Green Eyes - Jily escrita por Vitória Serafim


Capítulo 5
Aniversário de Namoro


Notas iniciais do capítulo

Pessoas! Como vão vocês? Então... Primeiramente, eu sei que demorei uma vida pra postar isso aqui, mas a vida tá dando dessas, galera. Andei uma semana meditando sobre esse e os próximos capítulos e consegui escrever mais do que eu esperava, o que me agradou muito. Em segundo lugar, eu devo ter assustado alguns de vocês por ter atualizado os capítulos anteriores, e eu digo para não se preocuparem. Eu tive que corrigir um errinho que eu cometi três vezes sem perceber. Coloquei a moeda dólar, e como na história estamos na Inglaterra, a moeda deve ser libras, mas nada demais hehe. Acho que é o costume de assistir séries americanas, mas enfim... Quero agradecer aos comentários dos capítulos anteriores, vocês são o que mais me inspira a continuar escrevendo cada vez mais, mesmo que vocês me odeiem um pouco pela demora de postar o capítulo, hihi.
Agradeço a minha linda Gaby Ramllo, por estar sempre em constante conversa comigo e me incentivando a postar os capítulos. Além de recomendar a fic, é claro. Muito amorzinha ♥
Enfim, aproveitem a leitura ;)



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Já eram nove e cinquenta e cinco e eu ainda estava ali, em meio minhas cobertas, a vontade de levantar era tão pequena que mesmo estando acordada pela noite inteira, a vibração do dia não me deixava fazê-lo, acredito que o frio me dera mais preguiça ainda. Graças ao meu bom Merlin eu não teria de trabalhar hoje, e era ótimo poder ficar em casa nos meus dois finais de semana. Quando achei que estava perdendo a minha vida toda ali, estiquei meu braço até o criado mudo e liguei para meu pai, naqueles momentos de desespero ou até mesmo quando eu me sentia perdida, o meu pai era o primeiro que aparecia para me socorrer, assim como mamãe.

            Não que eu não goste de conversar com minha mãe, muito pelo contrário, ela é maravilhosa, mas a minha ligação com o meu pai era... Não sei... diferente. Eu era a sua garotinha e sempre tive o conforto dos seus braços, mesmo que ele fosse um policial que passasse maior parte do seu dia cumprindo com os seus deveres para com o seu país.

            Só percebi que estava realmente ligando para ele quando ouvi a sua voz soar pelo telefone celular.

            – Lily? alguns segundos foram gastos em silêncio para que eu mentalizasse o real motivo de ter telefonado ao meu genitor.

            – Pai... – senti uma enorme vontade de chorar, mas me controlei.

            – Está tudo bem, querida?— era a frase que eu mais me emocionava ao ouvir, a frase que tanto fizera parte da minha vida.

Flashback on

            Hoje seria o melhor dia da semana, papai tinha me comprado uma bicicleta de natal e eu iria aprender a andar, estava mais do que ansiosa para pedalar aquele brinquedo e ao mesmo tempo nervosa, receosa de ter que manter a estabilidade e nunca desequilibrar. Seria difícil, mas qual seria a graça se eu não tentasse?

            Amarrei meus cabelos embaraçados em um rabo de cavalo e desci as escadas, mamãe já estava na mesa tomando café com papai, juntamente a uma Petúnia emburrada por ter ganhado só um celular da Samsung e não um iPhone. Minha família não era rica, muito pelo contrário, papai trabalhava duro para sustentar a casa e minha irmã parecia não entender isso com muita clareza, já que tudo o que ela sabia fazer era pedir coisas caras a ele toda hora.

            – Você vai querer pão com geleia ou com ovos mexidos, filha? – mamãe se pronunciou assim quando ouviu os passos pesados de uma Lilian totalmente eufórica chegar à cozinha.

            – Com ovos mexidos parece ótimo, mamãe – sorri abertamente e me sentei com um pouco de dificuldade, já que a cadeira era estranhamente grande para a minha estatura baixa de criança com sete anos.

            – Ansiosa para aprender a andar na sua bicicleta nova? – papai afastou o olhar do jornal que lia e abriu um sorriso simpático em minha direção, na qual eu tive o imenso prazer de retribuir – Não é todo dia que a minha garotinha ganha um presente desses, não é mesmo?

            – Ansiosa é pouco, estou morrendo aqui – peguei o pão que minha mãe dera em minhas mãos e comecei a comer como um mendigo que passara uma década sem comer.

            – Mesmo estando ansiosa não precisa morrer engasgada – Petúnia comentou – é só uma bicicleta idiota – revirou os olhos.

            Digamos que Petúnia estava na sua fase de pré-adolescência impertinente e impulsiva onde ela se tornava mais chata do que ela já era.

            – Fala isso porque você não sabe andar – disse depois de engolir metade do pão de uma vez só e beber um gole de suco para não morrer entalada.

            – Nem você, sua pirralha – ela bufou e se levantou da mesa – tenho mais coisas a fazer do que ficar discutindo com você – concluiu e se retirou do ambiente.

            – Não fale assim com a sua irmã, Petúnia – meu pai disse, mas já era tarde demais, o estremecimento das paredes foi claro quando a garota bateu a porta de seu quarto no piso superior. Ela era um saco.

            – Deixe quieto, papai. Túnia é uma besta que só porque não consegue um celular idiota fica sendo grossa com as pessoas. Ela é uma mal agradecida, isso sim. Ganhou um celular novinho e ainda fica reclamando – suspirei profundamente – não sabe a sorte que tem – reclamei e voltei a terminar o meu café.

            – Tente ser paciente, Lilian, sua irmã está entrando na puberdade, é assim mesmo – meu pai pacientemente me explicou.

            Limpei a boca com o guardanapo e desci da cadeira.

            – Olha, papai, eu juro que quando eu me tornar uma pré-adolescente eu não vou agir assim. Mas agora vamos logo que eu quero testar minha bicicleta nova! – disse puxando ele pelo braço, obrigando-o a se levantar da mesa.

            O dia estava perfeito para a realização do meu desejo, o sol estava maravilhosamente do jeito que eu esperava, não deixava o ambiente tão quente, mas sim agradável. Encaminhei-me até a garagem e fui direto aos meus equipamentos, meu pai me ajudou a colocá-los e eu subi em cima da bicicleta.

            – Ok, tudo o que você precisa fazer é não se desesperar. Busque equilíbrio e não pare de pedalar. Vou estar aqui te segurando o tempo todo, certo? – afirmei com a cabeça depois de dar uma longa puxada de ar.

            – Certo. 1...2...3! – quando ouço ele terminar a contagem, começo a pedalar sem parar. Era uma sensação incrível, era excitante e ao mesmo tempo me fazia sentir uma inquietude dentro de mim, ansiedade.

            E então quando pensei que estava finalmente conseguindo, acabei desequilibrando e caindo, no percurso acabei batendo os joelhos no chão, que graças ao equipamento, não tinham sido feridos, já minhas mãos raladas não diziam a mesma coisa. Meu pai se aproximou rapidamente e se abaixou ao meu lado com uma feição de preocupação, tudo o que eu conseguia sentir era as minhas mãos arderem.

            – Lilian, está tudo bem, querida?

            Flashback Off

            – Lilian?— meu pai estava com o mesmo tom de preocupação daquele dia em que eu havia caído de bicicleta e isso tinha se intensificado ainda mais, talvez porque ele teria identificado que eu estava chorando.

            – Não está tudo bem... – disse sentindo meu peito clamar para que eu derramasse mais lágrimas em função de diminuir a dor que eu estava sentindo.

            – O que houve? Você se machucou? Alguém mexeu com você?— pude perceber que ele, mesmo que preocupado, conseguia ser mais calmo que mamãe, personalidade de policial dele de sempre poder estar no controle da situação sem se apavorar.

            – Tem acontecido tanta coisa ultimamente... – respirei fundo e me sentei na cama passando as costas da minha mão vaga sobre o meu rosto molhado pelas lágrimas – eu me sinto tão... fraca — meu pai continuara em silêncio, parecendo adivinhar que eu sempre precisava de uma pausa para respirar e pensar com clareza antes de falar. – Eu achei que estava preparada para estar aqui em Londres, trabalhando com o que eu mais gosto, mas logo na primeira semana eu não sou escolhida para participar de nenhum programa no hospital. Depois eu descubro que o chato do Potter está vivendo o mesmo andar que o meu, e várias outras coisas que não fazem eu me sentir bem.

            Parece idiota, eu sei, não que desabafar com as minhas amigas seja ruim, mas ser confortada por um pai ou uma mãe é muito mais gratificante e renovador. Eu me sentia melhor ainda.

            – Sua mãe me contou sobre a conversa de vocês há tempos, mas fico feliz que tenha me ligado para conversar— ele começou. – Não se preocupe, filha. Você só está começando a sua carreira agora, apesar de ter estudado muito, você ainda tem muito o que aprender. Existem muitos desafios que ainda estão por vir e você deve estar preparada para enfrentá-los.

