Deixe-me te amar escrita por Nathália Francine


Capítulo 16
Dezesseis




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Quando nossos lábios se separaram o mundo silenciou.

Ela me olhou com raiva mas lagrimas escorriam pela sua bochecha e suas pupilas estavam dilatadas igualando as cores de seus olhos tão diferentes e tão lindos.

— Porque?

— Amy...eu...

Ela encostou a testa na minha e soluçou.

— Eu pedi...eu pedi pra você não mexer com a minha cabeça. Mas você não me ouviu. Ah Eros...eu confiei tanto em você!

Meus ouvidos começaram a zunir e a voz de Amy começou a se fundir com um leve tilintar de sinos a distância. Senti suas mãos segurando meu rosto e seus lábios depositando beijos tremulantes nos meus.

— Eros...eu sonhava com você. Ouvia sua voz...achei que estava ficando louca! E de repente eu me lembrei de tudo! E eu te odiei. Te odiei com todas as minhas forças...você tem noção do que você fez? – O zunido aumentou e sua voz se tornou um leve sussurro distante – Porque você fez isso?

Eu me levantei da cama e cambaleei pelo quarto. Eu estava com a vista embaçada e mal enxergava a silhueta dela na cama. Tropecei algumas vezes antes de descobrir o que estava acontecendo e quando a campainha do apartamento tocou, o zunido tomou forma e eu ouvi claramente a Canção.

Pura e verdadeira.

Amor verdadeiro.

Amor predestinado!

Eu me desesperei ao ouvir o nome da Canção e quando Amy passou por mim e disse para que eu não sumisse eu senti vontade de fugir. Mas ela abriu a porta e um homem entrou. Pegou o rosto dela nas mãos, enxugou suas lagrimas e a beijou.

Ela retribuiu o beijo meio sem graça e quando eles se abraçaram eu pude ver em sua mão uma aliança de prata que combinava perfeitamente com a do homem.

Juntei o pouco de concentração que eu ainda tinha e o olhei.

Seu nome era Gael. Ele era filho de uma família imigrante da Itália, estava sozinho em São Paulo para a mostra de artes em uma galeria. Ele, assim como Amy, era pintor e havia encontrado a sua musa.

— Por que chora minha ninfa? – Ele acariciou seus cabelos e beijou o alto da sua cabeça, meu coração se esfarelou – Outro pesadelo?

Amy não concordou nem discordou, apenas deixou que ele a sentasse no seu colo quando se dirigiram para cama. Ele a aninhou em seus braços e a Canção que seu coração emanava me atingiu novamente. A cada soar meu corpo doía!

Quando voglio calmare il demone da me ... Ho messo il mio angelo per invogliare! Dopo tutto! Abbiamo due demora i nostri labirinti dell'anima. Se lasciamo gli odi, risentimenti. Angers, gelosie, la sosta ... Saremo alimentando il nostro demone! Lo preferisco l'angelo ... Con la loro pace, i loro sorrisi ... E le loro ali di luce. Per questo motivo, egli è sempre controllare il mio demone, in modo che non si sovrapponga!

Ela o encarou e ele sorriu:

— É um poema que minha mãe gostava muito.

— Eu não falo italiano.

— Quer saber o que quer dizer?

— Por favor.

Quando quero acalmar o demônio de mim... eu coloco o meu anjo para seduzi-lo! Afinal! Temos os dois habitando os nossos labirintos da alma. Se deixamos os ódios, rancores, raivas, invejas, nos habitarem...estaremos alimentando o nosso demônio! Prefiro o anjo... com a sua paz, os seus sorrisos... e as suas leves asas. Por essa razão, ele está sempre controlando o meu demônio, para que ele não o sobreponha!

— É um belo poema.

— Sim. Foi Deyse Sena quem escreveu. Minha mãe recitava ele para mim e meus irmão todas as vezes em que enfrentávamos alguma dificuldade. Para nos lembrar que temos dois lados, um bom e um mal. E que sempre que encontrarmos alguém disposto a nos derrubar, temos que lembrar que sempre teremos alguém mais disposto ainda a nos ajudar. – Ele pegou a mão dela e acariciou a aliança – Todos temos um demônio e um anjo de estimação minha ninfa...e ambos travarão uma guerra infinita para nos comandar. Quando você achar que seu demônio está a ponto de te comandar, invoque seu anjo e confie sua alma a ele.

Ela fechou os olhos e deixou que ele a abraçasse. Pelas costas dele ela me encarou e chorou.

Eu me aproximei, e sorri para ela.

— Não me deixe. Por favor! Não me deixe!

