Depois de tantos dias se preparando, a semana dos NOMs finalmente chegara. A última prova antes das férias de verão era de Defesa Contra as Artes das Trevas, uma matéria que parecia ser cada vez mais importante de acordo com as notícias do mundo bruxo.

Após o ataque no condado de Surrey, algumas famílias começaram a notificar o Ministério sobre desaparecimentos e os aurores estavam tendo trabalho para descobrir o que estava acontecendo, mas todos sabiam que o autor dos ataques era Voldemort. Apesar do medo, a maioria dos alunos estava tentando focar na liberdade que teriam depois de acabar a prova. A pressão das provas não podia mais ser reprimida, todos precisavam se divertir um pouco e esquecer o que acontecia no mundo lá fora. 

As mesas das quatro casas do Salão Principal haviam sido substituídas por mais de cem mesinhas dispostas em fileiras meticulosamente organizadas e, em cada uma delas, um aluno do quinto ano estava sentado de cabeça baixa, escrevendo em um rolo de pergaminho. O sol entrava pelas janelas naquele fim de tarde.

— Mais cinco minutos! — O Prof. Flitwick movia-se por entre as fileiras passando por James, que naquele segundo descansava a pena na mesa e aproximava o pergaminho para reler o que acabara de escrever. Satisfeito com suas respostas e ansioso para finalmente se ver livre daquelas provas terríveis, James deu um enorme bocejo e bagunçou os cabelos, deixando-os ainda mais despenteados do que o normal. Vendo que o Prof. Flitwick estava longe dele, virou-se e sorriu para Sirius, que estava sentado quatro mesas atrás e ergueu o polegar em resposta.

E duas mesas para o lado encontrava-se Remus Lupin, que ainda estava absorto no exame. Ele relia as respostas, coçava o queixo com a ponta da pena, franzindo ligeiramente a testa. Perto dele, Peter parecia ansioso com o fim da prova, roendo as unhas e tentando espiar esperançoso a prova do vizinho. Ele teve ajuda de Lily em Poções, mas Defesa contra a arte das Trevas não era muito o seu forte. Na verdade, nada era.

— Por favor, descansem as penas! — esganiçou-se o Prof. Flitwick. — Continuem sentados enquanto recolho os pergaminhos. Accio!

Mais de cem rolos de pergaminho voaram na direção do Prof. Flitwick, o que o derrubou para trás. Foi preciso que dois estudantes nas primeiras mesas o ajudassem a levantar e, quando se recuperou e organizou os pergaminhos na mesa, o professor dispensou os alunos.

James guardou o pergaminho e as perguntas do teste na mochila e esperou os outros. Logo, os quatro marotos se juntaram e seguiram para os jardins depois de tantos dias presos naquele Salão.

— Você gostou da décima pergunta, Aluado? — Sirius perguntou, como se tivesse pensado nessa piada durante todo o exame. Ele se sentia leve ao saber que teria tempo para se divertir um pouco antes de irem embora.

— Achei muito interessante... — Respondeu Lupin imediatamente, mostrando que ele pensou na mesma coisa. — “Cite cinco sinais que identifiquem um lobisomem.” Uma excelente pergunta.

— Você acha que conseguiu citar todos os sinais? Não esqueceu ou se confundiu com nenhum detalhe? — Indagou James, fingindo estar preocupado.

— Acho que sim. — Respondeu Lupin, sério, quando chegaram ao jardim ensolarado. — Sinal número um: ele está sentado na minha cadeira. Dois: ele está usando minhas roupas. Três: o nome dele é Remo Lupin. — Ele, Sirius e James riram, mas Peter ainda estava ansioso com a prova e não riu.

— Eu citei a forma do focinho, as pupilas dos olhos e o rabo peludo, mas não consegui pensar em mais nada... Eu estava tão nervoso!

— Deixa de ser lerdo, Rabicho! – James riu de Pettigrew. – Você anda com um lobisomem uma vez por mês e não se lembrou de mais nada?

— Cala a boca! – implorou Lupin. Cinco anos pedindo para os garotos pararem de comentar aquele tipo de coisa em voz alta e nenhum resultado.

— Bom, achei que o exame foi muito fácil. — Sirius comentou enquanto se deitava sob a sombra de uma árvore na beira do lago. — Deu até para eu paquerar a Ariana Stebbins, que sentou perto de mim.

James brincava com seu pomo de ouro roubado enquanto os quatro comentavam sobre os testes da semana. Logo, Remus pegou um livro para ler e Sirius começou a observar as garotas que refrescavam os pés no lago, entre elas estava Marlene McKinnon. Gideon estava sentado próximo a elas, o que fazia o estômago de Sirius revirar e o rosto esquentar de ciúmes. Potter continuou a brincar, distraído com seu pomo, e Peter ria e comemorava conforme as capturas ficavam mais difíceis.

— Queria que a lua cheia chegasse logo, quero um pouco de ação... — Sirius comentou, depois de algum tempo.

