Deixe-me te amar escrita por Nathália Francine


Capítulo 13
Treze




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Ele estava de pé.

Paralisado.

— Cupido...o que você pensa que está fazendo?

— Vamos sair daqui. Eu te explicarei! Eu juro! Mas tem que ser longe daqui.

Eu estava desesperado. Se Amy voltasse ela o veria e toda a história de eu ser uma alma perdida estaria acabada. 

Ele deu as costas para mim e entrou por uma Porta. Eu estava tão desnorteado, que não pude ouvir o local que ele chamou e ao chegar nas ruinas do castelo de Spis na Eslováquia me surpreendi.

Morte caminhou por ele em passos firmes e silenciosos. Eu o segui observando enquanto ele seguia o caminho destruído entrando por corredores e passando por degraus. Desviando das plantas silvestres que nasceram ali e dos escombros. Pude ter a certeza de que ele faria aquele caminho de olhos fechados.

Ao passarmos pelo o que fora uma enorme porta um dia, eu parei para observar o batente descascado e envelhecido. A entrada dava para um enorme salão empoeirado e cheio de pedras. As janelas estavam quebradas e não havia mais vestígios de nenhum vitral, mas as trepadeiras faziam o papel de enormes cortinas despejando uma luz verde em todo o espaço proporcionando assim um tom macabro e lindo.

Morte estava parado bem no centro me encarando.

Eu ainda estava a cima dos três degraus olhando em volta. Ouvindo a música que fora tocada ali a muitas décadas. As promessas, os risos e as lagrimas. Tudo era banhado de ouro e vermelho, enfeitado pelos vestidos de várias cores que rodopiavam junto com as damas mais belas da região.

Morte me tirou do devaneio:

— Explique-se.

Eu engoli em seco e desci um degrau de cada vez como se esperasse que cada passo me desse a coragem necessária.

— No carnaval...eu a vi. E ela em viu!

— Impossível! Eles não nos veem! Nunca nos viram!

— Eu sei! Eu sei! Também me assustei. Eu ainda não entendo como, mas ela pode! E não é só a nós. Ela vê almas perdidas.

Ele começou a andar de um lado para o outro gesticulando com a cabeça e as mãos de forma que deixava claro que estava contendo a raiva.

— Você perdeu totalmente a noção Cupido! Você sabe quem é ela? Sabe...é claro que sabe! Por isso foi atrás de mim e da Honestidade! Ela é a sobrevivente daquele inferno! Ela escapou de mim! A primeira Material a fazer isso em toda a minha existência!  E se é possível mesmo, por que não me contou? Eu achei que não tínhamos segredos! Por que?

— Eu...eu tive medo. Tive medo de que se eu contasse para você...você a levaria.

Ele se aproximou de mim me segurando pelos ombros:

— Cupido, eu não posso levar ninguém que não tenha a marca. E ela não tem. Não mais...- ele me encarou de forma acusadora e triste - O que você fez?

Eu o olhei perplexo. Sem entender.

— Eu não fiz nada. Você sabe que nenhum Imaterial pode tirar a marca de outro! Eu jamais faria isso com você! Mesmo que fosse possível!

Ele me soltou e caminhou pelo salão novamente.

— Morte, olhe, ela é diferente. Tem algo de diferente nela. Ela fugiu de você. A marca dela sumiu e ela pode ver coisas que não deveria!

Ele me encarou:

— Ela sabe? Sabe quem você é? Sabe sobre nós?

— Não. Ela acha que eu sou uma alma perdida.

— Você mentiu? Cupido, você nunca mentiu antes! Eu achei que você não podia mentir!

— E não posso. Eu não menti! Ela chegou a essa conclusão e eu não debati. O que você acha que eu deveria ter feito? “Oi eu sou o Cupido e esse mundo não é nada do que você pensa!” ?

Ele balançou a cabeça tentando entender tudo.

