Dumbledore sabia que não era uma boa ideia ouvir nove adolescentes narrando a mesma briga em sua sala, portanto pediu que os alunos da Grifinória fossem primeiro e dessem a sua versão. Ele andava de um lado para o outro em frente a sua mesa, com suas vestes longas esvoaçando com o movimento. Uma de suas mãos enrolava a ponta da barba, enquanto a outra estava apoiada em suas costas.

— Então foi Sirius que começou a briga... — Dumbledore concluiu, após ouvir os marotos contarem sobre como os sonserinos os provocaram. — Eu entendo que você tenha tido férias difíceis, Sr. Black, mas você não deveria começar brigas assim do nada. — Como Dumbledore sabia que Sirius tinha fugido de casa, ninguém sabia dizer. Mary ficou calada a maior parte do tempo, até que Alvo citou seu nome. — Só não ficou claro como a jovem Mary aqui foi parar no meio a briga.

— É que eu... — Ela corou enquanto olhava para Peter. — Peter foi estuporado e os outros meninos estavam ocupados, eu só quis ajudar. — Sua voz estava um pouco trêmula, pensando no olhar assustador que Mulciber havia dado a ela ao chamá-la de sangue ruim.

— E então como Peter pode ter socado a cara do Sr. Mulciber? — Dumbledore parecia estar particularmente interessado em saber mais sobre o soco. Nem mesmo Peter acreditava que tinha feito aquilo.

— Ele a chamou de... Bem, eu não quero repetir. — Peter sentia as juntas de sua mão latejarem.

— Certo, acho que já é o suficiente. Infelizmente, terei que retirar 50 pontos de vocês... — Sirius abriu um sorriso para James. "Só 50 pontos por toda aquela briga? Talvez eles continuassem a briga mais tarde, já que era assim!". — Não sorria muito, Sr. Black. Serão 50 pontos de cada um... Acho que bastará para vocês se comportarem, pelo menos por um tempo.

Ele os acompanhou até perto das escadas, onde os sonserinos aguardavam com a Professora McGonagall. — Minerva dará mais detalhes sobre a detenção depois da aula amanhã. Entrem, garotos. — Deu sinal para que Severus, Avery, Regulus e Mulciber entrassem. O último demorou um pouco mais para seguir os amigos. — Não ache que eu esqueci, loura. — Sussurrou para Mary, antes de fechar a porta.

x

Após aquela noite agitada, o restante da semana pareceu mais calmo que o normal.  As ampulhetas da Grifinória e da Sonserina permaneceram sem nenhuma pedrinha de rubi ou esmeralda, graças a retirada dos pontos feita por Dumbledore. A Lufa Lufa estava ganhando, com cerca de 80 pedrinhas de diamante amarelo contra 50 safiras da Corvinal.

Pelas contas de James enquanto andava pelos corredores na manhã de sexta-feira, ainda estava bem fácil ganhar a taça das casas: — Quando nós ganharmos a final de quadribol vai ser impossível a gente não ganhar! — Entrou com os outros marotos na sala de Transfiguração. Apesar de a Professora McGonagall estar sempre brava com eles, a aula dela era a preferida dele.

Parecia que os feitiços fluíam facilmente para James, e ele podia transfigurar praticamente qualquer coisa. Talvez fosse graças a seus anos estudando transfiguração até finalmente conseguir se transformar em um animago, mas aquela matéria agora parecia simples para ele.

Diferentemente, Lily não tinha tanta facilidade assim. Após suas transfigurações, seu objeto sempre tinha um resquício do objeto anterior. Se ela tinha que transformar um rato num cálice, o cálice aparecia com um rabo ou com alguns tufos de pelo. Na aula daquela manhã, eles tinham que relembrar como realizar o feitiço de Desaparição em uma tartaruga. Quando eles tinham aprendido aquilo, no quarto ano, pareceu mais fácil do que naquele momento. Duas horas tinham se passado e a maldita tartaruga não desaparecia por completo.

