Malfeito feito escrita por msnakegawa


Capítulo 47
Nôitibus Andante


Notas iniciais do capítulo

Olá leitores, espero que ainda tenha alguém lendo isso! Eu to bem orgulhosa desse capítulo, espero que gostem também



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Aquele poderia ser só mais um dia entediante das férias. Mais um dia que Sirius ficaria trancado em seu quarto escuro ouvindo discos trouxas de rock, observando os trouxas pela janela, dormindo ou seja lá o que ele arrumasse para passar o tempo. Mas aquele dia mudaria tudo, era o dia que sua vida iria mudar.

As cortinas balançando com a leve brisa de verão permitiram que uma fresta de sol iluminasse a cama bagunçada de Sirius. Já passava das cinco da tarde e ele ainda estava na cama, mais um dia produtivo das férias de verão. Mesmo com a claridade batendo em seu rosto, ele tentou continuar dormindo por mais quanto tempo pudesse. Infelizmente, nem todos tinham os mesmos objetivos para aquele dia, como ele pode notar ao ouvir a risada aguda e escandalosa de sua prima, Bellatrix Black.

— Ótimo, outra reunião... — Revirou na cama, enrolado pelos lençóis e travesseiros que sobravam na cama de casal. Era incrível como Sirius sempre acabava sabendo das reuniões e, dias depois, acontecia algo terrível no mundo bruxo. Ele gostaria de poder avisar Dumbledore, mas ele estava sem o espelho de duas faces que os marotos criaram e até mesmo sua coruja estava confiscada naquela casa. Sua mãe sabia que ele poderia tentar informar outros traidores de sangue se soubesse de algo.

Irritado por estar preso naquele lugar imundo e sem graça, incapaz de impedir que nascidos trouxas ou mestiços fossem atacados, Sirius se levantou e alongou seus braços, espreguiçando, e então caminhou até a escrivaninha onde pendiam alguns discos. Com um leve ajuste no toca discos, Blitzkrieg Bop, do Ramones, começou a tocar.

Os risos de Bellatrix eram tão estridentes que ainda eram audíveis mesmo com a música tocando, então Sirius revirou os olhos, aumentou o volume e foi até a janela, encostando no batente. Aparentemente o sol só havia aparecido para acordá-lo, porque agora estava coberto por uma porção de nuvens cinza, típicas da Inglaterra, já perto do horizonte.

Era o passatempo preferido de Sirius, ver o movimento da rua pela janela: alguns trouxas passeavam pelo parque, um casal se beijando num banco, nada de novo. The kids are losing their minds, The Blitzkrieg Bop, cantarolava enquanto observava um cachorro correndo atrás de um homem andando de moto. "Uma ideia para o futuro: arranjar uma moto", fez uma nota mental.

Entretido com a música, Sirius não ouviu o barulho dos passos nervosos, marchando pelo corredor na direção de seu quarto. — Sirius, abaixe essa porcaria de música! — Regulus, ainda mais pálido do que era quando estava em Hogwarts e usando vestes inteiras pretas, abriu a porta de supetão. — Você está atrapalhando a reunião.

— Oh, sinto muito por atrapalhar a reunião de vocês para destruir todos os meus amigos... — Sirius colocou a mão no peito, fingindo estar ofendido e preocupado. — Acontece que eu estou preso aqui as férias inteiras tendo que aguentar as risadinhas da Bellatrix ecoando pela casa inteira! — Sirius reclamou, apontando para a porta, de onde se podia ouvir outro dos gritos da prima.

— Ela está animada com o que está por vir, e você também estaria se não ficasse o dia todo enfurnado nesse... — Regulus olhou em volta, para o quarto bagunçado de Sirius. — Nesse quarto...Você deveria nos apoiar. — Concluiu, em um tom seco.

— Eu nunca apoiaria vocês, e nem você deveria. — Sirius sentia seu rosto queimar. Já tinha discutido inúmeras vezes com seu irmão sobre aquilo.