            – E se eu não estiver? – perguntei com insegurança.

            – Então vai aprender a estar. Lembre-se do que eu sempre lhe disse: Não há vitória-

            — sem a derrota – completei por já saber aquele ditado de cor e salteado. – Sim, eu sei. Mas eu não sei se estou preparada para ser derrotada agora, quer dizer, eu mal comecei.

            – Seja paciente, Lily. A sua vitória pode estar mais perto do que você imagina — ele disse e eu suspirei assentindo com a cabeça, mesmo que ele não pudesse me ver, ele tinha entendido o meu gesto melhor do que qualquer outra pessoa que estivesse vendo teria feito.

            – Obrigada, pai.

            – Não precisa me agradecer, Lily. Sabe que faço qualquer coisa por você – sua voz me fez sorrir.

            – O natal tá chegando. O que acha do senhor e a mamãe virem passar aqui na minha casa nova? Já estou morrendo de saudade de vocês dois! – disse já me animando. Eu podia ser considerada uma pessoa um pouco bipolar, ou talvez bastante.

            – Ótima ideia! A sua mãe vai adorar, está pensando nos preparativos para a ceia há dias. Vou avisar a ela. Enquanto isso erga esse rostinho lindo e continue lutando, não se consegue as coisas fácil assim, certo?

            – Certo.

            – Ok, então. Pode me ligar quando quiser, agora estou indo para a central de polícia.

            – Tudo bem, pai. Mais uma vez, obrigada por me ouvir. Tchau... – sorri ao ouvir ele responder e desliguei a chamada.

            E como num passe de mágica, o meu desânimo de minutos atrás voara pelos ares e uma Lilian muito mais disposta se levantou da cama para tomar um banho. Estava muito melhor depois dessa conversa, embora ainda teria de contar tudo novamente quando fosse falar com minhas amigas.

            Retornei ao meu quarto ainda enrolada na toalha e ao abrir o meu guarda-roupa, uma blusa em especial me chamou atenção, fazia um bom tempo que eu não a vestia e costumava ser uma das minhas preferidas, tinha ganhado de Holly no meu aniversário de vinte anos – era uma blusa azul com uma imagem de um cachimbo, e embaixo se lia “ceci n'est pas une pipe”, igual à de Hazel no meu livro preferido, A Culpa é das Estrelas. O real significado da frase só os fãs do livro ou os admiradores de René Magritte poderiam entender – uma jaqueta e uma calça jeans acompanhavam o meu visual, juntamente com uma sapatilha preta. Optara a deixar o meu cabelo solto, já que costumava trabalhar a semana toda com ele amarrado em um rabo de cavalo.

            Peguei uma caneca de café e me sentei ao sofá. Não tinha muito tempo para assistir televisão, então assim que a minha TV se conectou à minha internet, entrei na Netflix e fui direto para a série que eu estava terminando de assistir no momento, que era Once Upon A Time, já estava na quinta temporada e as coisas estavam realmente muito interessantes, e não se preocupe, não sou de dar spoilers, mas se algum de vocês está assistindo, eu lhes digo que se preparem para ver o meu shipper (que futuramente será de vocês também) brilhar, que no caso é Capitain Swan (Emma Swan e Capitain Hook). Enfim, amo esses dois juntos como se não houvesse amanhã, e essa era uma série na qual eu tinha assistido muito rápido, já que eu tinha terminado House.MD muito recentemente, devia ser porque sempre fui fascinada por contos de fada e essas coisas de romance e princesas. É meio clichê, mas é o meu eu, portanto prossigamos.

            Bebericava o meu café e dei um gritinho eufórico quando presenciei a cena do beijo do meu shipper supremo da série (coisa de fã). Quando o episódio acabou, percebi que tinha deixado o meu celular no quarto, e nem ao menos tinha dado uma espiada nas minhas mensagens. Será que Holly ou qualquer uma de minhas amigas tinham me ligado ou coisa parecida? Precisava contar tudo a elas o mais rápido possível, antes que elas descobrissem por outras pessoas e esse mundo abrigaria menos uma Evans para a coleção pelo simples fato de não ter aberto a boca.

            Caminhei até o meu quarto mais uma vez e escutei, por ironia do destino, Never Be Like You soou de cima da cama, pulei em cima da mesma e peguei meu celular, atendendo a chamada compartilhada, que era não só de Holly, mas também Ninfadora Tonks e Alice.

            – Lilyzita! Finalmente! Estava fazendo o quê? Ligamos pra você um monte de vezes — franzi o cenho ao ouvir a voz de Sirius no celular. O que será que ele estava fazendo com o celular de Holly? Opa, opa... Acho que alguém não esclareceu as coisas pra colega aqui.

            – Cala a boca, Sirius! A conversa aqui é entre as meninas, então me faça o favor de me dar privacidade! — dessa vez era Holly falando, os gemidos de irritação de Sirius foram embora assim que se ouviu o bater da porta do que parecia ser o quarto de minha amiga, o vídeo estava com uma qualidade horrível, foi só o tempo de eu chegar para mais próximo do roteador – que ficava na sala em cima da minha estante – que a definição ficou melhor. Ergui minhas sobrancelhas tentando entender a situação e me sentei no sofá desajeitada encarando as feições similares de minhas amigas.

            – É impressão minha ou você e o Sirius estão dormindo juntos? — Céus, Tonks fora tão perfeitamente direta que eu tive vontade de beijar a tela na mesma hora, eu não pude agradecer mais, já que nem na Terra do Nunca eu conseguiria perguntar uma coisa dessas por ser, de longe, embaraçoso demais. Já me sentia corar como um caqui imagina se eu fosse a autora da pergunta.

            – É bem... Complicado. Mas eu posso explicar tudo e

            – O quê?!— Alice, Tonks e eu dissemos em uníssono.

            – Bem, eu não sei se é apropriado narrar a confusão que é a minha relação com Sirius pelo Skype, é melhor vocês virem aqui — desliguei a chamada na mesma hora e corri pegar uma bolsa. Se tinha uma coisa que eu queria fazer era ter conhecimento do que estava acontecendo entre aqueles dois. Hollyzinha do céu, você me deve uma desculpa boa, quer dizer, boa é pouco, ótima seria a palavra.

            Saí de casa correndo e peguei um ônibus no mesmo ponto que Snape e eu ficamos no dia em que fomos ao cinema. O ônibus estava vazio, o que só facilitou a minha viagem. Cheguei à casa de minha amiga cerca de vinte minutos depois. Subi até o seu apartamento e dei sete toques compassados usando os nós de meus dedos. – Sinal que tínhamos combinado para facilitar a vida de todas, onde Alice, Holly e eu estávamos supostas a fazer para que a porta da casa de cada uma fosse aberta com mais rapidez do que simplesmente tocar a campainha (Tonks fora avisada sobre isso na noite da festa do pijama). – Holly abrira a porta com rapidez, estava toda descabelada e respirava ofegante. Duas conclusões vieram à minha mente. Primeira, minha amiga teve um breve choque de realidade e decidiu arrumar o seu apartamento, já que sabia que a rainha do toque, mais conhecida como Lily Evans, iria visitá-la, o que deixara ela com aquela respiração; Segunda, não sabia se pegava Sirius ou tentava se livrar dele antes que eu chegasse correndo. A última parecia perfeita para o momento, já que logo que ela dera espaço para minha entrada, vi que Sirius estava jogado no sofá de maneira muito desajeitada, tinha o peitoral nu e mantinha suas mãos posicionadas atrás da cabeça. Ao seu redor, se encontravam diversas latas de refrigerantes e embalagens diversas que lembravam muito as guloseimas da Dedos de Mel, o que me fez estremecer. O rapaz pareceu se divertir com a minha situação.

            – Surpresa com o meu corpo, ruiva? Eu sei... Sou demais pra esses olhinhos esverdeados – ele disse convencido mordendo seu lábio inferior, o que me fez revirar os olhos de imediato.

            – Muito engraçado, Sirius – ironizei e me virei para Holly tendo meus braços cruzados sobre o busto a encarando com um olhar de “você-pode-me-explicar-o-que-significa-isso?”, que ela felizmente entendeu e correu até Sirius se sentando na beirada do sofá e se inclinando em sua direção murmurando algumas palavras na qual eu não pude ouvir.

            – Não, eu não vou embora agora Holly, tá passando o jogo da Bulgária contra Irlanda na final de basquete, preciso ver – ele disse com impaciência e desviou o olhar para a televisão.

            – Por favor, Sirius! Se você for bonzinho eu... – e se inclinou mais uma vez para ele sussurrando alguma coisa que eu também não fui capaz de ouvir. Que droga, Holly. Você me mata se não parar com essas baboseiras agora!

            – Pra mim parece justo – ele se levantou sorrindo malicioso aparentando concordar com os termos propostos pela garota e pegou a camiseta que estava jogada a um canto da sala, vestindo-a rapidamente – A gente se vê, Lils – piscou e lançou um beijinho antes de ter a porta fechada na cara por mim.

