Green Eyes - Jily escrita por Vitória Serafim


Capítulo 7
Visita de mamãe e papai


Notas iniciais do capítulo

Gente bonita! Antes que vocês me perguntem... Eu estou viva, ok? Já venho com aquele discursinho de merda pedindo mil e uma desculpas pela demora! Eu me enrolei com esse lance de ENEM que até fiquei na bad e tal, mas enfim, depois de umas três semanas (deve fazer mais), estou de volta. Capítulo de muitas emoções! Tentei até fazer uma coisa diferente, que foi fazer a Lily escrevendo sobre os sentimentos dela, espero que gostem!
Ah, já venho agradecendo à linda Aline (LestrangeAlie) que recomendou a fic no Nyah! E também vem comentando bíblias em todos os capítulos. Maravilhosa você, besha ♥ Obrigada mesmo ><. Bem, sem mais enrolações, boa leitura!



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A minha presença na casa de Potter fora mais do que inoportuna, pois eu não só tinha passado a noite ali, como tive o imenso desprazer de ficar na presença de Izzy Vanderwall pela terceira vez na vida. Entretanto, desta vez as coisas se tornaram mais... exóticas, digamos assim. Francamente, nunca achei que Potter fosse maduro, muito pelo contrário, mas ser pai? Isso com certeza é o fim dos tempos.

            Depois de devolver o celular para Potter e dar um belo de um encontrão com a loira que pairava do lado de fora da porta de entrada, olhei brevemente para a porta do meu apartamento, me martirizando internamente por não poder estar nele (bem que eu podia ser daquele tipo de pessoa que deixa uma chave reserva debaixo do tapete, mas esse tipo de coisa é considerada muito arriscado, ao ver de Lily Evans), adentrando rapidamente no elevador, apertei o botão T com insistência para somente cinco segundos depois as portas finalmente fecharem. Juro que se eu vivesse para escutar mais uma palavra que aquela mulher tivesse a dizer sobre a sua gravidez eu iria vomitar nos meus próprios sapatos. Aliás, era o que quase estava acontecendo, só de pensar minhas tripas se remexem dentro de mim, como se tentassem colocar a caneca de cappuccino, que tinha acabado de beber, para fora.

            Apressei meus passos até chegar ao lado de fora do meu prédio e me deparar com a coisa mais incrível que já tinha acontecido em todos esses dias deprimentes.

            – Hey, Lils! – sorri ao ouvir a voz de Alice.

            Minha amiga tinha parado em frente à fachada do meu prédio dentro de um Corolla modelo 2017 lustrado em preto, toda poderosa. Tudo o que consegui fazer fora tentar segurar meu queixo caído. Sinceramente, que que é isso, galera?

            – Arrasou, Ali! – falei ainda em choque, enquanto entrava no banco do passageiro, logo depois de acatar o gesto que ela fizera antes disso.

            – Acredita nisso? Papai maravilhoso me deu presente de casamento adiantado. Eu estou surtando! – ela falou rapidamente e eu olhava o carro sem saber como voltar ao meu estado de juízo perfeito.

            – Como você aprendeu a dirigir de ontem pra hoje? – perguntei franzindo o cenho, enquanto minha amiga tirava a marcha do ponto morto.

            – Digamos que andar num carro automático é extremamente simples – ela forçou um sorriso e pisou no acelerador, fazendo o carro dar um belo de um arranque. Olhei para ela arregalando os olhos – OK, pode ser que não seja tão simples assim, mas já vi não só o meu pai, como também Frank dirigindo e acho que já posso me virar.

            – Espera. Você ainda nem tirou a carteira de motorista?

            – Exatamente. Acho que não é tão rápido que se recupera a sanidade quando a sua família te acorda com uma chave de presente – ela disse ansiosa e quase bateu no carro da frente por causa do motorista que não dera a seta indicando que mudaria de faixa. Merlin, Merlin... Isso vai dar muito errado. — A SETA, SEU CRETINO! – Alice gritara com a cabeça para fora do vidro.

            Não sei decidir o que mais me surpreende, sério. Alice nunca abria a boca para xingar uma mosca e agora tinha acabado de chamar um desconhecido do trânsito de cretino. Totalmente louco.

            Comecei a rir.

            – Certo, quem é você e o que fez com a minha amiga? – brinquei enquanto explorava as funções do rádio do carro (temos intimidade o bastante para que eu fuçasse qualquer coisa que eu quisesse, como vocês podem ver).

            Demoramos mais ou menos uns quinze minutos para chegar à casa de Alice. Segundo ela, Tonks tinha passado a noite lá. Sim, Ninfadora Tonks era uma sem noção de merda que fez o favor de dormir na casa da sua melhor amiga recém-noiva, como já é de se esperar por nós, que somos suas amigas.

            Foram os quinze minutos de mais adrenalina em toda a minha vida. Exceto as freadas repentinas que Alice causava no carro a cada minuto – que por sinal fazia meu coração pular para a boca –, meus pensamentos eram ocupados a todos os intervalos de tempo possíveis em James Potter e em como eu havia perdido totalmente a cabeça noite passada por causa dele.

            Descemos do carro maravilhoso de minha amiga e segui para a sua casa, que tinha um caminho de pedras em meio ao gramado. Mal consegui subir no pequeno pedestal que dava na porta de entrada, que Holly já pulara em cima de mim.

            – Lilyzita! Como assim você dormiu na casa do Potter? – ela perguntou animada. Esse apelido, na qual ela se dirigira à mim era tão típico de Sirius que chegava a dar tontura, esses dois estavam próximos demais pro meu gosto.

            – QUÊ?! – Alice gritou extremamente surpresa.

            – Por que vocês acham que eu fiquei com essa belezinha aqui? – Tonks perguntou retoricamente erguendo um molho de chaves com um sorriso malicioso, na outra mão, a garota segurava uma bolsa.

            – NINFADORA TONKS! Eu não acredito que você pegou a minha bolsa de propósito! Ah se eu te mato! – gritei indignada.

            – Ah, vai dizer que você não gostou de uma madrugada na casa do seu boy, Lils – Holly completou com o mesmo tom idiota de malícia.

            – Ele não é o meu boy! Credo, o que deu em vocês? – revirei os olhos e me joguei no sofá bufando.

            – O que deu em você, né? Era pra eu ter pegado o celular do Potter também. Vai que só assim vocês param de moscar e se casam logo, igual à nossa amiga linda aqui – Tonks disse apontando para Alice.

            Arregalei os olhos.

            – Espera um pouco! Então quer dizer que toda essa história de eu ter de dormir na casa do Potter foi uma armação? – ergui as sobrancelhas.

            – BINGO! – Holly comentou sorridente – Brilhante, não é mesmo?

            – Eu sei que sou genial, querida – Tonks disse convencida enquanto analisava as unhas que aparentavam recém-pintadas.

            – Por Merlin! Vocês são malucas! – concluí indignadíssima demais da conta.

            – Que maluca o quê, menina. Fica bem de boa que eu sei que você amou. Fale logo o que aconteceu! Vocês foram pro vamos ver ou o não? – Tonks disse num tom de quem perdeu totalmente o juízo.

            – Maluca sim! Que vamos ver o quê! A gente... – travei.

            – Vocês? – Alice provocou com um sorrisinho de “Hmmm!”, o restante das meninas tinham uma expressão semelhante, senti meu rosto corar como um sachê de ketchup na mesma hora.

            – A gente se beijou, mas eu estava bêbada e...-

            – AAAAAAAAA! – o grito das três em uníssono fez com que eu rolasse meus olhos.

            – Eu sabia!— Tonks exclamou radiante – Não vem com esse papinho pra boi dormir de que você tava bêbada não, porque você estava mais sóbria que nós três aqui quando eu fui embora ontem. Você gosta do-

            – Não gosto não!— bufei com implicância e encarei o teto emburrada.

            – O que está acontecendo aqui? – Frank perguntou descendo as escadas e se apoiando brevemente no sofá em frente ao que eu estava esparramada para dar um beijo em Alice. Ele me cumprimentou com uma piscadela.

            – Nada demais. Só Lilian Evans e suas autoilusões – Ali comentou negando com a cabeça e se aconchegou num abraço com o noivo, que deu um beijo em sua testa. Cena linda!

            Frank riu e ajeitou a jaqueta.

            – Bem, vou deixá-las conversar a sós – ele sorriu para nós quatro e deu um selinho de despedida em Alice antes de sair pela porta.

            Holly fingiu limpar algumas lágrimas.

            – Cara, vocês são tão lindos...

