Ascensão dos Mortos escrita por Mary


Capítulo 9
Capítulo 8


Notas iniciais do capítulo

Olá, leitores lindos e cheirosos ♥ Vocês que me alegram com seus comentários têm um lugar garantido em meu coração rs Mais um capítulo para alegrar nossa sexta, ou não, já que o capítulo de hoje é focado mais nos sentimentos da Emily. Enfim, boa leitura!



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Os raios solares brilhavam e anunciavam que estava amanhecendo. Nicolas estava parado em um posto de gasolina, abastecendo o carro e bebendo uma cerveja. Era impossível não se lembrar de Luísa e se sentir culpado por deixá-la para morrer.

Tentava não perder o foco, mas imaginava como diria às garotas — principalmente Emily — que Luísa havia ficado para trás e que a culpa era sua. Ele não havia a enganado, pelo contrário, a iniciativa em ajudá-lo veio dela, o que era surpreendente. Mas ainda se martirizava por não ter lutado, havia chances de os dois fugirem juntos. Agora, ela estava morta. E imaginar Luísa sendo devorada por aqueles mortos-vivos o maltratava, mesmo que ela não passasse de uma desconhecida.

— Sua amiga vai me matar — afirmou, como se estivesse conversando com Luísa. Bebeu mais um pouco de sua cerveja. — Esconder isso dela seria pior. Desculpe, mas ela precisa saber.

Arremessou a garrafa na parede e voltou ao carro. Respirou fundo e balançou a cabeça tentando voltar ao seu estado normal para conseguir dirigir. Não estava muito sóbrio, porém precisava voltar ao acampamento.

[…]

Ele já estava próximo ao congestionamento, mas não checou o trânsito. Adentrou a floresta, antes que os dois zumbis que perambulavam pelo começo da fila de carros percebessem sua presença. Já havia amanhecido e mesmo não se lembrando exatamente o caminho, ele conseguiu encontrar o acampamento depois de um bom tempo de caminhada.

— Finalmente — anunciou Ester ao vê-lo. — Espero que tenha trazido todos os remédios necessários, pois sua sobrinha não está nada bem.

Ignorando Ester, que conversava com Nancy, ele correu para a cabana. Emily colocava compressas geladas na cabeça de Clarisse, tentando diminuir sua febre. Nicolas sentou-se ao seu lado e retirou de sua mochila alguns remédios.

— Como ela está? — perguntou.

— Dormindo — retrucou Emily, de forma direta e grossa.

— Eu fui um idiota! Me desculpe — pediu, retirando de sua mochila alguns analgésicos e oferecendo à loira. — Obrigado por ajudá-la.

— Tudo bem — respondeu a ex-detenta, pegando os analgésicos. — Um comprimido para aliviar a dor e este remédio para abaixar a febre, depois de trinta minutos dê a ela algum anti-inflamatório. Você trouxe algo para limpar o ferimento?

— Temos bandagens, gazes e água oxigenada. Foi só o que encontrei.

— Já é o suficiente para fazer um curativo melhor — disse Emily, desenrolando o pano que cobria o braço de Clarisse.

Em seguida limpou com a água oxigenada e fez um novo curativo. Clarisse abriu os olhos, porém ainda estava mal. Um pequeno sorriso surgiu em seus lábios ao enxergar Nicolas, sabia que agora tudo ficaria bem. Com dificuldade ela engoliu os comprimidos.

— Você é médica? — perguntou Nicolas.

— Não. Sou apenas uma pessoa azarada que passou metade de sua vida dentro de um hospital e aprendeu algumas coisas. — Emily sorriu. — Bom, preciso falar com a Luísa.

Estava prestes a levantar-se, porém Nicolas a chamou impedindo que ela continuasse.

— Preciso te contar uma coisa.

Nicolas não sabia exatamente como dizer aquilo. As palavras estavam enroscadas em sua garganta e não podia cuspi-las de qualquer forma, precisava ter muito cuidado. Emily era uma bomba-relógio, prestes a explodir, bastava cortar o fio errado.

