Deixe-me te amar escrita por Nathália Francine


Capítulo 10
Dez




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Acordamos pela manhã com alguém batendo na porta.

Ela se levantou cambaleando de sono e foi atender.

Uma criatura de cabelos curtos e pintados de amarelo mascava chiclete fazendo bolinhas escandalosas borrando seu batom rosa choque. Os brincos de argola conseguiam ser maiores que o pescoço e sua roupa: um short jeans extremamente curto e a parte de cima de um biquíni dourado. As botas de cano alto preto e a meia arrastão cobriam-lhe a tatuagem mal feita de um emaranhado de flores na perna direita.

— Cristal?

— Oi ruivinha. Vim te entregar isso – ela estendeu um jornal para Amy e sorriu estourando outra bola de chiclete - O entregador se perdeu no corredor e acabou entregando na minha casa.

Amy riu baixo.

— Tenho certeza que sim. Obrigado Cristal, tenha um bom dia.

— Você também ruivinha. E faça um café forte pra passar essa ressaca.

Amy fechou a porta e se sentou na cama me olhando.

— Estou com cara de ressaca?

— Sim. – Ela me bateu com o jornal – Ei, o que foi? Fui sincero!

Eu dei as costas para ela e fechei os olhos. Esperei que ela fosse se deitar novamente mas senti sua respiração parar. Me virei rapidamente e a vi com o jornal aberto tremendo.

— Amy?

Ela ergueu o olhar para mim:

— Ele...ele...ele...

Eu sabia o que era, mas mesmo assim, peguei o jornal das suas mãos e li a matéria em voz alta:

“ Foi encontrado morto hoje em seu escritório o famoso escritor da década de oitenta, Eduardo Zabory. Ele era famoso por seus romances policiais, mas, o que mais marcou sua carreira foi a morte da sua mulher Gertrude Zabory que cuidava do orfanato Olimpiano. No ano de 1995 o mesmo acabou pegando fogo no meio da noite e infelizmente nenhuma criança se salvara, inclusive, Gertrude. O fato mais curioso é que junto com o corpo do escritor, estava seu diário que parecia ter sido escrito às pressas, mas certamente é perturbador. Nele, Eduardo confessa o abuso de mais de cinquenta crianças entre 8 e 14 anos de idade. A maioria delas, ele deixou registrado que eram do orfanato e que sua própria esposa as trazia para casa.

A polícia não divulgou nenhum outro detalhe. Apenas garantiu que a história será investigada mais a fundo e pede para que se alguma vitima dele estiver lendo esta matéria, entre em contato. ”

Fechei o jornal e encarei Amy:

— Eu te disse que ninguém fica impune. Que nenhuma mentira é eterna.

Ela concordou com a cabeça e se deitou novamente.

Senti seu alivio dominar seu corpo e a alegria me tomou.

 

A semana que ela passou em casa foi revigorante.

Ela dormiu quase todos os dias inteiros, terminou algumas telas, e tentou cortar meu cabelo a força.

Na sexta feira o telefone tocou. Era Nora.

— Eu tenho mesmo? Tudo bem. As nove...tudo bem.

Ela desligou e bufou. Eu estava no parapeito da janela olhando os pombos brigarem pelas migalhas de pão que eu havia jogado. Ela foi até a cama e se jogou tapando a cara no travesseiro.

Eu esperei até que ela se sentasse e me olhasse com cara feia.

— Quem era no telefone?

— Nora...ela ligou para dizer que o baile foi marcado.

— Baile?

— Sim. Todo ano Nora e algumas amigas fazem um baile beneficente no antigo teatro do bairro da Sra Naomi. É muito bonito. Sara comprou o teatro a alguns anos e reformou. Tudo ficou lindo e como ela não tem família, só um sobrinho, faz esses bailes e todo o dinheiro arrecadado vai para orfanatos. É só por isso que eu vou.

— É uma bela obra...então por que você parece nenhum pouco afim de ir?

Ela bufou e passou as mãos pelo cabelo:

— Por que todos os anos, Nora e a Sra Naomi tentam fazer com que eu e o Guilherme...

Ela parou no meio da frase e foi para o banheiro.

Eu fiquei ali observando os pombos brigarem. Meu coração se apertou e algo ficou entalado na minha garganta. Draco pulou entre os pássaros e observou eles indo embora pela imensidão do céu. Eu fechei os olhos e ví claramente a cena: Amy dançando no meio de um salão lotado em um lindo vestido abraçada com um jovem de cabelos escuros cortados ao estilo militar. Ele usava um terno preto e sorria para ela. Na cena, ela sorria. Um riso doce de felicidade plena. Então ele a beijava.

Abri os olhos e cambaleio para o meio do quarto arfando.

Meu peito doía.

Senti minha flecha vibrar e por um segundo pensei que ela fosse se partir junto com meu coração.

A campainha tocou e eu não precisei esperar que ela viesse para atender a portar para saber o que Nora estava trazendo.

Um lindo vestido de seda cor-de-rosa.

O mesmo que eu vi na minha visão.

Antes que Amy saísse do banheiro, abri uma Porta e fui direto para uma praia deserta no Havaí.

Me joguei na areia molhada e deixei o desespero me invadir.

Ao longe no horizonte, a Lua surgia na linha do mar.

Sem nenhuma estrela.

Tão solitária quanto eu.


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