5 Colours in Her Hair escrita por Marina Lupin, The Marauders


Capítulo 2
E um acontecimento numa tempestade com relâmpagos


Notas iniciais do capítulo

Sono, muito sono. Mas aqui está :*



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Lily virou o corredor, quase derrapando no piso molhado da escola. Cogitou tirar os saltos, mas correr com eles havia se mostrado mais fácil que tentar desamarrar as tiras. Um relâmpago surgiu no céu, e naquele instante ela era apenas um fantasma pálido, num clarão de luz, uma menina com um vestido bonito, e várias cores para enfeitar. Quando o som do trovão retumbou pelo colégio ela tremeu, e deixou-se estar no corredor, amontoada na saia do vestido, sentindo as gotas de chuva alcançarem a pele nua dos seus braços.

Outro relâmpago apareceu, mas dessa vez ela já estava preparada para o estrondo que vinha a seguir.

— Lily?

Ela o ouviu antes de o ver, o garoto que virava o corredor, com a gravata ainda ao redor do pescoço, e o blazer aberto. Por um segundo ele não a viu, encostada na parede, perdida em tecidos. Talvez se ela ficasse bem quietinha, ele daria meia volta. Outro relâmpago, e ele a viu encolhida no chão.

— Lily? Mas o que...

— Eu não posso mais fazer isso... — chorou a menina, criando uma trilha negra, que serpenteava por entre as sardas do rosto.

Ele se aproximou devagar, como se estivesse tão perdido quanto ela... A menina o viu passar a mão pelos cabelos, e respirar fundo antes de se ajoelhar ao lado dela. Mais um clarão, e Lily pode ver aqueles olhos tão próximos de si.

— Lily? — o garoto estendeu a mão para o rosto dela, encaixando a palma naquele espaço conhecido, sua mão era a coisa mais quente que ela tinha no momento. — O que aconteceu?

— Eu não consigo... — ela se esticou, e juntou seus lábios ao dele, pela última vez, provavelmente. Lábios macios e quentes, como da primeira vez. — Sinto muito, mas eu não consigo mais fazer isso...

Ela juntou as saias do vestido com as mãos e correu novamente. Quando olhou para trás, o relâmpago iluminava perfeitamente o moreno atordoado no meio do corredor. Um trovão ressoou pelas paredes do colégio, mas Lily não ligou dessa vez, ela só correu.

120 dias antes

James observava as gotas de água descendo pelo vidro e apostava qual delas chegaria primeiro. Mário, a do meio. Jorge, a da esquerda. Ou Penélope, a da direita. Jorge tinha estado com uma boa dianteira, até Penélope se fundir com Mário e os dois terminarem o percurso.  Quando uma gota vencia, ele recomeçava com outras e dava os mesmos nomes. Às vezes acrescentava uma quarta e chamava de Kevin.

Estava inquieto, quando entrara no carro de Marlene a chuva não passava de um chuvisco, agora o tempo fechara e o céu ameaçava cair a qualquer momento. Não gostava de tempestades. Quando o primeiro relâmpago surgiu, James Potter fechou bem os olhos e se encolheu no banco do passageiro, pronto para se fundir ao assento se preciso. Quando o trovão veio, ele não pode deixar de se encher de lembranças.

Lembrava-se do clarão do relâmpago e do barulho que os pneus fizeram no asfalto. Sua cabeça havia batido com força suficiente para que os óculos tivessem cortado seu nariz. Sangue escorria pelo seu rosto, mas havia mais sangue no vidro do carro, que a chuva lavou rapidamente, aquele sangue não era dele. “É uma emergência, em frente a Zonks, ele está caído, eu não sei o que fazer!” Ele nem havia notado que o celular estava molhando, não se lembrava de como sinalizar uma via em caso de acidente, e nem uma manobra de primeiros socorros. Tudo que James conseguia pensar é que havia um corpo inconsciente no chão, que podia muito bem estar morto.

— James? Você estava me escutando? — quis saber Marlene, quase tirando as mãos do volante para dar um tapa no colega. James foi puxado de volta para a realidade, abrindo os olhos e mandando embora as lembranças.

— Parei na parte que você começou a divagar se o fundo das fotos deveriam ser azul céu ou rosa pôr do sol — admitiu o garoto, franzindo a testa para a torrente que caia, e a chuva de relâmpagos e trovoadas. — Devíamos fazer isso outra hora.

— Não temos outra hora, querido — Marlene manobrou o carro, e estacionou no meio fio, em frente a um estabelecimento desbotado, com uma placa de madeira desgastada, nomeando o lugar encardido de Cabeça de Javali.

