Green Eyes - Jily escrita por Vitória Serafim


Capítulo 2
Azar ou simplesmente falta de sorte?


Notas iniciais do capítulo

Oi gente!! Tudo bem? Bem, esse capítulo vai ser contado pelo ponto de vista do James, vou mudando quando for mais adequado só pra narração não ficar monótona demais. Vai ter bastantes flashbacks pra contar mais sobre como era a vida dele e coisa e tal. Aí vai o segundo capítulo. Espero que gostem :D
[Capítulo revisado]



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/706081/chapter/2

 

[Flashback On]

Minha vida como modelo estava um sucesso, tinham agências solicitando o meu trabalho por toda a cidade e eu me sentia, de fato, um pouco sobrecarregado com essa história toda, apesar de eu amar o que sou, essa vida cansava a minha beleza. Inúmeras profissões passaram pela minha cabeça, desde jogador de basquete até músico, mas somente há dois anos eu finalmente consegui me encontrar.

A segunda coisa que mais me estruturava era a música, além da minha paixão pelo basquete desde o ensino fundamental. Eu sabia tocar violão extremamente bem e estava aprendendo teclado, mas com essa correria toda eu tinha dado uma parada nos treinos. Todas as tardes eu me sentava à minha escrivaninha e começava a praticar, horas se passavam sem eu nem mesmo me dar conta, eram definitivamente os melhores tempos da minha vida.

Senti uma almofada ser jogada sobre o meu rosto, era Izzy. Izzy Vanderwall era a minha namorada, estávamos saindo já fazia um mês e ela, apesar de ser bem mais velha do que eu, parecia ser a pessoa certa. Era uma mulher muito bem estruturada, simpática, otimista e, sobretudo, ainda era atenciosa e carinhosa comigo. Saí de meus devaneios e passei a mão pela minha barba mal-feita, suspirando ao erguer o olhar para a mulher risonha em minha frente.

— Por que anda tão pensativo esses dias? – ela perguntou com as pernas cruzadas enquanto estava sentada no sofá em minha frente.

— Eu? Ah... Nada. Só as agências me atormentando o tempo inteiro – dei de ombros.

— Verdade, você anda muito sobrecarregado nos últimos dias, Jay. Precisa aliviar o stress. O que acha de irmos beber alguma coisa naquele bar que você gosta? – ela se locomoveu até estar sentada ao meu lado segurando minha mão com firmeza.

— Por mim beleza – me espreguicei e me levantei em um salto retribuindo o selinho que ela me lança logo que faz o mesmo que eu.

Peguei a chave do meu Ford e deixei meu apartamento para pegar o elevador. Dirigi por uns três minutos no máximo e chegamos ao estacionamento do Três Vassouras. Adentramos e eu fui logo me sentando em uma mesa qualquer, juro que se ficasse mais um minuto dando bobeira alguém ia acabar esbarrando em mim.

— Vou passar no banheiro e já volto, ok? – ela disse dando mais um selinho e eu sorri assentindo.

Mal dera tempo de me aprofundar em meus devaneios novamente quando vi a silhueta de meus amigos adentrarem o bar. Assim que Sirius me avistou fez questão de abrir um sorriso maroto e não tardou a se aproximar da mesa. Cumprimentei-o e fiz o mesmo com Remus e Peter, que vinham logo atrás dele.

— O que faz sozinho num bar sem nenhuma mulher por perto e nenhuma dose de uísque? – Sirius indagou com deboche e eu ergui as sobrancelhas mordendo meu lábio inferior.

— Na verdade... Izzy veio junto, só foi no banheiro – disse dando de ombros e suspirei.

Eles pareceram notar o meu desânimo e vi Aluado entreabrir seus beiços para falar alguma coisa quando fomos surpresos pela chegada de Holly, que à propósito estava mais eufórica do que nunca. Fazia um bom tempo que não me encontrava, acredito que a última vez fora no natal em que fui contratado pela minha primeira agência. Ela sempre fora a minha amizade feminina mais próxima e apesar de um pouco afastados, cada um com os seus afazeres, ainda tínhamos um ótimo vínculo.

— Holly? – sorri largo e abri os braços a acolhendo.

— James! Eu sabia que podia te encontrar aqui! Quer dizer... Aqui é o seu bar favorito – ela sorriu um pouco sem jeito quando seu olhar encontrou o de Sirius. Eles costumavam se pegar no colegial.

— Acertou então – Aluado se manifestou e abriu espaço para que ela se juntasse a nós nos bancos estofados que rodeavam a mesa.

— Alice e Frank estão pra chegar... – minha amiga se pronunciou.

— Na verdade... – Peter começou olhando para a pista de dança. – Acho que eles já chegaram...

Olhei para trás e vi Alice e Frank de mãos dadas vindo em nossa direção. Sorri e os cumprimentei com um aceno de cabeça. Começamos a conversar e tudo estava ótimo, pelo menos no mundo de James Potter. Os demais marotos tinham se retirado para buscar uma bebida no balcão e eu prossegui a prosa com o Holly e o casal. Assustei-me quando a primeira pulou do banco indo até a porta de entrada, e foi aí que meu mundinho iludido parou. Mal pude acreditar no que vi. Era ela.

Lily Evans, a maior paixão dos meus últimos três anos do colégio, estava ali a apenas alguns passos de mim. Usava uma camiseta gola polo como ela sempre costumava usar e um short que tinha total caimento com a meia calça que usava, mas a grande questão foi que a ruiva se aproximou da mesa e estava preparada para dizer alguma coisa, mas o meu olhar foi de encontro ao seu. Eu estava pirando, só podia estar, para ver Lilian na minha frente só podia estar reagindo a um dos meus primeiros sinais de loucura, com certeza      . Seus olhos verdes vivos eram como eu costumava me lembrar, ela tinha congelado. Ou na verdade teria sido eu?

[Flashback Off]

Tinha levado Lily e Holly para casa, que era no mesmo andar da minha, e a imagem da garota não me saía da cabeça. Aqueles cabelos ruivos que sempre acariciavam a minha vista, os seus olhos verdes que sempre cobiçara... Acredito que sofri apenas um choque de realidade, estive tempo demais obcecado por ela, talvez depois de tanto tempo, um reencontro repentino tenha mexido um pouco com o meu psicológico, só isso. Afinal, agora eu estava com Izzy e era tudo o que importava.

