Deixe-me te amar escrita por Nathália Francine


Capítulo 15
Quinze




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O sol nasceu sem vida. As nuvens tomavam conta do céu escondendo toda a cena do glorioso astro: eu e Ódio deitados nus no telhado de um prédio qualquer em Londres.

Os Materiais ainda cantavam e riam aproveitando o dia seguinte das festividades quando Ódio se levantou e se vestiu. Ela estava radiante! Me levantei e coloquei a calça e os sapatos, ela se aproximou e me entregou minha camisa em farrapos.

— Desculpe pela camisa. Você sabe que eu não sei me controlar. – Eu peguei a camisa sem olhar para ela e concordei com a cabeça ainda encarando o chão. Ela segurou meu queixo com as unhas e me obrigou a olha-la – Cupido, esta foi a melhor noite desde a minha existência.

Eu me desvencilhei e me dirigi até a beira do prédio. Sentei ali e olhei para o nada. Ouvi a Porta se formar e depois sumir. Encarei as nuvens e chorei. Senti nojo de mim mesmo.

Pena de mim mesmo.

“- Pelo menos você a livrou disso. Você a livrou de tudo que poderia destruí-la. Ela está a salvo. Está feliz... ela poderá ter uma vida. Poderá ter o que nunca teria ao seu lado. Amor e paz. ”

Minha consciência tentou me alegrar, mas só me destruiu mais ainda. Ela seria realmente feliz? Estaria feliz? Eu não tinha como saber. Não a procurei e Morte não me falou dela. Ele estava ocupado com a guerra que estava acontecendo na Síria.

Ouvi a Porta se abrindo novamente e me preparei para mandar Ódio me deixar em paz, mas quando me virei, vi Honestidade surgindo com um cigano de olhos laranjas ao seu lado.

Ela me encarou e seu olhar era tão firme quanto o macacão de couro justo que ela usava. Ao seu lado o cigano sorria.

Eu o cumprimentei:

— Sabedoria.

Ele se aproximou e me abraçou. O cheiro de carvão queimado e baunilha reinou no ar.

— Olá Cupido! Soube que você está me procurando a um bom tempo. – Ele me soltou e cruzou os braços – Achei engraçado, afinal o amor e a sabedoria não costumam caminhar juntos por muito tempo.  Não me encare desse jeito. Se você fosse inteligente não teria deitado com sua irmã novamente!

 Eu abri a boca, mas fui forçado a fechar com o tapa que Honestidade me deu. Ela se aproximou tão rápido que eu só senti a força da sua mão.

— Ho-honestidade...

— Não gagueje! Você é muito idiota!

Eu a encarava sem reação e ela apenas me fuzilava com o olhar enquanto as lagrimas escorriam pelo seu rosto.

Sabedoria abriu uma Porta e a indicou para Honestidade. Ela atravessou furiosa. Assim que a Porta se fechou, ele se sentou aonde eu estava e eu o acompanhei.

— Não a culpe – ele começou – Ela tem você como inspiração. Tem uma confiança muito grande em você, sem querer ofender, metade dos Imateriais odeiam a sua irmã. Honestidade me contou meio por cima sobre a Material que você conheceu. A marca do Morte se apagou, não é? – Ele me olhou e eu concordei com a cabeça – Existem alguns assim. São raros. As vezes nem nascem no mesmo século, mas são importantes. Digamos que eles são necessários. Não posso contar o porquê, mas você deve saber que o que você fez com ela, está para perder o efeito. Ou talvez até já tenha perdido!

Eu o encarei perplexo:

— Ela...ela vai se lembrar?

— Ou já se lembrou. Olhe Cupido, como eu disse, ela é única. E extremamente necessária. Saiba que se você cruzou o caminho dela, é sua obrigação protegê-la. E você já demonstrou que é meio capaz disso. – Eu fiz uma careta e ele ergueu a mão para que eu me calasse – Sim, meio capaz! Você ainda é fraco. Ódio te tem nas mãos. Você acha que a segunda chance é feita para todos, mas não é. Ódio não vai mudar e esse desejo que você acha que tem por ela, vai acabar destruindo você e todos que você se importa. Ela vai queimar todas as suas flechas. Uma por uma até ter o que ela quer. Mas isso não vem ao caso agora. Pense bem Cupido. Você tem duas opções: apagar a memória da Material de tempos em tempos ou ser corajoso uma vez na vida e protegê-la. Conte para ela. Seja sincero...