— Nós invadimos um hospital e encontramos remédios, mas também encontramos alguns zumbis. Eles não apresentavam perigo algum, eram apenas alguns mortos-vivos sem cérebro que podíamos vencê-los facilmente. Porém, o entusiasmo com os medicamentos foi grande e não percebemos que eles se aglomeraram na porta. Eles fecharam nossa saída, a única forma de fugir era pulando o muro alto do hospital. Porém alguém precisava segurar a porta… — Nicolas suspirou fundo antes de voltar a falar. — Foi graças a ela que consegui chegar no acampamento e serei eternamente grato por esse gesto de sua amiga, ela estará para sempre em nossa memória. Eu realmente sinto muito, mas Luísa se foi.

As palavras de Nicolas penetraram a mente de Emily, de forma que ela ficou perplexa, completamente sem ação por algum tempo.

Luísa não poderia ter simplesmente morrido. Emily se lembrava com clareza do dia que a ex-delegada chegou na penitenciária e como todos, inclusive ela, criaram uma impressão errada sobre ela. Emily ainda estava em fase de negação, custava acreditar que estava presa e Luísa foi quem a ajudou a passar por isso, afinal eram colegas de quarto.

Como a vida era irônica. Uma delegada que assassinava criminosos agora estava presa com muitos deles. Foram necessárias muitas brigas, mas Emily conseguiu fazer sua colega de quarto enxergar humanidade nas pessoas e parar de fazer justiça com as próprias mãos.

Elas sempre se ajudaram, enfrentaram coisas terríveis juntas. Mantinham o pensamento que estavam na cadeia e nada poderia ficar pior, isso fez com que elas arriscassem tudo e tentassem fugir. Porém, ao se depararem com a situação em que o mundo se encontrava, perceberam que as coisas ainda piorariam muito.

Em um mundo pós-apocalíptico, perder familiares e amigos é muito provável. Sua sobrevivência depende de como você reagirá a essas perdas.

— Não. Você não pode estar falando sério — murmurou Emily, com o olhar vago e a voz tremula. — Diga, que não é verdade.

— Eu sinto muito.

Seus olhos encheram-se de lágrimas e mesmo contendo-se, algumas escorreram pelo seu rosto e queimaram em suas bochechas. Seguido das lágrimas salgadas, chegou o ódio. Seu olhar fuzilou Nicolas, como se ela soubesse de tudo que aconteceu.

— Tente manter a calma. Está tudo bem! — reconfortou-a, oferecendo-lhe um abraço.

— Não está tudo bem! — gritou com a voz trêmula, negando contato com o rapaz. — Você não a conhecia, portanto pare de fingir que se importa com sua morte. Você é o culpado! Aposto que não fez nada para ajudá-la.

Sua consciência pesou com as acusações de Emily.

— E…Eu tentei — explicou-se.

— Pare de mentir! Você não tentou ajudá-la! — gritou Emily. — Pessoas são egoístas e capazes de tudo para chegarem em seu objetivo. Não duvido que tenha a deixado para trás, apenas para conseguir chegar até aqui…

— Escute — pediu, interrompendo-a.

— Cale a boca! Por que você não experimenta morrer? Tenho pena de sua sobrinha por ter um tio como você, deve ser horrível saber que alguém foi sacrificado para te salvar.

Emily limpou as lágrimas e levantou-se, passando direto pelas duas senhoras que observavam curiosas a discussão. Nicolas levantou-se disposto a correr atrás dela, mas foi barrado por Ester.

— Ela precisa de um tempo — aconselhou a mulher.

Luísa não queria que contassem a Emily, pois sabia como ela não reagiria bem. A última vez que perdeu o controle foi levada para a solitária e ficou por algumas semanas naquele quarto sujo deprimente, teve várias crises e início de depressão.

Agora, ela se sentia igual alguns meses atrás. Perdida.

Desorientada caminhou pela floresta, ignorando completamente tudo a sua volta. Se aproximava da estrada e não parecia se importar se algum zumbi surgisse em sua frente. Importava-se apenas com as lembranças que lhe atordoavam a memória.