Já passava das três da manhã e eu me remexia na cama, totalmente desperto. Meus olhos decidiram que não estavam dispostos a se fecharem, logo porque amanhã eu teria uma sessão de fotos às dez da matina. Que maravilhosa hora para aparecer, Lírio!

Acordei na manhã seguinte com o susto que levei de meu próprio ronco, não sei como alguém é capaz de acordar ao som dos próprios roncos, mas eu era, claramente, uma dessas pessoas. Sentei-me desnorteado na beirada da cama e olhei de esguelha para o meu celular em cima da cômoda, desbloqueei-o e me deparei que já eram mais de dez e meia, ou seja, eu estava mais do que atrasado e, ainda por cima, inúmeras ligações perdidas de Izzy tomavam parte da minha barra de notificações. Ela era a minha sócia, sem ela os negócios não estariam tão movimentados quanto estão ultimamente. Larguei o celular em cima da cama e saí desesperado em direção ao banheiro.

Cheguei à agência uns quarenta minutos depois com uma respiração ofegante e notei que os fotógrafos já arrumavam as coisas para deixarem o lugar. Quando pensei em me manifestar, Izzy invade a minha visão com uma expressão preocupada.

— Ei, aí está você! Por onde esteve? Os fotógrafos já estavam de saída...

— Eu acabei perdendo a hora, me desculpem – disse num pedido geral. – Será que ainda dá para fazer a sessão? – o diretor de fotografia rolou os olhos.

— Não vamos mais admitir atrasos seus, Sr. Potter. Da próxima vez iremos embora.

— Certo, tudo bem. Desculpem-me mais uma vez, não vai mais se repetir.

Apesar de não estar com nenhuma cabeça para participar de uma sessão de fotos, passei as últimas quatro horas do meu dia me produzindo e fazendo poses para um bocado de câmeras. Não que eu não goste do meu trabalho, muito pelo contrário, minha aparência estava, mais uma vez, servindo de bom uso por minha parte, mas sabe... Tem dias que a pessoa não acorda disposta, e esse era o dia perfeito para afirmar isso.

— Perfeito, James. Está liberado. Semana que vem chamamos você para ver como ficou a nova edição da Man.

— Ótimo – disse folgando o nó de minha gravata, despindo-a logo em seguida.

— Você foi ótimo, querido – Izzy se aproximou com um sorriso radiante que só ela sabia fazer.

— Obrigado – sorri de volta. – Sabe que pessoas lindas saem ótimas em qualquer foto – ela revirou os olhos.

— Bobinho – ela negou com a cabeça sorrindo. – Acho melhor ir se trocar. Deve estar faminto...

O que era puramente verdade. Não sabia quanto tempo tinha ficado ali dentro, só sabia que o meu estômago gritava por dentro em carência por um bom pedaço de proteína (pelo menos o meu, já que Izzy era vegetariana e não ficava com fome facilmente; o que não entrava na minha cabeça, já que ela só se alimentava de tofus e qualquer folha que fosse comestível). Voltei ao camarim e vesti minha roupa casual mais uma vez. Depois disso, deixamos o edifício da agência e fomos até o shopping mais próximo, que por sinal, era o maior de Londres.

Apesar de diversos pontos turísticos, o shopping no centro de Londres era o lugar que eu mais gostava de visitar, era um lugar lindo, diversas lojas de marca, corredores largos, aproximadamente uns quatro andares e a comida era maravilhosa. Andei de mãos dadas com Izzy enquanto passávamos por algumas lojas à caminho da praça de alimentação.

— Onde vai comer hoje, amor? – ela perguntou.

— Não sei. Burger King, talvez. Vontade de comer batata suprema – sorri de canto dos lábios e a encarei. – Você?

— Estava pensando em comer um tofu grelhado, mas ainda não sei, tem muita coisa gostosa pra pedir – ela sorriu e eu retribui.

Caminhamos mais alguns segundos e chegamos à escada rolante, a praça de alimentação ficava no piso superior. Quando subimos na mesma, meus olhos encontraram uma joia em especial (numa loja ainda no piso em que estávamos). Era um colar com algumas pedras verdes no pingente e o cordão era banhado a ouro. Lembrei-me de que tinha dado um igualzinho à Lily no seu aniversário no último ano do colégio, ela apesar de não querer aceitar, eu meio que a obriguei.

[Flashback On]

O dia estava ensolarado do lado de fora do colégio, os jardins estavam ocupados por diversos alunos sentados embaixo de árvores enquanto conversavam ou apenas desfrutavam de uma boa leitura. Hoje, em específico, era um dia especial: dia do aniversário da minha ruivinha. Ela completava seus dezoito anos, era dois meses mais velha do que eu, eu era o mais novo de todos ali. Tinha comprado o seu presente há umas duas semanas com a ajuda de mamãe, que era ótima com essas coisas, já que meu pai constantemente a presenteava com algo parecido.

Era um dos colares mais lindos que já tinha visto, e um pouco caro, é claro, mas como minha família era dona de uma grande renda, permitia que eu comprasse tudo o que eu tivesse vontade sem me preocupar com o valor que eu teria que gastar, e isso incluía os presentinhos que eu comprava para o meu Lírio.

Passei o meu perfume da Hugo Boss e desci com o presente no bolso da calça – já que a caixinha era pequena, ela cabia muito bem – em direção ao jardim. Com certeza Lily estaria sentada em um canto lendo e essa era uma das melhores horas para pegá-la desprevenida.

            Desci as escadas do dormitório e saí do prédio pisando no gramado fofo. De longe vi uma Lilian muito sorridente sentada na grama embaixo de uma árvore que eu costumava subir para pensar, ela estava acompanhada de Holly e parecia ter acabado de escutar uma piada muito boa, porque seus olhos lacrimejavam de tanto rir, isso fez com que eu ficasse uns instantes ali parado, só observando a cena. Quando percebi que o meu sorriso embasbacado já estava chamando a atenção de muita gente, meneei a cabeça e parti em direção a elas.

— Bom dia James! – Holly disse logo que percebeu a minha aproximação.

Sorri.

