Depois da festa épica que ocorreu no fim de semana, todos tentavam se recuperar da ressaca e do cansaço por terem bebido, cantado e dançado a noite toda. Lily, por outro lado, acordou super disposta naquela segunda-feira e quando desceu as escadas dos dormitórios, se deparou com uma cena cômica: Marlene dormia no sofá, abraçada com uma garrafa apoiando a cabeça no peito de Sirius, que estava completamente descabelado e com a boca aberta. James dormia no tapete amassando os óculos no tecido grosso que lhe servia de cama e até babava. Alguns festeiros remanescentes ainda estavam dormindo no salão e os que já haviam acordado, tentavam arrumar a bagunça que fizeram antes que Minerva McGonagall tirasse pontos de todos da Grifinória.

Ver que enquanto alguns recolhiam copos, usavam feitiços e organizavam os móveis novamente, os marotos — principais causadores dessa bagunça — estavam dormindo, fez o instinto de justiça de Lily despertar.

— James! — Ela ajoelhou no tapete grosso, chacoalhando o rapaz. — Acorda agora!

— Ahn? — Ele abriu os olhos e franziu o cenho, não entendendo onde estava ou quem estava o chamando. Não lembrava de como havia parado ali, só pensava em Sirius e Marlene em cima de uma mesa cantando uma música das Weird Sisters e de muitas e muitas garrafas de hidromel.

— Para de ser folgado e levanta! — Ela reclamou, falando alto perto do ouvido dele. Os cabelos dela fizeram cócegas no rosto dele e o fizeram despertar. Ele havia dormido de óculos e o rosto dele estava levemente amassado pela armação.

— Lily? — Ele reconheceu as madeixas ruivas e a chamou. Ser acordado por uma beleza daquela era algo raro, normalmente o serviço despertador dele era Remus.

— Vocês acham que a vida é só festejar? Estão deixando os outros arrumarem a bagunça que fizeram ontem! — Ela chamava agora Sirius e Marlene.

Os dois bocejavam e pareciam extremamente perdidos, Sirius se espreguiçou e passou o braço por trás de Marlene, a abraçando e voltando a dormir. James se levantou e foi em direção a ruiva, sorrindo ainda com a cara inchada.

— Bom dia raio de sol, você está animada hoje... — James brincou. — Gostou da festa? — Ele falou com a voz ainda rouca e sonolenta.

— Eu não fiquei para a festa. — Ela encurtou a conversa. — Arrumem logo tudo isso, antes que tirem pontos da Grifinória por causa de vocês. — E saiu, preocupada se iria se atrasar para a aula.

A primeira aula do dia era feitiços, Dorcas e Remus chegaram alguns minutos mais tarde, mas nada se compara ao atraso de Sirius e James, que chegariam apenas na próxima aula, Transfiguração.

— Evans! — James cochichou, chamando-a no meio da aula. Inicialmente, ela o ignorou, mas vendo que ele continuaria chamando até ter a atenção dela, respondeu um rápido "O que foi?", e virou novamente para frente.

— Você pode me emprestar suas anotações de Feitiços? — Ele se debruçou sobre sua carteira para chegar mais perto da orelha de Lily e falou. Para ela, isso era mais uma prova do quanto James Potter era cara de pau. Fazia uma festa, não arrumava a bagunça, faltava na aula por estar cansado e ainda quer suas anotações? Ela virou para dar uma bronca daquelas, mas antes que dissesse qualquer coisa foi interrompida pela professora McGonagall.

— Eu estou atrapalhando alguma coisa, Srta. Evans... — Ela olhava fixamente para a garota, que corou tanto que atingiu um nível de vermelho nunca antes visto. — E Sr. Potter?

— Me desculpe, Professora. — Lily virou para frente e afundou na cadeira, morta de vergonha.

— Na verdade, eu queria que a Lily me ajudasse a estudar feitiços antes das provas finais, entende Minnie? — James abriu um sorriso convincente, chamando a professora pelo apelido inventado pelos marotos.

— Acho que você poderia pedir isso depois que minha aula acabasse, mas já que você interrompeu minha aula apenas para isso, espero que a Srta. Evans ajude você. — Minerva não acreditava que Potter pudesse ser tão atrevido, mas resolveu encerrar o assunto de uma vez.

Lily virou-se para lançar um olhar fulminante para James, os olhos verdes dela pareciam ter a habilidade de azará-lo a qualquer momento. Além de fazer ela levar uma bronca de uma professora, ela ainda teria que ajudar o menino a estudar?