— Bom, então você não ficará nada feliz em saber disso... — Com um sorriso cínico no rosto, mostrou em seu braço uma marca, parecida com uma tatuagem, com o desenho de uma cobra saindo da boca de uma caveira. Era a marca dos seguidores de Voldemort.

Sirius congelou. Era verdade, então. Regulus realmente era um deles agora.

— Meus parabéns, seu idiota! —  Conseguiu dizer, finalmente. Regulus sacou sua varinha, apontando para o irmão, que fez o mesmo. — Assinou seu atestado de óbito, porque eu tenho certeza que você vai ser descartado na primeira chance. 

— Eu fui escolhido pelo próprio Lorde das Trevas, nunca serei descartado, irmão...

— Você vai se arrepender por isso um dia, Regulus. E eu me recuso dizer que sou seu irmão. — Sirius balançou a varinha na cara de Regulus, ameaçando.

— MAS O QUE ESTÁ ACONTECENDO AQUI? — Walburga Black, mãe de Sirius, apareceu no quarto com suas vestes de veludo verde escuras.

— Sirius está me ameaçando, não ficou contente em saber que eu sou um comensal da morte agora. — Regulus foi correndo para a saia da mãe, dedurando. — Esse traidor de sangue...

Walburga Black era uma mulher de pele incrivelmente clara, que contrastava com seus cabelos pretos e batom vermelho sangue. Ela transmitia frieza com um simples olhar, e era exatamente isso que ela estava fazendo naquele momento. Os olhos acinzentados e escuros como o céu num dia de tempestade fitavam o filho mais velho.

— Você é uma vergonha para a família Black. — Ela deu um passo na direção de Sirius, ficando cara a cara com seu filho traidor.

— Eu não me importo. — Sirius peitou, com o rosto queimando de raiva. Era hora de fazer o que ele estava planejando há um tempo, não tinha como aguentar mais um segundo naquela casa. Sua mala já estava pronta desde o primeiro dia de férias, ele sabia que era só uma questão de tempo.

Se deslocando um pouco para a direita, Sirius alcançou seu malão e começou a arrastá-lo pelo quarto, cruzando novamente com sua mãe. Ambos tinham uma expressão dura que era um misto de ódio e dor.

— Seu fedelho imundo e ingrato. — Clap! A mulher deu tapa na cara de Sirius, carregado de rancor. — Se você sair dessa casa, você nunca mais terá um centavo e nunca mais poderá voltar! — Ela impediu a passagem dele, parando em sua frente e cravando suas unhas em seu braço ao segurá-lo.

Sirius levantou a cabeça e em seu tom mais determinado, jogou seus cachos para trás e disse: — Adeus Walburga, até nunca mais. — Desviou de sua mãe e seguiu pelo corredor sem olhar para trás. A adrenalina pulsando em seu corpo, um esboço de sorriso em seus lábios por pensar no quanto estava irritando sua mãe.

A mulher, que nunca perdia a classe, correu pelo corredor atrás do filho, gritando todo e qualquer tipo de palavrão que os bruxos conheciam. Quando Sirius estava quase na porta, ele pode ouvi-la gritando da sala: — Traidor de sangue, você não será mais um Black! — O som de algo queimando a interrompeu. — Você morrerá sozinho, traidor ingrato! Tudo o que sobrará de você será um borrão queimado na tapeçaria dos Black! — "Ah, então era a tapeçaria, aquela coisa ridícula!", Sirius pensou ao fechar a maldita porta da residência número 12, em Grimmauld Place. As nuvens carregadas da tarde finalmente despencaram, uma chuva de verão caia enquanto ele dava as costas para o lugar que um dia havia sido sua casa.

Depois de andar na chuva por mais de quatro quarteirões, a adrenalina começou a baixar e ele percebeu que estava tremendo. Ele mal podia acreditar no que estava acontecendo, ele realmente tinha saído de casa... Era como se um peso tivesse saído de suas costas. Entretanto, por mais que ele se sentisse bem finalmente sentindo o ar fresco de uma noite de verão, ele não havia planejado para onde iria depois de sair de casa, ou como ele iria.