— É aqui que ela trabalha? — perguntou James, querendo muito que a resposta fosse não. Aquele parecia o tipo de lugar que você pegava AIDS só por passar em frente.

— Sim — respondeu a morena, tirando o cinto de segurança —, todas as terças e quintas depois da escola, segundo Peter Pettigrew, aquele gordinho que trabalha no jornal da escola.

— É saudável entrar ai? — Marlene fez que não ouviu, já tinha tirado um guarda-chuva do porta luvas e saía na chuva. — Droga, McKinnon...

Ele teve que correr para alcançar a menina e o guarda-chuva.

Cabeça de Javali não passava de uma conveniência 24 horas, com um pouquinho de tudo, e bebida de muito. Quando os dois empurraram a porta de vidro cheio de marcas de dedos, descobriram com surpresa que o lugar era mais aconchegante por dentro, quente e com cheiro de açúcar queimado. As camadas de poeira nas prateleiras, entretanto, fizeram Marlene se encolher em seu casaco branco prada.

— Não pode ser esse lugar... — disse James, pronto para dar meia volta. Mas as opções eram voltar para o carro com Lene naquela tempestade, e ouvir os incontáveis planos para o baile. Estavam concorrendo como rei e rainha há uma semana, e o garoto já começava a se arrepender de tudo.

— É aqui — falou a morena —, ali está ela.

Sentada atrás de um balcão, com os pés em cima da caixa registradora, estava Lily Evans. Botas marrons de camurça, meia calça grossa vermelha. Belas pernas, James pensou, não que desse para ver muita coisa. Uma minissaia vinho, com um suéter azul desmantelado.  E isso não era nem metade do que chamava a atenção nela.

— Oh! Deus...

Lily levantou os olhos da revista que lia, e então James se viu sendo encarado por um par de orbes verdes, por detrás de uns óculos. Nenhuma maquiagem, nenhum acessório. O rosto da menina era salpicado de sardas e algumas marquinhas, de acne provavelmente. Lábios rachados, sobrancelhas grossas, unhas lascadas, e aquela armação de óculos que deixariam até James, em seu melhor estado, horrível.

— Sinto que estou diante de um diamante não lapidado... — murmurou Marlene, antes de oferecer um sorriso a menina.

— Posso ajudar em alguma coisa? — a voz da Evans soou tão desanimada que James duvidou seriamente da sua capacidade de ajudar em alguma coisa de fato. Uma daquelas perguntas que praticamente pediam um não. Mas aquele não era o caso, ela podia ajudar. Sendo prático, James reparou que por baixo de todo o mau trato, a garota podia ser jeitosa, podia servir para o que eles tinham em mente.

— Lily Evans, não é? — Marlene tomou a dianteira. — Eu sou...

— Marlene McKinnon — completou a garota, com as sobrancelhas franzidas. O som da chuva, dos raios e trovões do lado de fora se misturavam com a batida estranha que saia dos headphones púrpura que a menina tinha nos ouvidos. Assim como a luz artificial de dentro da loja, misturava-se com as explosões de luz dos relâmpagos. — E James Potter. Sei quem vocês são.

— Claro que sabe — sorriu a morena ao lado do garoto —, estudamos juntos há muito tempo, não é?

— E essa é a primeira vez que nos falamos, provavelmente — o sorriso que a garota lançou foi tão amargo que James viu o confiante sorriso de Marlene fraquejar. — Se levarmos em conta que eu sou babá dos seus irmãos no sábado, é mais estranho ainda.

— Curioso como isso acontece, não é? Como de repente nos tornamos conscientes de uma pessoa.

— Não realmente — sorriu Lily, tirando os pés do caixa. — Vocês querem alguma coisa? A sessão de bebidas é no último corredor.

— Não viemos pela bebida — interviu o garoto, se apoiando no balcão, ao lado de Lene —, embora eu pudesse fazer uso de uma dose ou outra agora...

— Então o que vocês querem? — a menina girou em sua cadeira e apoiou os braços no balcão. No que parecia um ato inconsciente, ela mexeu na argola que tinha nos lábios. James não sabia para onde olhar naquele momento. Ele podia providenciar um piercing para si mesmo, eles eram sexy até.

— Nós queremos conversar — respondeu Marlene.

— Temos uma proposta para você.

— Ah! Não, obrigada — a garota das botas de camurça fez uma careta e se afastou, parecendo enojada. — Não estou a fim de participar desse fetiche, ou sei lá o quê, à três.