            – Tá! Vamos focar aqui, galera. Lily, James, beijo... – Alice interrompeu gesticulando impacientemente.

            – Focar no quê? Não aconteceu nada demais.

            Então foi quando as cenas da loira na entrada do apartamento de James que me fizeram desmentir o que havia acabado de dizer.

            – Minto! – Coloquei a mão sobre minha boca semiaberta.

            – Eu estou falando... Essa menina transou com o James, certeza! – Tonks se precipitou em falar e eu lancei-lhe uma almofada na cara dela. Ridícula.

            – Cale a boca! Eu não fiz nada disso! – defendi-me sentindo meu rosto pegar fogo.

            – Olhe aqui, não vem jogando essas coisas em cima de mim que quem se amarra numas almofadinhas aqui é a Holly – Tonks riu do próprio trocadilho.

            – Engraçadinha – disse revirando os olhos. – Bem, o que eu ia dizendo era que aquela maluca da Vanderwall apareceu no apartamento hoje cedo, ou melhor, agora há pouco, falando que estava esperando um filho dele. Eu fiquei tipo... – imitei uma cara de “Ok-né”.

            Um silêncio perturbador se instalou no ambiente, minhas amigas estavam tão passadas quanto eu. Afinal, quem não ficaria com uma bomba dessas, não é?

            – A velha engravidou do Jay? Nossa, essa foi uma facada nas costas – Holly sibilou.

            – Pois é, e eu não tive outra escolha a não ser sair voada daquele lugar antes que eu acabasse pegando a loucura daquela mulher – suspirei passando as mãos pelo meu rosto. 

            Conversamos por sei lá quantas horas sobre as prováveis teorias para essa pirada aparecer com suas maluquices de uma hora para outra, entre elas se destacaram:

            Teoria 1: Aquela mulher tinha feito uma rapidinha com um garoto de programa qualquer, que com certeza não assumiria o filho, então ela teve de apelar para o ex;

            Teoria 2: Ela era louca e não estava falando coisa com coisa;

            Teoria 3: Ela teria comprado alguns exames falsificados do mercado negro da Travessa do Tranco para convencer a todos de que ela estava realmente prenha;

            Teoria 4: Ela não estava grávida bosta nenhuma.

            Todas pareciam realmente plausíveis, mas a dúvida nos consumia por dentro e seria muito provável que virássemos não três, mas as quatro espiãs demais só pra descobrir que diabos estava havendo.

            Comemos um belo de um miojo no almoço, por simples desejo de saborear, já que Alice sabia cozinhar muito bem – típico de quem está prontíssima para casar – e podia fazer uma macarronada maravilhosa para comer e vender.

            Depois do almoço, fui para o quarto de Alice descansar um pouco, enquanto as meninas se encarregavam de lavar a louça. Deitei-me em sua cama e fiquei a observar toda a vastidão da decoração daquele cômodo. Fazia décadas que eu não visitava Alice, era sempre ela e as meninas que iam lá em casa. Com essa correria toda do hospital eu estava deixando que as coisas saíssem do meu controle, estava concentrada demais na minha carreira e cheguei ao ponto de até me privar de visitar minhas melhores amigas. Isso precisa mudar.

            Minha mente borbulhava de tantos pensamentos simultâneos, todos pela mesma coisa. Avistei um bloco de folhas de sulfite em cima da escrivaninha e fui até lá. Peguei uma caneta engraçadinha que tinha uma pluma na ponta e suspirei. Depois de alguns breves segundos analisando o pedaço de papel, comecei a escrever:

 

 

Querido pedaço de folha de sulfite,

        Os fatos dizem: “Lilian Evans odeia James Potter.” Ponto. Acredito que sempre pensei desta maneira, afinal, o garoto era uma desgraça para a humanidade. Foram necessários somente mais alguns anos para que eu notasse um Potter totalmente diferente; quer dizer, ele pode não ter mudado tanto assim, trata-se do meu senso de percepção.

        As coisas estavam indo perfeitamente bem na minha vida, foi só ele aparecer que as desgraças começaram. E se eu o culpo? Certamente que sim. Ele não tem o menor direito de chegar na minha vida na hora que bem entender e fazer o que lhe der na telha, até porque fora eu quem o tinha ordenado que nunca mais cruzasse o meu caminho de novo (naquela noite do baile de formatura do colegial).

        Entretanto, existem acontecimentos na vida que são simplesmente inevitáveis, tais como o meu eu totalmente endoidecida cedendo ao babaca do Potter. Com certeza era a influência do stress proveniente do trabalho, não estou passando por uma boa fase, como é de conhecimento de muitos. Perder as chances de assistir à cirurgias definitivamente não eram um dos meus melhores momentos.

        Ainda não consigo entender o que deu em mim. Eu estava simplesmente começando a ter conversas civilizadas com ele, isso não é um bom sinal. Todas as vezes que estou começando a encontrar o meu rumo de volta a estrada que leva à felicidade chega esse cretino para causar algum efeito colateral.

(Riscando essa parte porque está exalando drama e eu não sou essa pessoa. Pelo menos eu acho que não)

        Bem, minhas amigas estão me chamando para começar a maratonar séries, caso eu esteja prestes a morrer nas profundezas da minha bad, eu voltarei a dar uma passadinha aqui. Você é até que útil. Obrigada por ser uma folha de papel lisa e silenciosa. Aqui me vou.

                                         Até mais ver,

                                                             Lily Evans.

                                                          

 

 

Percebi que tinha passado tempo demais ali pensando no que iria escrever e minhas amigas já tinham aberto a porta do quarto depois de me chamar umas dez vezes.

            – Que é que você tá fazendo aí? – escondi a folha embaixo das demais e fingi fazer um esboço de um cervo.

            – Desenhando... – menti de uma maneira muito convincente. – É bom para espairecer...

            – Ótimo. Chega de ficar aqui sozinha nesse quarto. Alice e Tonks estão todas molhadas na cozinha. Foi bem divertido lavar a louça – Holly terminou com um sorriso determinado.

            Todas se secaram e acabaram destruídas em cima da cama de Alice.

            – Gente, precisamos planejar logo os preparativos para o casamento da Alice! – disse quando já havia devaneado demais pra um dia só.

            – Verdade! Holly pulou da cama e pôs-se de pé quase levando todas nós ao chão ao mesmo tempo.

            – Já tenho uma coreografia maravilhosa pra abertura da balada – Tonks sorriu convencida tirando o celular do bolso mostrando a música e alguns passos realmente impressionantes.

            – Adorei, meninas! Ah, eu estou tão ansiosa com tudo isso, vocês não fazem ideia! – Alice respirou fundo e abriu um sorriso abobalhado.

            – Já quero aprender agora, Dorinha! – Holly falou juntando-se a Tonks enquanto começavam a dançar e sincronia, ou melhor dizendo, nem em tanta sincronia assim, já que a garota não estava nem perto de estar dançando.

            Virei-me para Alice e fiz um sinal em função de fazer com que pegasse o notebook em cima da penteadeira para que pudéssemos pesquisar alguns temas e vestidos para o dia da festa. Quanto antes decidirmos os preparativos, melhor.

            Comecei procurando lugares em que pudéssemos alugar os vestidos, não só da noiva, mas também os trajes das madrinhas. A cor que Alice queria não era definida, então se achássemos um modelo bonito, a cor poderia ser escolhida na hora.

            Depois de alguns minutos de pesquisa, decidimos que iríamos na Madame Malkin, que era uma loja de trajes aparentemente muito boas. Se conseguíssemos subornar um desconto com o funcionário dali, poderíamos dizer aos rapazes que alugassem os trajes de padrinho no mesmo local, obviamente depois de escolhermos a cor dos vestidos, já que a gravata dos garotos combinariam com os nossos vestidos.

            – Vamos essa semana mesmo, o que acham? – Alice perguntou animada e eu suspirei.

            – Só se vocês forem primeiro sem mim. Tenho que trabalhar a semana inteira. Ainda estou louca por aquela cirurgia – falei com uma mistura de animação e aflição.

            – Ah, verdade. Tinha esquecido! Eu tenho prova de administração sexta-feira, galera. Só tenho mais quatro dias para estudar. Tem que dar certo, caso contrário, o meu destino será vender miçanga no Beco Diagonal, simplesmente – Holly comentou com tanta sinceridade que me fez cair na risada no mesmo minuto. Holly e suas gírias, acho que é proveniente mais uma vez da sua convivência com o maluco do Sirius.

            – Podemos ir no sábado agora, já que eu provavelmente não vou trabalhar no fim de semana – falei rapidamente e esperei pela resposta delas.

