Deixe-me te amar escrita por Nathália Francine


Capítulo 1
O Começo


Notas iniciais do capítulo




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França, XVII

O vento forte bagunçava o meu cabelo e gelava o ar ao redor. Pelo canto do olho, eu a vi sorrindo para mim. Me irritei só pela sua presença:
— O que você acha que está fazendo aqui?
Ela se aproximou levemente:
— O mesmo que você, trabalhando.
Me virei e a fuzilei com o olhar:
— Eu jurava que estava na minha vez.
Ela riu e me lançou um beijo.
— Quando você vai entender que o Amor e a Inspiração combinam perfeitamente?
— Prefiro queimar minhas flechas a me juntar com você!
Ela veio até mim e me abraçou:
— Por que você é tão mal comigo?
Eu segurei seus braços e a empurrei para longe.
Inspiração era uma coroa com aparência de uns 60 anos, com batom rosa choque, vestido vermelho, cachecol branco felpudo e brincos de perola.
— Fique longe de mim Sra. Naftalina.
— Você está fugindo de mim ou dela?
Eu a ignorei.
Pulei do prédio e fui embora.
Nunca mais voltei a França.

Brasil, Carnaval do Rio de Janeiro de 2016


— Cupido! Que bom te ver por aqui!
— Não se anime Vida. Não vou te ajudar!
Ele se sentou ao meu lado no muro e sorriu.
— Preciso de sua ajuda! Carnaval é a oportunidade perfeita para encontrar o amor da vida!
Eu o olhei com tédio e levei o E-hose a boca.
Ele me observou com a sobrancelha arqueada.
— Novo vicio?
Soltei a fumaça com cheiro de cereja.
— É mais fácil do que carregar um narguilé completo para cima e para baixo.
Rimos ao lembrar do Vício.
Um pirralho que tinha tanta preguiça, que se locomovia em uma nuvem dourada feita com a fumaça do narguilé azul. Não sabia o que me irritava mais nele, a mania de se vestir feito marajá ou os olhos lilás avermelhados.
— De que vocês estão rindo?
Morte nos olhava com o sol reluzindo sua pele branca e os olhos negros sem íris.
— O que você quer aqui?
— O mesmo que você Vida!
As veias de vida saltaram em sua pele negra como carvão. Ele saltou e encarou Morte.
— Você só pode estar de brincadeira comigo, não é?
— Ora Vida, não seja assim tão dramático. O carnaval não é um lugar para construir uma vida, mas sim para perde-la.
— Esse carnaval será diferente! - Vida disse me olhando.
Eu pulei entre os dois e encarei Vida. Seus olhos brancos tinham tantos sonhos, que me doeu um pouco.
— Escute Vida, eu não vou te ajudar nisso. Olhe para eles – apontei para os Materiais pulando e rindo – Eles não estão aqui para amar, só para transar e encher a cara. E, desculpe, para morrer. Eu estou aqui matando o tempo até ir encontrar uma pessoa. O resto, você e Morte que se entendam. Daqui só sairá crianças sem pais feitas em uma esquina qualquer. Vocês dois se resolvam logo, pois Vicio vai chegar com os Seus daqui a pouco e vocês tem que saber o que querem. Tchau!
Desapareci e fui para onde eu era realmente necessário: Museu das Letras, em São Paulo.
O jovem Miguel hoje iria tomar coragem para se declarar para Cristine. Ele a amava tanto que seu canto me dava dor de cabeça!
Quando decidi examinar Cristine, vi que ela o amava também, mas seu canto de amor era destinado a pequena Sabrina, sua filha, fruto de um carnaval.
Hoje Miguel pediria ela em namoro e – depois de uma flecha certeira – ela aceitaria.
Assim que entrei no museu, a vi.
Miguel não demoraria a chegar, estava dobrando a esquina com um buque de rosas vermelhas e a caixinha com a aliança simples até demais, mas era tudo que o seu salário de professor permitiu comprar. Cristine estava terminando o tour com a última turma.
Caminhei ao lado dela e pude perceber o porquê de Miguel a amar: ela não era apenas linda, mas muito inteligente também. Loira de olhos pretos e um corpo muito bem conservado para seus 37 anos.
