Deixe-me te amar escrita por Nathália Francine


Capítulo 20
Vinte




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“De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.

De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.

De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.

Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.”

Eu estava sentado no piso frio do salão da minha casa encarando a aliança em minha mão. Minhas filhas estavam todas em volta de mim e a doce Emma estava deitada com a cabeça em minha perna me observando enquanto eu dizia os versos do poema preferido dela. Quando terminei e suspirei, ela sorriu e disse entre os longos cachos loiros:

— Eu amo Vinicius de Morais!

Seu sorriso era tão doce que poderia aquecer o Polo Norte. Emma era uma das minhas primeiras filhas e sempre foi a mais calma e terna de todas. Acariciei sua juba loira e olhei uma a uma de todas as meninas. Eu lhes devia uma explicação. Elas tinham o direito de saber o que seu pai estava fazendo, o que estava acontecendo com os primeiros e o que faríamos dali a diante.

— Minhas filhas...a um tempo atrás eu conheci uma Material. Não sei explicar ainda, mas ela pode nos ver. Eu fiquei intrigado e a acompanhei desde então. Eu...eu acabei me afeiçoando muito a ela e como vocês viram naquela noite na praia, as coisas fugiram do controle. Quero que saibam apenas que minha...relação com ela, não irá interferir em nossas vidas. Eu sempre estarei aqui por vocês. Por todas vocês! – Houve um minuto de silencio que pareceu uma eternidade para mim, a lua cheia estava radiante no horizonte do mar e parecia participar da pequena reunião também – Quanto aos recentes acontecimentos, em relação aos primeiros, eu quero que saibam que eu as protegerei até meu último suspiro! Não sabemos ainda como essas mortes estão acontecendo, mas iremos descobrir. Quero que fiquem atentas. Qualquer coisa estranha que virem, me chamem e não importa o que eu esteja fazendo, eu irei até vocês! E peço a cada uma de vocês um favor, Flerah está estritamente proibida de sair sozinha para qualquer lugar que seja. – Flerah levantou a cabeça e me encarou boquiaberta – Assim que souberem que ela irá sair, duas de vocês devem acompanha-la e quando eu estiver aqui, eu mesmo irei. Isso é para garantir... – Eu suspirei e minha garganta ardeu. A imagem da possibilidade de ver Flerah morta me torturou – Isso é para garantir que eu não vou perder nenhuma das minhas filhas.

Se Flerah pensou em debater, esse pensamento foi esquecido quando Emma se levantou e foi em sua direção abraçando-a e beijando seu rosto.

— Vamos te proteger Flerah. Todas nós!

Flerah concordou com a cabeça e deitou no colo de Emma. Meu orgulho de cada uma delas aumentou. Naquele momento eu soube que o céu poderia desabar, o brilho da Lua se apagar e o Sol congelar...minhas filhas, as regentes do Amor, jamais iriam desistir.

Algumas das meninas pegaram os instrumentos e se puseram em um canto banhando nossa casa com a 3º Sinfonia de Luidwig Beethoven. Outras se levantaram e começaram a dançar em cirandas perfeitas. Ao observa-las me lembrei das gravuras que os Materiais faziam sobre as Ninfas dos Bosques. Eu sorri e estendi a mão para o teto fazendo brotar por toda a parte pequenos ramos de Jasmins brancos. A música e dança foi banhada pelo doce perfume das flores e pelo brilho amarelo da Lua cheia.

Assisti a dança imerso em pensamentos. A aliança de Amy queimava em minha mão me deixando absorver os sentimentos que Gael nutria por ela.

Ela havia aceitado se casar com Gael pois sabia que eu não poderia lhe dar um futuro. Ela queria garantir sua felicidade e eu não a culpava por isso, pelo contrário, se fosse preciso eu mesmo a flecharia para selar sua felicidade!

Assim que o Sol começou a pintar as nuvens de laranja eu me levantei e caminhei pela casa. Algumas das garotas já haviam saído, mas a grande maioria ainda estava cantando, dançando e rindo. Depois de olhar cada uma delas com a máxima atenção, abri uma Porta para o topo do prédio vizinho do de Amy. Fiquei ali sentado na beirada observando a janela dela. Ela estava deita na cama com o gato entre as pernas e a cabeça apoiada no colo da irreconhecível Cristal.

Agora a vizinha de Amy atuava apenas como massoterapeuta. As roupas ousadas deram lugar a simples calças jeans e camisetas. Ela havia pintado o cabelo de preto e estava um Chanel recém cortado. Na mão esquerda, um anel de diamantes brilhava.

Sempre que era possível ela ficava com Amy.

Nora sempre aparecia para garantir que a protegida estava se alimentando e o casal Tyler e Roberto vinham todos os dias no fim da tarde para ter certeza de que ela ainda estava viva.

Por uma semana eu a observei do mesmo ponto.

Ela chorava e dormia.

Nora a obrigava a comer e assim que ficava sozinha, chorava novamente.

Quando o sol raiou no interior da Bélgica e a jovem Clarice disse sim ao apaixonado pescador, eu guardei meu arco e caminhei em direção a porta. Parei para olha-los comemorando entre lagrimas e ouvi sua voz. Assim que cheguei no apartamento, o desespero me dominou. Todos os retratos e pinturas de Amy estavam rasgados e espalhados pelo chão. Ela estava deitada na cama, dormindo e suando frio.

 - Amy! Amy acorde por favor!

 Ela abriu os olhos e me encarou debilmente:

— Eros?

 -Sim! Sou eu. Olhe para mim, você tem que ser forte Amy. Ela sorriu e acariciou meu rosto. Sua mão tremula  estava fria como um cadáver.

 - Eros...me desculpe...

— Amy, eu não estou bravo. Eu não te culpo!

— Eros...você tem que saber...

Segurei seu rosto entre as mãos e senti a febre crescendo rapidamente.

 - Amy, por favor. Eu te imploro, fique quieta para que eu possa te ajudar!

Ela sorriu e ficou parada. Então seu sorriso se desfez e antes de fechar os olhos ela sussurrou:

 - Eu te amo.

 

 

Uma forte luz brilhou atrás de mim e Morte e Vida surgiram. Eu os encarei e puxei meu arco com uma flecha já pronta apontada para Morte:

— Você não vai leva-la! Vai ter que passar por cima de mim para isso!

 - cupido, ela me chamou! Assim que eu ouvi o chamado e a reconheci fui atrás do meu irmão! A hora dela ainda não chegou, mas ela está muito mal. Vida saberá o que fazer, mas você tem que se acalmar! Você está parecendo um louco!

 Vida se aproximou de mim e calmamente me fez abaixar o arco.

 - Cupido, deixe-me ajudá-la.

Eu senti a terra tremer e só depois percebi que na verdade quem tremia era eu. Morte me afastou da cama e Vida se aproximou de Amy. Acariciou seu rosto e beijou seus lábios. Amy arfou e abriu os olhos para fecha-los logo em seguida. Vida se afastou da cama e eu me aproximei. A cor havia voltado para ela e a febre, sumido. Eu a abracei e chorei. Depois de alguns minutos me levantei e me desculpei com Morte.

Vida cruzou os braços:

— Cupido, não poderei fazer isso de novo. Ela é sua responsabilidade! Sabedoria já lhe disse isso, eu sei da conversa de vocês. É sua obrigação protegê-la!

 - Eu sei...isso nunca mais vai acontecer. - Eu olhei para Amy que dormia serenamente agora - Nunca mais.


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