Deixe-me te amar escrita por Nathália Francine


Capítulo 22
Vinte e Dois




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Dois dias depois eu estava caminhando pelas ruas de Roma ao lado de Honestidade.

Seu vestido verde limão curto era banhado de pequenos diamantes. Nunca entendi essa paixão por pedras preciosas que ela tinha, mas vi constantemente esse mesmo desejo refletido em muitas Materiais. Ela estava com o cabelo preso em um rabo de cavalo alto e sorria, mas eu a conhecia bem o bastante para ver sua preocupação escondida atrás do batom vermelho.

— Então vocês transaram...qual é a sensação? Já assisti muitos Materiais fazendo, mas nunca entendi ao certo como é.

Eu a encarei e ela ficou rosada:

— Como está o Morte?

— Você é um idiota!

— E suas bochechas estão da cor do seu batom.

Ela riu e mudou de assunto:

— Você vai procura-lo?

— Vou....Vida está certo. Sabedoria sabe mais do que todos nós sobre tudo. Ele vai saber como me ajudar.

— E se ele se recusar a te ajudar?

Eu parei e a olhei:

— Por que ele se recusaria?

— Bem...a um tempo atrás, Morte me disse que Sabedoria tem um lado egoísta.

— Mas ele foi com você até mim no Natal.

— Ele ajudou uma vez. Quem garante que ajudara de novo? Cupido...segundo o que Morte me disse, Sabedoria só ajuda quando lhe convém. Mas ele sempre quer algo em troca. No fim, você sempre fica devendo algo para ele. E você já o deve!

— Ele sabe...

— Exatamente. Eu, Morte e Vida nunca contaríamos seu segredo. Mas quem garante que ele não contará? O que ele vai pedir em troca de guardar o seu segredo?

— Pela Lua...eu não posso acreditar. Sabedoria não faria nada assim.

— Pelo o que Morte diz, ele faria pior. Você pode ver a influência dele nos Materiais. Os mais sábios são aqueles que mais machucam os outros. Poucos são os que usam a sabedoria que lhes é proporcionada para fazer o bem. Você pode arriscar, afinal, ninguém mais sabe o que fazer além dele.

— Exatamente...

Ela pegou minha mão e antes que pudéssemos falar mais alguma coisa, uma Porta se abriu na nossa frente e Morte saiu acompanhado por Sucesso.

Ele estava com a mesma aparência cadavérica de antes, mas havia trocado o terno esfarrapado por outro também branco com uma gravata preta fosca combinando com a fita que trançava seu cabelo.

Morte mediu Honestidade fazendo cara feia para o tamanho do vestido e ela apenas sorriu abraçando-o:

— Olá maninho – Por um segundo pude jurar que ouvi Morte rosnar de raiva, mas ele apenas sorriu enquanto Honestidade se direcionava para Sucesso – Olá amigo, é bom ver você são novamente.

Uma lagrima escorreu em seu rosto, mas ele limpou rapidamente e sorriu para nós.

Morte pigarreou e indicou que deveríamos caminhar.

— Então... – essa era a forma dele começar um assunto desconfortável – Sucesso me procurou para pedir ajuda. Os outros...bem, a grande maioria de nós, resolveu não se mostrar. Resolveram simplesmente se trancar em suas casas com seus primeiros e evitar o máximo possível que seu Seres saiam. E nós sabemos o que acontecerá com a raça dos Materiais sem nossa influencia.

Uma Porta se abriu atrás de nós e todos viramos para dar de cara com Vida carregando Arly no colo e ao seu lado, Caleb com um fecho fino de sangue escorrendo pela testa.

Corri para pega-la no colo e abraça-la, mas no fundo eu sabia que ela não corria perigo. Algo me dizia que ela era a responsável pelo sangue em Caleb.

Novamente...

Morte já estava gritando com ele e Honestidade, Vida e Sucesso assistiam a cena.

— De novo? Como isso é possível? Pode me responder Caleb?

— Ela me atacou!

— O que você fez dessa vez?