— Bom dia Holly. Bom dia, Lils – me sentei ao lado dela, que ainda estava focada no seu livro.

— Bem... Eu tenho umas coisas para fazer. Vejo vocês depois – Holly disse entendendo minhas intenções e retirou-se.

Lily não me respondera, continuou lendo o seu livro como se eu nem tivesse chegado. Deitei-me com a cabeça próxima do seu colo e fiquei a admirá-la com um sorriso bobo.

— O que você quer, Potter? – disse ela com a cara fechada, ainda sem desviar o olhar da sua sagrada leitura, que eu notei olhando com mais minúcia que se tratava de "A Culpa É das Estrelas", um livro do autor que ela mais gostava.

— Te desejar os parabéns? – disse erguendo uma de minhas sobrancelhas e ela me olhou com o canto do olho e finalmente, finalmente fechando o livro depois de ter marcado a página em que ela havia parado.

— Pensei que não desse parabéns para as pessoas dessa escola – ela deu de ombros.

— Certamente, mas creio que você não seja as demais pessoas – sorri de leve e me sentei de maneira civilizada. – Feliz aniversário – disse tirando uma caixinha do meu bolso dianteiro da calça jeans e estendendo para ela, que ficou boquiaberta. – Bem... Eu sei o quanto esse dia é importante pra você e – passei a mão pelos cabelos em um gesto rápido. – Eu achei que fosse gostar.

— Potter... – ela disse quando abriu a caixa.

— Sim?

— Eu não posso aceitar – ela ergueu seu olhar até o meu. Aqueles olhos verdes que tomavam conta da minha mente o tempo inteiro...

— Não só pode, como vai – disse rapidamente como se estivesse mandando, mesmo sabendo que era ela quem me dava ordens aqui. – Vem, deixa que eu te ajudo.

Tirei a joia de dentro da caixa com delicadeza e fiz um sinal para que ela afastasse seus cabelos, o que ela realizou com prontidão, dando-me a total visão do seu pescoço. Tentei me controlar e consegui encaixar o colar. Aproveitando a viagem deixei que minhas mãos deslizassem dos seus ombros até seus braços, ela se virou e eu me dei conta que nossos rostos estavam a apenas centímetros um do outro.

Meu Deus... Dê-me forças para eu não acabar com o meu controle e a beijar. Por favor. Vamos. Agora. Droga, ela está perto demais! Ah, dane-se.

Lancei minha mão na lateral de seu rosto e uni nossos lábios, na qual ela não fez nenhuma questão de recuar, tentei ser o mais são possível e fazer tudo aquilo com muita calma. Mas como ser são na presença de Lily Evans? Como manter o controle quando a menina dos meus sonhos estava tão próxima assim? Simples, se eu perdesse a linha, talvez ela nunca mais olhasse na minha cara.

Quando eu achei que ela estava caindo na minha ela se recua.

Eu disse que essa menina é barra pesada.

— O que está fazendo? – ela murmurou parecendo um pouco desnorteada.

— Dando o seu presente de aniversário, o que mais eu estaria fazendo? – disse rapidamente e abri meu melhor sorriso maroto.

— Não ouse chegar perto de mim de novo – disse ela com desprezo levantando-se e saiu pisando forte carregando o seu livro.

Não pude fazer outra coisa além de ficar ali encostado na árvore a olhando ir embora com o sorriso mais babaca do mundo. Eu tinha acabado de beijar o amor da minha vida, nada mais importava.

[Flashback Off]

Quando voltei à minha sanidade, notei que tínhamos nos sentado em uma mesa qualquer da praça de alimentação e Izzy dizia alguma coisa sobre como sairia a nova edição da Man Magazine e outra sobre as minhas próximas sessões de fotos.

Como eu teria chegado ali? Provavelmente tinha falado com ela sem nem mesmo perceber, que ótimo. Mais foco James Potter, mais foco.

Pedi um combo de Double Cheese com batata suprema e voltei à mesa tendo a visão de uma Izzy já degustando de seus maravilhosos tofus.

Sinceramente eu não sei como uma pessoa consegue sobreviver sem proteína, eu mesmo se passasse um dia sem colocar um pedaço de carne na boca já teria agonia. Ok, isso soou um pouco selvagem demais, mas é isso.

— Nossa, esse com certeza é o melhor tofu que já comi na vida – disse ela depois de uma mordiscada.

— E esse é o melhor hambúrguer com batata suprema que eu já comi – disse de boca cheia fazendo alguns restos alimentares saltassem da mesma.

— Ei! – ela começou rindo. – Primeiramente, não fale de boca cheia. Em segundo lugar, você deveria me ajudar com essa coisa toda de ser vegetariana, comer um hambúrguer na minha frente não facilita nada – ela fez biquinho e eu ri.

— Tem razão, dessa vez eu não jogo na sua cara – senti ela negar com a cabeça e voltar a comer a sua refeição.

O restante das horas no shopping passou rápido, fomos ao cinema assistir Jason Bourne, indicado por mim, é claro. E eu digo a vocês, meus caros, que esse foi um dos melhores filmes da trilogia (que na verdade agora é uma franquia), já que eu adoro o ator que interpreta o protagonista. Deixei Izzy em casa e peguei meu caminho de volta para casa. Ao estacionar o carro, senti meu celular vibrar. Sorri maroto ao ver que era Sirius, deslizei o dedo sobre a tela.

— Almofadinhas, meu caro... – disse com um tom de voz safado que sempre costumávamos nos dirigir um ao outro.

Pontinhas, meu amor. Como vai?— ele tinha o tom irônico explícito.

— Maravilha e você? – Subi as escadas já que o elevador tinha parado de funcionar.

Ótimo. O que acha de rolê com os marotos amanhã na festa que vai ter aqui perto? À noite, tomar umas, sem namorada, sem compromisso, só eu, você, Aluado e Rabicho — ele falou rápido.

— Sirius, Sirius... Você está aprontando alguma, não está? – sorri malicioso e suspirei um pouco ofegante, já que não era brincadeira subir sete andares de escada.

Eu? Por que eu aprontaria alguma? Francamente, Jay, nem parece que é meu amigo— ele imitara a voz de Izzy e eu revirei os olhos.

— Muito engraçado – disse sarcasticamente e olhei uns cinco segundos para a porta de número 5972 antes de adentrar no meu apartamento.

