POV Flowey

A viagem de portal foi bem rápida, e logo minhas raízes estavam entrando na terra da base.

O resto da turma havia parado na minha frente e eu não conseguia ver nada a não ser as estrelas da capa da rosa, mas conseguia ouvir o barulho de lasers, socos e inúmeros tiros, vindos de não muito longe.

— O que foi? – Perguntei a eles, sem receber resposta.

Insatisfeita, me teleportei para a frente do grupo, e testemunhei luzes amarelas e azuis saindo de um buraco que crescia no chão. Logo, uma flor amarela, imensa e majestosa que emitia luz de algumas pinturas em si, brotou. O buraco se fechou, cessando as luzes azuis.

— Essa não é a Rainha Girassol? – Pea perguntou com a voz baixa.

— Ela mesma. – Sunset respondeu no mesmo tom.

Aquela amarelona era mais ou menos do tamanho da garagem, para vocês terem uma ideia. Ela olhou para cima e começou a acumular luz.

— E o que ela está fazendo aqui? – Chomper perguntou, também sem falar alto. Parte de mim queria continuar teleportando por aí para saber o que era esse todo esse barulho de luta, mas a outra parte queria ficar por perto para ouvir a conversa.

— Você sabe, só existem dois motivos para Chefões aparecerem por aqui sem a bandeira do poder, e nenhum deles é algo bom. Vamos ficar aqui parados ou lutar? – Kernel disse, dando alguns passos para frente e saindo em direção ao campo de batalha ao terminar a frase.

— Quais são esses motivos? O que são “Chefões”? – Perguntei. Estava realmente interessada em saber.

— Chefões, Flowey, são as plantas mais fortes que tem. Elas aguentam e dão muito mais porrada que a gente... Bem, não sei se dão mais porrada que você, para falar a verdade. – Pea respondeu, ficando do meu lado. Ela deu uma risadinha, mas olhando para ela, dava para perceber que estava nervosa, preocupada com alguma coisa.

— E os motivos? – Perguntei, virando de frente para ela. A turma, atrás de nós, ia se dispersando aos poucos, e a tal de “Rainha Girassol” já tinha terminado de engolir luz e estava brilhando ainda mais que antes.

— Os Chefões só aparecem nas bases se alguma for invadida, seja para defendê-la ou para lutar contra os Chefões que forem defender a base inimiga.

— Isso quer dizer que uma das bases foi invadida?

— A nossa. – Estranhei a resposta dela.

— Como você sabe?

— Kacto não é imprudente, ele não atacaria a base dos zumbis estando em desvantagem numérica. Na verdade, duvido que ele faria isso em qualquer circunstância.

De repente, um robô gigante entrou na base, pelo portão da frente mesmo, com toda a velocidade, esbarrando na flor que tinha quase o mesmo tamanho. Ele era bem parecido com aquele cara do poste que estava na minha missão na Galeria Aquática, só que robótico. Os dois começaram a lutar, ele energizando seus braços, que, aliás, eram postes, para dar socos, e ela descarregando um laser tão grande e luminoso que doía só de olhar.

No começo fiquei meio desnorteada, aquela luz tinha me cegado um pouco, mas me recuperei e comecei a preparar as pétalas da amizade para me juntar à briga. Atingi o robô por trás com alguns ataques, e levando em consideração que ele já tinha levado bastante luz na cara, ele explodiu até que rápido.

— Não precisam me agradecer! – Disse, me virando para trás, apenas para perceber que não tinha ninguém comigo, nem mesmo a Pea.

Entrei no chão e apareci na plataforma de madeira, finalmente podendo checar o que era todo o tiroteio que ouvia.

A situação não estava nada boa lá embaixo. Tinham mais duas dessas plantas diferentes e grandes lá: um feijão verde voador com uma capa vermelha de super-herói e um tronco grande e vivo.

Esse mundo é divertido, mas devo admitir, ele é meio maluco demais. Um feijão verde voador com capa vermelha de super-herói? É sério isso? Esses zumbis querem matar a gente e derrubar a base, fato, mas como querem que eu leve isso a sério com esse... Feijão?!

Além desses dois, também tinham dois zumbis diferentes. Um era aquele mesmo do poste, e o outro era tipo um zumbi chique, todo vestido de preto e cabelo branco. Fora esses que eu acho que são os tais “Chefões”, tinha o resto da turma menos a Pea e o Kacto, e também uma galera do outro time.

Confesso que ainda estou meio confusa, mas se está todo mundo brigando, acho que devo fazer o mesmo. Afinal, se me lembro bem, a Sunset tinha pedido para ver o meu potencial total, e não é como se eu estivesse a fim de fazer outra coisa.

Percebi que tinha um soldado no telhado, atirando nos meus amigos, então apareci atrás dele. Ele nem tinha percebido que eu estava ali quando usei minhas raízes para amarrar seus pés e puxá-lo para dentro do concreto.

Pretendia continuar fazendo-o sofrer até que estivesse morto, mas um estrondo me fez mudar de ideia: o zumbi do poste tinha demolido uma das plataformas da base, junto com a parede em que ela estava apoiada.