            – Por mim tá ótimo – Holly falou sorrindo. Alice e Tonks concordaram.

            – Beleza então – sorri para elas e suspirei pensativa.

            – Caraca! Já são dez e meia! Hora de pedir aquela pizza maravilhosa. Procede, meninas? – Tonks perguntou.

            – Procede! – dissemos em uníssono.

            O remorso bateu na mesma hora. Tínhamos comido pizza na noite passada, mas o meu vício era maior e eu com certeza não superaria se minhas amigas comessem pizza na minha frente e eu ficasse só olhando.

            Alice se precipitou para a saída, quando Tonks a chamou.

            – Vou com você, Alice. Quero comprar mais mil e uma besteiras pra gente se esbaldar – ela soltou uma risadinha que soou como um “hehe” e se levantou para calçar um tênis.

            – Pra mim parece ótimo – respondi sorridente e me ajeitei na cama abraçando a coruja de pelúcia de Alice, que à propósito, se trata do seu animal predileto.

            Assim que Ali e Dora saíram, Holly e eu corremos para a sala, onde iríamos adiantando as séries que assistiríamos, provavelmente seria American Horror Story, já que nenhuma de nós havia assistido e também, Tonks havia me desafiado a assistir alguma coisa do gênero terror. Portanto, desafio aceito. Vou estar com todo mundo mesmo, então qualquer coisa já abraço uma.

            Joguei-me no sofá com Holly ao mesmo tempo, o que fez o móvel ranger.

            – Vai, quebra o sofá mesmo, sua louca – minha amiga se pronunciou e eu abri a minha boca num perfeito “o”. Mas que safada.

            — Fica bem de boa aí que você caiu junto comigo! – defendi-me.

            – Você com as suas banhas me influenciando – revirei os olhos e joguei na cara dela.

            – Ridícula.

            Foi aí que a guerra de almofadas começou, que somente cessou quando o celular de Holly tocou. Parei ofegante com a brincadeira e me deitei no chão recuperando o fôlego, enquanto minha amiga atendia a ligação. Nada.

            – Ué... – ela olhou rapidamente para a tela que agora se encontrava no registro de chamadas realizadas – Sirius me ligou e quando eu fui atender ele desligou, qual é? – ela bufou e retornou a chamada impaciente. – Sirius! Ah, você me ligou?

            Direcionei-me para o quarto de Alice e corri para a escrivaninha. Tinha de me livrar daquele pequeno pedaço de papel em que tinha escrito mais cedo. Rasguei tudo e joguei no cesto de lixo. Quando acabara de terminar o feito, Holly apontou na porta do quarto.

            – Lily...

            – Ah, eu estava só...-

            – Lily... James estava no celular, parece urgente. Vamos para o hospital agora, ele disse que precisa de você lá.

            Franzi o cenho. O que Potter queria comigo no hospital a uma hora dessas? Que ótimo.

            – Certo, vamos.

[Uma hora depois...]

            Já havia examinado o garoto, ele estava fraco. Passara toda a sua estadia até agora desacordado, sua anemia tinha chegado ao ápice. Certamente o garoto estava se alimentando mal e continuava a praticar esportes mesmo assim. Segundo a sua ficha médica, ele passou mal durante uma partida de basquete.

            A bateria de exames já tinham sido feitas, o que incluía tomografias e ressonâncias para confirmar o estado do garoto. Na espera dos laudos, me dirigi ao leito da maca do garoto pálido. Sentei-me ali e passei a mão pelos seus cabelos, eu amava crianças e por isso que eu havia escolhido aquela profissão, justamente para permitir que elas não fiquem doentes, afinal, elas tem um enorme e brilhante futuro pela frente.

            As carícias pareciam o fator principal para o despertar de Harry, ele ainda estava desorientado por conta dos medicamentos em que lhe foram injetados. Respirei fundo e sorri de maneira singela para o garoto, que por mais que quisesse não conseguiu sorrir.

            – Oi, Harry. Lembra de mim? Sou a Lily.

            – Onde eu estou? O que está acontecendo? – ele perguntou assustado.

            – Hey, está tudo bem... – passei a mão pelo rosto dele delicadamente. – Foi só um susto. Você estava jogando basquete com os seus amigos e acabou passando mal, agora você está no hospital e eu vou cuidar para que fique bem novamente – sorri mais uma vez.

            – Onde está minha mamãe? – ele disse com um tom choroso na voz e eu senti um pequeno aperto no coração quando ele o fez.

            – Ela já está vindo, ok? Vai ficar tudo bem... O que acha de conversar comigo enquanto ela não chega? – falei tentando alegrá-lo e ele concordou com a cabeça. – Ok, então. Você pode me dizer o que você lembra do             que aconteceu mais cedo?

            – Bem... – ele levou o dedo indicador até o queixo, pensativo – Eu e meus amigos estávamos jogando uma partida de basquete na quadra aqui perto, nós tínhamos combinado de ir embora com o meu amigo Wesley, já que nós combinamos de não dizer nada a minha mãe, mas eu juro que eu me arrependo.

            – Como assim você não queria contar para sua mãe?

            – Ela tinha me proibido de jogar, e basquete é a minha vida, ela não tem o direito de tirar isso de mim. Então menti para ela dizendo que iria na casa de um dos meus amigos para estudar matemática – ele abaixou a cabeça, abatido.

            – Entendi, mas a sua mãe com certeza teve razão de te proibir, pelo menos no momento. Ela veio aqui naquele dia e você estava com carência de algumas vitaminas, e fazer exercícios em excesso com a falta de nutrição que você estava, ou melhor, ainda está, não faria bem de forma alguma – expliquei para o garoto.

            Passamos alguns momentos conversando e Harry me contou até os mínimos detalhes, dei muitas risadas. Ele tinha me dito a razão para cada apelido dos Marotos, coisa que eu sempre andei querendo descobrir na minha vida inteira, agora foi declarada por um garotinho, o mais dócil que já conheci, por sinal.

            Crianças são os seres mais inocentes que já existiram, sempre arrumam um jeito de sorrir, um motivo para se alegrarem e se orgulharem de ser o que são. Mal sabem elas a gravidade de um problema quando ele aparece, e o de Harry tinha chegado quando ele menos esperava.

            A enfermeira da ala pediátrica, Zoe, tinha acabado de deixar um envelope na porta do quarto, em que Harry estava hospedado, com o resultado da bateria de exames que eu havia solicitado. Conversamos tanto que Harry acabou se cansando e caindo no sono. Levantei-me apressada e ao folhear os laudos a infelicidade foi tamanha que eu tive vontade de sumir do mundo naquele momento mesmo.

            No laudo constava uma leucemia estágio IV, em que a medula óssea já estava lotada de leucócitos malignos, e fora essa leucemia que causara a anemia, o exame de sangue tinha vindo com uma alteração, porque realmente não condizia com o diagnóstico que eu tinha previsto. Coloquei a mão na cabeça e me pus a observar o garotinho em pleno sono, meu peito mal cabia de tanta dor. Por que acontecer uma coisa dessas com um garoto dessa idade, meu Deus? Isso é injusto, muito injusto.

            Sentei-me na poltrona ao lado da cama do garoto e revisei os laudos mais uma vez para ver se realmente era o que eu tinha visto, e não tive outra saída, era realmente a bomba inesperada. Na hora que meus olhos começaram a lacrimejar, a mãe de Harry chegara no quarto às pressas, e a minha mente imediatamente bloqueou os acessos lacrimais, onde meu olho nem ao mesmo ardia. Eu tinha a obrigação de me manter forte e impassível para que eu pudesse dar a terrível notícia a uma mãe que seu filho tinha adquirido leucemia em estágio IV e que só tinha alguns meses de vida.

            – Ah meu Deus, o meu filho! Eu mal posso acreditar numa coisa dessas! – a mulher se sentou na beirada da cama e abraçou o filho imerso no seu sono profundo – Nunca mais faça uma coisa dessas com a mamãe, ouviu? – ela afagou os cabelos da criança e logo depois se voltou para mim. – Doutora, qual é o estado do meu filho?

            Fiquei encarando a morena sem conseguir dizer uma mísera palavra. Eu tinha de dizer...

            – Doutora? – a mãe já assumiu um tom mais desconcertado na sua voz.

            – Sra. Lancaster... – umedeci meus beiços antes de prosseguir, o que pareceu assustar ainda mais a mulher – Aconteceram algumas alterações nos exames de sangue e a anemia que estava no laudo anterior era somente um sintoma extra – comecei passando a notícia com a maior calma possível.

            – O que você quer dizer com sintoma extra? – ela arregalou os olhos que marejaram na hora. Suspirei.