— Você é meio idiota as vezes, Almofadinhas... — Lupin resmungou, pálido graças a proximidade da lua cheia. Almofadinhas era o apelido de Black porque quando ele se transformava no grande cachorro preto, que era sua forma animaga, suas patas ficavam fofas como almofadas, o que pode ser considerado um excelente alvo de zoação para os outros marotos.

— Isso vai animar você um pouco, Sirius. — James comentou em voz baixa, guardando o pomo no bolso e pegando a varinha. – Olhem quem é que...

— Excelente — Sirius virou a cabeça para ver de quem James falava. — Ranhoso... — Snape estava próximo de um arbusto guardando as perguntas do teste na mochila. Quando deixou o arbusto, James e Sirius se levantaram e foram na direção dele. — Talvez seja o momento de nos vingarmos por tudo o que esses idiotas fizeram esse semestre.

— E ai, Ranhoso... Como foi a prova? — James perguntou, como se estivesse jogando conversa fora. Em contraste com a calma de Potter, Snape reagiu tão rápido que parecia estar esperando um ataque. Largou a mochila no chão e botou a mão dentro das vestes para pegar sua varinha, mas na metade do caminho para fora James gritou:

— Expelliarmus! — A varinha de Severus caiu no gramado às suas costas, fazendo Sirius soltar uma gargalhada.

— Impedimenta! – Apontou a varinha para Snape, que foi atirado no chão quando tentou recuperar a varinha caída. Vez ou outra, os marotos faziam aquilo com Snape, e sempre atraiam olhares dos alunos que estavam por perto. Alguns reclamavam da atitude arrogante de Sirius e James, mas os alunos que sabiam como os sonserinos estavam tratando os nascidos trouxas apoiavam a vingança.

— Você não me respondeu como foi no exame...

— Eu vi o nariz dele quase encostando no pergaminho... — disse Sirius maldosamente, em meio a uma gargalhada. — Vai ter manchas enormes de gordura no exame todo, não vão poder ler uma única palavra.

— Espere... para ver — arquejava, encarando James com uma expressão de ódio.

— Espere para ver o quê? — retrucou Sirius calmamente. — Acho que você não pode fazer nada agora, ou limpar o seu nariz gigante em nós? — A pequena multidão que se aproximou dos três explodiu em risadas.

Snape resmungou palavrões e azarações, mas com a varinha estando tão longe dele nada aconteceu.

— Lave sua boca — James ordenou, apontando a varinha para o garoto. Imediatamente bolhas de sabão cor-de-rosa escorreram da boca de Snape na hora.

— Deixem ele em paz! — Potter reconheceria aquela voz em qualquer lugar do mundo. Era a explosão ruiva vindo do lago: Lily Evans.

— Oi Lily. — James bagunçou os cabelos imediatamente.

— Qual é o problema de vocês? Deixem ele em paz!

— Na verdade, o problema é ele sabe... — James comentou, fazendo todos rirem novamente e o rosto de Lily ficar ainda mais vermelho.

— Você se acha engraçado. – Disse ela com raiva. "E eu pensei que ele estivesse melhor", pensou consigo mesma. – Mas você não passa de um cafajeste, mimado e arrogante, Potter. Deixe ele em paz.

— Deixo se você quiser sair comigo, Evans — respondeu James depressa. Ela ainda namorava aquele Prewett, mas esse era um mero detalhe. Apesar de estar com a Rose, ele ainda queria um encontro com a Lily. —  Sai comigo e eu nunca mais encostarei uma varinha no Ranhoso mesmo que ele mereça muito.

— Eu tenho namorado! — Ela cruzou os braços. — E eu não sairia com você nem que tivesse de escolher entre você e a lula-gigante!

Enquanto Lily tinha a atenção de todos a Azaração de Impedimento ia perdendo efeito, o que possibilitou que Snape se arrastasse pouco a pouco em direção à sua varinha caída, cuspindo espuma.

Severus apontou a varinha diretamente para James e resmungou um feitiço baixinho, gerando um lampejo e um corte apareceu no rosto magro e incrivelmente belo de Potter, respingando suas vestes de sangue. Como se Snape tivesse cortado o próprio orgulho de James, um segundo depois Snape estava pendurado no ar de cabeça para baixo, as vestes pelo avesso revelando pernas muito magras e brancas e cuecas encardidas.

— Acho que você conhece esse feitiço, certo? — Potter comentou, lembrando-se de um duelo que travaram com os sonserinos no início do ano letivo, no qual Severus usou esse feitiço contra o próprio garoto.

— Ponha ele no chão agora, Potter! — Lily gritou e James aproveitou para revidar mais uma coisa que aconteceu durante o duelo, deixando Snape cair com um baque no chão, enrolado em suas vestes. Mal levantou-se e Sirius lançou um Petrificus Totalus, fazendo o garoto cair no chão novamente.

Apesar de ainda estar confusa sobre o que ouviu Snape falar no dia do ataque no Surrey, Lily havia perdido totalmente a calma, sacando sua varinha e gritando para James desfazer logo o feitiço. Aquelas brincadeiras passaram dos limites. Potter suspirou desapontado que sua diversão tivesse acabado, então se virou para Snape e murmurou um contrafeitiço.