Quem esses caras pensam que são?! Não na minha frente!!

Demorou alguns segundos para eu recolher todas as raízes que tinha espalhado magicamente pelo concreto, podendo assim teleportar para o chão. Chegando lá, usei-as para amarrá-lo e fiz o típico ataque de fechar o círculo, várias vezes, até ele cair e morrer.

Ótimo, um dos grandes já foi. Cadê o outro?

— Vilã! Vire-se e enfrente seu oponente! – Uma voz grossa falou de trás de mim.

— Falou comigo? – Perguntei, me virando e encontrando um zumbi musculoso, com um topete preto e roupa de super-herói.

— Sim! Prepare-se para ser derrotada pelo Super Mioloz! – Esse cara está se achando muito para alguém que está prestes a morrer.

Fiz um círculo fechar nele, mas ele voou, desviando.

— Sinta o meu poder! – Ele disse, preparando uma bola roxa de... Bem não sei o que era aquilo, mas era tipo uma magia.

Entrei no chão e teleportei para trás dele... Bem, ele ainda voava, mas não mais de frente para mim. A magia dele acabou acertando a tal da rainha.

Ele ainda estava no alto, descendo lentamente, quando levantei minhas raízes da terra. Arremessei-o contra o chão com força, mandando ataques de pétalas da amizade pelo caminho, dos quais ele não conseguiu desviar.

— D-Diretor? Podemos usar um dublê para esta cena? A inimiga é meio... Forte demais. – Ele disse, espatifado no chão.

— Ah, não quer mais bancar o herói? Logo agora que eu estava começando a gostar de ser a vilã? – Menti. Eu sempre gostei de ser vilã!

Bem... Asriel não conta.

De qualquer jeito, o ataquei novamente, e ele não mostrou mais nenhuma reação.

Resolvi segurar os pés dele com as raízes e puxá-lo para debaixo da terra junto comigo enquanto eu teleportava para perto outra parede, onde parecia que havia um robô atirando nela.

Sim, eu arremessei o tal de Super Mioloz no robô.

— Z1?! Super Mioloz?! – Um cientista que estava perto ficou preocupado com eles.

POV Dr. Healer

O plano de invasão foi meu, e estávamos felizes que ele tinha funcionado, mas essa era a hora perfeita para abortar.

Na verdade, alguns dos meus companheiros já haviam pedido para abortar, mas eu falei que não agora que estávamos tão perto, e o Dr. Zumbão, nosso chefe, também não deixou. Não tínhamos visto que a flor já tinha voltado.

A câmera da frente da nossa base filmou o momento em que essa flor nova virou um monstro e fez um zumbicídio bem no nosso quintal, e estamos com medo dela, porque queremos continuar sendo mortos-vivos, e não virar mortos-mortos, sabe?

— Parece que a situação piorou. – O Zumbão falou pela escuta. Só agora que ele notou? – Tudo bem, podem abortar.

— Mas... Eu preciso reanimar o Super Mioloz! – Respondi, tentando não morrer para a flor dourada enquanto ela atacava eu e o Z1, rindo freneticamente, uma risada assustadora e maquiavélica.

— Seja breve, não quero que vocês morram.

— Aw, o Zumbão gosta da gente! – Z1 disse de dentro de seu Robô-Z. Ele estava tentando acertar a flor e me proteger enquanto eu reanimava o nosso amigo, mas ela... Teleportava?!

— Sem vocês, quem iria fazer o trabalho sujo por mim?

— Heal, o Robô-Z vai morrer! – Sem nem ter tempo para ficar triste em relação à resposta do Zumbão, nosso amigo zumbinho me avisou que estava com problemas.

— Uma última rajada de mísseis na parede antes de ejetar? – Respondi, ajudando o Super Mioloz a se levantar. Não dava para conectar a cura com os dois ao mesmo tempo.

— Boa ideia! – Ele disse, ativando os mísseis antes de apertar o botão de autodestruição e ejetar. Ainda deu para ver a parede explodir antes de sairmos correndo. Não queríamos explodir também, sabe?

Nosso azar é que a flor dourada teleportou para sabe-se lá onde, então a autodestruição do Robô-Z não a matou. Bem, pelo menos conseguimos fugir.

— O que é isso? Não quero ser lembrado como um derrotado no meu filme! – Super Mioloz chiou. Estávamos num beco, finalmente longe de qualquer briga.

— Mas os heróis nunca são derrotados, Mioloz! Os filmes... Precisam de um pouco de tensão! Para deixar a audiência na pontinha da cadeira! Essa é a hora em que a gente se recompõe. – O nosso zumbinho, o Z1, tentou deixá-lo um pouco mais feliz.

— Ah, é?

— Sim! Está no script...

Eu tenho um pouco de pena disso. O Super Mioloz pensa que está em um filme, e ninguém nunca teve coragem de contrariar. Bem, não é como se o Zumbão deixasse, já que ele é produtivo assim. Mas acho que, lá no fundo, todos temos um pouco de medo de como ele reagiria quando alguém lhe dissesse a verdade.