            – O Harry tem desenvolvido uma patologia há algum tempo e a anemia foi a consequência disso. A quantidade de leucócitos aumentou rapidamente na região da medula óssea e agora está impedindo a produção de glóbulos vermelhos saudáveis para o organismo dele – a mulher nem terminara de escutar o que eu disse e já começara a chorar.

            – V-você está me dizendo que o meu filho está...com...câncer? – seu olhar implorou para que o que eu tivesse dito não passasse de uma loucura da minha cabeça, mas tudo o que eu fiz foi assentir com a cabeça. – Qual é...o...e-estágio? – gaguejou.

            – Quatro. Eu sinto mui-

            – ESTÁGIO QUATRO? – ela explodiu. – Você fez o exame de sangue naquele dia e disse que era uma porcaria de anemia! Como me diz agora que meu filho desenvolveu um câncer de estágio quatro?!

            – A leucemia tem se desenvolvido há algum tempo, Sra. Lancaster. A anemia...

            – Eu não quero saber! Você errou no diagnóstico do meu Harry! Como você pôde? – ela me empurrou para o lado de fora da sala e eu não fiz nada para impedi-la.

            Depois disso, a mulher passou a cuspir palavras na minha cara e eu não tive o menor resquício de reação. Só sei que levei um tapa na cara e um segurança aparecera mais tarde para retirá-la dali, juntamente com Potter, na qual eu não tinha a menor ideia do que tinha vindo fazer nessa área, que é restrita para funcionários e familiares de pacientes no horário de visitas ou em caso de urgência.

            As cenas passaram como flashes na minha mente e eu não consegui nem ao menos perceber o que é que estava acontecendo ao meu redor. A doutora Ariana tinha parado em minha frente e colocara a mão sobre o meu ombro esquerdo, ela me olhava.

            – Lily? Você está me ouvindo? – voltei à realidade.

            – Hm? O que disse?

            – Você está passando bem? – ela perguntou preocupada.

            – Estou ótima, Dra.Ariana, obrigada. Agora se me der licença, eu preciso me retirar para resolver uns assuntos – encaminhei ao vestiário.

            Tinha passado o resto da semana infurnada no meu quarto. O que Potter tinha feito comigo na noite em que eu descobri sobre o meu paciente não saía mais da minha cabeça, quer dizer, enquanto eu não pensava sobre o real acontecido eu pensava nisso. Diversas pessoas já tinham tentado me ligar, inclusive até o próprio Potter tinha tocado a minha campainha diversas vezes na semana e eu não tinha lhe dado nenhuma satisfação. Nem mesmo minhas próprias amigas tinham passado da porta do meu quarto para dentro. Eu estava definitivamente isolada do mundo.

            Meu celular estava vibrando a cada cinco minutos com o WhatsApp sendo bombardeado de mensagens que nunca seriam lidas. Até que hoje as coisas ficaram diferentes. Eu estava no chão da sala encostada na porta de entrada com o rosto entre os joelhos, e uma voz familiar soou do outro lado da madeira, juntamente com algumas batidas insistentes.

            – Lily? – era a voz da minha mãe, não consegui dizer nada. – Lily, querida. Sei que está aí. Será que você pode abrir a porta? Vamos só conversar.

            – Não quero conversar... – disse com uma voz de morta.

            – Então só abra a porta, filha – dessa vez era papai, eu ergui a cabeça na mesma hora.

            – P-pai? – minha voz falhou.

            – Sou eu, minha filha. Eu estou aqui, não precisa de-

            Nem esperei ele terminar de falar para me levantar e abrir a porta. A primeira coisa que fiz foi pular nos braços do meu pai da mesma forma que eu fazia quando era só uma garotinha e simplesmente desabei. Abraçada com o meu pai, fiquei por muito tempo. Só depois do que pareceram horas, foi que eu parei de chorar ofegante, olhei ao redor, sequei as minhas lágrimas com a manga da minha blusa e funguei.

            Foi então que reparei que não estavam somente mamãe e papai ali, mas todos. Depois de me abraçar com minha mãe, Petúnia se adiantou um pouco receosa e abraçou também. Assim aconteceu com o resto dos presentes, desde minha família e amigas, até os Marotos que estavam todos presentes. Era tão bom saber que eles se preocupavam comigo, até mesmo Petúnia, a desgraça da família, tinha deixado seu orgulho de lado e viera para me dar um abraço de consolo, eu estava me sentindo definitivamente melhor.

            Ninguém tinha dito uma palavra sequer desde a hora que eu estava atrás da porta, e embora eu tivesse chorado como um bebê nos braços do meu pai na frente de todo mundo, eu não me sentia nenhum pouco envergonhada, minha fraqueza era explícita e já era de se esperar que alguma hora eu fosse desabar nos braços da pessoa que eu mais amava no mundo, o meu pai.

            Todos agora formavam um círculo no andar, e me encaravam como se esperassem por um discurso. Suspirei sentindo meus olhos inchados afundarem cada vez no meu rosto.

            – Olhem, eu estou muito feliz que tenham vindo me visitar. Eu passei a semana toda me privando de falar com qualquer um de vocês por precisar ficar sozinha, agora vejo que é uma besteira enorme, já que vocês só servem para me fazer sentir melhor. Peço desculpas por ter preocupado tanto vocês, principalmente você, pai. Não achei que fosse preocupá-lo tanto a ponto de lhe tirar do seu trabalho só para vir consolar a sua filha chorona – abri um sorriso triste.

            – Olha aí o sorriso dela... – Holly abriu um sorriso de orelha a orelha e eu o sustentei.

Minha família e amigos foram entrando aos poucos, Potter foi o último a passar por mim, ele estava com uma cara de quem queria conversar, mas eu não tinha absolutamente nada para conversar naquele momento com ele, só queria entrar e passar o máximo de tempo possível com aquelas pessoas maravilhosas.

— Lily, eu... – ele começou, mas eu o impedi de prosseguir.

— Desculpe, Potter, mas ou você entra e fica calado ou eu te deixo do lado de fora – disse rapidamente passando um tom mais frio do que eu esperava.

Ele suspirou se dando por vencido e atravessou a porta em silêncio. Já rolava um diálogo bacana com os presentes, todos sentados nos sofás da pequena sala de estar do meu apartamento – juro que nunca tinha visto minha casa tão cheia assim – que se resumiam em Alice, Frank e meus pais, que queriam saber detalhes do que seria do casamento.

— Marcamos para fevereiro do ano que vem, já que já estamos em dezembro e o natal está pertinho... – Alice disse segurando a mão de Frank trocando sorrisos.

— Ah, que ótimo. Lily me contou brevemente por mensagem que ia ser madrinha do seu casamento, fico tão feliz por isso... – minha mãe sorriu radiante olhando para mim e eu me acomodei entre ela e meu pai, estava morrendo de saudade dos dois (de Petúnia também, mas né).

— Ótima é a novidade que o papai tem pra te contar – Petúnia se manifestou revirando os olhos, tinha demorado pra começar com a frescura.

— Que novidade? – perguntei franzindo o cenho.

            Ele e minha mãe trocaram um olhar e sorriram em minha direção.

            – Consegui uma folga para passar o natal e o ano novo aqui em Londres com você – abri um sorriso largo e o abracei forte.

            – Não acredito! – comecei a rir de tanta alegria. Acho que fora a primeira vez que eu rira em dias.

            – Pode acreditar – minha irmã bufou.

            – Não seja tão ridícula, Petúnia. Se fosse pra ficar com cara feia nem era pra ter vindo – falei a encarando com impaciência.

            Conversamos bastante e mamãe, Remus e Tonks se juntaram para fazer o almoço. Holly, Alice e eu nos encarregamos de arrumar a mesa, enquanto papai distraía os garotos com um bom e velho papo do basquete.

            – Mas vocês sabem que o O’Chantrey nem estava com essa bola toda no começo dessa temporada, não sabem? – escutei falar da sala.

            – Como assim ele não estava com toda essa bola? O cara é genial! – Frank comentava. Alice revirou os olhos.

            – Pronto. É só achar alguém que entenda do assunto que ele vai longe no papo – ela falou se referindo a conversa que também ouvia da sala.

            – Garotos, fazer o quê, né? – Tonks disse para provocar Remus, que era o único que não se interessava demais nesses assuntos, ou melhor, preferia suas coisas geeks e a culinária a discussões sobre jogadores de basquete.

            – Hey, engraçadinha, morri de rir – Remus disse enquanto mexia o conteúdo de uma panela, que por obséquio cheirava muito bem, era o macarrão com queijo da mamãe.