— Eu acho que alguma coisa deu errado aqui... — Lily comentou com Dorcas, apontando para a tartaruga ainda visível em sua mesa, mas que não estava lá. Era como se Lily tivesse criado um fantasma de tartaruga. — Professora McGonagall? — Ela levantou a mão direita e Sirius, que estava voltando da mesa da professora, bateu em sua mão num Hi Five. — Bom te ver, Evans! — Ela revira os olhos e volta a observar sua pequena tartaruga quase invisível se locomovendo lentamente pela mesa.

— Você tem que imaginar que está mandando a tartaruga para o "não-ser". Fica mais fácil se você visualizar ela em outra sala, em vez daqui. — James encostou a cintura na bancada dela, segurando sua tartaruguinha. — Eu normalmente imagino uma sala onde todos mandam todas as coisas que não querem mais ver por aí...

— Você precisa vir se exibir só porque é bom em Transfiguração? — Lily cruzou os braços, aborrecida. — Eu não fiquei te enchendo porque fui melhor que você no NOM de Poções. — "Ele era tão egocêntrico!", revirou os olhos.

— Só estava tentando ajudar. — Potter não podia negar que a reação de Lily o chateou um pouco, mas tentando manter seu plano de não irritar o furação ruivo, ele apenas deu de ombros e se afastou, cabisbaixo.

— Por mais que você esteja brava com ele, essa dica ajuda mesmo, Lily... — Dorcas mordeu o lábio inferior. Era um pouco difícil lidar com a ruiva quando ela fracassava em uma lição. — E você não pode ficar brava com eles pra sempre. — Vendo os olhos cor de esmeralda ficarem ainda com mais raiva quando a tartaruga sumiu por completo, ela tentou mudar de assunto. — Chang me chamou para ir à Hogsmeade amanhã.

O turbilhão de xingamentos e azarações que passava pela mente de Lily sumiram ao ouvir Dorcas falando. Fazia algum tempo que ela e Remus tinham terminado e ela não tinha saído com ninguém depois daquilo. — Chang? Da corvinal? — A loira assentiu sorrindo. Robbie Chang era um garoto com traços asiáticos do sétimo ano. Ele era alto e forte, tendo o porte perfeito para ser batedor da Corvinal. Era um partido e tanto.

— O que você acha que eu devo vestir? — Meadowes guardava seu material, saltitando de sua cadeira. Minerva tinha dispensado os alunos da última aula do dia. — Eu pensei naquela sua blusa lilás, você me empresa? Acho que vai ficar boa com a minha saia jeans!

— Acho que vai ficar incrível, você vai ficar linda! — Lily encorajou a amiga. Era ótimo que ela tivesse decidido finalmente seguir em frente. Era óbvio que nenhum garoto seria melhor que Remus, mas enquanto ele não contasse sobre sua condição para ela, Lily não achava que daria certo.

x

O início de outono dava a Hogsmeade um ar romântico. Apesar das folhas estarem começando a mudar de cor, ainda haviam muitas folhas nas árvores, permitindo que muitos casais sentassem para namorar em suas sombras. Mary e Peter estavam particularmente entretidos com um piquenique que ele teve a ideia de preparar para ela. Na verdade, foram os elfos da cozinha de Hogwarts que prepararam, mas vamos lá, Peter merecia algum crédito pela ação tão romântica.

Eles estavam sentados sobre a raiz de uma árvore, comendo um pedaço de torta de frango e lembrando da última semana de férias em Portugal. Não muito longe dali, Dorcas estava se divertindo muito mais do que esperava. Ela e Robbie Chang passearam por todas as lojinhas do vilarejo e para cada loja, havia uma história intrigante e engraçada vivida pelo rapaz. Ele a fez chorar de tanto rir ao contar sobre uma vez, na primeira vez que ele foi a Hogmeade, que ele esbarrou numa prateleira de bombas de bosta e fez com que todas elas explodissem dentro da loja.

— Quer comprar algum doce? — Ele abriu a porta da Honeydukes para ela, a guiando para dentro. O casal caminhou de mãos dadas pela loja, separando algumas tortinhas de abóbora e dois sapos de chocolate. Após muito insistir em pagar, Chang foi até o caixa e Dorcas observava a prateleira de novidades: doces de baratas e diabinhos de pimenta não pareciam muito convidativos.

