Aquela semana de provas foi intensa e cansativa, quando os marotos achavam que finalmente teriam descanso e poderiam arrumar suas malas para as férias de verão, lembraram que tinham um importante compromisso com a Professora McGonagall naquela sexta-feira.

As aulas sobre animagia estavam realmente ajudando os garotos. Eles já tinham praticamente suas formas animais definidas, mas tinham alguns pequenos probleminhas como não conseguirem voltar para a forma humana quando Minerva lhes pedia.

— Sirius, pare já de coçar essa orelha e faça o que eu estou pedindo! — Minerva já perdia a paciência com os garotos. — Vocês precisam aprender a voltar a forma humana sem a minha ajuda e não estão se esforçando o suficiente.

—  Minnie, tivemos provas a semana inteira... Não pode nos culpar por não nos esforçarmos! — Sirius resmungou, como um cachorro chorão.

— Eu já falei para não me chamarem assim! — A professora repreendeu, apesar de achar o apelido engraçado. — Potter, volte para a forma humana. — James havia se transformado num majestoso cervo, sua galhada era grande e robusta. Sirius era um grande cachorro com o pelo negro como seus cabelos. Peter se tornou novamente o rato de antes, o rabo comprido que originou o apelido Rabicho.

Remus observava seus amigos transformando-se em humanos e em animais diversas vezes até que Minerva os deixou descansar. Ele seria eternamente grato por tudo o que os marotos vinham fazendo para que ele não sofresse tanto durante as transformações, mas lamentava um pouco porque McGonagall não deixou que os três o acompanhassem na próxima lua cheia, que seria no primeiro fim de semana das férias, ou seja, na noite seguinte.

— É claro que não posso deixar vocês o acompanharem pela primeira vez longe de Hogwarts! Se acontecer alguma coisa, não teria ninguém por perto para ajudar... Vocês só vão poder fazer isso quando voltarem a Hogwarts. — Ela falava, com um tom triste em sua voz, sabia o quanto isso era importante para Lupin, mas não poderia deixar que a situação saísse do controle. — Eu sinto muito, Remus.

— Bem, pelo menos acho que agora nós finalmente conseguimos nos transformar e voltar para a forma humana sem nenhuma crise, não é? — Peter tentou quebrar o gelo. Todos concordaram, sorrindo.

— Vocês são muito talentosos, garotos. Estou muito feliz por estar ajudando vocês a fazer algo tão bom para um amigo. — Ela falou, num sorriso doce e orgulhoso, depois voltou a ser a professora de sempre. — Agora, voltem para seus dormitórios e arrumem suas coisas para voltarem para casa. E nada de transformações durante as férias, está claro? — Ela se despediu dos quatro e eles seguiram seus caminhos.

Os marotos estavam animados por finalmente terem férias, mas queriam poder ficar naquele fim de semana em Hogwarts para ajudar Remus. Ele já estava mais pálido que o normal, e na manhã seguinte, parecia ter piorado.

— Remmy, você tem certeza que está bem? — Dorcas se preocupava, colocando a mão na testa do menino para verificar se tinha febre.

— Eu estou bem, Dorcas... Relaxa. — Ele pegou a mão dela e entrelaçou seus dedos nos dela. James percebeu que seria bom tirar a atenção de Dorcas da misteriosa doença de Lupin e começou a contar seus planos para as férias. Marlene e Sirius entraram na onda e logo, não se falava mais na aparência doentia de Remus.

— Nós vamos nos mudar, provavelmente até o final das férias eu esteja morando em alguma casinha escondida entre as ruas de Londres. Aquela mansão está na minha família há muito tempo e é muito visada... Meus pais não querem correr o risco de outro ataque. — Marlene contava, um pouco triste.

 — Calma ai, então não vou ter mais você na vizinhança? — Sirius reclamou, fazendo bico como uma criança.

— Relaxa, eu vou continuar salvando você do tédio e da sua mãe chata. Eu dou um jeito. — Ela sorriu e deu batidinhas na coxa dele, para tranquilizá-lo. — Onde está a Lily? Não a vejo desde que acordamos.

— Ela deve estar com o Seboso. — Peter falou, um pouco desgostoso por citá-lo. — Logo ela deve aparecer aqui...

Peter estava certo. Num vagão não muito longe de onde os marotos estavam, Lily e Severus conversavam sobre poções, que era uma das matérias favoritas dos dois. Enquanto ela falava sobre quais poções ela queria que fossem inventadas, Snape mostrava anotações e observações que tinha feito em seu livro.

— Sev, isso é muito inteligente... Realmente amassar a vagem suporífera é melhor, cortar é muito mais difícil. Eu acho que você daria um ótimo professor de Poções. — Evans deu um empurrãozinho de leve, brincando com o garoto. Os dois riram, imaginando em silêncio o que seriam quando se formassem em Hogwarts. Severus considerou a ideia de seguir o conselho de Lily, mas tudo ia depender do que aconteceria com todo o mundo bruxo.

