Deixe-me te amar escrita por Nathália Francine


Capítulo 6
Seis




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/706256/chapter/6

Ódio e eu não nos víamos desde o nosso termino e vê-la me fez ficar zonzo. Vi Inspiração a medir:

— Querida...quanto tempo!

Ódio sorriu.

Um sorriso genuíno e diabólico.

Seu cabelo loiro era quase tão branco quanto sua pele e seus olhos vermelhos destacavam a marca da flecha negra em seu rosto. Seu vestido preto longo dançava com o vento. Ela me olhou ignorando Inspiração:

— Cupido.

— Ódio.

— Podemos conversar?

— Não.

Peguei a mão de Arly e praticamente a arrastei dali direto para o outro lado.

Quando paramos ela me olhou:

— Por que fugiu?

— Eu não fugi.

Ela arqueou a sobrancelha.

— Escute, é complicado. Se eu estivesse sozinho, ficaria. Mas como não estou, tive que sair.

— Se esse for o problema, eu cuido dela.

Me virei e me deparei com Morte com a mão no ombro do jovem Caleb.

— Morte...

Ele ergueu a mão me impedindo de continuar.

— Escute Cupido, você sabe que ela não se deslocaria até aqui apenas para te ver. Ela quer algo. Vá até ela e resolva logo. Eu cuido da Arly. Confie em mim!

— Eu confio. – Me virei para Arly e ela sorriu – Fique com ele. Ele sabe o que fazer.

— Sim Senhor.

Ela me abraçou e saltitou para o colo do Morte.

— Não deixe que ela acerte alguém na cabeça.

Ele riu e ela me estirou a língua. Assim que eles se perderam pelos campos, Morte sorrindo, Arly concentrada nos casais e Caleb de cara feia; fui ao encontro dela.

Ódio era a coisa mais linda e mais mortal que eu já tinha visto em toda a minha existência. Tudo nela resplandecia. Principalmente a escuridão que ela emanava.

Ela estava me esperando em um jardim e ao seu redor, as flores se fechavam tentando se proteger.

Sentei ao seu lado.

— O que você quer Ódio?

— Achei que não queria falar comigo.

— Se você está aqui pra isso...- comecei a me levantar mas parei quando ela falou:

— A menina...ela é sua última?

— Por que quer saber?

— Apenas responda.

— Sim, ela é.

— Quando a fez?

— Depois que nós nos separamos.

Ela abaixou a cabeça e não muito longe vi um pavão negro grande pousar exibindo suas penas negras com olhos vermelhos em cada uma. Ele se transformou em um garoto de pele branca, cabelos negros cacheados e olhos com íris branca.

— Quem é ele?

— Meu último. Izaque.

Ele fez uma reverencia e se sentou de costas para nós.

— Por que ele está aqui?

— Sua última...

— O nome dela é Arly. Ela é minha filha caçula.

Ela riu ainda olhando para o horizonte.

— Me desculpe. Esqueci que você vê seus seres dessa forma. Bem, a questão que eu quero saber é se Arly – ela enrolou a língua de um jeito ferino e me encarou – é diferente.

— Diferente como?

Ela olhou para o garoto de novo.

— Ele ouve.

Eu segui seu olhar e fiquei calado digerindo a informação.

— Ele é o único?

— Sim. Eu o fiz logo após nosso rompimento e sempre soube que ele era diferente. Pensei em desfaze-lo, mas esperei até ter certeza. Talvez ele só tivesse vindo com algum defeito dado o meu estado de espirito quando moldei a flecha dele, mas agora tenho certeza que ele deve ser desfeito.

Eu a olhei indignado.

— Você vai desfaze-lo apenas por que ele ouve as canções?

Ela me olhou com um sorriso sem graça.

— A sua também ouve, não é?

Eu concordei com a cabeça.

— Você sabe o que isso pode significar? E se eles tomarem nosso lugar?

Eu me levantei e ela me seguiu.

— Cupido me escute! Você sabe que eles são diferentes! Isso pode ser perigoso!

— Pode ser pra você. Não para mim! Você trata seus seres como se fossem soldados e...

— E é exatamente isso que eles são!

— Eles são seus filhos!

— É assim que você os vê? Como você diz a suas filhas que vai desfaze-la?

— Eu nunca precisei fazer isso!

— Claro! E Bonnie e Clyde agradecem muito a isso!

— Já chega Ódio! O que você quer de mim? Você não veio aqui apenas para dizer que o seu mais novo é diferente!

— Eu não consigo mais!

Ela ficou em silencio, e se pudesse chorar, estaria em prantos. Respirei e calmamente disse:

— Não consegue o que exatamente?