— Pronto — Disse sorrindo, enquanto Snape se levantava, com o rosto vermelho de ódio e vergonha. – Você tem sorte de que Evans esteja aqui, Ranhoso...

— Não preciso da ajuda de uma Sangue ruim imunda como ela! — Severus revidou, sem pensar muito nas consequências. Quando notou, já era tarde demais. Lily apenas pestanejou, um tanto chocada com o que tinha acabado de ouvir. Era pior do que imaginava, ele realmente tinha se tornado um deles.

— Ótimo — Respondeu calmamente. — No futuro, não me incomodarei. E eu lavaria as cuecas se fosse você, Ranhoso. — Uma lágrima se formou nos olhos de Lily, mas ela respirou fundo e a afastou. Não era hora de chorar.

— Peça desculpa a Lily! Agora! – Berrou James para Snape, apontando-lhe a varinha ameaçadoramente. Não podia acreditar que ele dissera uma coisa como aquelas, não esperava aquilo nem mesmo de Snape. As coisas estavam ficando cada vez mais complicadas.

— Não quero que você o obrigue a se desculpar. – Gritou Lily, voltando-se contra James. – Você é tão ruim quanto ele. — Com a raiva e a confusão a consumindo, ela finalmente explodiu: — Despenteando os cabelos só porque acha que é legal parecer que acabou de desmontar da vassoura, se exibindo com esse pomo idiota que eu já falei pra devolver, andando pelos corredores zoando todo mundo e paquerando todas as garotas da escola, me surpreende que a sua vassoura consiga sair do chão com o peso do seu ego. Você me dá náuseas! — E com isso, deu as costas para eles e saiu em disparada para o Salão Comunal da Grifinória.

x

Lily não queria conversar com ninguém. Já bastava ter sido humilhada por um de seus melhores amigos na frente de vários colegas de sua turma, não queria saber que mais pessoas fofocaram sobre isso pelos corredores. Por isso, ficou o resto da noite de sexta e o sábado todo na cama. Só contou o que tinha acontecido para as garotas, depois de muita insistência e apenas para ser deixada em paz.

— Vamos lá, Lily... Você tem que comer alguma coisa! — Dorcas tentava arrastar Lily para o jantar. Ela não havia comido nada desde o almoço de sexta-feira, mas a refeição havia sido feita entre os livros e pergaminhos, o que significava que ela não tinha comido quase nada. — Fabian está preocupado com você.

— Ah, droga... Eu esqueci de contar o que aconteceu pra ele. — Lily resmungou com a cara no travesseiro. Ela sempre se orgulhou de nunca ficar chorando por causa de garotos, mas não esperava que algo como seu melhor amigo em anos te chamando de sangue ruim fosse acontecer. Era algo difícil de lidar. E se não bastasse, Severus soltou o insulto durante uma das provocações dos marotos, o que faz parte da irritação de Lily se concentrar no Potter. "Garotos são muito idiotas", pensou. É claro que Fabian não se encaixava nessa frase, ele era surpreendentemente diferente, como se mostrou no jantar.

— Ei Lily, achei que não fosse mais ver você antes de irmos embora... — Fabian comentou enquanto abraçava a namorada, quando elas finalmente apareceram para jantar. — Quer dar uma volta depois de comer? — Reparou que Lily empurrava o purê de batatas de um lado para o outro no prato, se encolhendo um pouco quando algum sonserino passava perto da mesa da Grifinória. Ela lançou um olhar irritado para James e Sirius quando eles sentaram perto do grupo.

— Podemos ir agora? — Lily empurrou o prato na mesa e pegou Fabian pela mão, o arrastando pelo Salão, ela não queria ter que ficar perto do Potter na mesa do jantar. Apesar de ter parecido firme com a saída do Grande Salão, depois de alguns corredores quem estava os guiando era Fabian, que finalmente parou numa sala vazia. Talvez fosse a sala de Estudo dos Trouxas, mas Lily não saberia dizer. Os dois se sentaram no tablado onde a mesa do professor ficava, alguns centímetros mais alto do restante da sala.

— As garotas te contaram o que aconteceu? — Lily não sabia exatamente como começar a conversa, ela havia sido resistente em falar sobre o assunto com as meninas e não queria contar a história novamente.

— Não precisamos falar sobre isso, se não quiser. — Fabian pegou as mãos frias de Lily e as segurou carinhosamente, puxando-a para si. Ela apoiou a cabeça no peito dele, sentindo seu coração batendo forte.

— Obrigada Fab. — Ela levantou a cabeça o suficiente para poder olhar nos olhos dele e beijou sua bochecha. Foi a deixa para que Fabian segurasse na nuca dela, a beijando lentamente. Lily conseguia sentir todo o estresse dos últimos dias indo embora, conforme sentia o calor de Fabian contra si. Mesmo com tudo o que estava acontecendo, ela conseguiu se deixar levar e tentou esquecer as provas, os ataques aos nascidos trouxas, James Potter, Severus Snape e tudo que tirou seu sono nos últimos meses. Eram só ela e Fabian conversando e namorando naquela sala vazia.