Qual é, James? Você tem que relaxar. Cadê a zoeira?

— Tá bem... Mas só porque eu não tenho nada marcado pra amanhã – o provoquei.

Esse é o espírito da coisa! Nos vemos amanhã então. Durma com os anjinhos, meu bem— revirei os olhos.

— Boa noite, Almofadinhas – sorri e desliguei a chamada.

Ótimo. Já não precisava mais ficar em casa amanhã, não tinha nenhum compromisso, nem nada, perfeito pra relaxar. Deitei-me no sofá e encarei o teto por um tempo e me veio à lembrança o dia em que eu e Izzy começamos a namorar, quer dizer, sair, já que agora é que as coisas começaram a ficar mais sérias.

[Flashback On]

Hoje era o meu primeiro dia. Posar para uma revista era totalmente novo pra mim e eu estava pronto para testar a nova experiência, já que a minha aparência era impecável, quer dizer, se isso não fosse o suficiente eu tentaria a minha carreira na música, que é uma das coisas que eu mais gosto de fazer.

Mais do que ninguém, o violão me trazia uma paz que nem eu mesmo conseguia explicar, era totalmente indescritível a sensação de estar em contato com um instrumento tão belo, eu ainda pretendia escrever uma música, esse era um dos meus maiores objetivos na vida. Embora eu tivesse uma porcaria de criatividade eu ainda esperava por isso, e acredito que as ideias surgiriam com o tempo, e talvez, somente com algo muito forte e marcante é que estas viriam.

Saí do meu apartamento e fui direto para a agência. Meu coração estava batendo a mil por hora, eu realmente esperava ir bem no teste. Chegando lá, entrei no camarim e umas duas mulheres fizeram o meu cabelo e minha maquiagem.

— Te chamo em um minuto, Sr. Potter – a maquiadora disse se retirando, provavelmente para se certificar de que estava tudo pronto.

Senti minhas mãos gelarem na mesma hora, eu estava definitivamente nervoso, o que era totalmente novo, já que eu sempre fui conhecido pela minha convicção e confiança. Isso era totalmente novo para James Potter.

— Ok, já estamos prontos – disse a moça e eu a segui passando a mão pelo meu cabelo uma última vez.

O estúdio era simplesmente incrível, tinham todos os equipamentos que eu sempre ouvia papai me dizer, já que ele era um gênio da tecnologia e fosse uma das principais razões para que minha família tivesse tanto dinheiro. Me aproximei dos fotógrafos e os cumprimentei.

— Bem-vindo, Sr.Potter. Eu sou Joshua, o seu fotógrafo. Esses são Jeffrey e Giulia, são da equipe do figurino – quando pensei que já íamos começar, escutei um pigarreio e franzi o cenho.

— Ah, claro. Como pude me esquecer? Essa é Izzy Vanderwall, a diretora da fotografia.

Ergui meu olhar para a linda loira que estava em minha frente, tinha curvas incríveis e era muito sorridente e simpática, já que a primeira coisa que ela fez foi me cumprimentar com um beijo na bochecha. Sorri e a encarei fixamente enquanto dei um beijo nas costas de sua mão.

— É um prazer conhecê-la, Srta. Vanderwall.

— Ah, por favor, me chame de Izzy – ela corou levemente nas maçãs do rosto e eu assenti.

— Bem... Podemos começar? – Joshua interrompeu um pouco sem jeito.

— Certamente – Izzy respondeu.

Encaminhei-me para a região do fundo branco onde eu seria fotografado e tentei ser o mais natural possível enquanto os flashes incendiavam o meu olhar. Depois da sessão, acabei sendo convidado para um jantar de negócios com a diretora da fotografia e eu aceitei. É claro que eu estava muito animado com toda essa história de ser modelo, então voltei para casa e contei tudo aos marotos sobre a sessão e o jantar que diziam ser de negócios.

— Jantar de negócios? – Peter murmurou enquanto abocanhava uma maçã arrancando metade da mesma em uma só mordida. – Pra mim essa história tá muito mal contada.

— Concordo – Aluado desviou o olhar do tablet que mostrava a manchete do seu blog "O Profeta Diário", na qual ele costumava postar dicas de coisas relacionadas à leitura e essas outras coisas que só geeks entendem.

— Pra mim essa gostosa de quem você falou só tá querendo te dar uns belos amassos – Sirius disse dando de ombros enquanto assistia o jogo dos Chudley Cannons (o time de basquete para que torcíamos) que passava na televisão.

— Caramba galera. Acham mesmo que é só pra isso? Acho que também se trata muito do assunto das revistas que eu posso fazer participação e... – fui interrompido.

— É, nós achamos mesmo – eles disseram em uníssono e eu revirei os olhos.

— Mas tem muito mais haver com...

— CEEEEEEEEESTA! – Sirius gritou eufórico. – Eu já sei que esse jogo é nosso! – revirei os olhos.

— Tudo bem, eu vou tomar um banho – neguei com a cabeça sorrindo. – Qualquer coisa grita.

— Qualquer coisa tipo o que? – ele franziu o cenho se passando por desentendido.

— Sei lá. Se ganharmos o jogo, ou Peter parar de comer, coisas desse tipo – sorri maroto, o que arrancou uma gargalhada de Remus.

— Nem com todos os banhos que você tomou na sua vida vão compensar o tanto que Peter come – Aluado comentou em tom debochado e voltou a rolar a timeline do seu blog, provavelmente em busca de comentários sobre o seu último vlog sobre "Os 10 melhores livros sobrenaturais que você precisa ler".

— Olha só quem está pegando o jeito das travessuras aqui – Six comentou rindo da piada que meu amigo acabara de contar.

— Não encham vocês dois. Remus, você fica com os seus livros, Sirius fica com o jogo de basquete dele, James com a chefe e eu fico muito bem com a minha comida – todos riram e eu fui para o banho.

Depois de pronto me olhei no espelho. Tinha colocado um dos meus melhores smokings e o meu perfume preferido, eu esperava que esse jantar realmente fosse produtivo e que eu fosse escolhido para posar em diversas sessões. No começo pode ser um pouco constrangedor, mas depois as coisas se naturalizam, leis da vida. Passei a mão pelo meu cabelo, como um tipo de mania que eu adquirira com o meu pai e sorri maroto olhando meu próprio reflexo.

