Ela passou o braço pelo meu e sorriu para a Porta se abrindo a nossa frente.

— Vamos ver o coroa.

— Ele odeia que você o chame assim.

— Eu sei. – Ela encarou a Porta – Hotel Le Meurice, Paris.

O brilho se intensificou e nós passamos. Paramos no meio da sala da melhor suíte do hotel. Morte estava saindo do quarto fechando a porta atrás de si. Quando nos viu, se espantou.

Honestidade se sentou em uma das poltronas de mármore branco com estufa vermelha e olhou para ele cruzando as pernas.

— Oi coroa.

Ele fuzilou ela.

— Você não acha que essa roupa esta um pouco aberta demais?

Ela riu e tentou tapar o decote.

Ele se aproximou, beijou sua testa e me olhou.

— Pra vocês dois estarem aqui, é por que estão tramando alguma coisa.

Honestidade riu e foi fuçar as bebidas na adega.

— Cupido...o que esta acontecendo?

— Morte, você confia em mim?

Ele suspirou e sentou onde Honestidade estava e me encarou:

— Confio minha existência em você.

Honestidade voltou com uma taça de cristal cheia de vinho e se sentou no colo dele.

— Qual é o plano loirinho?

Eu suspirei e tomei coragem.

— Preciso da ajuda de vocês mas preciso que não me perguntem por que. – Eles me incentivaram com a cabeça e eu continuei – O orfanato em São Paulo, as crianças mortas, e o marido da responsável pelo lugar. Ele ainda esta vivo. Ainda esta em São Paulo. Esta vivendo como se nada tivesse acontecido. Impune. Morte, eu sei que me disse que a hora dele esta chegando, mas eu preciso que ele confesse. Conte tudo! Ele não pode simplesmente morrer sem que ninguém saiba as monstruosidades que ele fez! Por isso fui até você, Honestidade. Você pode fazer com que ele confesse tudo e depois Morte pode leva-lo.

Os dois me encaravam sem dizer nada.

Honestidade se levantou em silencio e foi para a varanda grande e se perdeu em pensamentos.

Morte cruzou a perna e fitou o chão. Sua pele branca se fundia ao mármore e o terno preto estava perfeitamente alinhado.

— Cupido você tem algum motivo em especial para estar tão interessado nessa historia?

Eu suspirei e ele se levantou segurando meus ombros com as mãos finas e frias.

— Olhe para mim meu amigo – eu o encarei – Estamos lado a lado a muitas décadas. Você ficou do meu lado em muitos momentos e eu fiquei ao teu lado em muitos outros. Isso parece importante para você. Não vou questionar. Você não mente e se esta fazendo isso deve ser por um bem maior.

Honestidade entrou e nós a encaramos.

— Meninos, senti tanta falta desse lugar...podemos ir no Louvre? Depois, é claro, de irmos atrás do Material demoníaco.

Eu a olhei sorrindo.

— Você vai ajudar?

— Claro que vou. Nunca digo não para você.

Ela sorriu e me abraçou.

Morte cruzou os braços e nos olhou:

— Tudo bem crianças. Vamos ao Louvre. Daqui a pouco uma viúva vai chegar e fazer um escândalo.

— Louvre? Morte, achei que você ia...

— E eu vou Cupido. Mas ainda temos três horas até o momento dele chegar. Você sabe que não posso levar ninguém antes da hora.

— Isso quer dizer...

— Quer dizer que a hora dele está mais perto do que você pensava. Agora, vamos sair daqui. Por favor, eu odeio essa mulher! Não posso ouvir ela gritar mais!

Eu vi o desespero dele e Honestidade se torcia de rir. Ele abriu uma Porta e praticamente nos puxou para dentro dela no momento em que uma mulher loira usando terno de oncinha entrou na suite.


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