James riu, porque não havia mais nenhuma reação plausível. Marlene ainda parecia chocada demais para responder.

— Como se você pudesse fazer parte disso — riu o garoto, da maneira mais ácida que sabia —, não, obrigado.

Lily perdeu a pose por alguns instantes, subitamente corada com a resposta de James, e ele se sentiu satisfeito por vê-la desconfortável. Lily Evans era só uma nerd, para ter tanta marra assim. Embora nada combinasse com isso, certamente não o piercing, muito menos o cabelo. O que mais chamava atenção era o cabelo. Um cabelo espesso, indo até a cintura, tingido com mechas azuis, rosas, verdes, laranjas e roxas.

— Se vocês não vão consumir nada, vou pedir que saiam. O estabelecimento tem câmeras — ela apontou para os objetos nos cantos —, e meu chefe não me paga pra ficar de conversa fiada.

— Não seja por isso — sorriu James —, eu quero cinco libras de balas, por favor. E conte bem devagar, senão eu posso achar que você errou e pedir pra contar de novo.

Lene riu, enquanto Lily bufava e despejava um saco de balas no balcão, começando a contagem.

— O que vocês querem? — perguntou a menina, irritada agora.

— Minha mãe me falou muito de você, Lily — contou Marlene —, que você está trabalhando aqui e de babá para pagar um curso de fotografia em Londres. Sua mãe é enfermeira no St. Mungus, e trabalha dia e noite para pagar a faculdade da sua irmã, Petúnia.

— Eu não sabia que a minha vida era da sua conta, McKinnon, de que te interessa? — quis saber Lily, grossa, ainda separando as balas.

— Me interessa, porque eu posso te ajudar — sorriu a morena —, uma troca, na verdade. James? A folha.

James tirou do bolso um papel todo dobrado, e estendeu diante do balcão.

— Sabe o que é isso, Evans? — perguntou o garoto. — Esse é seu passe para a liberdade.

Lily abandonou as balas e pegou o papel, mil emoções passando pelo seu rosto.

— Isso é...

— A ficha de inscrição do curso — completou Marlene. — Preenchemos com seus dados pessoais, agora é só fazer o depósito e a sua vaga está garantida.

— Não sei se você sabe, Evans, mas essas vagas são limitadas — apontou James. — Trabalhando como babá por mais alguns meses, capaz que você consiga juntar esse dinheiro, mas será que até lá ainda terão vagas?

— E você sabe, participando desse curso, quem sabe eles não te oferecem uma bolsa na universidade.

Lily travou o maxilar e apertou um pouco a folha. Marlene tinha, de alguma forma sobrenatural, puxado a ficha escolar da menina, e lá constava apenas uma bolsa de 15% em uma universidade, que ainda era caro demais para a mãe da Evans pagar. Aquele curso poderia ser a salvação...

— E em troca, eu faço o quê? — ela não parecia muito disposta, apenas intrigada.

— Nós precisamos de uma garota perfeita, para concorrer a rainha do baile, e fazer par com o artilheiro do time — disse Marlene, olhando sugestivamente para ela.

— E? — quis saber a Evans.

— E que essa garota é você, idiota — explicou James —, ou pelo menos vai ser. Nós a transformaremos na garota perfeita, você só vai ter que atuar bem e obedecer.

— Eu? — exclamou a menina, em um misto de chocada, indignada. — Vocês só podem estar de brincadeira com a minha cara. Tudo isso só pra uma pegadinha idiota? Quantos anos vocês têm? 7?

— Nós estamos falando sério, garota — Lene se irritou um pouco —, você não é feia, posso fazer um ótimo trabalho com você. Tudo nessa vida é aparência, Evans. É fácil criar o perfeito quando você conhece o que as pessoas gostam.

— E eu viro rainha e o quê? Qual o suposto motivo disso?

— Ninguém disse que você vai virar rainha, docinho — sorriu Marlene —, quando chegar a hora, essa coroa virá para minha cabeça.

— Tudo isso por uma coroa estúpida? — a garota riu, virando-se na cadeira. — Sério? Sério mesmo? Isso é um absurdo.

— Não penso assim — respondeu a morena, séria. — Eu quero a coroa, mas não tenho os votos. Aquela vadia angelical da Meadowes vai levar essa se eu não fizer alguma coisa. Bem, estou fazendo.

— Acho que você vai achar uma experiência bem educativa, querida — sorriu James —, e realmente vale a pena.

— Essa farsa por causa de um curso estúpido? — quis saber Lily, indignada. — Não temos o mesmo pensamento sobre equivalência.