Ele a abraçou e repetiu que nunca a deixaria, sem saber que o pedido era destinado a mim.

O celular de Gael tocou e ele se levantou para atender, caminhou um pouco pelo apartamento e eu o observei. Cabelos longos presos em um rabo de cavalo curto, castanhos como seus olhos. Barba por fazer e um porte físico digno de um jogador de futebol. Ele já havia sofrido muito na vida. Senti sua dor e me odiei por estar com inveja dele. Ele havia perdido a mulher e o filho. Ambos haviam sido levados pela pneumonia. A criança, Enzo, de dois anos e a esposa Jaqueliny de vinte anos. Na época Gael tinha vinte e um e jurou no tumulo da jovem amada que nunca se apaixonaria novamente. Até encontrar Amy...

Ele desligou o celular e foi abraçar Amy novamente.

— Minha ninfa, eu tenho que ir. Durma mais um pouco e lembre-se de que seu anjo a protegerá. Se ele não fizer, eu farei.

Ela sorriu e agradeceu. Levou ele até a porta e quando ouvimos o barulho do carro indo embora nos encaramos. Ela foi a primeira a falar:

— Eros...

— Não precisa.

— Mas...

— Você não me deve satisfações Amy. Nunca me deveu! Eu peço desculpas por não ter obedecido o seu pedido, mas eu fiz o que achei que seria melhor. Ele te ama. Te ama de verdade e eu sei que se você não tivesse lembrado de mim, viveria feliz com ele!

— Feliz? Eros, eu sonhei com você todas as noites! Eu chamava por você enquanto dormia! Eu pintei você várias e várias vezes! - Ela foi até a escrivaninha e jogou na minha direção vários papeis. Em alguns haviam esboços feitos de carvão. Meus olhos, boca, a flecha...cada parte do meu corpo retratado de formas diferentes. – Eu achei que estava ficando louca!

Eu abaixei e peguei uma das folhas, nela estava desenhado apenas meus olhos com a flecha traspassada. Vi marcas de água e soube que eram lagrimas secas.

— Sinto muito Amy...

Ela sentou na cama e me olhou:

— Por que você fez isso?

— Eu não sabia que você iria se lembrar. Eu achei que você viveria feliz. Eu...

— Eu jamais seria feliz sem você na minha vida Eros.

Aquelas palavras me corroeram. Como ela poderia ser feliz comigo? Eu não poderia levar ela para jantar, dançar ou passear no parque. Ela não teria filhos, não teria uma vida.

Eu fui até ela e acariciei seu cabelo:

— Amy...eu não posso te dar um futuro. – Peguei sua mão e encarei a aliança – Ele pode.

Ela olhou a joia e sorriu.

— Eu o conheci no jardim botânico. Eu estava cansada pois não conseguia dormir sem sonhar com seus olhos me encarando e toda vez que ficava em casa, parecia que faltava alguma coisa...que faltava alguém. Então eu sai. Estava sentada sozinha encarando uma flor solitária quando ele se aproximou, se apresentou e pediu para me pintar. Eu neguei e sai andando. No dia seguinte eu voltei para o mesmo lugar e ele estava lá. Ele não disse nada, apenas me entregou um papel enrolado com uma fita vermelha. Era eu...olhando a flor solitária. Conversamos por um tempo e na semana passada, ele em pediu em namoro.

Eu me foquei na história e visualizei a cena. Duas semanas depois de eu ter apagado as lembranças dela, ele desembarcou em São Paulo e foi direto para o jardim botânico pois foi onde seus pais se conheceram.

Ela soluçou e enxugou as lagrimas. Me sorriu e se deitou. Eu a acompanhei e a aninhei em meu peito.

— Eros...não me deixe. Nunca me deixe! Eu não quero um futuro. Eu só quero ser feliz e você faz isso. Sua presença me faz bem. Sua presença é a minha felicidade. Não me deixe...

Eu suspirei e a abracei mais forte.

Mais uma vez eu deixei de contar a verdade.

Mais uma vez eu a enganei.

Draco pulou entre nós e ronronou lambendo a ponta dos meus dedos.

— Olá pulguento. Sentiu minha falta?

Ele miou e se enroscou nos cabelos da dona e assim como ela, dormiu.

As palavras do Sabedoria me invadiram:

 “-Saiba que se você cruzou o caminho dela, é sua obrigação protegê-la”

Suspirei e pela primeira vez nesse ano que se passou, eu me senti bem. Me senti feliz.

Ela era minha felicidade e eu jamais poderia ser feliz sem ela na minha vida e se fosse preciso, eu quebraria todas as regras para nunca mais perde-la. Não importava o que fosse necessário, ficaríamos juntos!


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