            – Quer me explicar que diabos está havendo aqui? – pressionei a morena que parecia tão desnorteada quanto um soldado desarmado no meio de um tiroteio.

            – Ah, Lily, é que... – ela suspirou tentando achar as palavras certas para se expressar, mas não obteve sucesso.

            – Quer saber? Essa bagunça está brincando com o meu psicológico. O que acha de ir me contando enquanto damos um jeito nisso aqui? – aponto para a bagunça na qual a sua sala estava imersa e ela assentiu com a cabeça.

            Comecei amarrando o meu cabelo em um coque frouxo com o elástico que sempre carregava em meu pulso para o mesmo fim e fui colocando as embalagens espalhadas dentro de uma sacola plástica que parecia ser da mesma origem das primeiras, enquanto isso, Holly ia espanando as migalhas de qual        quer jeito de cima da mesinha de centro parecendo estar concentrada demais no que iria dizer para prestar atenção no que fazia. Aquilo me agonizava? Sim, mas eu podia controlar as minhas manias para bons fins, e nesse caso, os fins eram muito mais interessantes.

            – Bem, Sirius e eu... – ela começou, mas foi interrompida ao ouvir o barulho do sinal vindo da porta de entrada. Tonks e Alice tinham chegado. Respirei fundo para acabar não gritando para aliviar todo o meu espírito curioso que queria esganar Holly Hall que, por obséquio estava fazendo-me o favor de não contar logo o que estava havendo.

            – Parece que chegamos a tempo. Lily está com aquela cara de quem ainda não sabe de nada – Tonks se dirigiu à Alice aparentando ignorar que eu estava bem ali na frente dela e podia ouvir cada palavra que ela dizia.

            – Querem fazer o favor de sentar aí e deixarem a nossa querida amiga começar a se explicar? – disse depois de reunir a maior das minhas paciências, que tinha coletado de Merlin sabe da onde.

            As garotas, me contrariando, fizeram o favor de tomar o espanador da mão de Holly e continuar o trabalho dela para que ela se concentrasse em apenas narrar os fatos, eu as agradeci internamente pelo feito, já que os meus instintos perfeccionistas não estariam mais em guerra dentro de mim.

            – Que história é essa que você e Sirius estão dormindo juntos? Confesso que me surpreendi. Tonks foi ótima. – Alice comentou enquanto passava uma escova sobre o tapete, tirando as migalhas de salgadinho, o que me fez querer abraçá-la. Que amor, gente! Tá, parei, é meio que incontrolável, entende?

            – Ótima não, brilhante — a garota que agora tinha cabelos esverdeados corrigiu. Sorri ao notar que a cor ficara bonita no visual dela, na verdade, Tonks era linda e ficava boa em qualquer tintura de cabelo, então não conta.

            – Olha, nem eu sei o que tá acontecendo, muito menos irei saber como explicar – uma Holly deixou-se cair no sofá de couro preto soltando um suspiro avoado. – Está tudo acontecendo tão rápido... A última coisa que conversamos sobre isso foi os nossos beijos no Três Vassouras, certo? – assentimos com a cabeça – Ok... – a garota fez uma pequena pausa como se pensasse em todo o script da peça que interpretaria a seguir e depois de segundos que pareceram minutos, ela continuou – Bem... Depois que fui embora da festa do pijama na sua casa, Lily, eu estava indo para casa e acabei me lembrando de que tinha que passar no mercado pra comprar algumas coisas. Comprei tudo e na volta acabei me deparando com o Sirius esperando na porta do meu carro. Nós conversamos e ele confessou que por ele, também não se lembrara de nada que ocorreu entre nós naquele dia em que nos beijamos, mas acho que James acabou por relembrá-lo, maldito... – ela revirou os olhos e eu fiz o mesmo, concordava plenamente – aconteceu que ele me contou e me disse alguma coisa do tipo “Se for pra te beijar eu quero me lembrar” e acabou por fazer exatamente isso. Depois eu nunca mais tive paz, ele vive vindo aqui e os meus estudos para o teste de administração estão indo pelos ares, não que isso seja ruim, é claro – ela sorriu boba encarando o teto pálido de sua sala de estar – mas eu não pude evitar.

            – Mas onde o dormir entra nessa história? – digo depois de descartar uma sacola plástica cheia e retornar ao ambiente muito mais limpo e que se parecia muito mais com uma sala de estar do que quando entrara por aquela porta minutos atrás.

            – Aí é que tá. Sirius é daquele tipo que pode ser um cafajeste de primeira, mas ele nunca me deixa na mão, sabe? Nós estávamos só ficando e concordamos em experimentar uma vez, mas foi só isso. Apesar de que ele parece ter gostado, já que não me deixa mais em paz – ela sorriu maliciosa, imitando o gesto do maroto e eu e o restante das garotas permanecemos caladas, estávamos em choque demais para sermos capazes de dizermos qualquer coisa que tivesse sentido. – O que foi? Vocês acham que eu estou indo rápido demais? Essas caras não ajudam em nada! – ela se sentou nos encarando com um olhar de súplica.

            – Não, acho que vocês devem ir de acordo com o que acham que é adequado para vocês mesmos. Eu super acho que você e ele combinam pra caramba e se vocês derem certo... Cara, vai ser demais! – Alice disse empolgada e eu acabei por sorrir.

            – Eu sabia que tava rolando alguma coisa, você passou mais de uma semana sem me ligar, Holly e isso significa que certamente está acontecendo alguma coisa, já que você me atormenta todos os dias – me pronunciei e ri.

            – Mas sobre o que vocês conversam? – Tonks ainda parecia muito envolvida com o depoimento para dar alguma conclusão.

            – Sobre muitas coisas... Ele me disse que nunca foi de ficar se envolvendo demais com garotas, ele é daqueles que curte a vida, eu sei disso muito bem, experiência de Ensino Médio, mas eu juro que se pra ele eu for só uma distração pra ele sair transando com outras... Eu mato ele – enraiveceu-se – embora a gente não estiver namorando nem nada... Ah, eu estou confusa! – exclamou se levantando e começando a caminhar de um lado para o outro – Ele é tão fofo e tão irritante ao mesmo tempo! – realmente minha amiga estava perdida.

            – Ok, mas você está realmente gostando dele ou o quê? – Alice perguntou adivinhando a pergunta que não só Tonks, mas também eu estávamos remoendo.

            – Ah, eu não sei... Será que podemos falar em alguma coisa que não seja Sirius Black? Ele já encheu a minha mente demais por hoje – ela ergueu as sobrancelhas e foi direto para a geladeira, tirando dali uma garrafa de leite, na qual bebeu direto do galão.

            – Holly Hall... Você não me escapa! – me levantei – Então quer dizer que a senhorita tem cabulado os horários de estudo para o teste de administração para ficar com um Maroto? – cruzei meus braços erguendo uma sobrancelha.

            – É estranho e novo, eu sei, mas eu prometo que vai dar certo, eu só preciso... Me organizar, é isso, organização, é do que eu preciso – ela murmurou mais parecendo falar consigo mesma do que comigo, que era sua amiga mais conselheira do que qualquer uma poderia ser.

            – Precisamos dar um jeito nisso, mulher! Você não pode desistir tão fácil assim, precisamos seguir com as nossas carreiras – comecei, mas ela parecia saber aquele sermão de cor de salteado que eu optei por me autointerromper e deixar que ela tomasse a sua iniciativa. – Sabe que posso ajudar, sou ótima com essas coisas. Se quiser posso até fazer um cronograma pra você se organizar – Ok, eu posso estar me animando demais com pouco, mas caraca, estudar! Talvez, pelo meu alto nível de estranheza em relação a ser a única pessoa no universo que gosta de estudar, Holly soubesse exatamente a quem correr caso precisasse de ajuda nos estudos.

            – Tá, todo mundo fala sobre o meu pretendente, o de Alice e o de Lily, mas e você, Ninfadora Tonks?— Holly enfatizou o nome e sobrenome da garota como se tivesse desafiando a morte e certamente estaria se tornasse a repetir aquilo na frente da garota que agora corava de irritação até o pescoço.

            – Primeiro, não me chame de Ninfadora Tonks; Segundo, eu não tenho nenhum pretendente, para sua informação – ela empinou o nariz cruzando os braços e se sentou no sofá.

            – Ei! Eu também não tenho nenhum pretendente, pode parar com essa história! – resmunguei e tomei o galão de leite gelado da mão de minha amiga, dando um fundo gole, antes de devolver o recipiente à geladeira.

            – Como se ninguém soubesse do interessante triângulo amoroso que é você, Snape e o maravilhoso James Potter – Holly sorriu de canto me provocando e eu, irritada, acabei pegando a primeira coisa que me deparei para acertar a garota, que estava mais do que me tirando do sério.