Encostei em um canto e esperei até o momento certo.
Antes de materializar o arco, senti que estava sendo observado, mas isso era impossível, afinal eu sentiria se outro Imaterial estivesse ali e os Materiais não nos viam.
Olhei em volta e a vi.
Cabelos vermelhos alaranjados como fogo sem vida e um olho azul e o outro verde. Ela estava imóvel me observando boquiaberta segurando um lápis e um caderno de desenho.
A resposta me veio a mente.
“Inspiração...fala sério! Aquela vaca velha não vai parar de me perseguir nunca?"
Me aproximei da garota e ela prendeu a respiração.
Parei.
“Ela realmente está me vendo. Mas como?”
Olhei ao redor novamente e não vi os Seres da Inspiração.
“Ela não foi tocada pela Inspiração...Como é possível que esteja me vendo?”
— O que você é?
A olhei pasmo:
— V-você pode me ver?
Ela concordou com a cabeça e sorriu:
— Está perdido? Eu posso ajudar. Qual é a última coisa que se lembra?
— O que?
Ela me mediu.
— Você deve ser um daqueles Punks sem rumo...mas, você deve aceitar. É melhor!
Cruzei os braços sem entender nada.
— Aceitar o que?
Ela abaixou a cabeça e me olhou de um jeito triste.
— Você morreu.
Sei que foi muita sacanagem, mas não pude segurar a gargalhada o que a fez se levantar irritada.
Ela bufou e guardou as coisas na bolsa velha:
— Você é um dos teimosos, não é? Pois bem, boa sorte.
Ela foi embora sem se preocupar com as caras que a olhavam como se ela fosse louca.
Eu queria segui-la e saber que história era aquela e como ela podia me ver, mas Miguel estava ajoelhado em frente a Cristine se engasgando com as palavras.
— Droga Miguel. Foi mal, acabei me distraindo.
Vi um dos Seres do Coragem me pedir permissão com a cabeça e em seguida abraçar Miguel e desaparecer.
— Cristine, eu te amo. Quer namorar comigo?
Preparei a flecha e antes que o medo a dominasse, atirei.
— Sim!
Sai satisfeito com os aplausos para o novo casal e realmente feliz por Miguel, mas curioso para saber quem era aquela garota.
Antes de voltar para meu Lar, passei novamente pelo Rio de Janeiro pois queria saber o que tinha dado toda a discussão entre Vida e Morte mas eles não estavam mais lá.
Apenas seus Seres.
No meio da multidão estavam os seres do Vida: corujas brancas como neve e grandes cercavam casais (e alguns trios) e aplicavam no útero das mulheres as sementes.
Em algumas esquinas estavam os Seres do Morte, corvos negros banhando-se no sangue das vítimas carnavalescas.
Murmurei para mim mesmo:
— É...o nível de morte do Rio de Janeiro vai subir de novo. E das mães solteiras, claro. Ninguém aqui vale uma flecha minha.
Olhei novamente e vi a fumaça roxa do Vicio brotar do asfalto e penetrar nos Materiais sem que eles sequer sonhassem.
Olhei para cima e me lembrei do que havia acontecido no museu.
A Material que tinha me visto...
Antes que a ideia me corroesse senti a flecha que eu havia usado em Cristina tremer e me lembrei que eu deveria guardar antes que se perdesse.
Me concentrei e observei o portão branco com entornos dourados se formar na minha frente.
A Porta dos Imateriais.
Toquei na grade e disse em voz alta para que o reconhecimento fosse feito:
— Cupido.
Penas de pavão brancas se enrolaram nas grades e uma forte luz cintilou.
Abri e entrei saindo no cais de Esciato, onde eu residia. Subi as colinas observando os Materiais seguindo sua vida aproveitando a perfeição da ilha. O lado bom de ter um Cupido residindo na sua cidade era que o lugar era banhado em paz, pureza e tudo o mais de delicioso que poderia desejar. Caminhei colina acima e quando cheguei ao topo parei na porta de casa. A porta era alta e preta com dois pavões brancos desenhados segurando cada um uma flecha no bico.
Entrei.
