Deixe-me te amar escrita por Nathália Francine


Capítulo 24
Vinte e quatro




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As palavras de Naomi ricocheteavam em minha mente enquanto eu observava Amy e Nora limpando a floricultura. Do outro lado da rua, Caleb e Arly apareceram e acenaram para mim, Amy estava distraída e não notou quando eu sai.

— Minha filha o que houve?

— Caleb tem algo a dizer.

Eu o olhei e ele pigarreou.

— O casal...Cristal e Guilherme, eles não foram escolhidos.

— Tem certeza?

— Sim. Meu pai checou cada foice de cada um dos meus irmãos. Só iríamos até eles quando ambos completassem 65 anos. Eles sofreriam um acidente de avião indo para o Havai comemorar  o aniversário de casamento.

Suspirei e tentei entender.

— Caleb, agradeço por vir até aqui, e agradeça a Morte por ter pesquisado. Se não for pedir muito, pode acompanhar Arly?

— Vai ser um prazer.

— É...eu sei que sim. – beijei a testa de Arly e a observei ir embora com Caleb.

Quando voltei para a floricultura Amy ainda estava ocupada, então decidi caminhar um pouco.

Antes que eu pudesse chegar até a esquina, ouvi Ódio me chamando.

Eu tinha que encontra-la.

Tinha que fazer ela entender que nossa relação era de irmãos e que o controle que ela exercia sobre mim, não tinha mais efeito. Mas eu deveria fazer tudo isso, com o cuidado de um anjo, pois se ela suspeitasse de Amy...

Meu coração acelerou com a imagem da possibilidade do que a doente da irmã faria!

As palavras que Morte me disse certa vez ressoaram em minha mente:
“- A destruição e a salvação caminham lado a lado. E no fim, uma delas pesa mais na balança. Você pode continuar com isso e repetir o erro ou pode desistir de esperar o melhor de todos. Sei que essa é sua sina. O amor rege você. Te guia. Mas também te cega. Pense bem meu amigo. Não quero ter que levar comigo a sua salvação."
Ele estava certo. 
Eu tinha que fazer ela entender que se ela quisesse minha presença em sua vida, seria como seu irmão.

Nada mais, nada menos!

Respirei fundo e abri uma Porta:
— Jerusalém.
Entrei e acabei de frente para o Muro das Lamentações. Ódio esta ali, passeando entre os Materiais. Se alimentando dos sofrimentos e das lagrimas. Eu a via ficando mais forte e mais linda dentro do longo vestido  preto de seda.
Assim que ela me viu, abriu um sorriso genuíno e correu para mim, me beijando profundamente.
— Ódio...não.
— Por que não? 
Eu suspirei e ela mordiscou minha orelha.
— Por que não deu certo na primeira vez e não dará agora.
— Achei que o amor sempre oferecia uma segunda chance.
— Ódio isso não é certo - ela deixou o vestido cair pelo corpo e exibiu sua nudez esculpida. - Ódio...
Ela se agarrou ao meu pescoço e tentou me beijar, mas eu me desvencilhei.

Ela começou a rir e me encarou:

— Somos ótimo juntos... 
— Ódio já chega! 

Ela gargalhou novamente e jogou o vestido longe com o pé.

— Não adianta.

— Mas...

— Somos irmãos. Fomos moldados juntos...devemos coexistir. Mas não dessa forma. Eu te amo minha irmã. Mas...
Eu vi a fúria em seus olhos, mas ela apenas sorriu.

— Adeus Ódio.

— Até mais meu querido irmão.

Continuei caminhando e quando cheguei à floricultura vi Nora conversando com uma mulher que me pareceu familiar.
Entrei e fiquei ouvindo a conversa ao lado de Nora.
A mulher em um terninho branco de seda atendia pelo nome de Linda.