            Há alguns meses ou até horas atrás eu podia jurar que eu tinha uma mira tão bem apurada quanto minha mãe quando está furiosa comigo ou com Petúnia ­– jogando almofadas ou qualquer coisa que machucasse menos. Entretanto, se por acaso a coisa tivesse sido feia, vinha um tamanco de bônus, nada que não pudesse ser desviado, ou pelo menos tentado ser – mas quando o que eu identifiquei ser uma laranja atingir a cara totalmente emburrada de Dora, eu tive certeza.

            – Ai! – ela exclamou levando a mão direita até o nariz machucado.

            – Hahahaha! Trouxa! Pega essa! Não sabe nem tacar uma laranja e acertar a sua amiga que mal sabe andar direito – Holly esfregou na minha cara e eu aproveitei o momento para copiar o ato de minha mãe, acertando uma almofada em cheio no seu rosto esnobe.

            – Pega essa você! – gargalhei alto e começamos a guerra de almofadas ali na sala mesmo.

            Depois do que pareceram ser horas brincando da mesma coisa, caímos no tapete felpudo da sala, exaustas e com as caixas torácicas totalmente desreguladas de tanto rir.

            – Ah... Foi tão engraçado! A Alice sabe nem mais falar, bateu a cabeça no vidro da janela e perdeu a noção das coisas! Ai meu rim! – Tonks berrava morrendo de achar graça, e nós, apesar de estar totalmente sóbrias, ríamos como loucas bêbadas.

            – Você que foi doida e pisou na barra da minha calça, sua louca! – Alice, passava a mão pela cabeça e nos acompanhava nos risos.

            Já eu acredito que não existe mais Lily Evans, eu tinha certeza que ela tinha morrido, porque nem mesmo enxergar não era possível, meus olhos eram fonte de uma infinidade de lágrimas e minha barriga já estava doendo de tanto rir da situação. Céus, como somos bobocas!

            A única razão para termos parado com as risadas fora o som do celular de Alice tocar ao som de Love Yourself de Justin Bieber, que a propósito era um de seus cantores preferidos, e eu devo admitir que apesar de não gostar muito da pessoa Justin, tinha que concordar que o rapaz tinha talento e sabia compor boas músicas.

            – É o Frank... – Alice sorriu.

            – Atende logo! – Holly disse estapeando Dora para que ela calasse a boca e parasse com seus risinhos logo para que pudéssemos prestar atenção na conversa do casal.

            Frank e Alice eram muito fofos, eles realmente estavam firme e pareciam ser os únicos que sabiam mesmo o verdadeiro conceito de namorar sério, já que o faziam desde o começo do colegial. Eles com certeza eram um dos casais que eu mais shippava na vida real, ainda shippo, pra ser mais exata, até porque eles me lembram o meu OTP supremo, que é Gazel – nome do shipper que eu inventei para representar Hazel e Gus de A Culpa é das Estrelas.— O apartamento virou um completo vácuo, onde o único resquício de som era a voz de Alice no celular.

            – Frank? – ela fez uma pausa e uma vozinha soou pelo celular – Tudo bem... Estou aqui na casa da Holly, estávamos rindo até agora mesmo – quando ela percebeu que estava sendo observada mortamente por nós três, acabou por se virando de costas para evitar corar – Ah, sim, claro! Seria ótimo. Então encontro vocês no Caldeirão Furado — nos entreolhamos tentando encaixar as palavras que saíam da boca de Alice em qualquer que fosse o contexto que estávamos imaginando, mas sem obtermos êxito – Eu também te amo... – ela sorriu e desligou a chamada colocando o aparelho em cima da mesa onde ficava o telefone fixo e se voltou para nós sorrindo meiga – Frank chamou todas nós para irmos ao Caldeirão Furado, disse que vai junto com os Marotos e que espera todos para uma ótima noite no karaokê, portanto, vamos preparadas, porque hoje vai ser ótimo! – ela concluiu animada e todas deram um gritinho, eu fui a exceção. Não estava muito disposta a sair nem nada, mas como hoje era o aniversário de quatro anos de namoro entre Frank e Alice, o meu otp da vida real, eu certamente faria um esforço.

            Não que eu não goste de ir a karaokês, e também não era nem pelo fato de estar saindo, até porque eu adorava sair e adorava ainda mais quando isso acontecia em meio aos meus amigos, mas acredito que o meu clima com um certo cara chamado Potter não ajudaria nada em passar essa noite imersa em diversão, quando tudo o que eu provavelmente farei é me desviar de todas as tentativas falhas do estúpido rapaz que tentaria conversar comigo sobre assuntos inoportunos e que com certeza não são da conta dele. Entretanto, isso não era motivo para desanimar, afinal, ele era só um idiota e eu não seria tola o bastante para me deixar levar por esses pensamentos estúpidos de que James Potter estragaria a minha noite de diversões.

            – Que máximo! – Tonks exclamou e se levantou – Se é assim, eu já vou indo para casa me arrumar – ela estalou as costas antes de se encaminhar até a porta.

            – Mas já? Não tá muito cedo não? – Holly perguntou surpresa por notar a amiga saindo tão cedo para se arrumar.

            – Já são cinco da tarde, minhas queridas – Tonks disse tirando o celular do bolso e arrumando o cabelo ao se olhar no reflexo – Preciso cuidar dessa belezinha aqui...

            – O quê?! Cinco horas? Você só pode estar brincando! – me levantei como se minha vida dependesse disso e ajeitei a minha roupa – preciso ir pra casa também. Nos vemos à noite – disse rapidamente e deixei o apartamento com Dora. Alice provavelmente ficaria com Holly, já que ela tinha dormido alguns dias por lá enquanto eu estava em trabalho frenético na ala pediátrica do hospital de Londres.

            Acompanhei Dora no caminho até o ponto de ônibus e, durante o percurso, fomos conversando sobre coisas aleatórias, tipo o que ela tinha feito na semana na qual eu tinha trabalhado sem parar e também o que ela estava pretendendo fazer com a sua carreira, ela pretendia fazer jornalismo, outra coisa que ficasse no ramo da comunicação. O vento estava frio, o que me fizera muito mal, já que eu só usava uma camiseta e mais nada por cima. Abracei meu próprio corpo e ficamos ali jogando conversa fora até que o ônibus dela passasse, me deixando totalmente sozinha no ponto deserto.

            Corri o olhar pela cidade e devaneei por alguns instantes, até que finalmente o ônibus chegara. Não tardei a chegar em casa. Subi até o sétimo andar por intermédio do elevador e a partir do momento que chegara em casa, corri para o banheiro indo direto para o banho, que não ousou a demorar mais do que quinze minutos. Voei em direção ao meu quarto e parei em frente ao guarda-roupa, completamente desnorteada em relação à roupa que iria vestir.

             – Vamos, Lily! Não temos o dia todo! – Holly gritou do lado de fora do meu quarto quando já se passaram horas e eu ainda não havia decidido a porcaria da roupa.

— Ah, mas se você pelo menos pudesse me dar uma mãozinha aqui! – disse sentindo meu interior entrar em pânico.

— Ótimo – ela adentrou o quarto e se dirigiu ao guarda-roupa pisando forte e pegou um vestido, um casaco de pelo sem manga e uma meia calça – usa isso com uma bota que tá tudo certo – ela praticamente esfregara as roupas na minha cara e deixara o quarto.

— Obrigada, Holly! – sorri de orelha a orelha e me vesti em questão de minutos. Passei uma maquiagem um pouco mais pesada do que de costume e amarrei meu cabelo na metade, deixando algumas mexas ruivas de minha franja soltas, dando um ar mais delicado para o meu visual. Sorri contente com o resultado, peguei uma bolsa pequenina que se usava na transversal e coloquei apenas o necessário, como os documentos, celular, alguns remédios para dor de cabeça e até mesmo um spray de pimenta, pois é, papai me obrigara a andar com aquilo, ou ele não me deixaria andar sozinha por aí (devia ser a sua paranoia por trabalhar no departamento de polícia).

— Dá pra se apressar lo... Uau! – Holly sorriu largo ao ver que eu estava pronta – você está indo para um karaokê ou para uma rave? Por Merlin...

— Não exagera, Holly. Vamos logo, Alice e Dora já devem estar esperando por nós no Caldeirão Furado— me apressei saindo de casa e trancando a fechadura.

Quando estava prestes a sair, vejo que o meu querido vizinho decidiu fazer o mesmo na mesma hora. James Potter saíra de seu apartamento vestindo uma camiseta branca e uma jaqueta preta por cima, e sua calça jeans caía irritantemente bem com o seu visual. Ele parecia surpreso, ou será que não? Ele podia muito bem ter ficado esperando eu deixar o meu apartamento para fazer o mesmo. Depois daquela noite em que seus olhos indecifráveis me disseram que tinha terminado com Izzy Vanderwall uma coisa dentro de mim doeu, não sei se fora uma sensação boa ou ruim, mas, de fato, tivera um significado.