Meu lar era grande (enorme, quase o tamanho da ilha por assim dizer, mas claro, era outra dimensão afinal os Materiais não aceitariam muito bem isso), a entrada era um corredor enorme e dos dois lados haviam portas de vários e vários quartos para as meninas. No meio havia uma piscina de agua reluzente, O Espelho, era onde os meus Seres viam os casais que deveriam ficar juntos.
Caminhei mais um pouco e passei pelo portão cercado de tulipas.
Me dirigi ao São dos Amores, que era enorme com várias prateleiras cobertas de todas as flechas que nós já havíamos usado.
Tirei a flecha que usei em Cristina e a ergui, automaticamente ela foi sugada e tomou seu lugar.
Respirei exausto. Cristina foi um dos casos difíceis.
Flerah entrou na sala e ficou ao meu lado.
Ela era a minha primeira e por isso mandava em tudo enquanto eu estava fora.
Ela, assim como as outras, aparentava ter dez anos. Tinha a pele negra como a noite e os cabelos longos e cacheados. Mas assim como eu, olhos azuis celestes e o sorriso branco como neve assim como seu vestido.
— Conseguiu ela, senhor?
— Sim, algo aconteceu enquanto estive fora?
— Não.
Eu me virei para ela me ajoelhando e a encarei.
— Você está estralando os dedos Flerah. O que aconteceu na minha ausência?
— Promete que não vai ficar bravo?
Eu peguei seu rosto nas mãos:
— Você é minha primeira, você é minha filha! Eu não vou ficar bravo com você. Você nunca fez nada de errado.
— Você sabe que isso é mentira.
— Foi apenas um casal. Quantos mais você uniu depois deles? Eu já lhe disse...você uniu um continente inteiro praticamente. O sacrifício daquele casal, gerou amor incondicional.
Ela suspirou e me olhou.
— A novata...ela...surtou.
— Como assim surtou?
— Foi o primeiro dia dela em campo sozinha e ela estava indo bem, mas de repente voltou pra cá com a ideia fixa de que um Material viu ela e eu tentei dizer que isso é impossív...
Eu gelei.
— Onde ela está?
Flerah empalideceu.
— V-você vai desfaze-la?
Eu soltei seu rosto:
— Flerah, me responda. Onde ela está?!?
Ela engoliu em seco.
— Na praia.
Beijei sua testa e corri até o portão passando pelas outras meninas correndo feito um louco e gritando por cima do ombro que as amava e voltaria para conversar com elas depois. Desci a colina rapidamente e só parei quando avistei os cabelos lisos loiros voando com o vento enquanto ela estava sentada nas pedras.
Me sentei ao lado dela.
— Olá.
Ela se assustou:
— S-senhor, e-eu...
Ela estava chorando. Sua pele branca estava marcada por lagrimas e os olhos verdes, avermelhados.
A puxei para mim e beijei o alto de sua cabeça:
— Vamos, se acalme.
— E-eu vou ser desfeita, não é? Você vai queimar minha flecha.
Para se desfazer o Ser de um Cupido eu tinha que queimar suas flechas e para criar um, bem, eu deveria criar uma flecha e derramar uma gota do meu sangue.
Eu nunca havia feito isso em toda a minha existência e não era agora que eu ia fazer, afinal, eu também havia sido visto. Só queria saber se foi pela mesma pessoa...
— Hoje foi seu primeiro dia sozinha em campo, não é?
— Sim.
— Como se saiu?
— Muito bem no começo.
Olhei para o mar e ela fez o mesmo enxugando as lagrimas teimosas que não paravam de cair.
— O que aconteceu?
Senti o nervosismo em sua voz.
— Eu sei que é impossível, mas eu fui vista por um Material.
— Um homem?
— Mulher.
— Onde?
— Num parque em São Paulo, no Brasil. Um pedido estava para acontecer e fui até lá para ajudar. E de repente eu a vi. E ela me viu!
“São Paulo...será ela?”
— Como ela era?
— D-desculpe meu senhor, mas isso é importante para o meu julgamento?
Eu ri.
— Julgamento? Ora Arly não vai haver nenhum julgamento. Nunca desfiz nenhum dos meus Seres e não é dessa vez que vou fazer isso e olha que teve alguns que fizeram péssimas coisas. Flechadas bem erradas...muito erradas como Bonnie e Clyde, Cleopatra e Marco Antonio; Tristão e Isolda; o triangulo desastroso de Arthur, Guinevere e Lancelot e o pior de todos na minha opinião...Chris Brow e Rihanna.