Provavelmente, várias garotas que estavam na aula ficaram com inveja de Lily. Ter a atenção de James e uma desculpa para passar um tempo com ele era o desejo de muitas, e ela sentiu as implicações de ter algo que nem ao menos queria. Entre esbarrões propositais e cochichos entre vários grupinhos, Lily sabia que a única coisa que ela poderia fazer para acabar com aquilo era dar uma bela lição no James.

— O que estava pensando? — Ela chegou correndo até ele, com o rosto vermelho de raiva.

— Nossa Lily, calma! Eu não vou fugir... — Ele riu. Se ele soubesse que a reação dela com as brincadeiras seria assim, ele teria começado a irritá-la antes. — Do que precisa, linda? — Ele arrumou os óculos e arqueou as sobrancelhas, esperando a reação dela.

Em vez de responder, Lily agiu por impulso e deu um soco no braço do rapaz, que era muito mais forte que ela e não foi afetado pela mínima agressão.

— Se acalma, ruiva. — Sirius a segurou antes que ela batesse no James de novo. — O que aconteceu? — Ele passou o braço por cima dos ombros magros de Lily, que parecia realmente pequena se comparada ao tamanho do maroto, que era alto e forte.

— O Potter arruinando minha vida! — Ela reclamou, se desvencilhando dos braços do Black. — Eu tenho muita coisa para fazer, James.

— Para com isso, Lily... É só você usar um pouco do seu tempo de estudos me ajudando com Feitiços. — James deu de ombros, rindo internamente. — Não é como se eu fosse atrapalhar todo o seu roteiro de estudos.

Lily percebeu que não teria saída e resolveu aceitar apenas para poder ir para o Salão Comunal sem os marotos em seu pé.

— Tá bom. — Ela revirou os olhos e os deixou no corredor.

Afim de curtir um pouco mais aquela linda tarde de primavera, os marotos ficaram no pátio conversando sobre as reações da Lily sobre as brincadeiras do James. Ele e Sirius estavam deitados no gramado e Peter e Remus estavam sentados próximos a uma árvore.

 — Eu não queria que tivesse que ser assim, mas ela não me deu outra escolha... Agora estou de divertindo mais do que eu esperava. — James falava sobre Lily, enquanto observava o movimento das nuvens no céu azul.

— Você está gostando até demais disso, meu caro... Acho que tem algo a mais nessa história. — Remus desviou a atenção de seu livro para comentar.

— O que quer dizer? — James parou de ver para as nuvens, virou de lado e apoiou a cabeça num dos braços, agora olhando diretamente para Lupin.

— Eu não sei... — Ele deu de ombros, tentando esconder um leve sorriso.

— Eu acho que sei o que o nosso amigo lobo está dizendo. — Sirius pegou uma flor que estava caída no chão e colocou atrás da orelha. — Deve ter algo mais nisso aí, você está atraindo mais a atenção da Lily desde que ela brigou com você.

— Eu já disse, não queria que ela nos excluísse da vida dela. — James explicou, como se já tivesse repetido isso em sua cabeça milhões de vezes.

— Você estava com medo dela excluir você, porque eu tenho a Dorcas e nós sempre estudamos juntos. Peter tem saído mais com a Mary e, bem, Sirius e a Marlene são um caso a parte... Mas sempre estamos junto com a Lily. — Remus esclareceu os fatos, deixando Potter um pouco confuso e constrangido. Ele se perguntava uma explicação para ele não querer ser deixado de lado, mas Peter o ajudou com isso.

— James está apaixonado! — Pettigrew falou, sem enrolação.

— O QUE? — Ele se sentou rápido, confuso com a afirmação. — É claro que não, fala sério gente! — Os outros dois pareciam concordar com Peter, assentindo com a cabeça. — Eu já disse, aquela quedinha que eu tive por ela no primeiro ano acabou! Agora eu sou de todas as garotas, não tenho o menor interesse pela Lily... — Sua voz demonstrava a confusão que estava em sua cabeça, ele só se perguntava que loucura toda era aquela.

— Cara, eu não sou a melhor pessoa para falar de amor, mas tem alguma coisa a mais nessas suas brincadeiras com a Lily. Só estamos te mostrando a verdade. — Sirius, ainda deitado, brincava com a flor que havia pego: "Bem me quer, mal me quer..."

Um silêncio surgiu entre os quatro, Lupin entretido com seu livro, Peter tirando um cochilo e Sirius observando de longe todas as garotas que passavam pelo pátio. James tentava entender o que seus amigos haviam falado, mas não via sentido algum naquilo. Só porque ele não queria que a garota o deixasse para trás, isso queria dizer que estava apaixonado por ela? Aquilo era bobagem! Ele não precisava de Lily, tinha todas as garotas da escola morrendo para estar com ele.

— Vejam só se não é o nosso velho amigo Ranhoso... — Sirius falou, quebrando o silêncio. O sonserino atravessava o pátio cabisbaixo, com seus cabelos pretos ensebados caindo sobre o rosto.