— Jay! Você está maravilhoso! Quer me matar do coração? – Holly o elogiou sorrindo tão abertamente que eu pensei que seus lábios tivessem aprendido uma nova técnica de elasticidade ou coisa do gênero. Ela o abraçou e deixou um beijo no seu rosto ainda contendo a mesma barba por fazer.

Ele tinha realmente mudado. Em que planeta James Potter deixava a barba crescer? Estamos realmente vivendo novos ares pelo que percebo. Ele tinha ao menos cortado o cabelo, o que podia melhorar a sua aparência, quer dizer... Ah, você entendeu.

— Obrigado, Holly. Você também está. – ele forçou um sorriso e ergueu seu olhar pra mim – Você está... linda, Lily – ele fez uma pequena pausa entre o verbo e o adjetivo citados, era como se ele examinasse minuciosamente cada parte do meu corpo para tirar aquelas conclusões. Eu não fiz outra coisa além de evitar seus olhos e apertar a alça da bolsinha com insistência.

— Obrigada – juro que se Holly não estivesse ali eu teria o ignorado, mas preferi não precipitar a assinatura do meu atestado de óbito, não agora, que estava só começando a minha vida.

— Bem... Eu estou de carro, podemos ir juntos, se quiser – ele parecia pouco à vontade, já que usara o seu gesto típico desses momentos, que consistia em passar a mão pelos cabelos. Abri minha boca para responder, mas Holly, num gesto impreterivelmente feito para acabar com a minha vida, me interrompeu.

— Ah, claro, James! Seria ótimo, não é, Lily? – ela sorriu me obrigando a responder à sua pergunta retórica, já que não, não seria nada ótimo pegar carona com James Potter, e menos ainda se estávamos indo para o mesmo destino.

— É... – murmurei e entramos no elevador.

O clima estava estranhamente tenso, era como se Potter pudesse abrir a boca a qualquer momento para surtar em relação a alguma coisa que tivesse ligação direta com a minha vida, mas ele não o faria pelo simples fato de não estarmos a sós, e pelo que sabemos melhor do que qualquer coisa, Holly Hall não é nada boba e a primeira coisa que ela faria era dizer a Sirius sobre a conversa e este, consequentemente diria aos demais Marotos, que importunariam Potter por um bom tempo.

Por um lado, a presença de Holly era muito gratificante, já que ela era o motivo para James e eu entrarmos em um assunto inoportuno. Entretanto, ela era a pecinha que incomodava, já que ela sempre estava me colocando em situações constrangedoras, como afirmar alguma coisa e perguntar para mim se eu concordava com ela na maior cara de pau do mundo.

Acabei indo no banco do passageiro, ao lado de James, mais uma vez por culpa de minha maravilhosa amiga. A viagem de vinte minutos fora mais demorada do que qualquer outra viagem para o interior. Era a mesma situação do meu primeiro dia em Londres, mudando que Holly dessa vez estava totalmente acordada e alerta no banco de trás, caso acontecesse alguma coisa importante – segundo ela – ela estaria vendo com seus próprios olhos.

O Thunderbird foi estacionado em frente ao karaokê e nós descemos. Logo na entrada, via-se uma plaquinha com uma mulher mexendo um caldeirão que continha um furo no fundo, daí o nome do lugar. Ao entrarmos, Alice e Dora acenaram de uma mesa afastada no fundo do pub.

— Oi gente! Sentem aí. Já pedi uma pizza pra adiantar o processo – Frank falou simpático.

A mesa era suficientemente grande para suportar uma lotação de dez pessoas, o que era bom, já que éramos, Potter, eu, Holly, Dora, Alice, Frank e o restante dos Marotos. Minhas amigas e os Marotos pareciam estar conspirando para deixarmos James e eu próximos, já que eles se apressaram para pegar seus lugares, me restando apenas duas opções; sentar-me ao lado de James ou permanecer em pé. Optei por não pagar uma de chata e me sentei. Apesar de ainda ser cedo, o clima já estava bem animado. Sirius e Peter conversavam sobre a final de basquete, que a Bulgária havia ganhado de lavada em cima dos irlandeses e sobre as impressionantes jogadas durante a partida. Remus conversava discretamente com Dora sobre o seu blog geek, “O Profeta Diário”, na qual ela parecia muito interessada, já que gostava de coisas relacionadas a essa área (ela estava fazendo faculdade de jornalismo). Holly conversava animadamente com Alice e Frank sobre qual música iriam cantar primeiro, ou melhor, quem seria o primeiro a pagar o mico de se arriscar no meio de toda aquela gente. Restando novamente a melhor combinação do planeta. James Potter e eu, Lilian Evans, sentados lado a lado de maneira totalmente desconfortável, sem nem ao mesmo conseguir encararmos um ao outro. Tinha que ser comigo, é claro. Fiquei pescando algumas conversas para ver se me encaixava em algumas, mas acabei por falhar impreterivelmente.

Potter, parecendo cansar-se de tanto silêncio, iniciou uma conversa civilizada, ou pelo menos tentou fazê-lo.

— Já sabe que música vai cantar? – ele começou um pouco constrangido antes de bebericar sua cerveja.

— Não vou cantar – disse rapidamente e ergui as sobrancelhas olhando para qualquer outro ponto do pub que não fosse para o rapaz logo ao meu lado.

— Mas por quê? Aposto que você tem uma ótima voz – ele falou me encarando e certo, aquilo já começara a me perturbar. Minha perna direita balançava rapidamente por baixo da mesa de madeira; meu toque atingindo de novo. Motivo? Também não sei.

— Posso tocar bem, mas nunca fiz o mesmo com o canto – umedeci os meus lábios devaneando como fora a primeira vez que eu cantara em público no jantar de Ação de Graças de quando eu ainda era uma garotinha; Petúnia e seu amiguinho chato, Vernon tinham passado duas insuportáveis semanas me zoando por ter desafinado no verso principal de uma música que havia escolhido para cantar no karaokê que papai tinha comprado recentemente. Ela falava como se fosse a pessoa mais afinada da face da Terra.

— Bem, nunca te ouvi cantar para confirmar os fatos – Potter comentou e passou a língua entre seus lábios, num gesto explícito de chamar a minha atenção. Idiota.

— Nem vai ouvir – sorri de maneira irônica e coloquei uma mecha do cabelo que ocupava o meu campo de visão atrás da orelha.

— Ah, se vai! – Alice se intrometera miseravelmente na conversa, chamando não só a atenção de Frank e Holly, mas da mesa inteira, senti meu rosto corar.

— Ah, não Ali! – resmunguei e observei o garçom vir com uma pizza em mãos – Olha! A pizza chegou! Maravilha! – me levantei e peguei a forma da mão do homem em função de me desvencilhar de toda e qualquer tentativa de minhas amigas de me jogarem para cima daquele palco e me fazerem cantar. Outras três pizzas chegaram e ocuparam todo o espaço que tinha na mesa, escolhi a de meu sabor favorito (pizza portuguesa) e me servi da primeira fatia.

Antes mesmo que eu pudesse terminar o primeiro pedaço, notava que Peter estava no seu terceiro e os demais também estavam mais na frente. Foi então que eu confirmei a minha teoria que não importa o quão rápido eu comece a comer, sempre serei a última a acabar, conspiração do universo. Peguei mais duas fatias e percebi que estava totalmente estourada, a pizza era realmente muito recheada e só quem tivesse passado um mês inteiro sem comer conseguiria comer mais de três. Peter, por outro lado, parecia não ligar para essa hipótese, já que passava para dentro inúmeras fatias, que eu mal conseguira contar. Decidi que uma batida de frutas não cairia mal no momento. Levantei-me e me encaminhei para o balcão de drinques junto com Holly.

— Uma batida de morango com vodka, por favor – pedi ao barman e Holly assentiu pedindo o mesmo. Sentamos-nos por ali enquanto observávamos os Marotos na mesa virando altas rodadas de uísque de fogo.

— Holly, eu juro que se você estiver aprontando alguma coisa para me empurrar para o Potter eu acabo com a sua vida! – murmurei como se fosse uma real ameaça de morte, e por que não seria?

— Ah, para de ser besta, Lily. A gente tá aqui pra se divertir. Se solta! – ela exclamou como se fosse uma coisa totalmente normal ser jogada contra um cara durante a noite toda.

— Se solta? SE SOLTA? Você fala isso como se soltar fosse a coisa mais simples do mundo. Deixa eu só te lembrar de uma coisinha... – me aproximei dela – Não é você que está sendo jogada pra cima do Potter!

— Nada haver! Ninguém está jogando você pra cima do James. Talvez sejam vocês que não consigam ficar separados – ela murmurou maliciosa e pegou o drinque, que por obséquio era para ser meu, já que fora eu que tinha pedido. Revirei meus olhos e dei mais uma espiada na mesa. Apesar de ter acontecido apenas uma rodada de uísque, já era possível notar a alteração no comportamento de meus amigos. Maldita bebida.