Ela riu:
— Mas e Romeu e Julieta?
Eu a olhei e cochichei:
— Shakespeare era um solitário comedor de maconha...a história foi uma alucinação dele. Na verdade, Romeu e Julieta eram os peixes do vizinho dele cujo o qual, ele era apaixonado.
Ela me olhou e enxugou uma lagrima concordando com a cabeça.
— Eu não estou encrencada então?
Acariciei sua bochecha.
— Não. Mas...você acha que pode me descrever a mulher que a viu?
— Cabelos vermelhos e um olho de cada cor. Desculpe, me apavorei e não decorei mais nada. Apenas o cabelo vermelho meio laranja e os olhos...penetraram em mim de uma forma estranha.
 "É ela!”
— Tudo bem. Isso já é o bastante, agora vamos voltar. Você tem que descansar um pouco pois amanhã vai recomeçar.
— Sim meu Senhor.
Voltamos para casa e assim que falei com todas (mais de 1.200 Seres para ser mais exato) fui para meu quarto.
Estava uma zona!
Sim, eu sou o Cupido, mas isso não quer dizer que eu tenho que ser organizado não é mesmo?
Não tinha muita coisa.
Assim como o resto da casa, era branco do teto ao chão. No centro havia uma cama box bem bagunçada, no canto esquerdo tinha uma arara com roupas no chão e por cima mas nenhuma no cabide...
Meu coturno estava em cima da cama dentro de uma caixa de pizza (a melhor comida dos Materiais), algumas latinhas de cerveja e dois livros abertos.
— Merda, por isso as baratas amam meus livros!
Fui até a cama e os peguei, no canto direito eu tinha o meu paraíso particular: uma estante de livros originais.
Coloquei-os no lugar e enrolei a bagunça da cama no lençol e joguei no chão.
Nada esperado de um Ser do Amor.
Eu sei.
Mas fazer o que não é mesmo?
Deitei na cama e fiquei olhando para o teto.
Fechei os olhos e esperei até ouvir alguma canção.
Meu Seres precisavam do Espelho para saber quais casais precisavam de ajuda, mas eu apenas ouvia as canções dos corações mais desesperados.
Ouvi três.
As mais fortes.
Uma na China, outra no México e a terceira foi a que me prendeu a atenção.
Em São Paulo.
Me concentrei nessa.
Vi o dono do coração que cantava.
Um cara careca e barrigudo estranho deitado ao lado de sua esposa. Seu coração cantava para a mulher que ele havia visto desde o começo do mês.
Uma mulher de cabelos vermelhos alaranjados e um olho de cada cor.
“Eu a quero. Eu preciso dela. Eu a amo...ela vai ser minha. Eu a amo.”
A canção me doeu os ouvidos.
Não era amor.
Ele havia sido tocado pelo Vicio e pela Ódio e isso não era nada bom...
Tinha um outro motivo para eu odiar o Vicio: ele estragava metade os meus casos.
E a Ódio, bem, era complicado. Veja bem, quando fomos criados, viemos em pares. Em opostos, mesmas formas, mas opostos mesmo assim.
Morte e Vida.
Vicio e Pureza.
Inspiração e Ignorância.
Honestidade e Falsidade.
Coragem e Medo.
Amor e Ódio.
A Ódio e eu tentamos ser diferentes. Tentamos nos dar bem, e por um tempo, deu certo.
Muito certo mesmo!
Acabamos por nos tornar amantes.
Já ouviu falar de Sodoma e Gomorra não é?
Pois bem, saiu um pouco do controle a situação, mas os maiorais resolveram tudo. Depois disso eu percebi que era impossível os opostos se unirem.
Eu aceitei bem o termino.
Ela não.
Ódio era uma piranha egoísta. Mas era a piranha egoísta mais linda que eu já havia visto!
Cabelos até a bunda, ondulados e loiros quase brancos. Olhos vermelhos, pele branca e um sorriso demoníaco e assim como eu, uma flecha marcada cruzando o olho direito.