No mesmo momento em que o viram, James e Sirius se levantaram e começaram a caminhar na direção dele, bloqueando o caminho.

— Boa tarde Ranhoso, como está esse seu nariz enormemente grande nesta tarde maravilhosa? — James sorriu, forçando simpatia. Infernizar a vida do garoto era sempre um bom modo de esfriar a cabeça, ele agradecia internamente por essa distração.

— Sai da minha frente, Potter! — Severus tentou desviar dos marotos e seguir seu caminho, mas Sirius o impediu.

— Isso é jeito de falar com a gente, Seboso? — Black o segurou pelo braço. Snape tentou sacar sua varinha, mas Sirius percebeu antes que pudesse lançar algum feitiço nos garotos.

— Já que você mostrou sua varinha, eu mostro a minha... — James pegou sua varinha e imediatamente lançou um Expelliarmus que fez a varinha de Snape ir parar perto de Peter e Remus, ainda sentados próximos a árvore.  

— Bem, o que fazemos agora? — Potter perguntou para Sirius, forçando a cara de dúvida e deixando Severus morrendo de raiva.

Sirius e James tinham uma sintonia invejável, um praticamente lia os pensamentos do outro e, meio que mentalmente, eles concordaram que a azaração Pimentatus seria o suficiente para aquela tarde. Esse feitiço fazia com que a garganta e boca do oponente queime com fogo em brasa.

Assim que a azaração foi lançada, Severus saiu correndo pelo pátio em busca de sua varinha afim de revidar, mas sua boca ardia tanto que tudo o que ele podia fazer naquele momento era tomar um grande copo d'água. Para finalizar a brincadeira, Peter aproveitou a proximidade do Ranhoso e lançou uma Azaração do Tropego, que fez o garoto tropeçar em seu próprio tornozelo antes de deixar o pátio.

— Mandou bem, Rabicho. — Aquele apelido passou a ser usado constantemente, depois do incidente do Peter se transformando em um rato. Os três garotos cumprimentaram Peter com um hi-five pela ideia de azarar o Snape também.

— Bem, foi divertido. — Sirius riu, pensando no sonserino tropeçando e com a boca queimando. — Pelo menos algumas coisas não mudam. Mesmo estando apaixonadinho, James ainda manda bem azarando o Ranhoso.

— Cala a boca, eu não gosto da Lily! — Potter deu um leve empurrão em Sirius, rindo.

— Falando em Lily, você não ia estudar com ela hoje? — Remus perguntou. O sol já estava se pondo e as provas começariam no dia seguinte.

— É verdade, melhor irmos para o Salão Comunal. — Eles seguiram pelos corredores até a Torre da Grifinória.

Quando eles chegaram, viram que todos os alunos se abarrotavam no aconchegante salão comunal da Grifinória, alguns estavam apenas revisando alguns pontos importantes e outros tentavam correr atrás do prejuízo e aprender o máximo possível antes que as provas começassem. Lily estava ajudando Marlene e Dorcas a entenderem como fazer uma poção quando os marotos apareceram.

— Oi meninas, o que vamos estudar? — Sirius se jogou na poltrona em que Marlene estava sentada, a esmagando.

— Sirius, sai de cima! — Marlene implorou, rindo. Ele se levantou e ocupou seu lugar, puxando-a para sentar no seu colo.

— Gente, foco. Precisamos ir bem nessas provas, os N.O.M.'s já são ano que vem! — Lily chamou a atenção dos dois.

— Relaxa Lily, você com certeza vai passar mais um ano com suas notas impecáveis. — James tentou conversar com a garota como sempre fez, para mostrar para os amigos que ela não deixava que as coisas voltassem a ser como antigamente.

— É, eu espero... — Ela suspirou, depois percebeu que aquela atitude não era comum para James Potter e resolveu perguntar: — Você não deveria estar saindo com alguma garotinha por aí em vez de ficar aqui tentando me elogiar? Se você acha que eu vou esquecer suas brincadeiras assim tão fácil, desista.

— Você precisa me ajudar a estudar Feitiços, esqueceu? — Ele sorriu, confiante.

Lily revirou os olhos, pegou seu material de Feitiços e começou a explicar o que James havia perdido na aula. Porém, em vez de prestar atenção nos ensinamentos da ruiva, ele não conseguia tirar as palavras dos marotos da cabeça. Será que ele estava mesmo gostando dela? Parecia bobagem no começo, mas vendo aqueles olhos verdes concentrados nas anotações  e nos livros, James lembrou-se da primeira vez que a viu. Seu coração acelerou quando ele percebeu que talvez os meninos estivessem certos.