Ela era uma senhora de meia idade com sardas cobrindo-lhe o rosto e os olhos azuis celestes. O cabelo deixava claro que a tinta preta estava ali para esconder os fios vermelho fogo. A estatura mediana contrastava com a palidez da pele e as curvas simples de mulher. 
Tudo nela a lembrava. Mas algo deixava a certeza de que fora aquela criatura quem havia colocado Amy no mundo: O sorriso. 
Um sorriso branco perfeito como pequenas estrelas.
Ela continuou ali conversando com Nora sobre mudas e outras plantas e eu observava suas lembranças.
Meu corpo doeu ao perceber que ela não se arrependia por ter deixado a pequena criança. Ela se sentia aliviada e ainda carregava esse alivio consigo.
Amy apareceu e a mulher gelou ao reconhecer a filha.
Ela sabia quem Amy era.
Onde a encontrar.
O que ela havia passado e onde morava.
Tinha contratado um detetive para saber da filha abandonada, não para pedir perdão, mas apenas para garantir que a filha não voltaria e reivindicaria seu lugar de direito na família. 
Amy a cumprimentou e foi para a pequena cozinha dos fundos pra preparar o café.
A ouvi sussurrar meu nome e fui ao seu encontro.
Ela estava segurando o choro e assim que a abracei ela sussurrou em suplica:
— Por favor, tire-a daqui. Como você fez da primeira vez. Por favor...
— Amy...eu... - ela se agarrou com mais força ao meu pescoço - Tudo bem.
Eu a deixei na cozinha e fui ate Linda.
Encostei minha boca em seu ouvido e cochichei:
— Você deve ir embora. Esqueça que a encontrou. Esqueça esse lugar. Siga sua vida.
Demorou uns instantes ate que a minha influencia fizesse efeito nela.
— Nora foi um prazer conversar com a senhora. Já esta na minha hora e eu tenho mil coisas para fazer - ela se dirigiu a saída e parou com a porta aberta - Muito obrigado por tudo.
Ela se foi dentro de um carro preto com vidro fumê. 
Nora suspirou atrás do balcão e olhou para o vaso de rosas vermelhas em botões.
— Até que enfim ela foi embora... Não suportava mais ver a frieza nos olhos dela. - ela acariciou um dos botões - Colocar um filho no mundo e fácil. Difícil é ser mãe. 
Ela sorriu tristemente e foi atrás de Amy na cozinha me deixando ali com aquela impressão de que estava falando comigo. De que estava me vendo.

A noite quando cheguei ao seu apartamento, a vi espancando o radio velho:
— Vamos.. Pega! Eu quero saber!
Encostei na porta, cruzei os braços e fiquei em silencio a observando dentro do pijama branco de algodão que a vi pela primeira vez. Draco veio ate mim e se esfregou na minha perna. Abaixei e fiz carinho no alto de sua cabeça.
— Não mate meu gato Eros!
Eu a olhei.
— Estou fazendo carinho no pulguento.
Ela colocou o radio no chão e me olhou:
— Você não sabe ser carinhoso com ele e já disse que meu gato não tem pulgas. - ela se encostou no travesseiro e bateu no lado vazio da cama indicando que eu deveria me sentar ali. Assim que sentei, estiquei o braço e ela se aninhou em meu peito. - Você esta cheirando a mar. 
Eu ri e puxei o pincel que prendia seu cabelo em um coque feio.
Seus cabelos caíram como cascata vermelha.
— Eros...aquela mulher hoje na floricultura era minha mãe. Sei que pareceu egoísta, mas eu não a quero na minha vida da mesma forma como ela não me quis. Não é vingança! Eu só sei que estou melhor assim sem ela. 
Senti as lagrimas que escorriam do seu rosto molhar minha camiseta.

— Não se preocupe Amy. Ela não vá mais te procurar.  Você não precisa dela. Você é perfeita. Não precisa de ninguém.
Passei o dedo pelo seu lábio inferior e ela fechou os olhos dando sinal verde para que eu a tomasse.

Obedeci imediatamente e só me soltei dela quando ela pediu para que tomássemos banho.

Ela estava sentada na minha frente na banheira passando os dedos pelo cabelo distraidamente. Cantarolando mas a preocupação banhava seu olhar A dor de perder Cristal a afetava mais do que ela deixava aparentar.

— Amy?

— Oi.

— Você esta bem?

Ela me encarou e sorriu.

— Estou.

Duas semanas se passaram e eu estava sentado na muralha da China observando o por do sol quando uma Porta se abriu e Sabedoria surgiu. Ele se sentou ao meu lado e olhou o horizonte.

Quando o sol se foi, ele me encarou:

— Você estava me procurando?

— Sim...

— O que você quer agora?

Engoli em seco e me lembrei do alerta de Honestidade

— Quero saber dos outros. Você disse que eu não sou o primeiro. Quem mais passou por isso?

Ele riu:

— Você é muito curioso. Esta se preocupando em saber quem já esteve em seu lugar  ao invés de cuidar dela, de sua filha...você é burro ou só egoísta?

— Sabedoria...

— É melhor correr meu querido amigo.

Ele abriu uma Porta no exato momento em que Morte saia de outra.

— Cupido, eu sinto muito.

Corri ao seu lado e a Porta nos levou até o apartamento de Tayler e Roberto.

Ou o que restou deles.

O apartamento estava em cinzas e na cobertura do prédio da frente estava Amy caminhando para o outro lado.

— Cupido... – Morte puxou a foice e me mostrou o nome de Amy sendo escrito. – Corra!

Eu cheguei ao prédio o mais rápido que pude, mas só consegui ver o rosto de Amy coberto de lagrimas. Ela me olhou, sorriu murmurou um pedido de desculpas e pulou.


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