— Hey. — Ela ouviu uma voz familiar, familiar demais, para falar bem a verdade.

— Oi Remus. — Ela colocou uma mecha de seu cabelo atrás da orelha, sua reação a momentos de timidez. Era tão automático quando aquela mania do James bagunçar os cabelos toda vez que ficava nervoso.

— Fiquei sabendo que você teve um encontro... — Ele soltou, aleatoriamente, enquanto observava de perto o doce avermelhado de diabinhos. Dorcas prendeu o ar, sem saber exatamente o que dizer.

— Ainda estou nele. — Apontou para Chang, que finalmente estava a uma pessoa de distância do caixa, depois de uma fila de alunos. "Por que ele estava perguntando sobre o encontro? Ele não é mais meu namorado!", uma voz em sua mente questionou. — Não que seja exatamente da sua conta, certo? — "Ok, isso foi grosseiro, DROGA!". — Quero dizer, nós não estamos mais juntos então eu achei que...

— Dorcas, — Ele olhou nos olhos dela. — eu só estava puxando assunto. — Na verdade, Remus estava realmente curioso sobre o encontro e perguntou como quem não queria nada para poder analisar o novo namorado da garota. Talvez ele estivesse com ciúmes, mas nunca admitiria isso.

— Oh, certo... — Ela corou, desviando o olhar.

— Ele está te tratando bem, né? — Não conseguiu deixar de perguntar, com o coração apertado em remorso por ter terminado com ela. Dorcas não conseguiu evitar a irritação. "Por que ele queria saber? Não era problema dele!". Ela tinha superado o término, mas cutucar a ferida era demais. Ele tinha terminado com ela sem mais nem menos e agora queria bancar de preocupado? E quanto aos sentimentos dela na época?

— Está, mas você não deveria mais se importar com isso, né? — Emburrada, ela deu de ombros.

Chang se aproximou com a sacolinha de papel contendo as compras nas mãos e passou o braço pelo ombro da garota. — E ai, Lupin? — Cumprimentou com a cabeça e andou com Dorcas até a saída, deixando um Remus sozinho e ciumento ao lado dos doces de barata.

x

— Eu não devia ter terminado com ela. — Remus comentou, esparramado em sua cama ainda com as vestes que usou em Hogsmeade. — Ela estava tão bonita com aquela blusa roxa e de saia, eu adorava quando ela usava saias...

— Aluado, do que exatamente você está falando? — Sirius saiu do banheiro apenas com as calças do pijama e passava a toalha pelos cabelos úmidos enquanto ouvia as queixas do amigo.

— Eu fui falar com a Dorcas na Honeydukes hoje a tarde. — Ele sentiu o estomago dar um solavanco de lembrar da cena. — Ela estava tão bonita que eu não consegui não falar com ela... Acho que algo que eu disse deixou ela irritada. — Levantou da cama, sentando-se encostado nos travesseiros.

— O que, exatamente, você falou? — James apareceu na entrada do dormitório e se jogou na cama de Lupin. — As mulheres podem ficar irritadas com qualquer coisa que você disser.

— Eu perguntei se ele estava tratando ela bem. — Ao repetir a frase em voz alta, isento de nervosismo, ele percebeu que era mesmo idiota. Ele tinha terminado com ela e queria saber sobre como o atual namorado dela a tratava? "Idiota!".

— É... Acho que isso pode ter confundido um pouco a cabeça dela. — James comentou, jogando o pomo de ouro para cima e o capturando antes de continuar. — Você devia ir atrás dela e contar sobre seu segredinho peludo de uma vez por todas.

— Eu não vou contar pra ela. E agora ela parece feliz demais com aquele maldito Chang...— Resmungou em tom de deboche. —Isso só iria assustar ela ainda mais.

— Pontas, você está vendo isso? — Sirius se levantou e parou exatamente ao lado de Remus.

— É claro que eu estou vendo, Almofadinhas... — James se arrastou na cama, olhando para Remus com o seu clássico sorriso torto.

— O que? — Remus franziu a testa para os dois.

— Nosso lobinho está com ciúmeees! — Sirius comentou, antes de começar o que seria uma tortura de cócegas.