Levei um susto quando meu celular começou a tocar, eu tinha tirado do vibrador quando entrei no banho, eu tinha medo daquela musiquinha do toque do iPhone, sinistra.

— Pai?

Meu garoto! Como vão as coisas? Sucesso com as garotas? — a voz maliciosa do meu pai ecoou pelo outro lado da linha e eu gargalhei, tinha uma boa relação com os meus pais, eles realmente me apoiavam em tudo.

— Excelentes, já com as garotas não posso dizer a mesma coisa... – ironizei passando a mão nos meus cabelos mais uma vez sentando na beirada da cama.

Como? Eu ouvi direito? Meu filho, o pedaço de carne mais desejado do ensino médio não está se saindo bem com as mulheres? Acho que liguei errado— ele caçoou e eu neguei com a cabeça sorrindo.

— Na verdade não estou tão horrível assim, já que a minha chefe da minha sessão na agência me chamou para jantar – disse galanteador.

Jantar de negócios, huh?— ele riu. – Sua mãe caiu na mesma.

— AH QUE DELÍCIA, JAMES! – Sirius gritou entrando no quarto e eu arregalei os olhos. Tudo o que meu pai conseguiu fazer foi rir.

Almofadinhas? — disse meu pai quando eu coloquei no viva-voz depois dele ter se recuperado de um ataque de risos. Revirei os olhos.

— Oi papai! Estava me divertindo com o garanhão aqui – Sirius dizia com a maior diversão do mundo. Meus pais tinham o adotado quando ele ainda era um garotinho, já que ele foi deixado pela família, desde então eu o venho considerando como meu irmão de sangue.

Essa foi ótima, nem eu tinha pensado nisso — meu pai começara a rir de novo.

— Eu sei que eu sou demais – o cachorro falou.

— Ok, Ok! Chega de mimimi né? Tenho um jantar para comparecer, se me dão licença... – voltei a colocar o celular na orelha. – Já vou indo pai, quando eu chegar em casa eu te ligo – faço uma pausa ouvindo. – Tá, tchau – olhei para Sirius. – Você é louco! – comecei a rir e joguei uma almofada na cara dele. – Se fosse a mamãe você estaria ferrado na minha mão – ele se desmanchou em risadas.

— Eu, em! Nem uma zoeirinha não aguenta mais, qual é, Pontinhas? Cresceu e amadureceu? – ele estava sem ar e eu não pude conter a minha vontade de rir junto, éramos dois idiotas.

Depois de me recuperar do acesso de risos e ajeitar o meu smoking mais uma vez, despedi-me dos marotos e combinei de encontrá-los na boate que tinha pouco depois da quinta avenida com o ponto telefônico à direita. Dirigi aproximadamente meia hora para chegar ao meu destino, Londres sempre fora fantástica a ponto de todos os lugares mais importantes serem próximos, o que só facilitava a vida de todo mundo.

Eu nunca tinha ido àquele restaurante, era totalmente novo pra mim. Apesar de já ser acostumado com restaurantes refinados me surpreendi ao adentrar naquele. Era tudo muito delicado, as paredes não eram simplesmente pintadas, todas elas tinham uma textura diferente e cada uma das superfícies era preenchida por pelo menos dois quadros (quando não por espelhos), havia um grande lustre dourado no meio do salão onde um homem tocava saxofone e as mesas eram muito formais, um castiçal em cada uma, um balde com champanhe e taças de cristal. Avistei Izzy de longe e ajeitei a gola do meu smoking, aproximando-me.

— Boa noite – sorri de leve fitando a mulher extremamente elegante em minha frente. Ela trajava um vestido bege largo que vinha até os seus tornozelos e um cinto salmão prendia o excesso na cintura, era bonito, mas com certeza não era nada comparado ao estilo do meu smoking, fiquei um pouco sem graça.

— Boa noite, Srta. Vanderwall – beijei a mão dela com cortesia e sentei-me na cadeira em sua frente.

— Izzy... Me chame de Izzy – ela sorriu simpática e eu afirmei com a cabeça.

— Certo, tinha me esquecido – passei a mão pelos cabelos.

— Tudo bem. Bom, hoje eu tenho uma proposta para lhe fazer. Duas, para falar a verdade – ergui as sobrancelhas surpreso.

— Ótimo. Vou querer o mesmo que a senhorita – disse quando o garçom aparecera perguntando sobre o meu pedido.

— Bem, é que eu sou vegetariana, se não se importar... – congelei.

— Não, tudo bem, não me importo – sorri para descontrair um pouco e prosseguimos com o jantar.

Izzy me mostrara três revistas com minhas fotos. Ela havia se interessado por mim e achava que eu faria um bom trabalho com as outras três revistas também. Fiquei de longe bastante surpreso, podia esperar uma proposta boa, mas não uma de ouro que nem essa. Aceitei e degustamos do jantar, que apesar de não ser lá essas coisas (já que eu sou um maníaco por proteína) estava muito bom e tinha ultrapassado as minhas expectativas. No fim do jantar suas mãos encontraram as minhas e eu as segurei, deixei nos levar pelo momento.

— Eu disse que ela estava te querendo! – Sirius disse depois de virar a terceira dose de whisky de fogo.

— É, Pontas, você não achou realmente que fosse um jantar de negócios, achou? – Remus se pronunciou enquanto estava apenas observando a reação de todos nós. Peter comia uma porção de fritas sozinho, Sirius bebia mais do que um cavalo com sede e eu assumia minha nova personalidade de James confuso e inocente. Ok, o que eu posso fazer sobre isso, eu prefiro o meu eu do colegial, mas as coisas mudam, certo?

— Relaxa Aluado, o James anda meio balançado depois do ensino médio. Por que você acha que ele tá assim? – Sirius cambaleou e tomou um lugar ao balcão enquanto me encarava.

— Porque a Lily deu um fora nele e nunca mais apareceu? – murmurou Peter com a boca cheia de batata.

— Ponto pro Rabichinho! Caramba, você andou estudando Peter? Está mais inteligente do que na época em que estudávamos juntos – Sirius caçoou e Peter revirou os olhos.