Encarei Dora, ela fora a primeira a se levantar e provavelmente seria também a primeira a começar a cantar. Ela corava um pouco, mas não interrompeu o seu trajeto. Ela sussurrou alguma coisa na orelha do dj e se aproximou do microfone. Só pelo toque da música eu já me virei para Holly com uma expressão de “você-está-ouvindo-isso?”, soltei gritinhos eufóricos ao ver que ela me respondera com um “SIM”. A letra de Our Own House, das Misterwives, começou a soar da boca de Tonks e embora não estivesse se soltando totalmente, ela estava realizando uma ótima performance. Holly e eu nos levantamos e começamos a cantar e dançar junto com a música, cuja era nossa preferida.

(Representação da Tonks cantando: https://www.youtube.com/watch?v=K18TMbUIwYs).

Quando ela terminou, seu rosto corou furiosamente, porém, o pub fora coberto por aplausos; todos tinham adorado. Ninfadora desceu do palco e veio até a nossa direção tentando agir normalmente para que desviasse os olhares dos presentes clientes do karaokê.

— Caramba, Dora! Por que eu não percebi que você cantava tanto assim antes? – Holly se animou, adiantando-se para abraçar a garota de cabelos tingidos.

— Nem é pra tanto... – ela continuou corada e se sentou em uma das cadeiras que antes estavam sendo ocupadas por mim e Holly – Ah, Lily. Essa bebida era sua? – ela apontou para o drinque de morango com vodka e eu assenti com a cabeça – Que pena, porque agora é meu.

— Ah não! Nem vem! – caí em cima dela tentando tomar o copo da mão dela, mas tudo o que obtive fora um vestido molhado.

Mas Lily! Um vestido molhado? Sim, meus caros, mas a bebida não só fora derramado no meu vestido, mas também fizera o favor de cair em lugares inadequados, digamos assim. Parecia mais que eu tinha urinado álcool do que simplesmente ter sofrido um acidente com ele.

— NINFADORA TONKS, QUAL É O SEU PROBLEMA? – reclamei ainda incrédula diante do ocorrido e me irritei mais ainda quando percebi minhas amigas maravilhosas riam loucamente da minha cara de bosta. – Ótimo! – exclamei antes de sair em direção ao banheiro pisando forte.

Peguei alguns pedaços de papel e passei inutilmente sobre o tecido úmido, que a propósito, cheirava pior do que um mendigo bêbado com essência de morango; respirei fundo antes de me voltar para a porta.

Quando achei que as coisas não podiam ficar piores, acabo esbarrando em alguém.

Por favor, não seja o Potter.

Quando me virei para pedir desculpas notei um Snape apressado e com os olhos avermelhados.

— Foi mal – ele pediu rapidamente e voltou ao seu caminho, sem nem ao menos ter um pingo de consideração em perguntar como estavam as coisas. Apesar de me ver todos os dias, Severo era meu amigo e ficar nesse clima chato era a pior coisa para mim.

— Hey... – segurei o seu braço em função de fazê-lo me encarar, mas ele simplesmente me ignorou e, parecendo um pouco desnorteado, entrou no banheiro.

Isso estava muito estranho. Que eu me lembre, estava tudo certo entre mim e Snape, quer dizer, pelo menos eu pensava que estava. Suspirei me dando por vencida e retornei até o meu lugar no bar.

— E aí? Já acabou a frescurite? – Tonks me provocou e eu revirei os olhos.

— Frescurite porque não foi você que ficou fedendo a álcool – disse em burrada ainda sem olhar pra ela.

— Ah, pensa pelo lado bom, tem essência de morango – ela disse e eu não pude conter os risos. Ninfadora Tonks, você é uma idiota.

Pedi pela última vez a batida de morango e aguardei. Juro que se alguém pegasse eu sentaria a mão na cara, porque já tá virando palhaçada, francamente. Observei o ambiente e um casal subira ao palco, cantaram Thinking Out Loud, do Ed Sheeran, que à propósito se trata de um dos cantores que eu mais gosto. Meu corpo queria simplesmente se soltar e começar a se mexer no ritmo da música, mas a visão de Snape estava atormentando minha cabeça; O que ele estava fazendo? E por que razão ele não quis nem ao menos me olhar? O que eu tinha feito de tão horrível? Será que eu tinha o iludido tanto que ele não queria nem me ver mais? Droga, Evans, aquele beijo foi realmente um erro.

Meus devaneios foram enxotados quando eu percebi um rosto mais do que familiar próximo ao microfone, e ao contrário dos outros, o indivíduo não pedira para o dj colocar o instrumental, até porque ele mesmo tinha suas mãos posicionadas diante o teclado. James Potter começara a melodia, que era acompanhada pela bateria, tocada pelo cara que controlava a música ali. Seu olhar estava nada mais nada menos do que em quem? Isso mesmo, em mim. Apesar de sentir minhas têmporas flamejarem por ter plena certeza que ele estava cantando aquela música para mim, eu não podia negar que aquela era não só uma das minhas músicas preferidas – ele provavelmente tinha descoberto a partir de fontes chamadas Holly – como a voz de Potter também era irritantemente muito gostosa de ouvir.

Em quaisquer outras ocasiões que Hello— da Adele - tivesse tocado, eu teria com certeza me jogado no chão e começado a gritar – sim, gritar – ao invés de cantar. Entretanto, o autor da voz simplesmente não deixara que eu movesse um só músculo de meu corpo.

(Representação do James cantando e tocando: https://www.youtube.com/watch?v=rDWuqrJAyGw [A letra está nos comentários do vídeo]).

Quando ele terminou a sua performance, que por obséquio fora de longe muito impressionante, o pub inteiro aplaudiu de pé, o que já era de se esperar depois de eu ter presenciado Potter tocando na sua própria casa. Senti o meu rosto queimar ao notar um enorme feixe de luz proveniente de um holofote que vinha de Merlin sabe aonde. Provavelmente o desgraçado que controlava aquela coisa percebera que a cantoria fora em homenagem a mim, quer dizer, quem não sabia disso? Os olhos dele não desviaram de mim um minuto sequer, acredito que até um indivíduo cego conseguiria saber que eu era o público-alvo daquela coisa toda.

James Potter me encarara como se esperasse que eu reagisse de alguma forma. Graças ao mesmo, a luz do holofote já tinha sumido da minha silhueta e a minha primeira reação fora virar o meu drinque de uma vez só; Holly e Dora me olharam com uma expressão de “você-realmente-não-vai-fazer-nada?”. Ok, isso pareceu totalmente desesperado e eu realmente não estava preparada para levar esse choque de realidade, mas o que ele esperava? Que eu saísse correndo atrás dele para agradecer o quão romântico ele conseguira ser? Que eu chegasse para ele dizendo que depois de tudo o que passamos tudo mudou por causa disso? Desculpe-me, mas não é assim que as coisas funcionam.

As coisas ficaram bem tensas depois disso, nem ousei retornar à mesa em que se encontravam os Marotos, tenho plena certeza de que se eu o fizesse, certamente seria interrogada pelo resto da noite, o que não estava nem um pouco disposta a fazer. Potter me encarava a cada cinco minutos, e a cada vez que ele o fazia eu virava uma dose de tequila; a bebida que eu condenava logo na hora em que cheguei estava servindo como uma ótima maneira de afogar as minhas mágoas, ou melhor, me safar da conversa que teria com o garoto que há minutos atrás estava cantando a música da minha artista favorita com aquela voz e aquele olhar indecifráveis que somente o próprio James Potter conseguia representar.

Alice e Ninfadora conversavam – sobre alguma coisa que eu não tive o prazer de escutar, já que a minha cabeça latejava de tanto pensar no que tinha acabado de acontecer – e de vez em quando me alertavam de tempos em tempos para dar uma maneirada no álcool. Quando elas estavam praticamente me empurrando para o banheiro – provavelmente para que eu colocasse todas as impurezas pra fora, se é que você me entende – Frank subira no palco e dessa vez parecia diferente, quer dizer, não que eu estivesse bêbada, mas ele não iria simplesmente cantar, tinha alguma coisa... A mais. O garoto se aproximara do microfone e cochichara alguma coisa no ouvido do dj, assim como Tonks fizera poucos minutos antes, ele começara a cantar e eu simplesmente esqueci de tudo o que estava pensando, a música com certeza era tocante, e não só eu, mas minha amigas também conhecíamos aquela música tão bem quanto o próprio cara que fizera o cover maravilhoso, que era Miguel, o rapaz que tomaria parte na trilha sonora de “Cinquenta Tons Mais Escuros”, e só pra você saber, não gostamos de filmes desse tipo, mas temos que admitir que a trilha sonora dessa coisa é de longe incrível.