— Isso é contra as regras!

— Você quebrou as regras quando mentiu dizendo que era uma alma perdida.

— Eu não menti!

— Mas também não disse a verdade!

Eu me calei. Ele estava certo. Eu quebrei as regras por ela uma vez e quebraria de novo se necessário.

— De tempos em tempos Cupido, um de nós é escolhido para entrar na vida de um Material. Ninguém nunca sabe quem vai ser ou quando vai ser. Nem como vai acabar. As vezes acaba pelo certo, outras pelo errado. Mas sempre acaba. É uma provação para os dois lados.

Ele se levantou e abriu uma Porta, antes de passar me encarou:

— Não se preocupe com sua mais nova. Ela é diferente, mas não é um problema pra você. Nunca será! Trate de tomar cuidado com a sua irmã, pois ela sim pode destruir tudo que você ama.

Assim que ele se foi, eu voltei para casa, tomei um banho e coloquei uma calça jeans surrada e um coturno. Quando estava procurando uma camisa, Flerah entrou no quarto. Escolheu uma camisa branca para mim e disse que foi visitar a jovem de cabelos vermelhos e que era bom eu me decidir logo, pois a memória dela havia voltado.

Ela me beiju no rosto e disse que eu não precisava me preocupar pois ela me apoiaria em qualquer decisão desde que Ódio não entrasse mais em nossas vidas.

Quando terminei meus afazeres em casa fui para a ilha deserta no Havaí.

Caminhei por um tempo pensando. 

A comparação era inevitável. Ódio era intensa e extremamente bela enquanto Amy era um mar de histórias tristes em uma beleza singela e exótica. Eu queria estar com ódio. Era algo ligado à nossa criação eu acho. Mas a necessidade de ver Amy dormir em meus braços e acordar resmungando com Draco ao seu lado, era mais forte que eu. 
Eu podia sentir o cheiro das flores misturado com suas tintas. Podia ouvir claramente o ronronar do Draco.  Visualizava a dança dos dois ao som de The Killers na cozinha minúscula do seu apartamento. Sua risada ecoava a cada suspiro meu e a falta que seu toque me fazia, gelava o ar quente do Havaí. Eu a imaginei ali. Pulando as ondas claras e procurando as conchas mais bonitas para transformar em uma linda obra de arte. Eu sabia que ela estaria memorizando cada parte daquele lugar com sua câmera. Seus cabelos vermelhos ganhariam vida com a forte brisa e seus olhos de duas cores brilhariam em contraste com a suave pele de porcelana. Ela gostaria daqui e eu gostaria de vê-la aqui. Eu amaria tê-la aqui neste instante!

E como se o universo estivesse ouvindo meu coração, eu a ouvi sussurrar meu nome como quem chama ao pé do ouvido numa manhã. 
Olhei em volta angustiado ansiando por ela, mas me deparei com o vazio. 
A solidão era um tapa ardido de uma meretriz traída por seu fiel cliente.
— Amy...
Corri o mais rápido pela extensão da praia ficando rouco por gritar seu nome e por fim, cai de joelhos na areia fofa e molhada. As ondas beijaram minhas pernas me mostrando o caminho que eu deveria tomar. 
O mar se agitou e um raio caiu ao longe e com ela sua voz novamente. Mas dessa vez, mais alta. Mais desesperada como quem grita por salvação. 
Antes de perceber eu estava passando pela Porta gritando por ela. Ao chegar em seu apartamento a vi deitada enrolada com o gato.
— Amy!
Ela despertou em um salto.
— O que você quer?
Seu pijama velho lhe caia como a mais pura seda e seus cachos desgrenhados pareciam aos meus olhos, o mais belo penteado.
Corri para cama e tomei seu rosto em minhas mãos. Senti o sono lhe fugir quando a beijei.
Quente como fogo e doce como mel.
Este era seu gosto.
Me separei dela a contragosto e esperei pela enxurrada de xingos e ate mesmo pelo tapa, mas ela apenas se jogou contra mim colando nossos lábios novamente.
E ali estava a felicidade descrita em ação.


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