— Não é só um curso, Lily — disse Marlene, revirando os olhos. — Sua mãe não vai ter condições de arcar com suas despesas e as da sua irmã. Você vai ficar aqui nessa cidadezinha por mais uns cinco anos, fazendo uma faculdade comunitária, e trabalhando em uma loja de departamento qualquer. É isso que você quer? Ou você aceita o curso, concorre a chance de uma bolsa integral. Meus pais tem um apartamento em Londres, se vamos ser amigas, você não iria nem gastar nada com o curso, teria acomodação e tudo. Essa é a melhor chance que você terá, acha mesmo uma estupidez?

Lily pensou um pouco, revirando as balas nas mãos.

— E é só isso? Eu concordo, então minha inscrição já está paga e nos vemos no baile? — perguntou a Evans.

— Não exatamente — começou James —, o plano tem uma outra parte também, que é complementar. Há um certo artilheiro que você deve conquistar. Um bem idiota e galinha, absurdamente estúpido e desprezível. Mas nós vamos te ajudar com isso. Ele vai garantir seus votos no baile.

— Eu vou precisar seduzir um cara?

— E quebrar o coração dele — completou Lene.

— Causar alguma dor e humilhação — disse James —, muita na verdade, muita humilhação.

— Isso é um absurdo!

— Isso é vingança, servida congelada — sorriu James. — Não me olhe assim, querida. Nós não somos tão ruins, Lily. Realmente queremos te ver fora daqui. Lene e eu pagamos o curso, e te ajudamos a conseguir uma bolsa integral, prometemos.

— Isso é insano...

— Você acha mesmo?

***

Lily passou as chaves na porta de casa e desceu as escadas em direção à rua. Havia tomado café com a mãe, que por um milagre, estava em casa nessa hora. Tinha passado a noite remoendo aquele absurdo protagonizado por James Potter e Marlene McKinnon, mas não tinha contado a mãe. E parte do motivo era porque havia ficado tentada.

Era um plano bem idiota, mas se os dois estavam dispostos a gastar tanto dinheiro e energia em algo tão estúpido, o que podia fazer? Só sabia que para ela era a chance de ouro. De deixar Hogsmeade, livrar a mãe de preocupações e começar sua vida, na carreira dos sonhos. Isso se conseguisse ser a garota que Marlene tinha dito, e conquistar o tal cara.  A proposta era tentadora, mas Lily sabia que era impossível.

Quando chegou no colégio, prestou um pouco mais de atenção nos posters colados pela escola. No mural, o que estava em destaque era o cartaz para rainha do baile de Dorcas Meadowes. A rainha solteira, ela dizia, não tinha par para rei. Cabelos loiros e olhos verdes, traços perfeitos, tudo perfeito, até o último fio de cabelo. Como era suposto Lily competir com aquilo?

— Olá, qual é o seu nome? — Lily viu-se tirando os olhos de uma foto e pousando-os na modelo dela. Aquela semana não ia parar de surpreender, primeiro uma das garotas mais populares da escola, e o bad boy mais cobiçado vinham falar com ela. Agora a futura rainha do baile estava ali.

— Lily Evans.

— Prazer, Lily! — sorriu deslumbrantemente Dorcas. Tudo na menina era deslumbrante. — Eu sou a Dorcas do cartaz, espero contar com o seu voto no dia do baile.

— Ah,sim, é que...

— Sabe Meadowes — uma voz surgiu ao lado de Lily, e ela quis fugir ao perceber que era a McKinnon — qual a graça de ter uma rainha que não tem nada a ver com você? Uma vadia manipuladora e sem sal?

Dorcas só sorriu, olhou um instante para baixo, mas não pareceu abalada.

— Sabe, McKinnon, quando você realmente acredita em si mesma, você não precisa colocar as pessoas para baixo. A gente se vê, Lily. Foi um prazer te conhecer.

A menina acenou, enquanto a outra se afastava.

— Você é louca se acha que eu posso competir com ela — falou Lily, enquanto Marlene revirava os olhos.

— Você não me conhece, Lily Evans — dizendo isso, se afastou também.

Lily não tirou aquela maluquice da cabeça pelo dia todo, e pelo visto não era a única. O celular tocou e deu número desconhecido.

— Alô? — atendeu a menina.

— Vá para o campo.

— Potter?

— Faça o que eu estou dizendo, vou te dar uma amostra de como será fácil conquistar Sirius Black.


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Notas finais do capítulo

Essa fanfic é participante do concurso do Perfect Design, como o prazo era até sexta, tive que me virar nos trinta kkk O que acharam dessa Lily?