— Nada a ver! Eu não estou assim por causa da Lils! – explodi. – Quer dizer... Não que eu não sinta a falta dela, mas eu não mudei o que eu sou por causa dela, nunca precisei disso.

— Tem razão, ela sempre te odiou de todo jeito... – Sirius murmurou e virou a sua quarta dose de whisky.

— Ok, acho que já chega Six – Remus repreendeu o amigo.

— Olá rapazes, posso ajudar? – uma garota de programa apareceu brotando do piso no meio da conversa.

— Opa, meu amor, só vem pro cachorrão – Sirius se levantou para dar ideia em cima da moça e percebeu que não tinha capacidade de se sustentar sozinho, então tornou a se sentar. Ele olhou em transe para a roupa da moça, que por um momento eu pensei que ele estivesse secando os seios da mulher. – V.L? – ele olhava o crachá alfinetado em sua roupa. – O que significa isso? – a moça se aproximou e cercou Six ainda esparramado na cadeira. Ela abriu três dos botões de sua camisa e aproximou seus lábios dos de Sirius.

— Vicky Lopes, meu amor. Mas você pode me chamar do que preferir, afinal, eu sou sua – ela sussurrou e começou a pegar o rapaz enquanto se sentava no seu colo nada estabilizado. Ela só não ficara nua (mais do que já estava) e prosseguira com aquilo porque Sirius começara a rir no meio do beijo.

— Sério? Porque eu achei que fosse vadia louca – os marotos foram ao chão todos ao mesmo tempo, essa fora a piada da noite. A prostituta bufou e saiu rolando os olhos.

— Caramba, Almofada! Meu Deus, nessa você se superou – disse me recuperando do meu pequeno acesso de risos que parecia mais com uma convulsão. Aluado, apesar de quase nunca se identificar com as piadas de Sirius, estava rindo, juntamente com um Rabicho com a boca lotada de comida. – A...Até o Aluado... – tento respirar para continuar, mas as palavras não saíam, Jesus, como nós somos idiotas.

Nos entregamos a algumas doses do whisky de fogo e quando a boate começou a virar um puteiro em si, nós demos no pé antes que Sirius nos matasse de rir de uma vez só.

Depois desse dia, a minha carreira como modelo se tornou mais ativa e eu comecei a ter mais "jantares de negócios" com Izzy, foi assim que eu e ela começamos a namorar.

[Flashback Off]

Quando voltei à realidade, notei que já fazia uma hora que eu estava ali deitado no sofá com as pernas apoiadas na parede pensando. Me levantei e encaminhei-me até o meu quarto, acredito que essa era a hora perfeita para praticar um pouco, já que eu estava livre pelo resto da noite. Peguei um dos meus violões preferidos e me sentei encostado na grade da minha varanda, apossei-me da palheta e fechei os olhos posicionando meus dedos sobre as cordas. Inspirei e expirei sentindo a brisa noturna sobre o meu corpo, era a hora de deixar a música fluir através de mim.

Foi então que comecei a tocar e a minha voz acompanhara as notas.

Honey you are a rock

Upon which I stand

And I came here to talk

I hope you understand

The green eyes

Yeah the spotlight

Shines upon you

How could

Anybody

Deny you?

I came here with a load

And it feels so much lighter

Now I've met you

And honey you should know

That I could never go on

Without you

Green eyes

Honey you are the sea

Upon which I float

And I came here to talk

I think you should know

The green eyes

You're the one that

I wanted to find

Anyone who

Tried to deny you

Must be out of their mind

'Cause I came here with a load

And it feels so much lighter

Since I've met you

And honey you should know

That I could never go on

Without you

Green eyes

Green eyes ohohohoh

Ohohohoh

Ohohohoh

Ohohohoh

Honey you are a rock

Upon which I stand...

Ao término da música abri os olhos; não sei o porquê disso agora, mas essa música surgiu do fundo da minha mente e tinha um significado incrível por trás, até porque essa fora a música que eu costumava relacionar com o vínculo entre Lily e eu há um tempo. Ela havia voltado e aquilo mexera comigo.

Por que eu penso nela o tempo todo? Por que não estou pensando na Izzy o tempo inteiro? Ela que é a minha namorada, não deveria estar dando a mínima para quem não dá a mínima pra mim, mas com Lily era diferente, sempre foi.

Ok, chega de pensar nela, James Potter! Ela te odeia, você tem namorada e o passado ficou para trás, fim da história.

Pratiquei por mais um tempo e fui me deitar.

No dia seguinte (lê-se domingo) eu não tinha nenhum compromisso, o que era ótimo. Talvez os marotos e eu saíssemos à noite para distrair um pouco para relembrar os velhos tempos. Comecei a rir só de relembrar mais uma vez a memória de um mês atrás que Sirius bebeu demais e chamou a garota de programa de vadia louca.

Já passavam das duas da tarde; tomei um banho e me joguei no sofá virando minha atenção para a televisão, dentro de instantes teria um jogo da semifinal da liga de basquete e o meu time iria jogar. Decidi ligar para os marotos e chamá-los para assistirem o jogo comigo.

— O Williams e o Stone vão estar jogando essa partida e o desgraçado do Andreotti vai entrar só pra estragar tudo – Sirius comentava enquanto estávamos todos na sala de estar esperando o comercial cessar para que pudéssemos finalmente aproveitar o jogo em paz.

Eu estava deitado a um lado do sofá e Sirius ao outro, Peter estava no balcão da minha cozinha americana sentado em um banco alto enquanto se deliciava com uma tigela de cereais com leite e Remus, por último, estava sentado na poltrona defronte à vidraça da sacada.

— Para com isso, Six. O Andreotti foi escalado pra jogar porque ele é bom, o técnico não é idiota de colocar alguém que não sabe jogar no meio da quadra bem numa semifinal de um torneio como esses – Aluado falou com um pé apoiado em cima da poltrona em que se sentava.

— Ah, Almorradinhas, ele num é narra mau— disse Rabicho com a boca ocupada com metade da maçã que ele comia acompanhando o seu café da manhã, que na verdade era o segundo do dia.

— Com certeza que ele é ruim. É terrível, para falar a verdade. Isso tudo é culpa do Kartian que machucou o O'Chantrey de jeito! – irritou-se Sirius. Sloan O'Chantrey era o nosso atleta preferido do Chudley Cannons, que fora afastado desde as eliminatórias porque machucou o pé depois do jogador do time adversário ter pisado nele.

