Quando você fica muito tempo dentro de um lugar imundo, com pessoas ruins e ambiente pesado, você acaba se acostumando com o caos. Luísa ainda não havia cumprido sua pena, mas acreditava que já estava preparada para enfrentar o mundo fora das grades.

Ela não se considerava uma criminosa, mesmo com mais de dez assassinatos em sua ficha criminal. Em sua visão, um pouco deturpada, era apenas uma justiceira.

Luísa tinha conhecimento que homicídio era crime, havia estudado as leis para exercer sua função como delegada. E no início suas intenções até poderiam ser boas, mas conforme o tempo ela foi mudando. Se empenhar para descobrir um criminoso e não poder prendê-lo por forças maiores era frustrante. Então, já que ela não conseguia prendê-los, optava por matá-los e fazer justiça de uma forma peculiar.

Infelizmente — ou felizmente — ela foi pega.

Sua sentença era de doze anos. E ela ainda teria que cumprir mais dez, mas resolveu armar uma fuga. Junto com sua colega de prisão Emily e de intrusas Ester e Nancy, que ouviram o plano e prometeram dedurá-las caso elas não lhe incluíssem nele.

Não seria muito difícil fugir daquele lugar, nas últimas semanas os policiais e guardas haviam diminuído drasticamente. Isoladas do mundo, bastavam acreditar que o país estava enfrentando mais uma terrível crise. Mal sabiam elas que o problema era bem maior.

Só quando colocaram a cabeça para fora das grades que começaram a perceber a situação crítica em que o país se encontrava. Corpos mutilados e desovados em uma floresta próxima, a prisão era o menor problema. Os rádios, programas de televisão e jornais declaravam situação de emergência. As manchetes eram assustadoras ao ponto de parecerem ter saído de um filme de terror. Mas eram verídicas.

“Evitem sair de casa; estoquem alimentos, medicamentos como se estivessem se preparando para uma guerra. Não visitem shoppings, hospitais ou quaisquer outros lugares com grande fluxo de pessoas. Caso encontrem algum sujeito com comportamento estranho vagando sem rumo e grunhindo, fujam!”