            – Coitada da Petúnia, deve estar prestes a morrer socada no meio deles – Holly disse quando separava os talheres ao lado de cada prato.

            – Que nada – disse depois de dar uma espiada na sala – ela só fica naquele celular o tempo todo. Deve estar conversando com o Vernon – revirei os olhos só de pensar.

            – E está mesmo – mamãe acrescentou. – Ela passa a maior parte do tempo dentro do quarto mexendo nesse celular, quando não está usando o notebook para fazer vídeo conferências com o rapaz.

            Como já era de se esperar, Petúnia agindo como uma pessoa imatura até quando estava em público. Nada a declarar sobre isso. Só sabia que ela e Vernon estavam próximos, pelo que mamãe tinha dito eles pareciam estar namorando firme. Pelo menos ela tinha vindo me abraçar.

            – Aquele garoto é um pesadelo – disse erguendo minhas sobrancelhas enquanto distribuía guardanapos em todos os assentos.

            – Quem, eu? – Sirius apareceu na porta da cozinha, fazendo Holly sorrir.

            – Você não, bobinh-

            Holly começou, mas a interrompi.

            – Você também serve – disse debochada e ele rolou os olhos. Adorava fazer raiva a Sirius, até porque ele é quem fazia isso comigo o tempo todo.

            Logo depois, todos os Marotos e Frank tinham chegado na cozinha, aliás, o cheiro da comida estava realmente divino, incendiava o apartamento que causava até água na boca. Era uma mistura de aromas de macarrão com queijo, coxas de frango e batatas fritas, estas últimas feitas por Tonks, já que era a única coisa que ela sabia fazer.

            – Podem ir se sentando – minha mãe falou como se a casa fosse dela, eu gostava disso, pois só me fazia eu me sentir cada vez mais à vontade e em casa — só faltam as coxas terminarem de dourar e o almoço já vai ser servido.

            Assim foi feito e mais uma vez James queria arrumar uma maneira de se sentar ao meu lado, na qual eu fiz questão de recusar, é claro. Os marotos sentaram lado a lado e meus pais, Petúnia e Frank se ajeitaram na mesa de oito lugares, eu e minhas amigas nos contentamos de sentar ao balcão da cozinha americana. Servimos-nos alguns minutos depois e conversamos mais algumas coisas sobre o casamento e sobre o natal que a propósito estava mais perto do que qualquer coisa.

            Passamos o dia tendo conversas saudáveis na sala de estar e eu até toquei violoncelo à pedido de todos. Toquei diversas músicas, os Marotos até foram ao apartamento de James buscar alguns instrumentos para acompanhamento, já que cada um conseguia tocar um instrumento diferente. Remus ficou a um canto filmando tudo de maneira discreta. Toquei um solo da abertura de Stranger Things, que era a série mais amável de suspense que eu já tinha assistido na vida e depois os Marotos me acompanharam na playlist quase inteira de Coldplay, que não era só minha banda preferida, mas a de Potter também.

            No final, as meninas começaram a solicitar as músicas, o que só tornou tudo mais emocionante, já que eu teria de arriscar as notas para conseguir tocar a música em si. Por fim acabamos tocando algumas do Justin Bieber, da Rihanna e Beyoncé, por causa das meninas e outras do Beatles e Elvis a pedido de meus pais.

            Ao fim do dia, minha família anunciou que passaria a noite em um hotel que papai tinha reservado um dia antes e que no dia seguinte eles apareceriam com as malas e a animação do espírito natalino, já que faltava apenas duas semanas para o evento. Despedi-me deles e agradeci a companhia, eu realmente não esperava me sentir tão melhor no meio de tantas desgraças.

            Potter no fim das contas não fez muita cerimônia e foi embora sem insistir, o que eu agradeci internamento pelo feito. Não tinha a menor intenção de puxar conversa sobre ocorrido tão cedo.

            O assunto do hospital finalmente foi citado e eu tive de narrar tudo o que aconteceu, até que quando tive vontade de chorar a conversa chegou no Potter, mais uma vez.

            – Vocês se beijaram de novo? Eu não estou conseguindo lidar com isso aqui... – Holly falou rapidamente e eu suspirei revirando os olhos.

            – Eu não posso ficar com ele, vocês sabem disso. Ele engravidou outra mulher e além disso, ele é o Potter e eu ainda o odeio – disse como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.

            – Que não pode ficar com ele o quê, menina. Claro que pode, e vai – Tonks comentou.

            – Verdade, e é por isso que ele vai ser o seu par na minha festa de casamento. Tonks vai com o Remus, Holly com Sirius, você com o James e Mary vai com o Peter – Alice comentou e eu bufei.

            – Só aceito isso porque é o seu casamento e é você quem decide as coisas aqui – dei de ombros e lembrei-me do combinado na semana passada. – Eu... queria pedir desculpas pra vocês.

            – Pelo quê? – Holly perguntou franzindo o cenho.

            – Nem pude ir com vocês na Madame Malkin ver as roupas. E também fiquei de frescura que nem perguntei como foi a sua prova, Holly – suspirei me sentindo desapontada comigo mesma.

            – Não ficou de frescura nada, Lily. Você não está numa boa fase, nós entendemos. E a propósito, a minha prova nem foi muito boa, o resultado sai... – ela olhou no relógio do celular – daqui cinco minutos.

            – O quê?! Então o que é que você está esperando pra acessar o site do resultado agora mesmo? – falei impaciente e peguei o celular da mão dela, desenhando o padrão e acessando a internet.

            Entrei na Home Page do site e ficamos esperando alguns minutos, até que o resultado finalmente saiu.

            – Saiu! – gritei eufórica e entreguei o aparelho na mão de Holly. – Nada mais justo do que você mesma conferir a sua nota. 

            Hall deslizou o dedo pela tela com uma cara de desânimo, ela provavelmente achava que tinha ido mal.

            – Vamos ver, vamos ver... – ela falava baixinho enquanto procurava por... – Achei! – ela colocou a mão sobre a boca. – Eu passei! Em último lugar, mas passei. Meu Deus, eu não estou acreditando nisso! – ela jogou o celular com tudo em cima da cama e todas nós a abraçamos, animadas.

            – Parabéns, Holly! – Tonks exclamou e nós fizemos o mesmo.

            Decidimos fazer biscoitos para comemorar, enquanto ela ligava para Sirius para contar a notícia.

            – Você não vai acreditar, Six! Eu passei! — ela conversava eufórica com o namorado (ele ainda não tinha feito o pedido oficial) – Pois é! Demais, não é? As meninas até estão fazendo alguns biscoitos aqui – ela falava da sala.

            Sorri.

            Os biscoitos demoraram um tempinho para ficar prontos, e nesse meio tempo aproveitamos para limpar a bagunça que era a cozinha depois de terminarmos de preparar a massa. Passaram-se meia hora e o forno apitou, Tonks fora tão apressada, que se queimou ao tocar no eletrodoméstico, já que esquecera de vestir as luvas apropriadas.

            – Ai!— ela sacudiu a mão direita e deu um soco na madeira do balcão da pia, descontando a sua raiva e eu fui até ela.

            – Com essa pressa também né, Tonks? – bufei e dei uma olhada na queimadura. Não fora muito feia, embora a garota não tivesse os melhores reflexos do mundo.

            Encaminhei-me ao armário e peguei um kit de primeiros socorros, apenas umedeci a área e deixei enfaixado o dedo dela. Alice já tinha se encarregado de retirar a forma de biscoitos e os colocado em cima do balcão para esfriar.

            – Ai Lils, o que seria de mim se você não fosse uma médica? – Tonks me abraçou e eu suspirei, me lembrando que eu era uma das piores médicas da face da Terra – Ok, me desculpe, não devia ter te lembrado sobre isso... – ela percebeu a minha apreensão, mas fiz pouco caso.

            – Não, tudo bem. Eu ajudo no que posso – falei e peguei dois biscoitos, começando a comê-los.

            Fomos até a sala e colocamos American Horror Story para assistir, já que já tinha terminado Once Upon A Time, essa seria a próxima série que eu acompanharia, parecia dar um medo danado e isso me deixava receosa. Por fim, ignorando as cenas eróticas presentes em todo santo episódio, assistimos uns seis episódios e acabamos dormindo.

            No dia seguinte, fui acordada pelo som da campainha, acabei caindo do sofá, fazendo as demais garotas gemerem. Arrumei minha cabeleira e fui de encontro à porta. Abri a porta tirando as remelas do olho e vi que era papai e mamãe, sorri abertamente.

            – Acordamos você? – papai perguntou e eu sorri sem graça.