— Que foi, James? Está calado... – Aluado, observador como sempre, notou o meu estranho silêncio e eu saí de meus devaneios.

— Ah, nada. Acho que é dor de cabeça. Almofadinhas, tem cerveja no frigobar – disse fugindo do assunto, o que funcionou muito bem.

Sirius se levantou num salto e correu até a geladeira pegando três cervejas e jogou uma pra cada um de nós que estávamos na sala. Peter franziu o cenho.

— Ei! – ele engoliu forte o que ele estava comendo e retomou à sua fala. – Você pega pra todo mundo e se esquece de mim, que legal, né?

— Eu achei que você estivesse no seu café da manhã ainda, me desculpe se você sempre está comendo – Sirius disse dando de ombros e abriu a sua garrafa dando o primeiro gole.

— Ótimo – Peter rolou os olhos e voltou a comer da sua funda tigela.

— Querem sair hoje à noite? Tem um filme muito bom no cinema esses dias – disse tentando me animar e sorri maroto para meus amigos.

— Demorou – Sirius disse antes de dar outro gole na cerveja e eu sorri de canto, os outros concordaram.

— Começou! – exclamou Peter cuspindo uma poça de leite em cima do balcão e nós fizemos uma careta.

— Mas que droga! Eu sabia que esse idiota não servia pra nada... Não marca nem o Kyle! – Sirius disse revoltado quando o placar mostrava que perdíamos de 60 à 40 para o time adversário.

— Concordo com o Sirius, esse cara é um amador! – disse revoltado, era muito competitivo quando se tratava de basquete; de tudo, na verdade.

...e Kyle faz mais uma cesta! É impressionante como esse gigante enterra a bola no aro!— o locutor dizia e todos nós rugimos. – Fim de jogo! E os Holyhead Harpies vencem de 80 à 47!

— Mas que merda! – Sirius e eu gritamos em uníssono para Londres inteira escutar, o novo técnico era realmente um desastre.

— Ok, marotos. Acho melhor irmos assistir o filme que Pontas sugeriu. Esse jogo deu no que tinha que dar – Aluado disse surpreendentemente depois de passar o jogo inteiro em silêncio, ele era meio indiferente com essas coisas.

Saímos do meu apartamento e descemos as escadas (ainda não tinham concertado o elevador) e todos seguimos para o shopping no meu carro maravilhoso. Sirius e eu ainda discutíamos o jogo como se não houvesse o amanhã. Peter e Aluado conversavam sobre coisas aleatórias no banco de trás para não ficarem perdidos nos gritos de raiva que Sirius e eu dávamos a cada vez que era mencionado o nome de Charlie Andreotti.

Chegamos ao shopping e compramos o ingresso para ver Esquadrão Suicida, todo mundo falava sobre esse filme e nós, obviamente, queríamos estar por dentro de tudo o que era discutido. Pedi para que eles se adiantassem em direção à sala com tudo, que eu ficaria encarregado de trazer a bandeja com as pipocas e os refris meu, de Aluado e Sirius (já que a primeira coisa que Peter fizera ao chegarmos fora comprar o que ele quisesse numa lojinha de guloseimas do shopping). A fila estava enorme e eu precisava que eles pegassem os lugares, era a estreia do filme e a sala com certeza estava cheia, considerando que era uma sessão de seis horas da tarde, num domingo, ainda por cima.

Entrei na fila e fiquei olhando de um lado para o outro tentando passar o tempo, quando ouvi um tranquilo soar duma voz que eu conhecia melhor que ninguém. Corri meu olhar para umas três pessoas a minha frente e notei cabelos ruivos reluzirem sobre meu campo de visão.

— ... e uma pipoca grande, por favor – a voz de Lily soou sob o ambiente e eu suspirei. Outra voz, que eu identifiquei como masculina, murmurou alguma coisa. – Ah, Severo. Esse balde não muda nada, só serve pra sair mais caro.

Severo.

Aquele nome ecoou na minha mente e eu senti minhas entranhas arderem. Severo Snape, "melhor amigo" de Lily Evans – que de amigo não tinha nada, já que ele sempre fora caidinho por ela –,costumava fazer de tudo junto da ruiva no colegial. Os marotos e eu costumávamos aprontar com ele no e isso talvez fosse um dos principais motivos de Lily me odiar tanto. Fazer o quê se ele é um perdedor?

A grande questão é que, no momento, Snape de perdedor não tinha nada. Estava saindo com a menina que ele sempre gostou, enquanto eu nunca na vida consegui isso.

Eu era o cara mais irado do mundo. Eu, James Potter tinha perdido pra um seboso ridículo de cabelos mais oleosos do que um pastel de queijo? Não. Simplesmente não.

Eles colocaram tudo em uma bandeja e saíram, eu os acompanhei com o olhar até perdê-los de vista. Respirei fundo e quando minha vez chegou paguei tudo e saí bufando para a minha sessão.

E senhoras e senhores, digamos que hoje pude tirar uma das conclusões mais exatas da minha vida: eu era um cara, definitivamente, azarado.

Quando coloquei os pés na sala de cinema pude ver o contraste dos cabelos da mesma garota que tinha visto há minutos atrás, e ela ria. Lilian ria; coisa que ela também nunca fizera comigo. Ela me notara. Talvez porque os idiotas dos meus amigos começaram a acenar e chamar meu nome como se eu não os tivesse visto (talvez eu não tenha mesmo, mas quem importa? Eu não sou tão cego assim).

Tentei não encarar a ruiva e achei meu lugar no meio dos rapazes me sentindo realmente desconfortável com a situação.

— Cara você viu quem está aqui? – perguntou Sirius como se fosse só pra me provocar.

— Vi. Lily e Ranhoso – disse num tom seco e espetei o canudinho no meu refrigerante. – Se ela não estivesse rindo eu juro que daria um soco tão bem dado que ele nunca mais abriria um sorriso – murmurei irado.