Alguns de seus Seres mais antigos não gostavam muito de mim, por isso tocavam alguns de meus casais.
Nunca me incomodei, pois sempre dei um jeito.
Aquela velha história de que o amor vence o ódio.
Mas agora...isso me irritou muito!
E me preocupou também.
Busquei na canção do careca infiel e soube onde ela morava.
Me levantei e corri para a Porta que já se formava.
— São Paulo, Zona Leste.
Entrei ainda calçando os sapatos e cai quase de cara na frente de um antigo teatro que hoje havia se transformado em um barzinho.
Em cima, havia um pequeno conjunto de quatro apartamentos. Um deles, era o dela.
Subi pela escada lateral e coloquei a mão sobre a maçaneta.
A porta se destrancou quase que imediatamente.
Entrei.
O quarto, a sala e a cozinha eram a mesma coisa.
A cama era enorme e bem arrumada, num canto havia um biombo branco com flores douradas desenhadas a mão e uma toalha branca jogada por cima.
A cozinha ficava ao lado da entrada: uma pia pequena, algumas panelas vermelhas penduradas e um fogão de quatro bocas antigo. No armário azul tinha dois pratos, dois copos e alguns potes.
A geladeira era recheada de frutas, verduras, carnes magras e algo estranho: rabanetes.
“Quem come rabanetes?”
Fechei a geladeira e caminhei mais um pouco.
Não havia tv.
As paredes estavam cobertas por pôsteres de filmes antigos e de algumas bandas, vários desenhos e algumas fotografias.
Perto da cama tinha uma mesa longa com vários livros ótimos em cima e uma tela sem moldura esticada.
Sei que é errado, mas eu já tinha fuçado em tudo mesmo, que mal faria em ver o que tinha no papel?
Me aproximei e gelei.
Havia um homem desenhado. Alto, pálido, cabelos brancos e curtos com algumas ondas malfeitas, olhos azuis celestes, calça jeans e coturnos e uma camiseta do Guns and Roses: ou seja, eu.
Sim, eu sou assim.
Você esperava o que? Cabelinhos loiros e enroladinhos, bochechas rosadas e uma fralda?
— Mas que droga...
Ouvi o barulho da chave na porta e me desesperei.
— Merda, merda, merda...
Perto da banheira tinha um armário de roupas, entrei.
Ideia ridícula, eu sei, mas não julgue um Cupido desesperado!
Ela entrou enxugando as lagrimas e trancando a porta rapidamente.
Começou a tirar a roupa e vi os hematomas, quando ela se virou e prendeu o cabelo vi o sangue escorrer da sobrancelha esquerda.
Senti uma quase incontrolável vontade de abraça-la e cuidar dos machucados.
Ela foi até a cama e puxou de debaixo do travesseiro uma camisola branca de algodão.
Quando ela finalmente cobriu o corpo, eu relaxei um pouco. Mesmo com todas as marcas, ela era linda.
Ela sentou na cama e se abraçou entoando:
— Por que, por que, por que...por que eu?
Um gato preto surgiu do nada e pulou no seu colo.
— Draco...você está bem menino? Quer comida?
Antes que ela se levantasse, a porta foi arrombada.
— Oi meu docinho...
O careca infiel.
— O que você quer? Me deixe em paz!
O barulho do bar em baixo, sufocava seus gritos.
Ele se aproximava dela.
— Se acalme querida, estou aqui por que eu te amo.
— Você é louco? Eu nem te conheço!
— Sou seu melhor cliente! Foi amor à primeira vista docinho.
Ela se encolhia na cama e chorava a medida em que ele se aproximava.
Vi o toque da Ira, do Vicio e da Mentira nele, mas nenhum toque meu ou dos meus Seres. Aquela merda não era amor mesmo!
Eu não devia me meter, mas eu não iria ficar parado dentro do guarda roupa dela vendo ela ser estuprada ou coisa pior.
Sai do guarda roupa.
Ela olhava de mim para ele com um desespero enorme.
Me aproximei dele e cochichei em seu ouvido.
— Você deveria estar em casa. Vá embora. Volte para sua esposa e nunca mais cruze o caminho dessa moça.
Ele parou, a olhou e correu porta a fora.


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