 

Alguns anos atrás

Qual o crime que te trouxe para cá? — perguntou Luísa, aproximando-se da sua colega de quarto.

Emily estava deitada lendo um livro entediante. Como queria tocar guitarra ou cantarolar sua música favorita junto de seus amigos. Escolher entre socializar com a ex-delegada ou continuar lendo aquele livro, era como escolher entre morrer ou perder a vida.

Sorriu entediada, jogando o livro na cama.

Tráfico de drogas — respondeu, sentando-se.

Não tem perfil de um traficante — sugeriu Luísa, analisando-a melhor.

Apesar do cabelo bagunçado e da maquiagem preta carregada, ela não parecia uma pessoa má. Luísa conseguia enxergar bondade em seu coração, mesmo que ela lhe respondesse com ironia e quase sempre estivesse de mau humor.

Tenho perfil de drogada? — perguntou, encarando-a. — Não precisa mentir, eu já sei.

Você não tem perfil de uma assassina.

Isso não significa que eu não te matarei sufocada, enquanto estiver dormindo — afirmou, sorrindo sem humor.

Você é uma das únicas pessoas que não me odeia neste lugar.

É, talvez porque em outras circunstâncias você estaria nos matando com um machado — sugeriu com sinceridade.

Não sou uma pessoa má, apenas mal compreendida.

Realmente — ironizou a jovem. — Qual o crime que lhe trouxe aqui mesmo?

Justiça! — esbravejou Luísa.

Justiça? Moramos no Brasil, Luísa. Coisas ruins acontecem com pessoas boas e muitos monstros que mereciam estar presos, estão livres. Há dois tipos de ladrões, os que roubam para se alimentar e os que governam nosso país e roubam para sustentar seus luxos. Porém, só os que roubam para se alimentar estão presos e infelizmente não conseguimos mudar isso. Talvez um dia… Porém não matando os criminosos! Mesmo que haja justificativa, se você matar alguém se torna um criminoso também.

 

“Coisas ruins acontecem com pessoas boas e muitos monstros que mereciam estar presos, estão livres”.

Era exatamente essa frase que martelava em sua cabeça. Luísa não merecia morrer, mesmo com todas as mortes em sua ficha criminal e sua dívida impagável com a vida. Ela era sua amiga, sua melhor amiga, havia a ajudado tanto. Queria ao menos despedir-se e agradecê-la.

— Aonde você pensa que está indo? — questionou Ester, tirando-a do transe.

Estava irritada com a atitude da garota de perambular pela floresta sem rumo, como se fosse um zumbi. Segurou firme em seu braço, impedindo que ela prosseguisse.

— Me deixe em paz! — ordenou, alterando o tom.

— Não grite! Isso atrai os zumbis.

— É mesmo? — Sorriu ironicamente, prestes a começar a gritar, caso a mulher não lhe deixasse prosseguir.

— Não seja idiota, Emily — Ester tampou-lhe a boca, ainda segurando firme em seu braço. — Você está viva, deveria agradecer por isto.

A garota rebateu-se e conseguiu soltar-se dos braços da mulher.

— Cuide da sua vida! — disse Emily furiosa.

Voltou a caminhar em passos duros, mas Ester era persistente e continuou seguindo-a. Emily andava na frente, acelerando o passo, na esperança que a mulher desistisse de persegui-la. Porém, algo fez com que ela parasse.

Ester aproximou-se lentamente e boquiaberta encarou o trânsito. A quantidade de zumbis era assustadora! Uma horda com mais de quinhentos mortos-vivos se aproximava, estavam espalhados pelo trânsito, porém se eles se juntassem o estrago seria muito grande. Ficar naquela floresta era perigoso, elas precisavam sair dali o mais rápido possível.


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Notas finais do capítulo

Uma horda de zumbis se aproxima lool
Talvez, não tão legal para os nossos amiguinhos personagens rs Espero que tenham gostado do capítulo e não se esqueçam de comentar. Beijos!