— Desculpem interromper esse lindo momento, mas precisamos de você na nossa cabine, Snape. — Avery abriu a porta do vagão e tirou o sorriso do rosto de Lily.

— Eu vou daqui a pouco. — Snape hesitou por um momento, talvez pensando se devia fazer simplesmente a vontade de Avery ou o que ele realmente queria fazer. — Estou conversando com a Lily...

— Então a sua amiguinha é mais importante que a gente? — Mulciber apareceu atrás de Avery, com a cara fechada. Lily tentou levantar para enfrentar o sonserino, mas foi impedida por Severus, que levantou antes dela.

— Eu disse que já vou, não precisam falar assim dela. — E com isso, fechou a porta da cabine deixando os dois para fora. Era muito difícil para Snape ser amigo de uma nascida trouxa e de garotos de família puro sangue conservadores, ele sempre ficava dividido.

Lily ficou chocada com as ações dos dois meninos, ela não queria acreditar que eles eram tão mandões daquela forma. Se eles sempre tratavam Severus daquela forma, por que ele ainda andava com eles?

— Sev, eles não são sempre assim, são? — Ela perguntou, medindo as palavras.

— Não, eles normalmente são legais comigo... Eles devem ter ficado assim por sua causa. — Ele respondeu, percebendo apenas depois que usou as palavras erradas. — Quero dizer, não que isso seja sua culpa, é só que você é nascida trouxa e eles não...

— Não vai me dizer que eles te convenceram dessas coisas, isso é ridículo! Você não pode conversar com pessoas que acreditam em algo tão errado e ultrapassado. — Lily começou a ficar vermelha e falava rápido, irritada com as circunstâncias.

— Não, Lily. Eu não sou como eles e eles não falam só disso. Eu nunca tive amigos antes. — Ele deu uma fungada, tentando segurar o choro. — Você não pode me dizer com quem eu devo andar, você conversa com aqueles idiotas que vivem me atacando! — Severus tentou sair da cabine, mas Lily foi em sua direção e lhe deu um forte abraço. Ela sabia que ele não pensava como eles, ele sempre foi seu amigo e um bando de sonserinos idiotas não podia estragar aquela amizade. Quando se separaram, ele falou que era melhor que ela voltasse para suas amigas porque ele tinha algumas coisas para resolver.

— Obrigado Lily... — Ele respirou fundo, sentindo o cheiro adocicado dos cabelos dela, a pele branca e macia de seus braços o envolvendo de uma forma tão delicada que ele quase esqueceu o que ia dizer. — Eu acho que é melhor você ir com as suas amigas. Eu vou ver o que eles querem. — E com isso, Snape saiu dos braços de Lily e a garota deu de cara com a última pessoa que queria ver naquele momento: James Potter.

James e Peter tinham ido dar uma volta no trem para ver se encontravam algo de interessante para fazer, já que as coisas na cabine haviam ficado melosas demais. Dorcas e Remus cochichavam e trocavam carícias, Marlene e Sirius apostavam num jogo de cartas e o pagamento era sempre alguma sacanagem, não dava para presenciar aquilo pelo resto da viagem. Peter encontrou o amor de sua vida, o carrinho de doces, e a Mary no corredor e ficou conversando enquanto James continuou a caminhar pelos vagões.

Ele estava distraído pensando em quadribol e nas férias, quando deu de cara com Snape e Lily num abraço, na porta de uma cabine vazia. Aquilo afetou James de uma forma que até mesmo ele estranhou. Além de repudiar qualquer ação do maroto, Lily estava saindo com uma das pessoas mais nojentas de todo o castelo? Só podia ser mentira.

Uma sensação estranha tomou conta do corpo de James, seu coração acelerou e seu estômago parecia revirar. Por um momento ele se lembrou do que os garotos haviam falado sobre ele estar apaixonado pela Lily, pensando que talvez eles estivessem certos. Vê-la nos braços de outro o fazia se sentir mal, não parecia certo.

— O que foi? — Lily perguntou, lançando um olhar de confusão para o menino que a encarava no meio do corredor.

— Eu que pergunto, vocês estão juntos, é isso mesmo? — James não parecia ele mesmo, não pensava antes de falar e nem se importou de parecer um tanto desesperado. Fazia cara de nojo e de espanto ao mesmo tempo.

— Não, é claro que não! — Lily negou, balançando a cabeça como se aquela tivesse sido a coisa mais idiota que ouvira no dia. — E por que você se importa com isso? — Ela levantou as sobrancelhas e deu um sorrisinho, curiosa.

— Eu não me importo. — James saiu andando, desviando de Lily e continuando seu caminho pelo corredor.

Ele não podia acreditar. Como aquilo podia ter acontecido? O James Potter que sempre estava com alguma garota linda em algum armário de vassouras não podia ter esse tipo de sentimento. Aquilo estragaria tudo, ele não poderia perder todas aquelas garotas que eram loucas por eles por uma que brigava com ele o tempo todo. James tentava negar em sua mente, mas seu coração mostrava a verdade: ele estava apaixonado pela Lily Evans.