— Morte... – ele estendeu a mão para que eu me calasse, mas ignorei. Meu desespero era palpável – eu estou tentando ajuda-la. Ela já sofreu demais. Eu vou apagar a memória dela e fazer com que esqueça de tudo.

O olhar dele para mim foi tão profundo que por um minuto achei que congelaria.

— Você teria coragem? Eu vi vocês dois juntos. Eu estava ali por um bom tempo e você se perdeu tanto nela que nem ao menos sentiu minha presença! Eu vi a dança e eu vi que se aquela mulher não tivesse aparecido você dois... Pela Lua Cupido! O que esta acontecendo com você? Eu encontrei Flerah, ela disse que você não esta indo para o seu Lar. Que está em um projeto particular. É isso? Ela é seu projeto? Brincar de faz-de-conta com uma Material é o seu projeto? Você abandonou suas filhas!  O que esta acontecendo com você?!?

Sua voz ricocheteou nas paredes e o seu eco vazou por todo o palácio. Eu tremi e cai de joelhos e cabeça baixa. Ele se aproximou, ajoelhou e segurou meu rosto.

— Meu amigo...será possível?

— Não...isso é impossível Morte.

— Ai esta a prova. Quando o próprio criador do Amor nega o sentimento...é por que ele já esta amando. Se ela pode mesmo nos ver, é por que ela não é uma simples Material. Eu vou te ajudar a descobrir. Eu vou te ajudar meu amigo. Eu sempre vou te ajudar.

Ele me levantou e me abraçou.

Ao longe pude ouvir um bater de asas que não reconheci de imediato, mas aquele som me gelou a espinha.

Morte e eu concordamos em descobrir se era possível que um Material nos visse e se uma marca poderia ser apagada. Assim que as tarefas foram dividas, cada um abriu uma porta e partiu. Morte foi em busca do regente da sabedoria e eu voltei para meu Lar. Flerah me esperava no meu quarto e assim que entrei ela me encarou e pude ver a preocupação em seu rosto.

— Temos um problema.

Eu concordei com a cabeça e deixei que ela me guiasse pelos corredores brancos como neve. Ela estava a passos firmes e eu jurei pela minha Flecha de que nunca a vira daquela forma.

Assim que entramos no fluxo do Espelho, eu esperei até que a imagem se mostrasse na pequena tina banhada de ouro. O bloco de diamante que flutuava na profundidade brilhou fortemente e então mostrou o que de princípio parecia ser uma fogueira, mas para mim que já conhecia de cor cada curvatura daquelas mechas, soube de imediato que se tratava dos cabelos de Amy. Eu murmurei seu nome e Flerah me encarou. Antes que ela pudesse perguntar, o brilho recomeçou e mostrou uma chuva de flechas que atingia a jovem Amy. Ela aparentava ter oito anos e estava de pé em frente ao orfanato que pegava fogo. As flechas a atingiram e eu assisti ela morrer aos poucos.

Eu estava ofegante e suave frio. Assim que comecei a me afastar, novamente a imagem mudou e eu vi uma foice nas mãos da jovem Arly. Aos seus pés, Caleb estava desfalecido e ela chorava.

O brilho sessou por completo e a tina continuou seu trabalho de prosseguir dando energia para o Espelho.

A sala me pareceu ficar cada vez menor e Flerah me olhava intrigada.

— Pai...o que você viu?

Eu a encarei.

— Você não viu?

Ela negou com a cabeça.

— A única coisa que vi hoje foi Arly. Ela apareceu no espelho quando eu passava perto dele. Ela...estava de mão dadas com um garoto que reconheci sendo o filho do Morte.

Eu encarei a tina dourada.

— Sim...eles são amigos. – Sai sem olhar para ela, murmurando – eles são bons amigos.

Nunca em toda a minha existência isso acontecera.

Nunca na minha existência, o Espelhou ou seu fluxo mostrara um presságio tão alarmante.

Um presságio de morte.


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