            – Na verdade, vocês acordaram não só a mim, mas também as minhas amigas – falei amarrando meu cabelo em um rabo de cavalo alto, sorrindo para o montinho formado por minhas amigas no sofá da sala.

            – Que ótimo, porque só assim poderemos montar a árvore de natal todos juntos – minha mãe disse e eu voei até minhas amigas.

            – Vocês ouviram, meninas? Vamos montar a árvore de natal, juntas! – sacudi Tonks e ela gemeu.

            – Bom dia, Sr e Sra Evans! – elas disseram baixo em uníssono e se remexeram de um lado para o outro lado. Revirei os olhos e fui até o lado de fora ajudar papai a carregar as coisas.

            Depois de trazer duas malas grandes e uma caixa de papelão, fechei a porta e puxei meus pais para o meu quarto.

            – Vocês podem ficar aqui, eu durmo no sofá – sorri enfiando minhas mão nos bolsos dianteiros da minha calça de moletom.

            – Não precisa se incomodar, querida. Nós podemos... – papai começou, entretanto eu não deixei ele continuar.

            – Não é incômodo algum, pai. O senhor e a mamãe só vêm aqui de vez em quando, é mais do que necessário que tenham uma cama de casal para passar a noite – falei sem mais rodeios.

            – Tudo bem, então – papai sorriu e eu fiz o mesmo instantaneamente.

            – Petúnia não quis vir? – perguntei coçando a cabeça.

            – Nós insistimos para ela vir conosco, mas ela quis ficar dormindo. Talvez mais tarde ela apareça por aí.

            “Ou não”, pensei.

            – Entendi.

            – Liiiiiily – uma voz manhosa me chamou do sofá e eu revirei os olhos rindo.

            – Fiquem à vontade. Eu vou dar um jeito naquelas folgadas – sorri e fechei a porta, deixando meus pais a sós.

            Retornei à sala e vi que Tonks e chutava delicadamente a cada de Holly e Alice tinha conseguido se levantar e já estava preparando o café da manhã.

            – Tira a Holly daqui, não consigo esticar as minhas pernas... – Tonks disse ainda de olhos fechados e eu arregalei os meus, incrédula diante a situação.

            – Vocês duas, tratem de se levantar. Os pais de Lily chegaram, não queremos passar uma má impressão... – Alice disse da cozinha e elas se levantaram de um pulo.

            – Os pais de Lily estão aqui? – elas perguntaram e eu dei um leve tapa na minha própria face, não é possível tanta lerdeza pra duas pessoas só.

            – Claro que estão aqui, vocês até lhes desejaram “bom dia” – falei com a maior paciência do mundo.

            – Céus, eu estou ficando maluca, não me lembro. Vou tomar um banho... – Tonks se precipitou, mas Holly saiu correndo para chegar na porta do banheiro antes.

            – Nada a ver, eu que vou primeiro! – ela correu e acabou se esfacelando no chão.

            Comecei a rir alto, o que assustou o casal dentro do meu quarto, fazendo-os aparecer no lado de fora.

            – Mas o quê...? – minha mãe começou e viu Holly caída no chão com a mão no rosto, provavelmente morrendo envergonhada.

            – Nada. Só estou indo tomar um banho para o café da manhã – Tonks disse e passou por cima do corpo de minha amiga, que mais parecia uma doninha, já que mais queria entrar para dentro da madeira do piso, só para não ter de vivenciar aquele momento. – Aliás, bom dia – ela sorriu e entrou no banheiro, trancando a porta.

                Ajudei Holly a se levantar e ela meio desajeitada coçou a nuca sem saber como reagir na frente de meus pais.

            – Sr e Sra Evans... – ela travou. – Er... Bom dia! Hoje está um dia lindo, não? – ela sorriu apontando para a varanda, que deixava a luz fraca do sol de inverno entrasse.

            – Certamente que está – papai riu e todos foram no embalo.

            Depois de todos estarmos banhados e alimentados pelo café da manhã, decidimos começar a montar a árvore de natal. Mamãe tinha providenciado até os enfeites para colocar nas portas e paredes do meu pequeno apartamento. Estava prevendo que esse seria o melhor natal de todos os tempos.

            – Como que abre isso aqui? – Holly tentava inutilmente abrir a enorme caixa de papelão vedada com fita adesiva.

            – Assim – mamãe deslizou o estilete por entre as extremidades, tirando o lacre da fita e abrindo, assim, a caixa com a maior facilidade do mundo.

            – Ah... Claro – Holly sorriu sem jeito e me lançou um olhar de “estou-agindo-como-uma-completa-idiota-,-socorrinho”

            Ri da atrapalhada de minha amiga e terminei de guardar a louça do café da manhã, me surpreendendo ao ouvir a campainha tocar. “Deve ser Petúnia”, pensei.

            Caminhei até a porta e a abri, dando de cara com nada mais, nada menos do que James Potter. Franzi o cenho.

            – Pot-

            – James! Oh, James, querido. É um prazer saber que realmente veio – minha mãe apareceu ao pé da porta e eu a olhei com uma cara de “o-que-pensa-que-está-fazendo?”. — Lily, seu pai e eu convidamos James para decorarmos o apartamento hoje, se você não se incomodar, é claro.

            – Certamente que não incomoda – disse fuzilando o rapaz com o olhar, que entrou sorrindo malicioso no apartamento cumprimentando meus pais como se fossem velhos amigos.

            Não que James fosse o melhor amigo de meus pais, mas eles nutriam um carinho enorme pelo rapaz desde a época do colégio. Até porque eu nunca me aproximava de garoto nenhum, por ser nerd demais e Potter era o único que se interessava por mim, ou melhor dizendo, era o único que se permitia chegar perto de mim, já que todo e qualquer outro rapaz interessado era enxotado por total culpa dele.

            – Olá Sr. Evans – ele cumprimentou meu pai com um aperto de mão, seguido por um abraço que só velhos companheiros davam um no outro, daqueles que se termina com aqueles leves tapinhas de consideração, sabe? Então. Super forçado. – Sra. Evans... – ele cumprimentou também minha mãe, só que dessa vez, beijou a sua mão, num ato falho (ao meu ver) de cavalheirismo.

            – Ah, por favor, querido. Nos chame de John e Jessica – minha mãe disse corando as maçãs do rosto, se sentindo totalmente lisonjeada pelo ato de cavalheirismo vindo de James.

            Não sei qual é a dele, mas se quer me conquistar pelo simples processo de se dar bem com os meus pais, ele está muito, mas muito enganado.

            Holly, Alice e Tonks já estavam retirando as galhadas da árvore de natal, quando James se aproximou as cumprimentando.

            – James? Você aqui? – Holly sorriu abertamente e o recebeu num abraço apertado. Revirei os olhos – Por que não trouxe o Sirius junto? Tenho certeza de que Lily não se importaria, não é mesmo, Lily? – todos olharam para mim.

            – Ahn? – me fiz de desentendida.

            – Se James tivesse trazido Sirius você não teria se incomodado, certo? – ela repetiu a pergunta.

            – Ah... eu... mas é claro que não – respondi por receber o olhar de repreensão da minha mãe, que logo depois da minha resposta, voltou a sorrir como sempre fazia.

            – Ótimo, vou ligar para ele então – a morena disse e tirou o celular do bolso da calça, retirando-se temporariamente do cômodo para entrar em contato com o namorado.

            Aproximei-me e comecei a montar os galhos no tronco da árvore. Senti o olhar do moreno na minha nuca. Fechei meus olhos e respirei fundo tentando me concentrar na minha tarefa.

            – Tonks, será que você não pode me ajudar com as meias? – mamãe chamou da sacada.

            Papai estava encarregado de instalar as luzinhas de natal na sacada, o que dava um baita trabalho, já que demandava fazer grandes ligações para a saída de energia. Já mamãe se ocupava em espalhar decorações de natal por todo o apartamento, o que se resumia em meias e cajados de natal, não esquecendo do velhinho Noel, é claro. A tarefa de montar a árvore, então, fora deixada para Holly, Potter, Sirius e eu, que no caso só eu montava no momento.

            Não se passou muito tempo e a campainha tocou mais uma vez. Sirius chegara. Holly correu até a porta e a atendeu, abraçando o rapaz logo na hora em que a porta foi aberta.

            – Sirius! Oi! – ela sorriu abertamente e ele retribuiu o abraço, dando lhe um beijo na testa ao soltar.

            – Cheguei – ele falou entrando no apartamento. – John; Jessica – ele cumprimentou meus pais com um aceno de cabeça e se sentou ao lado de James no sofá, que ao perceber que estaria segurando vela para o casal, se levantou e começou a ajudar a minha pessoa a montar a árvore.