— Heal! Heal! - A voz do All-Star, que chamamos apenas de Star, me chamou pela escuta.

— Oi?

— Eu não estou vendo o Rocket!

Isso... Isso não é bom. Principalmente sabendo que tem uma flor pior que qualquer Chefão à solta.

— Saiam do campo de batalha. Vamos procurar ele.

— Espera... Certo! Derrubamos a rosa o milho que estavam nos atormentando! Finalmente podemos abortar, não aguentava mais!

Me virei para trás, e vi que o Z1 tinha colocado uma estação de cura em uma plataforma.

— Eu sei que você não consegue se curar, então considere isso como um presente.

— Obrigado...

POV Flowey

Logo o barão estava no chão, mas QUE RAIVA!! AQUELES TRÊS ESCAPARAM!!

Eu teleportei para longe para não sei explodida junto com o robô laranja, mas quando voltei, não tinha ninguém mais lá!

— Está tudo bem, Flowey! Acho que você deu uma boa punição para eles, depois de terem matado o Super Feijão. – Citron disse para mim enquanto Sunset foi reanimar a Rose e o Kernel

— Não, cara, você não viu nada! – Chomper falou. – Ela matou o devorador sozinha! Ele nem conseguiu se defender!

— Oh, a nossa base! – Rose chegou por trás, acompanhada pelo milho e a girassol, todos com uma cara triste.

Paramos um tempo para olhar o desastre. As duas plataformas tinham sido destruídas, e a que estava à minha direita estava até pegando fogo.

— Eu sinto muito. – Olhamos para trás, de onde veio a voz ecoante. Era a tal da Rainha Girassol.

— Você tentou. É o que importa. – Sunset se virou para ela.

— Não sei se devo agradecer uma girassol rebelde.

— Então não agradeça. Não vai fazer muita diferença para mim.

A rainha abriu seu portal e foi embora. Eu não sei o que aconteceu ali, mas rolou um clima passivo-agressivo muito tenso...

— Ranzinza pede desculpa. – Quem falou dessa vez foi o outro Chefão, o tronco grandão. – Ranzinza falhou em proteger a base de vocês.

— Ei, Ranzinza, está tudo bem! Não é como se não estivéssemos em desvantagem desde o começo! – Citron o cumprimentou.

— É bom te ver novamente! – Sunset disse, sendo seguida por todos menos a Chomper... E eu, é claro. Não conheço esse cara.

— Ranzinza lembra de você! Você flor que resgatou Ranzinza!

— Eu mesma! Então... Você virou um Chefão? Meus parabéns!

— Ranzinza agradece!

Vi que os outros estavam entrando na base, ou pelo menos no que havia restado dela, e estava prestes a fazer o mesmo. Não estava a fim de ficar ouvindo aquela conversa de amiguinhos de longa data, mas o tronco me chamou.

— Flor dourada?

— Eu não te conheço, o que você quer comigo? – Virei para ele.

— Ah, Ranzinza, essa é a Flowey! Ela chegou hoje mais cedo! – Sunset disse, apontando para mim.

— Ranzinza tem conselho para Flowey. – Ele retomou a palavra.

— E o que seria? – Não pretendia usar, seja lá o que fosse, mas perguntei de curiosidade.

— Não seja forte demais. Eles estão assistindo.

Olha, eu não vou deixar de ser forte só por que um tronco esquisitão que eu acabei de conhecer falou para eu deixar de ser, mas isso me preocupou bastante. “Eles estão assistindo”...? Isso soa meio... Sinistro, entende?

— Eles quem? Os zumbis? – Perguntei.

— Pior. Os gnomos.

— Ranzinza, isso é só uma lenda! – Sunset se manifestou, rindo um pouco. – Se não fosse pela Flowey, a base estaria bem pior, ela que assustou o pessoal para fora, e matou o devorador sozinha. Ela não pode deixar de ser overpower... Ela é a nossa maior esperança! – Ela parou de rir, e parecia bem séria. Até um pouco triste, eu arriscaria dizer. Acho que todos eles estão, afinal, essa era a casa deles.

Talvez... Talvez essa fosse uma boa hora para sentir empatia. Estar genuinamente triste por eles, pela nossa equipe, e não só sentindo pena... Mas eu não consigo. Mesmo querendo, não dá.

— Que lenda é essa? – Perguntei para Sunset. O tronco parecia estar pensativo.

— Tem uma lenda que diz que dois indivíduos, um do time das plantas e outro do time dos zumbis, eram muito fortes. Tanto que os gnomos decidiram que eles eram fortes demais para esse mundo, e depois de uma emboscada e uma bela briga, trancaram os dois dentro de baús especiais, e ninguém nunca mais ouviu falar deles, nem sabem onde os baús estão.

— Lenda verdadeira. – O tronco retomou a palavra depois de um período de silêncio.

— E como você sabe? – Indaguei.

— Torchwood planta da lenda. Torchwood irmão de Ranzinza.