Ela se abraçou, olhou para o chão por alguns instantes e depois me olhou:

— Não consigo mais moldar nenhum. Minhas flechas se partem, queimam sozinhas ou simplesmente não tomam forma. Por favor, me diga que com você é assim também!

— Eu...eu...

Parei para pensar um pouco e desde que eu e ela rompemos, a última que criei foi Arly. Nunca mais tentei fazer nenhuma outra.

Ódio me olhava sem expressão.

— Tente e depois me procure. Estarei no lugar de sempre.

Ela caminhou até o menino e eles se foram pela Porta com penas negras entrelaçadas.

Respirei fundo e fui procurar Morte.

Ele estava sentado em uma pedra, Caleb estava deitado na grama rasteira de olhos fechados e Arly observava ao longe um casal dançando sem musica.

Me sentei e Caleb se levantou indo de encontro a Arly. Morte me olhou:

— Então, o que ela queria?

Eu esperei alguns instantes:

— Quantos você molda?

Ele pensou um pouco:

— Um a cada mês.

— Algum deles é diferente?

Ele me encarou:

— Caleb apanhou de uma Ser do Amor e desde então se recusa a ceifar qualquer Material.

— Ele se recusa?

Morte suspirou.

— Sim...não sei como, mas ele simplesmente diz que não vale a pena e abre uma Porta. Nunca soube pra onde ele ia. Até hoje.

Procurei Arly ao longe e a vi preparando uma flecha. Caleb a observava tão intensamente que parecia que ela desapareceria caso ele piscasse.

Suspirei:

— Ele vinha para encontrá-la.

— Sim. Ele me disse que no começo a encontrou em um canto isolado com as mãos nos ouvidos como se alguém estivesse gritando. Voltou e sempre a encontrava no mesmo lugar, da mesma forma. Acabou virando rotina segundo ele. Até então eu só tinha percebido que ele estava reduzindo seus números. Mas desde o beijo, eu não vi mais seus Cortes.

— Você acha que eles...

— Se amam? Ora Cupido, somos Imateriais. Não sentimos isso. Você não amava Ódio e ela não te amava. O maior erro que a minha existência já presenciou foi o relacionamento de vocês.

— Eu sei...

— Ela veio até aqui para que?

Eu observei a flecha de Arly atingir o casal e eles se beijarem.

— Alguns anos depois que terminamos, eu moldei Arly. Foi minha última. Ela veio até aqui com o seu último, Izaque.

— Veio fazer uma apresentação?

— Não. Veio me dizer que não consegue mais moldar nenhum outro.

Eu o olhei e seus olhos negros se aprofundaram em preocupação.

— Talvez seja um blefe. Você sabe que ela é ardilosa! Lembra-se de Hitler?

A era nazista tinha sido muito difícil para Morte. Ele ficou exausto e seus Seres imploraram para serem desfeitos pois não aguentavam levar crianças inocentes por um ideal ridículo. Lembro que Morte entrou em desespero e Vida foi ao seu auxilio. 

“- Morte, eu sei que é difícil...

— Não Vida, você não sabe! Meus filhos estão implorando para serem desfeitos! Eu não aguento mais isso! Nem com os Romanos eles sofreram tanto!

— Eu sei! Como você acha que eu e minhas filhas estamos? Felizes? Nós não podemos fazer nada!

Eu observava de longe a conversa e vi Morte se ajoelhar perante Vida.

Nós não podíamos fazer nada, apenas observar os Seres da Ódio varrerem os corações dos soldados do ditador. As filhas do Vida, se encolhiam e se abraçavam com os filhos do Morte como se quisessem proteger uns aos outros. Eu assistia a tudo sem entender o porquê de Ódio estar fazendo aquilo. Quando Morte foi buscar Hitler, Ódio estava lá esperando ele.

Morte me descreveu o encontro e disse que ela apenas sorria e dizia que tudo tinha sido baseado em um motivo muito bom. Mas a verdade, que eu havia descoberto um tempo depois, era que ela estava entediada.

Lembro-me que Vida ficou ao lado dele todo o tempo. Mesmo que lhe doesse ver uma vida se acabar, ele continuou ali. Nunca saiu do lado de Morte e quando Hitler finalmente se foi, Morte se sentou comigo e assistiu enquanto minhas filhas e as filhas do Vida trabalhavam. Sei que se pudéssemos chorar, ele teria se desfeito em lagrimas de alegria por aquele dia.”

Eu suspirei e me levantei.

— Tenho que ir.

— Eu cuido dela. Quero entender o que está acontecendo com meu filho. Se importa dela ficar?

Eu confiava minha existência a Morte.

— Claro. Diga a ela que eu volto.

— Tudo bem.

Caminhei para longe e abri uma Porta para a casa da Amy.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Deixe-me te amar" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.