Deixe-me te amar escrita por Nathália Francine


Capítulo 2
Dois




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/706256/chapter/2

Ela ficou imóvel na cama.
Fui até sua geladeira e peguei um gelo, enrolei na bandana branca que trazia no bolso e me aproximei dela.
— Como você...ele...o que você...
— Fique calada.
Coloquei o gelo em sua sobrancelha e ela gemeu.
Alguns minutos depois eu estava me servindo de whisky.
— Você bebe?
— Não.
— Então por que tem uma garrafa na sua casa?
— Como você chegou aqui? Quem é você? A quanto tempo estava no meu guarda roupa? O que fez com aquele homem?
— Ei calma, uma pergunta por vez.
Ela agarrava o gato com tanta força que o coitado estava ficando sem ar.
Coloquei o copo na pia e sentei ao seu lado na cama.
— Primeiro, solte o gato. Ele precisa respirar.
Ela o soltou e ele veio para o meu colo.
— Muito bem, eu não gosto de gatos – peguei ele e o coloquei no chão – Agora...qual foi a primeira pergunta?
— Como você me encontrou?
— Instinto. Próxima pergunta.
— Meu guarda roupa...quanto tempo você ficou lá dentro?
— Alguns minutos.
Ela arqueou a sobrancelha e o corte ficou mais evidente.
— Quantos minutos exatamente?
Me senti extremamente envergonhado e corei.
— Poucos.
Ela suspirou e deitou na cama. Estava exausta, dava pra perceber.
— Quem é você?
“Droga, eu não pensei nessa parte...vamos pense seu idiota!”
— Já aceitou?
Eu a olhei.
— Aceitei o que?
— Pelo visto não...olhe, eu não sou boa nisso e sinceramente não estou tendo meu melhor dia. Por favor, aceite de uma vez e faça a passagem, ou seja lá o que vai te acontecer.
“É claro. Ela pensa que eu sou uma alma perdida...ótimo!”
Deitei ao seu lado e coloquei as mãos sobre o rosto.
— Eu...droga.
— O que foi?
Uma coisa que deve ser registrada sobre mim: sou um ótimo ator.
— É que eu...bem, eu nem ao menos sei quem eu sou!
— Não sabe seu nome?
Neguei com a cabeça.
— Olhe para mim.
Olhei.
— Vamos dar um jeito. De que você se lembra?
— Nada.
— Tudo bem...pode demorar um pouco, mas nós vamos conseguir.
Ela sorriu de um jeito doce e se virou para mim. Fiz o mesmo.
— Como você se chama?
— Amy.
“Só pode ser brincadeira!”
— Belo nome.
— Obrigada. Significa amor.
Eu a encarei.
Um olho de cada cor, mas ambos carregavam a mesma dor.
— Foi sua mãe quem escolheu esse nome?
Uma lagrima rolou do seu rosto.
— Não exatamente. Foi minha...dona.
— Sua o que?
Ela suspirou.
— Minha dona. Eu sou órfã. Fui abandonada na frente de um orfanato. A mulher que tomava conta do lugar, dizia que era nossa dona. Quando completei cinco anos comecei a trabalhar na cozinha, limpando tudo. Aos doze...eu cuidava do marido dela. Eu e mais cinco garotas.
— Como assim cuidava do marido dela?
Ela suspirou e eu entendi.
Uma raiva incontrolável me tomou.
— O que aconteceu com ela?
— Morreu. Todos morreram.
— Como assim?
— Um incêndio. Fui a única sobrevivente.
— Sinto muito.
Ela agradeceu com um sorriso torto.
— Você pode ficar? Caso ele volte, você pode manda-lo embora novamente. Como fez, seja lá o que foi aquilo.
Eu ri.
— Claro.
Ela sorriu e logo em seguida levantou rapidamente e foi para a mesa onde estava o desenho.
Eu me sentei e a olhei:
— Você deve descansar.
— Eu sei, mas quando te vi mais cedo não pude notar direito sua tatuagem. Por que uma flecha preta?
Bufei.
— Você faz muitas perguntas...eu não sei. Caso você tenha esquecido, eu acabei de te dizer que não me lembro de nada. Só tenho certeza de uma coisa.
Ela me olhou esperançosa.
— De que?
— De que eu sou extremamente lindo. E essa tatuagem completa meu charme.
— Eu também tenho certeza de uma coisa.
Olhei com interesse.
— O que?
— Que você é um idiota egocêntrico.
Bufei.
O gato subiu novamente na cama e eu o empurrei.
— Ei! A cama é dele!
— Serio? E você dorme aonde? No chão?
— Você realmente é um idiota.
O gato subiu novamente e deitou aonde ela estava.
Uns dez minutos de silencio se passaram.
— Pronto! Ficou perfeito!
— É claro que ficou. Sou eu no desenho!
Ela voltou para cama e deu um tapa na minha mão.
— Não puxe o rabo do meu gato!
— Eu não estava puxando. Estava fazendo carinho.
Ela pegou o gato no colo e o levou até um pote vazio e encheu de leite. Me olhou de cara feia:
— Você tem um jeito bem estranho de demonstrar carinho.
Me levantei e fui ver o desenho.
— Você é talentosa...
— Eu sei.
— Não fique se achando.
— Olha só quem fala...o que eu vou fazer com isso?
Ela estava parada na porta tentando fecha-la.
Eu fui até ela e encostei de um jeito que não desse pra ver que estava destrancada.
— Amanha você se preocupa com isso. Vá deitar.
— Não me de ordens. Precisamos de um nome pra você.
— Eu não sou um animal de estimação pra você me dar nome.
Ela me olhou dos pés à cabeça.
— Que tal...Tim?
Rimos.
— Sério?
— Não foi minha melhor ideia. Tudo bem...Max.
— Agora me sinto um pitbull.
— Dramático.
Ela se deitou novamente e eu a acompanhei.
— Com quem você mora aqui?
— Apenas eu e Draco.
O gato subiu novamente e se enroscou nos pés dela.
— Como se sustenta?
— Trabalho numa floricultura.
— E aquele porco é seu melhor cliente?
— Ele apareceu a algumas semanas, mas eu não quero falar sobre isso.
— Tudo bem...
Ela bocejou e adormeceu rapidamente.
Fiquei ali por uns minutos até ter certeza de que ela realmente estava dormindo.
Tirei uma mecha do seu cabelo do rosto e acariciei sua bochecha.
Ela abriu os olhos e eu me assustei.
— Eros.
Eu sorri.
— Eros...eu gosto.
Ela voltou a dormir.
Um sono tranquilo e profundo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Deixe-me te amar" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.