            Que maravilha. Sirius e Holly ficariam se pegando no sofá e eu teria que montar a árvore com Potter sozinha, isso tudo era simplesmente macumba do universo, inacreditável.

            O rapaz se aproximou e eu, me fingindo de inocente, fiz de conta que não o vi. Infelizmente, Potter não é uma pessoa na qual se satisfaz com tanta facilidade, pois ele começou:

            – Você sabe que não teria vindo se seus pais não tivessem me chamado, não sabe? – ele falou em baixo tom, para que somente eu o escutasse.

            – Não importa, você veio. Você vai simplesmente montar essa árvore idiota e vai dar o fora daqui. – Na verdade eu não achava a árvore de natal nenhum pouco idiota, mas se eu lhe passasse a impressão de raiva, talvez ele pudesse simplesmente montar e ir embora.

Evitei o seu olhar o tempo inteiro, embora o garoto não fizesse o mesmo. Tinha encaixado todos os galhos, só restava uma parte na região superior, onde eu obviamente não alcançaria. Fiquei na ponta dos pés tentando inutilmente encaixar a peça.

— Deixa que eu coloco, Lils – Potter solicitou.

— Eu consigo, Potter – disse dando uma de teimosa.

Mal sabia eu que um desastre como o que viria a seguir, estava para acontecer. No simples processo de tentar colocar o último galho, acabei pisando em alguma coisa e, como estava de meia, doeu, o que me fez tropeçar. Quando pensei que daria de cara com o chão, o idiota do Potter me segurou, seus olhos suplicantes olhando diretamente dentro dos meus. Suspirei e me ergui novamente sem dizer nada.

— Me dá isso aqui, teimosinha – ele tomou o galho da minha mão e encaixou a peça com a maior facilidade do mundo. Revirei os olhos.

— Eu disse que conseguia encaixar – murmurei emburrada.

— Ah é? Aposto que se tivesse te deixado cair de cara no chão teria sido melhor – ele disse num tom de deboche e começou a retirar alguns enfeites de dentro da caixa enorme.

— Hey, vocês dois aí. Seria maravilhoso se levantassem esses traseiros do sofá e viessem me ajudar – disse para o casalsinho sentado no sofá e joguei um enfeite (que não machuca) na cara de Sirius, queria ter feito isso há tempos.

Nos ajudar – James completou com um sorriso de canto e passou o braço por trás de mim, até pousar a mão em um de meus ombros. Bufei, cruzando os braços.

— É verdade, Six. Todos aqui estão dando duro e nós estamos aqui no sofá fazendo absolutamente nada. Vem, vamos ajudar os dois pombinhos aqui – ela puxou o rapaz de cabelos longos do sofá e sorriu maliciosa em minha direção em relação ao seu último comentário.

— Não somos pombinhos coisa nenhuma, Holly – falei empurrando a mão de Potter do meu ombro e me virei, começando a colocar alguns enfeites de baixo para cima na árvore.

Potter parecia não entender que os enfeites mais velhos ficavam na parte de baixo e os mais novos e bonitos, na parte de cima, para que todo mundo pudesse ver. Ele simplesmente espalhava as bolinhas. Rolei os olhos.

— Não é assim, Potter. Você tem que colocar os mais velhos embaixo e os mais novos mais em cima – fiz uma demonstração rápida, mas ele não parecia estar prestando atenção em nada que eu dizia. – Potter, você entendeu? – perguntei já perdendo a paciência.

— Ahn? Ah, claro. Entendi, Lils – ele saiu de seus devaneios um pouco corado (o que me fez cerrar os olhos na mesma hora. Potter corando?) e começou a fazer o que eu tinha dito, depois de sussurrar alguma coisa para Almofadinhas.

Continuei arrumando tudo, até que meus pais, Tonks e Alice (essa última não sei de onde saiu) voltaram para o cômodo em que todos nós estávamos. Faltavam agora poucos enfeites para completar a árvore, e as luzinhas, que é a melhor parte, é claro.

— Uau! A árvore está ficando ótima. Parabéns! – mamãe comentou orgulhosa e eu sorri em resposta.

— Acho que já está na hora de instalarmos o pisca-pisca, não é mesmo? – papai perguntou e todos nós assentimos animados.

Depois de rodear a árvore com uma extensão de pequenas luzinhas, papai se afastou da árvore, carregando a parte do fio onde seria encaixado na tomada.

— Prontos? – ele olhou para o grupo ansioso e depois da permissão concedida, ele ligou.

Foi uma das visões mais nostálgicas que já presenciei. Tudo naquela sala me fazia lembrar dos natais de anos atrás, quando eu ainda era uma garotinha e ia patinar com meus pais na véspera de natal, era divertido demais. Petúnia tentava dar o seu máximo, mas sempre acabava de bunda no gelo, então a partir daí ela passou a ficar do lado de fora do ringue para apenas assistir e gravar, caso eu levasse uma queda das boas. Acredito que o vídeo do acontecimento já estaria no YouTube no dia seguinte.

Depois de pronto, arrumamos a bagunça, que era a minha sala e decidimos ir almoçar fora, porque aí eu e as meninas já aproveitaríamos a oportunidade para passarmos na Madame Malkin e provarmos os vestidos, sem os meninos, obviamente.

Tínhamos o carro de Alice e o de meus pais. O de minha amiga, como era novo, foi lotado com rapidez, com a presença da mesma, seu noivo (que chegou de última hora), Holly, Sirius e Tonks. Já no carro de meus pais, sobraram quem? Exatamente, James Potter e eu. Estou dizendo que isso é implicância. Ele tinha o seu próprio carro, mas meus pais insistiram para que pegassem uma caroninha até o Três Vassouras.

O clima estava frio, e o rádio do carro afirmava que a neve chegaria em breve, o que só aperfeiçoaria cada vez mais as coisas no natal. O restaurante/bar não ficava tão longe, mas meus pais sendo eles mesmos, não conseguiam deixar o clima silencioso – pelo menos não quando eles estão com um convidado especial presente.

Encostei minha cabeça no vidro da porta de trás e tentei não sentir a presença do rapaz ao meu lado.

— Então, James. Você está trabalhando? – minha mãe perguntou interessada do banco da frente e eu tentei me focar no locutor da rádio.

— Até umas semanas atrás eu estava trabalhando como modelo para a revista Men, mas aí aconteceram uns imprevistos e eu acabei saindo de lá. No momento eu estou desempregado – ele disse com pesar.

— Entendo... Mas você é um garoto esperto, Potter. Vai encontrar uma nova oportunidade de emprego em breve – senhora Jessica completou otimista.

— E seus pais? Como vão? – dessa vez John começou. – A última vez que os vi foi na festa de formatura de vocês dois.

Que ótimo dia para relembrar a minha presença e a de Potter na formatura, não é pai?

— Estão bem. Acho que pretendem vir lá em casa na véspera de natal e...

— Perfeito! Podemos combinar um programa e irmos patinar no ringue Somerset House, fica aberto na véspera de natal, logo depois da ceia, é claro – ela sorria animada com a ideia.

Olhei rapidamente para o garoto ao meu lado, ele sorriu e balançou os ombros, sussurrando:

— Você está vendo... – ele sorriu malicioso em minha direção e eu neguei com a cabeça dando um soco no seu braço, na qual ele pareceu nem ao mesmo sentir, já que apressou-se a responder minha mãe sem nenhuma falha na voz. – Seria uma honra, Sra. E... Digo, Jessica.

— O prazer é todo nosso, querido – ela sorriu e as mãos dela e de meu pai se encontraram, sorri.

— Chegamos, graças a Deus. Estou morrendo de fome – falei deixando o carro rapidamente, fechando a porta e correndo para o lado de minhas amigas, que cochichavam entre si.

— Como foi a viagem ao lado do amor da sua vida, Lilyzita? – Sirius perguntou segurando a mão de Holly.

— Você é ridículo, sabia?

— Se ridículo significa realista maravilhoso no seu vocabulário, então sim, eu sou um ridículo – ele sorriu, o que fez Holly rir na mesma hora.

Adiantei-me ao lado de Tonks, já que ela era a única que não estava de casalsinho e entrelacei meu braço no dela, só caso alguém decidisse me sequestrar ou coisa parecida. Ela franziu o cenho, mas pareceu entender a minha apreensão logo em seguida.

— Você deveria parar de ser besta. Você só pegou uma carona do lado dele – ela falou indiferente indo em direção a uma mesa.