Crazy in Love”, da Beyoncé, estava sendo cantada pela linda voz de Frank, ele cantava com tanta suavidade que eu podia simplesmente encostar a minha cabeça no balcão e dormir por uma noite inteira, mas à medida que a música ia se passando, ele cantava com mais firmeza, e céus, ele estava ótimo, Alice lacrimejava ao meu lado, mal sabia ela o que vinha a seguir.

(Representação do Frank cantando: https://www.youtube.com/watch?v=rS3xBW5Ovpg).

— Hoje é uma noite especial – Frank começara a falar depois dos aplausos se silenciarem no pub – não só por estar reunido com meus amigos aqui, mas por ser uma data mais do que especial – agora ele olhava para Alice e chamava ela para se juntar à ele no palco, o que ela fez depois de lutar com uma onda de um aparente nervosismo sem obter sucesso (ela estava corada da cabeça aos pés). – Hoje, nós completamos quatro anos de namoro, e nada mais oportuno do que aproveitar esse dia para torná-lo mais especial ainda – ele estava se ajoelhando e o meu coração estava doendo de tanta felicidade, estava quase chorando, sério!— Eu me apaixonei por você desde a primeira vez que te vi e... eu quero passar o resto da minha vida com você. Alice, você aceita se casar comigo? – Eu juro que eu vou explodir! AGRRR!

Alice que agora chorava com a declaração, tinha uma das mãos seguradas por seu namorado e a outra tapava a sua boca totalmente aberta, por conta do choque. Eles são tão fofos, por Merlin! Há essas horas, o pub inteiro estava de pé naquela expectativa. Alice não conseguira dizer nenhuma palavra, mas o gesto mais aguardado foi concedido com a afirmação do nosso grande e doce Sim.

            Eles se beijaram, e o pub inteiro foi coberto de aplausos mais uma vez, e a minha frustração e constrangimento de minutos atrás parecia ter evaporado de meu peito. Como ficar mal com uma revelação dessas? Finalmente eles iriam se casar e eu estava visivelmente feliz, já que a primeira coisa que eu fiz fora abraçar minha amiga quando ela desceu do palco.

            – Parabéns, Ali! Aí meu Deus! Eu amo tanto vocês dois juntos! – falei apertando-a contra mim enquanto tudo o que ela conseguia fazer era chorar de alegria.

            Tonks também dera as suas parabenizações e depois disso, não só Peter, mas todos os outros Marotos se alegraram muito mais e todos foram cantar uma música. Holly e eu ficamos por último, mas decidimos que iríamos cantar um dueto da música “Gangsta”, da Kehlani. Não estava com pique para cantar nada, até porque a minha voz deveria estar pra lá de grogue, mas como minha amiga é uma teimosa de merda eu não pude recusar, é claro. Além disso, Merlin e nossos vizinhos sabiam muito bem o quanto gostávamos da trilha sonora de Esquadrão Suicida.

            Dei uns bons goles do café expresso que ela pedira para mim antes de subirmos no palco. Eu começara com o solo da música e Holly seguiu, a música estava realmente muito boa, íamos intercalando às vezes, Tonks e Alice não se aguentaram e se juntaram a nós duas e acredito que a sincronia de nossas vozes conseguiu agradar a muitos, já que quando eu caí na realidade, dois caras – cujo nunca tinha visto na vida – estavam dando em cima de mim e Holly logo depois que descemos do palco, o que atraiu dois olhares pesados, adivinhem de quem? Isso mesmo! James Potter e Sirius Black. Fizemos o favor de dispensar os primeiros na mesma hora. Acho que já era muita informação para absorver num dia só.

            (Representação das meninas cantando juntas: https://www.youtube.com/watch?v=GrgHj1d-Je4).

            Conversei mais algumas coisas com Frank e Alice e eles disseram que queriam que todos nós – que estávamos reunidos na mesa – estávamos convidados para sermos padrinhos e madrinhas do casamento deles, o que eu tive o maior prazer de aceitar na hora. No total seríamos quatro padrinhos e quatro madrinhas, que incluíam os quatro Marotos, Holly, Tonks, eu e Mary, uma amiga de infância de Alice. Depois de discutirmos animadamente sobre várias coisas do casamento, percebi que já passava das duas da manhã, ou seja, hora de ir para casa. Peter, Sirius, Remus e Tonks já tinham ido embora. Só restavam eu, Frank, Alice, Holly e Potter, que parecia aéreo demais para ser notado.

            – Bem, eu acho melhor eu ir indo... Bem, eu vou certamente acordar com uma ressaca daquelas amanhã, eu mereço dormir – disse aos noivos dando um abraço em cada um. Alice e Frank estão noivos. Aí! Meu coração de shipper não aguenta essa barra. — Você vem Holly? – perguntei para minha amiga sonolenta ao balcão, que parecia impressionantemente sóbria.

            – Não, Lily, vou com a Alice. A minha casa é caminho pra dela – ela respondeu e eu afirmei com a cabeça me despedindo dela.

            – Sem problema, vou só pagar a conta. Até mais, gente! – falei sorrindo largo enquanto observava eles se retirarem enquanto me dirigia ao balcão. Saquei logo duas notas de cem libras de dentro do meu vestido, eu tinha realmente comido e bebido muita coisa, juro que não tinha percebido que tinha ingerido tudo isso, meu organismo estava uma bagunça.

            Virei-me e caminhei até a saída do Caldeirão Furado. Há essas horas só havia casais dançando músicas lentas, e o karaokê já tinha acabado, já que já passava das duas da manhã e todos provavelmente estavam roucos de tanto cantar. Quando coloquei o maldito pé para fora do estabelecimento dei de cara com Potter, ele estava com um brilho estranho no olhar, parecido com o da noite em que ele me dissera que havia terminado o seu relacionamento com Izzy Vanderwall. Eu não sabia o que dizer, nem como agir, estar perto dele nos últimos dias fazia eu me sentir de forma estranha, não sabia o que isso significava, mas era um sentimento tão indecifrável quanto os olhos que me fitavam agora.

            – Lily... Estou indo pra casa agora, posso te levar se quiser – ele dissera tentando quebrar o gelo que estava no ambiente e eu abaixei o olhar abraçando o meu próprio corpo, só então percebendo que meu casaco ficara com Tonks depois de ter derrubado aquele drinque em cima de mim, aliás, o cheiro daquela coisa ainda estava impregnado em mim, precisava urgentemente de um banho.

            – Seria ótimo... Estou meio bêbada e não quero acabar dormindo em nenhum banco de praça de esquina no meio do caminho – disse sentindo uma leve tontura me atingir e... Espera aí! Eu estava sendo simpática com Potter? Lily Evans estava sendo simpática com James Potter? Ah, isso com certeza era novo, devia ser por causa da bebida, sem a menor sombra de dúvida.

            – Tudo bem então – ele sorriu rapidamente e eu senti uma pontada dentro de mim, besteira! — E ah, vista isso aqui. Deve estar com frio – ele tirou a sua jaqueta preta e colocou ao redor de meus ombros, na qual eu murmurei um “obrigada” e entramos no carro.

            O banco de couro do carro estava frio, assim como a brisa gélida que se dispersava no lado de fora; estava frio a ponto de embaçar os vidros e sair aquela típica fumacinha quando alguém respira. O inverno tinha se iniciado, o que só aumentava as minhas expectativas para o natal, já que minha família viria passar a data no meu apartamento; estava morrendo de saudade de todos, mal podia esperar.

            Fui acordada de meus devaneios ao ouvir o Thunderbird roncar ao girar da chave na ignição. Saímos dirigindo pelas ruas vazias e solitárias de Londres. Os semáforos já não estavam mais funcionando há essas horas e a luz amarela piscava com os dizeres “Passe com cuidado”.

            O silêncio se estendeu até chegarmos ao sétimo andar. Minha cabeça realmente doía e eu não conseguia nem caminhar direito, estava receosa de que precisasse da ajuda do rapaz ao meu lado para chegar na porta de casa quando infelizmente percebi que minha bolsinha ficara também com Tonks. Mas que desgraça! A porcaria da minha chave estava lá, junto com o meu celular e tudo o que era de mais necessário, e agora eu simplesmente estava presa do lado de fora do meu apartamento com James Potter. Como eu não percebi isso antes? Mas que maravilha! Da mesma forma, tentei agir o mais normal possível – estou muito estranha hoje, por Merlin!

            – Obrigada pela carona... – falei ainda encarando vários pontos imaginários ao meu redor.

            – Não há de quê – acompanhei minha visão periférica e notei ele fazer aquele gesto que sempre costumara fazer, levar a mão aos cabelos – precisa de ajuda com alguma coisa?

            Como assim “precisa de ajuda com alguma coisa?”, o que ele quis dizer com isso? Bem, agora não importava, eu precisava de um lugar para passar a noite e eu odiava ter de fazer isso, mas teria que apelar.

            – Na verdade... – umedeci meus lábios ainda sem jeito e finalmente ergui meu olhar para ele – Deixei minha bolsa com Tonks e a minha chave e celular estão lá...