— Vocês deveriam acabar com toda essa rincha... Afinal, os tempos de escola já ficaram para trás – Aluado disse dando de ombros enquanto colocava umas três pipocas na boca de uma vez só. Peter comia desenfreado ao seu lado, o que permitiu que ele ficasse calado o tempo inteiro, a não ser pelo farfalhar de comida a cada mastigada que ele dava.

Ha. Ha. Ha. Por favor, não me faça rir, Aluado – Sirius disse com sarcasmo. – Ranhoso sempre vai ser o nosso alvo, até quando virarmos velhos caducos – ele sentou-se de maneira jogada na cadeira e roubou um chocolate de Peter, que estava a duas cadeiras dele; Sirius quase levou um murro por conta disso.

Os trailers começaram, as luzes se apagaram e tudo o que eu pude pensar era sobre o que Ranhoso poderia tentar essa noite. Juro que se ele fizesse alguma coisa contra a vontade de Lily ele seria um homem morto.

Respirei fundo e voltei a me concentrar na tela. O filme já havia começado e os integrantes do esquadrão estavam sendo apresentados, já esperava pelo coringa no começo do filme, o ator que o interpreta é simplesmente uma lenda.

Apesar do filme ser ótimo, eu só queria que ele acabasse. Pela primeira vez na vida eu estava no cinema com os meus amigos torcendo insanamente para que tudo aquilo viesse a cabo. Vi Snape passar o braço por trás de Lily e apertei o braço da cadeira, com raiva. Eu tinha de me controlar.

Ao final do filme, levantei primeiro do que todos e saí em disparada em direção à saída da sala. Joguei a bandeja em um canto qualquer e andei na frente, esperando os marotos na frente do cinema. Eu, definitivamente, não podia ficar mais nenhum minuto naquele lugar. Se eu visse Lils perto daquele seboso infeliz de novo eu perderia a cabeça de vez.

— Ei, Pontas! Quer esperar, fazendo o favor? – Sirius me alcançou no corredor em frente ao cinema seguido de Remus e Peter.

— Eu só quero ir pra casa, tá bem? – disse com rispidez e saí caminhando pelo corredor sem nem ao menos deixar que os outros me acompanhasse. Estava ferrado de raiva.

— Não acredito que isso tudo é por causa do casal muxoxo no cinema – Remus disse incrédulo.

— Pois eu digo que é exatamente por causa disso, não é James? – perguntou Sirius e eu continuei calado.

Cheguei ao estacionamento e meus amigos continuavam me enchendo.

— Mas que droga! É por causa disso! Algum problema? – explodi me virando para fuzilá-los com o olhar. – Simplesmente não suporto ver Lily com aquele imbecil duas caras depois de tudo o que ele fez. Não sei como ela ainda tem a coragem de fazer isso com ela mesma.

— Com ela mesma ou com você? – disse Remus sempre sendo ele mesmo. Congelei.

Eu realmente estava sendo ciumento a ponto de não tolerar estar no mesmo lugar que eles? Mas eu não tinha o direito de me sentir assim... Direito nenhum. Eu tinha uma namorada e Lily é solteira, não namora ninguém e tem o livre-arbítrio para fazer o que bem entender. O que me prendia tanto à ela?

— Eu... Vamos embora... – gaguejei e fiz menção de abrir a porta do carro, quando Almofadinhas entrou em minha frente com a cara mais séria que ele já fizera esse ano.

— James... Se você ainda sente alguma coisa por Lily... – ele me alertou como se eu já soubesse do resto da frase.

— Eu não sinto mais nada por ela, não seja tolo. Agora saia da minha frente – disse olhando nos olhos dele, que deu de ombros me dando passagem.

Entramos no carro e saímos do estacionamento do shopping. No caminho eu deixei os marotos em casa, não houve nenhum comentário nem conversa durante o percurso. Fomos guiados apenas pelo som que o rádio do carro emitia, nada além disso. Chegaria em casa e ficaria no meu quarto pelo resto da noite, precisava de antes um bom banho para organizar as minhas ideias e depois poderia passar o resto da madrugada fazendo um grande monte de nada, apenas enfurnado em meus próprios pensamentos.

Será que eu ainda realmente sentia alguma coisa por Lily? Não seria só o choque de realidade por tê-la perto de mim depois de tanto tempo? Deixa de baboseira, James. Você não sente mais nada por Lily Evans. Você tem uma namorada e está muito feliz do jeito que está. Ponto.

Subi as escadas até o sétimo andar e adentrei no silêncio do meu apartamento. Tomei um banho demorado e vesti uma calça de moletom qualquer. Apossei-me de meu violão e sentei-me encostado na cabeceira da cama. Eu tinha uma música que me atormentava desde o início do dia, eu precisava aprender a tocá-la. Peguei meu iPad e procurei pelo tutorial da música, era bem simples.

Depois de uma hora de treino finalmente consegui tocá-la com eficiência.

I've been tryin' to do it right

I've been livin' a lonely life

I've been sleepin' here instead

I've been sleepin' in my bed

Sleepin' in my bed

So show me family

All the blood that I will bleed

I don't know where I belong

I don't know where I went wrong

But I can write a song

I belong with you, you belong with me

You're my sweetheart

I belong with you, you belong with me

You're my sweet...

I don't think you're right for him

Think of what it might have been if we

Took a bus to Chinatown

I'd be standin on Canal and Bowery

And she'd be standin' next to me

I belong with you, you belong with me

You're my sweetheart

I belong with you, you belong with me

You're my sweetheart

Love we need it now

Let's hope for some

Cause oh, we're bleedin' out

I belong with you, you belong with me

You're my sweetheart

I belong with you, you belong with me

You're my sweet

Essa fora a música que surgira na minha mente hoje de manhã e que ficou me atormentando até que eu aprendesse a tocá-la e cantá-la. Estava me sentindo confuso e cada vez mais certo de que eu era um cara com uma imensurável falta de sorte.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Gente, gente! O que vocês acharam? Eu tentei trazer um pouco sobre a vida do James, já que a história vai se focar mais na Lily no que nele, então achei que fosse uma boa ideia fazer uns capítulos perdidos aí com o ponto de vista do nosso Jay. Bem, espero que vocês tenham gostado! Deixem a opinião de vocês nos comentários sobre o que vocês acharam sobre os flashbacks, continua ou despreza? Beijos de luz e até o próximo capítulo!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Green Eyes - Jily" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.