— Quê? Uma carona que meus pais ficaram puxando assunto e planejando o natal envolvendo ele a todo o momento – completei incrédula diante das palavras da menina.

— Mentira! – ela exclamou baixo olhando para trás rapidamente para se certificar de que não tinha ninguém por perto e continuou – Sua mãe está planejando a sua véspera de natal ao lado de James Potter?!

— Exatamente – tentei não olhar para ela para evitar expressões do tipo que só elas e o restante de minhas amigas sabiam representar.

— Só... Fique perto de mim – supliquei para ela quando a Madame Rosmerta, a dona do estabelecimento que tinha aproximadamente uns cinquenta anos, nos guiou a uma mesa grande o suficiente para nove pessoas.

— Tá! – ela falou impaciente e se sentou ao meu lado.

Por sorte, meu papai lindo e maravilhoso se sentara do meu outro lado, o que me aliviou imensamente. Não sabia o porquê de temer tanto ficar perto de Potter, mas eu sabia que naquele momento eu tinha o dever de me manter o mais longe possível dele, justamente para evitar um surto psicótico da minha parte.

— Bem, o que vocês vão querer? – Madame Rosmerta perguntou com um sorriso meio maluco no rosto.

— Pode trazer à moda da casa pra mim hoje – papai falou e todos concordaram com o mesmo.

Já as bebidas, cada um quis um tipo diferente, que variavam entre água de gilly, hidromel e cerveja amanteigada para as garotas, até o uísque de fogo, para os garotos.

Comemos em paz. As conversas sobre o fim de ano foram muito agradáveis, o que envolvia a narrativa de muitas memórias vivida por cada um, individualmente. Ninguém ficou bêbado, já que a presença de adultos maduros fez com que os garotos tivessem mais juízo. Depois que meu pai pagou a conta por todos – insisti que poderia pagar a minha parte, mas ele quis porque quis pagar pelas nove bocas, eu quase matei-o por isso – me despedi dos meus pais e eu e as meninas fomos em direção à Madame Malkin, no seu carro maravilhoso. Frank e os garotos foram embora no carro de meu pai, isso significa que o momento garotas chegou.

Alice estacionou o carro num estacionamento na esquina da avenida e então adentramos a loja. Era um paraíso de vestimentas. Vestidos, trajes a rigor, uniformes e tecidos variados rodeavam os cantos do estabelecimento. Juro que se eu fosse rica eu compraria aquela loja inteira.

Decidimos que seria melhor decidirmos logo os nossos vestidos, que seriam da mesma cor. Então começamos a busca implacável, cada modelo que eu pegava era mais bonito que outro, não sabia nem por qual começar a provar.

— Qual cor você prefere, Ali? Vermelho ou azul? – perguntei mostrando os dois vestidos de cores distintas.

— Eu acho que gostei mais do azul – ela falou um pouco em dúvida.

Todas ao ouvirem isso, correram procurar os vestidos azuis.

— Vamos fazer o seguinte: Vocês escolhem os vestidos azuis e fazem uma ordem pra provar. Primeiro pode ser a Holly, depois a Lily e depois você, Tonks? – todas concordaram e foram em busca dos vestidos.

Peguei uns quatro que me agradaram, não olhei o preço, até porque ele não importava no momento, se eu tinha trabalhado eu tinha de ter um dinheiro pelo menos para comprar um vestido decente para a festa de casamento de uma das minhas melhores amigas.

Holly estava com uns oito vestidos, carregados com a ajuda da dona da loja, madame Malkin, que também estaria lá para ajudar todas nós a escolher os vestidos. Alice estava tão ansiosa que me queria fazer abraçá-la.

— Holly, você ficou maravilhosa em todos os vestidos, mas acredito que aquele segundo vestido ficou mais adequado para um casamento – falei com minha humilde opinião.

— Concordo e eu sei um penteado maravilhoso pra combinar com ele – Tonks sorriu convencida.

— Tudo bem então. Aprovado, noiva? – ela brincou e Alice assentiu com a cabeça batendo palmas. A engraçadinha fez reverências.

— Certo, agora é você, Lily – concordei com a cabeça ao ouvir Ali falar e entrei no provador.

Provei o primeiro vestido, mas senti que estava muito curto. Pela opinião das meninas o tamanho tinha de ser no mínimo acima do joelho, e convenhamos que curto demais vai parecer que eu estou indo para um cabaré e não para um casamento.

 – Esse também não, tá muito decotado – Holly falou exigente e eu revirei os olhos.

Quando finalmente provei o último vestido escolhido, esperei um pouco mais antes de abrir a porta do provador.

— Tem que ser esse, amiga – Tonks falou me encorajando.

Respirei fundo e abri a porta.

— E não é que não é mesmo? – Holly abriu a boca num perfeito “o”, todas me aplaudiram, senti meu rosto corar.

— Ficou bom mesmo? – perguntei olhando meu reflexo no espelho, insegura.

— Tá brincando? Se vocês continuarem assim, vão ficar mais bonitas do que a própria noiva – Ali brincou e dei espaço para que Tonks provasse os seus.

Por sorte, no primeiro que ela provou, o vestido ficou perfeito. Ela ficou tão animada que nem teve vontade de provar os outros. Aliás, Ninfadora era uma moça linda, conseguia ficar linda em qualquer vestido, ao contrário do restante de nós que tinha de provar a loja inteira para finalmente decidir o que querem.

— Ótimo, agora vamos para o que interessa. O vestido da noiva – Tonks falou animada e nós seguimos a madame Malkin até o andar superior, onde só tinham longos vestidos brancos.

— Eu juro que quando eu me casar eu vou vir aqui – falei encantada com a variedade de vestidos.

— E aposto que não vai demorar muito não – Holly falou e eu dei-lhe um tapa no braço.

— Pode parar com isso – a censurei e foquei em escolher um vestido que mais me agradasse.

Cada uma das meninas escolheu um vestido que mais lhe agradou e Alice, sem saída, teve que provar todos, mas nenhum lhe serviu perfeitamente, já que era o gosto individual de cada um de nós, e não o dela mesma. Respirei fundo e me sentei sentindo meus pés doerem.

— Acho melhor a Ali escolher o vestido por ela mesma e a gente só ver se fica bom ou não – sugeri, e todas vendo que essa história de procurar vestidos para a noiva não daria certo, acataram a ideia.

Lá para as sete da noite, deixamos a loja. Os vestidos estavam todos alugados e seriam recolhidos um dia antes do casamento, juntamente com a segunda parcela do preço, que por obséquio não fora caro demais. Acredito que soubemos administrar bem a beleza dos vestidos com os seus respectivos preços, a cor seria azul, agora só restava avisar os garotos sobre a decisão por nós tomada.

No caminho para o estacionamento, passei pelo beco que levava à Travessa do Tranco, que não era um bom lugar para se ir, e escutei um bocado de vozes vindas dali, um tanto quanto familiares. Fiz um sinal para que minhas amigas fizessem silêncio e assim, a conversa fosse ouvida. Era a voz de Izzy Vanderwall, ela falava com alguém pelo celular.

—...eu já o levei para o médico para o acompanhamento da ultrassonografia e deu tudo certo. O bebê que eu espero está saudável como o esperado – ela suspirou. – Ele achou mesmo que eu estava mentindo pra ele? Francamente... Ele me ama e sabe muito bem que não seria uma surpresa se eu aparecesse com algum filho dele sendo que...

Não consegui mais ouvir nenhuma palavra, saí andando na frente, mas minhas amigas não fizeram o mesmo, ficaram ouvindo a conversa até o final, e mais chocadas do que nunca vieram para o carro.

            – Só vamos pra casa, ok? – pedi para elas antes que pudessem dizer qualquer coisa a respeito.

            James Potter era um filho da mãe, que teve a cara de pau de querer se aproximar de mim sendo que tem uma mulher grávida do filho dele, eu simplesmente sinto... nojo dele agora.


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Notas finais do capítulo

É, meu povo, como lidar com essas coisas, né? Enfim! Gostaram? Eu estou mais do que ansiosa para escrever o capítulo do casamento, vocês não tem ideia. Deixando um spoiler básico que aquele capítulo vai ser o de maiores revelações. Acho que posto mais dois depois desse e depois já é ele! Ansiosíssima. E o que dizer sobre os pais da Lily arrumando os esquema pra James Potter? Quem vê acha que ele subornou, ehehe. Enfim... ehuehueh. Qualquer pergunta ou sugestão deixem nos comentários, sempre estarei lendo e respondendo à todos! Obrigada por serem pacientes e esperar essazinha aqui tomar vergonha na cara e postar logo o capítulo ♥ szsz pra vocês.



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