            Ele pareceu meio abismado de ter que lidar com o fato de que eu estava praticamente pedindo para que ele me oferecesse um lugar para ficar, mas depois de alguns instantes de uma confusa troca de olhares, ele abriu a porta de seu apartamento e abriu caminho para que eu entrasse. Entrei ainda um pouco desconfortável com a situação e dei uma olhada em volta, dessa vez, apesar de estar um pouco desorientada por causa da bebida, eu pude apreciar o quão arrumado era aquele lugar. Eu nunca diria uma coisa dessas, mas o apartamento de James Potter conseguira, impressionantemente, ser tão arrumado quanto o meu.

            As paredes eram cobertas com um papel de parede que tinha uma textura onde se percebia galhos de diferentes formatos e pequenos cervos, o que só deixara o ambiente ainda mais delicado. Estava surpresa pela paciência de Potter ao esperar que eu terminasse de examinar o ambiente para só então começar a falar.

            – Bem, o banheiro fica no final do corredor, você pode vestir alguma coisa minha só pra dormir, eu vou fazer um café, por enquanto – ele se pronunciou e eu afirmei com a cabeça disparando em direção ao banheiro.

            Ao fechar a porta, despi-me e me apressei a entrar debaixo do chuveiro. Não costumava tomar banho depois de chegar de festas, simplesmente caía na cama desfalecida e só acordava no dia seguinte, mas dessa vez era diferente, o cheiro daquele vestido estava muito forte e eu cheguei ao ponto de querer lavar o cabelo.

            Senti aquela água quente cair sobre o meu corpo e fechei meus olhos pesados tentando relaxar todos os músculos possíveis do meu corpo, sem conseguir tirar da minha cabeça a música que James Potter tinha cantado pra mim. Céus, ele tinha realmente perdido a cabeça? Aquilo era demais...

            Não demorei muito para sair do banho e me secar, quando me toquei que fora tão avoada que nem ao menos tinha pegado nada para vestir e eu sobre hipótese alguma iria vestir aquela podridão – que muitos chamavam de vestido – mais uma vez. Abri uma brecha da porta e adequei minha cabeça ali, na esperança de que Potter pudesse me dar uma mãozinha.

            – Potter? – chamei o rapaz, que apareceu prontamente na porta do banheiro segurando um trapo com duas peças de roupa.

            – Tome, vista isso aqui. Pode ficar um pouco grande, mas é só para dormir mesmo... – ele disse estendendo a camiseta de manga longa e a calça de moletom para mim na porta, na qual eu peguei rapidamente e voltei a fechar a porta.

            Eu estava surtando. Em que planeta James Potter vê uma parte de mim de toalha? Só pode ser pesadelo mesmo, por Merlin! Vesti a roupa rapidamente e passei a toalha pelo meu cabelo rapidamente para tirar o excesso da umidade, procurei por uma escova e penteei meu cabelo. A roupa, apesar de ficar um pouco grande, ficara muito confortável. Demorei-me mais uns cinco minutos tentando secar o cabelo e quando finalmente fiquei satisfeita com o resultado, deixei o banheiro. Surpreendi-me ao passar pelo quarto de Potter e notar que ele já tinha tomado seu banho, provavelmente no banheiro de sua suíte e agora procurava alguma coisa pra vestir, o que me dera uma visão inteira de suas costas nuas. Fiquei por um momento observando a extensão de seus músculos. Quando ele rapidamente veste a blusa e se dá conta de que eu estou ali, desvio o olhar dele um pouco sem jeito e cruzo os braços.

            – Bem, eu... Eu acho que vou tomar um pouco de café pra tirar o efeito do álcool – disse em função de disfarçar que eu, Lily Evans, fui pega olhando para James Potter, o próprio, que depois de ouvir a minha desculpa muito convincente afirmou com a cabeça.

            Senti uma pontada de alívio ao saborear aquele líquido quente descer pela minha garganta, aquilo realmente ajudava demais a amenizar a ressaca. Entrei mais uma vez em devaneios até perceber que Potter – agora já vestido com roupas similares as minhas – estava encostado no armário da cozinha de braços cruzados parecendo apreciar muito a visão que tinha. Terminei o café e coloquei a caneca já vazia na pia. Fiz menção de sair da cozinha, mas ele obstruiu a passagem com a sua presença, meu coração estava pulando do peito, já pude imaginar que algo desse tipo ia acontecer.

            – Potter... – o alertei para que ele saísse do meio, falhando como sempre. O rapaz ficou ali imóvel apenas me observando. Ele ainda esperava a resposta em relação ao que ocorrera no karaokê, horas atrás e eu ainda não tinha essa resposta, até porque não tinha nada para tratar sobre isso. – Você não vai sair daí mesmo, não é? – perguntei retoricamente e senti a mão dele levantando o meu rosto cabisbaixo, senti o mesmo corar na mesma hora. Mas que diabos...?

            Os olhos dele estavam fixos nos meus e de vez em quando davam uma desviada para meus lábios. Maldita hora que eu tinha esquecido minha bolsa, droga. Eu tinha de fazer alguma coisa, ele estava se aproximando, seus olhos se fechando e... Ele, enfim, acabou com o espaço que havia entre nós. Por mais que eu quisesse desviar ou até mesmo empurrá-lo para o fazer bater com a cabeça no vidro do armário, eu não o fiz. Meus braços passaram involuntariamente ao redor do seu pescoço e eu retribuía o beijo. Seus braços musculosos trouxeram minha cintura para mais perto, fazendo com que todo o espaço tivesse sido quitado ali.

            O beijo estava sensivelmente calmo, minhas mãos estavam entrelaçadas nos seus cabelos e ele fazia, agora, o mesmo comigo. De repente o que parecia calmo, se tornou um pouco mais... Intenso, digamos assim. Entrelacei minhas pernas em sua cintura num impulso e ele me colocou em cima do balcão da pia, enquanto continuava a me beijar, agora com mais desejo do que nunca. Ele descera os beijos pelo meu pescoço e eu estava cedendo. Sua barba arranhava todos os lugares na qual ele passava, fazendo com que eu tivesse involuntários arrepios, e ao mesmo tempo em que meus suspiros saíam ele tinha as mesmas reações. Suas mãos passeavam pelo meu corpo, desde minhas coxas até as minhas costas nuas por baixo da blusa, que a propósito estava sem sutiã. Já as minhas deslizavam pela região do seu peito.

            Após o que pareceram horas, encostamos nossas testas uma na outra pegando fôlego. Foi nessa hora que eu senti o meu rosto esquentar mais ainda. Eu havia cedido a James. Depois de todo esse tempo que eu passei resistindo a ele, eu havia cedido e eu não sabia se eu me arrependeria depois, mas agora realmente, eu não estava arrependida.

            Nossos olhos se encontraram mais uma vez e eu não conseguia me conter de tanto constrangimento, afinal, o meu ego fora ferido. James colocara uma mecha intrusa de meu cabelo atrás da orelha e voltara a me contemplar, enquanto sua mão acariciava ternamente meu rosto. Quando eu aproximara os meus lábios dos dele mais uma vez, fora ele quem recuara.

            – Acho melhor você descansar... – ele sussurrava fazendo o seu hálito bater sobre a minha pele – Teve um longo dia hoje e... Você pode me falar sobre hoje à noite amanhã, quando estiver mais sóbria – ele passara as mãos pelos meus cabelos e parecia que eu finalmente voltara a ter controle sobre o meu próprio corpo, já que eu conseguira descer do balcão abraçando à mim mesma, enquanto habituava-me com o frio que era estar longe do corpo quente de Potter (isso soou muito estranho vindo de mim).

            – Tem razão, eu... Só preciso dormir... – disse totalmente sem jeito e ele me encaminhara para o seu quarto.

            – Você pode dormir aqui hoje, eu durmo no sofá. Tem dois cobertores aqui e tem mais travesseiros ali em cima da escrivaninha se quiser... – ele comentou passando a mão pelos cabelos e eu afirmei com a cabeça. – Boa noite, Lily – deitei-me e joguei as cobertas até a altura de meus ombros. Potter fechara a porta do cômodo, me deixando ali, em meio as suas coisas. Essa noite eu dormiria inalando o perfume dele, e apesar de isso parecer estranhamente incomum, eu apreciava.

            – Boa noite, James. – Sussurrei antes de sentir as minhas pálpebras pesadas se fecharem.


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Notas finais do capítulo

Eita, meu povo! Que capítulo foi esse, em? Finalmente esses dois se beijaram! Puta merda, tava ficando louca aqui esperando por esse momento ehehe (aquela carinha da lua do wpp). Comentem o que vocês estão achando dessas representações de geral cantando hihi e já vou avisando para prepararem o coraçãozinho de vocês para os próximos capítulos, porque euzinha aqui estou com muitas ideias e garanto que vai ser demais! Obrigada pela paciência, pelo carinho e é claro, pelos comentários. Nos vemos no próximo capítulo! :D



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