Cansado e ouvindo os ecos dos gritos de sua mãe gritando em sua cabeça, Sirius se sentou no meio fio, sob uma chuva fina. Somente naquele momento ele percebeu as marcas que as unhas de sua mãe haviam deixado em seu braço: cinco marquinhas com uma pequena camada de sangue em formato de meia lua. Ele sacou a varinha e estendeu seu braço para fazer um pequeno feitiço curativo (mesmo que não tivesse licença para usar feitiço).

Ironicamente, como magia, um veículo cruzou a esquina com dois faróis altos e dois gigantescos pneus pararam cantando ao seu lado, no meio da rua deserta, antes mesmo dele fazer o feitiço. Parecia um daqueles ônibus jardineiras Routemaster que os trouxas tiravam tantas fotos, mas esse tinha algumas diferenças: era um ônibus de três, ao invés de dois andares e ele era roxo, ao invés do tradicional vermelho. Sirius observou que letras douradas no para brisa informavam: O Nôitibus Andante.

— Mas que merd... — Ele começou a falar, mas um condutor de uniforme roxo saltou do ônibus e cortou sua frase: — Bem-vindo ao ônibus Nôitibus Andante, o transporte de emergência para bruxos e bruxas perdidos. Basta esticar a mão da varinha, subir a bordo e podemos levá-lo aonde quiser. Meu nome é Johnny Turner, e serei seu condutor essa noite.

— Mas eu não... Espera, você disse que pode me levar onde eu quiser? — A mente dele imediatamente pensou em James, e assim ele deu as coordenadas da Mansão dos Potter, ainda da calçada. "O cara parecia estar falando sério, não podia dar errado".

— Vamos entrar, então. Ou você está gostando da chuva? — Johnny perguntou, usando a varinha para formar um guarda chuvas praticamente invisível sob os dois. Os dois subiram os degraus e logo Sirius percebeu que tinha muitas coisas estranhas naquele ônibus: no lugar de bancos, como nos transportes trouxas, haviam camas. Também reparou num senhor resmungando numa das últimas camas, pensando nas peculiaridades do mundo mágico e como nunca tinha ouvido falar do Nôitibus Andante. — Qual é seu nome mesmo?

— Sirius. — Só Sirius era o suficiente para aquela noite, ele poderia pensar sobre como continuaria sendo um Black depois.

— Bem, Sirius, esse é Ernesto Prang, o motorista. — Um bruxo que usava óculos de grossas lentes e tinha alguns tufos de cabelo castanho claro saindo espalhados pela sua cabeça acenou para ele, de trás do volante. — Ele ainda está se acostumando com a direção, se eu fosse você me seguraria bem... — Johnny cochichou, antes de levantar novamente o tom de voz e dizer: — Pode pisar fundo, Ernesto!

Pisar fundo parecia ser um eufemismo, porque todas as camas foram para frente com a inércia e quando Sirius conseguiu se recuperar do choque e olhou pela janela, percebeu que já estavam numa rua bem diferente das ruas de Londres.

— Os trouxas não podem ver o ônibus? — Perguntou, franzindo a testa. Conversar com Johnny parecia ser um bom jeito de se distrair de tudo que havia acontecido naquela noite.

— Ah, os trouxas não reparam muito nas coisas, não é? — O condutor deu de ombros, antes de começar a contar toda a história daqueles ônibus peculiares. Na metade da história, Sirius já havia parado de prestar atenção do mesmo jeito que sempre fez nas aulas de História da Magia: o olhar fixo na testa do tagarela da vez e a mente bem longe dali.

Naquele momento, a mente dele ainda vagava pelas ruas de Londres até Grimmauld Place. Ele tinha sido queimado da maldita tapeçaria da família. Seu irmão de quinze anos era um comensal da morte. Os gritos de sua mãe ecoavam em suas memórias recentes, assim como  o barulho do tapa que ela deu em seu rosto, ela tinha dado uma droga de tapa na cara dele. "Que porcaria de família era aquela, afinal?". Ele se lembrou de sua tia Andrômeda, que também tinha seu nome queimado na tapeçaria por se casar com um nascido trouxa. Ninguém sabia de seu paradeiro desde a última vez que ela deixou a Mui Antiga e Nobre Casa dos Black, talvez fosse uma boa ideia procurar por ela algum dia.