— O meu trabalho!

Honestidade se aproximou de Morte, segurou seu rosto entre as mãos e sorriu para ele e naquele momento, Morte se esqueceu de quem ele era. A única coisa que importava era o sorriso de Honestidade e todos nós percebemos claramente.

Quando ela o soltou ele veio até mim e Honestidade piscou para Caleb que sorriu em gratidão, o que não agradou muito Arly que a fuzilou com o olhar.

“- Pela Lua! O que está havendo com o mundo Imaterial?”

Morte a pegou de mim, colocou-a no chão e ajoelhou até ficar na sua altura. Beijou sua testa e sorriu.

— Pode me explicar?

Ela concordou com a cabeça e cochichou algo no ouvido de Morte. Ele ficou sério e logo depois a expressão se amenizou.

— Bem...Arly, eu quero te mostrar uma coisa – Ele se levantou e puxou a foice do seu peito, os olhos de Arly se arregalaram. – Veja, esse é meu artefato. Caleb tem um, porém menor e com a lamina vermelha. Toda vez que chega a hora de alguém, seu nome aparece na lamina e nós temos que fazer o que fomos criados para fazer. Se nós negamos a levar algum Material, o nome nunca some da lamina e não podemos mais trabalhar. Entende?

— Sim... – ela me olhou e depois de bufar foi até Caleb. – Sinto muito.

Ele cruzou os braços e a encarou mal escondendo o sorriso.

— Só isso?

Ela bufou novamente.

— Eu sinto muito por ter acertado você.

— De novo.

— Você mereceu!

— Qual das vezes exatamente?

— Eu odeio você!

Ela abriu uma Porta e passou por ela aos prantos. Caleb me olhou em desespero, mas eu estava tentando entender o que havia e não pude dizer nada antes que ele passasse atrás dela com Honestidade logo em seguida gritando por cima do ombro:

— Eu resolvo! Montem um plano pra acabar com isso.

Nós três continuamos ali nos encarando até que Sucesso pigarreou:

— Bem...crianças não é mesmo?

Depois de muito conversar fizemos uma lista dos Imateriais que teriam motivos para assassinar os primeiros e para o desespero de Sucesso, ele e Ódio estavam encabeçados na lista.

Ele por ter sido o primeiro e Ódio por ser uma vadia sem coração como Vida mesmo enfatizou.

Antes de ir para casa, passei no apartamento de Amy, mas ela não estava. Coloquei água para o pulguento e antes de ir para casa verificar Arly, eu reparei em um livro em cima da cama dela: C L A U D E P O U Z A D O U X, CONTOS E LENDAS DA MITOLOGIA GREGA.

Eu pensei em abrir o livro aonde tinha um marca páginas vermelho mas a voz de Honestidade me chamando foi mais forte.

Quando eu cheguei até a ponte de Chernobyl, Honestidade estava me esperando com um sorriso.

— Eu ia perguntar se Arly está bem, mas seu sorriso já me respondeu isso.

— Eles estão bem. Caleb está envergonhado e Arly está furiosa. Mas eles se amam então logo passa.

— E-eles o que?

— Ah fala sério loirinho! Você, o Senhor do Amor, não percebeu?

— Droga...

— Pois é, mas não diga nada a ela. Te chamei aqui para te tranquilizar e para te avisar de uma coisa: Sabedoria sumiu. Ele e suas filhas simplesmente não estão mais agindo.

— Como assim? Ele não pode fazer isso!

— Não pode mas fez. E fica ainda pior...outros estão seguindo o exemplo. Calunia, Desespero e Talento estão retirando seus Seres do mundo. O impacto já está sendo sentido em alguns lugares e...a guerra diz olá.

Suspirei e encarei a Lua nascendo no céu impregnado de radiação:

— Precisamos encontrar Sabedoria e acabar logo com isso. Só ele pode nos dizer quem está matando os primeiros e como.

Honestidade veio até mim e encostou a cabeça no meu ombro.

— Que a Lua nos ajude.


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