— E foi aí que o Ministro da Magia Dugald McPhail teve a ideia de imitar o relativamente novo ‘serviço de ônibus’ dos trouxas e, em 1865, o Nôitibus Andante chegou às ruas... — O condutor terminou sua história, sua cara de empolgado contrastando com a cara de Sirius, que adquiriu um tom esverdeado com o balançar do ônibus e com as lembranças voltando à sua mente. — Olha só, garoto, chegamos! — O homem apontou para a janela, de onde se observava um portão alto e uma bela casa podia ser vista ao fundo. — São 14 sicles. Tenha uma boa noite! — Tão rápido quanto chegou, o Nôitebus Andante sumiu da vista de Sirius.

Sirius agradeceu por finalmente colocar os pés em terra firme. Sentia seu estômago revirando quando falou a palavra chave para o portão. A chuva caia torrencialmente enquanto ele caminhava carregando seu malão até a porta e quando ele finalmente a alcançou, estava encharcado. "Ding dong", conseguiu ouvir o som da campainha ecoando pela casa grande e desproporcionalmente vazia.

A porta se abriu, revelando um James Potter de pijamas listrados vermelho e dourado que sorria despreocupado até descobrir quem havia tocado a campainha. Ao ver Sirius inteiro molhado e tremendo sob a chuva, seu sorriso desapareceu. — Almofadinhas? — Franziu a testa. James foi pego de surpresa por Sirius, que largou o malão no chão com um baque e abraçou seu amigo, finalmente desmoronando.

— James, quem é que está na porta? — A Sra. Potter perguntou enquanto caminhava até o hall de entrada, encontrando Sirius com a cabeça enfiada nos ombros de James, seus braços pendendo ao lado do corpo. — Oh Sirius! — Ela o tirou dos braços de Potter e passou o braço direito sobre os ombros de Black, andando com ele para dentro da mansão. James os seguiu para dentro, carregando o malão antes abandonado na chuva.

Sirius se sentia um idiota tremendo daquela forma, afinal, ele era da Grifinória, a casa dos corajosos, e naquele momento estava fungando nos ombros da Sra. Potter, na cama do quarto de hóspedes. Ele tinha contado tudo para ela e James, reviver tudo aquilo e ainda repetir em voz alta o fez perceber na gravidade da situação. Ele tinha sido banido da família. Ele não tinha onde morar. Ele não tinha família, ou era o que ele pensava.

— Vai ser ótimo ter você aqui, irmão. — James comentou, dando um soquinho em seu braço. Ele nem conseguia mensurar o que Sirius estava sentindo, seus pais sempre fizeram tanto seu gosto que era absurdamente injusto pensar na vida na casa dos Black.

— Você sabe que pra mim você é como um filho, certo Sirius? — A Sra. Potter comentou, depois de dar um beijo na bochecha do garoto, que tinha indícios de barba crescendo pelo rosto. Ela saiu do quarto, deixando James sentado ao pé da cama de Sirius, com os pés sobre o cobertor.

— Você é parte da nossa família agora. — James sorriu abertamente.  Seria bom ter um lar como o dos Potter, e Sirius se sentia em casa lá.


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Notas finais do capítulo

Eu tinha programado esse capítulo para sair ontem, no domingo, mas ele não foi e eu não sei o que aconteceu...

Me contem o que acharam desse capítulo, eu estou animada para escrever mais e quanto mais vocês comentarem, mais eu escrevo! (Apesar de parecer que só tem duas pessoas lendo, quero continuar postando)

O próximo capítulo sai na sexta, e eu vou tentar manter sempre na sexta para todo mundo poder ler no fds ok? Até breve!



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