Green Eyes - Jily escrita por Vitória Serafim


Capítulo 17
Austrália, aí vamos nós!


Notas iniciais do capítulo

AI
MEU
DEUS
Galera! Chegamos ao último capítulo da fanfic, meu Deus, eu não tô bem... (Calma, não morram que ainda tem o epílogo com o desfecho mara ♥)
Mano, eu nem vou fazer despedidas agora porque eu já estou desestabilizada demais depois de ter escrito esse capítulo e também porque a história do James e da Lily ainda não acabou, mas...
Vou agradecendo antecipadamente por todo o apoio que tenho recebido dos meus leitores. É muito significativo pra mim escrever, postar e no dia seguinte ler os comentários de vocês. Sério, vocês são uns amores.
Tá, falei que não ia ficar de mimimi e cá estou eu né? KKKKK
PAREY
Enfim, só segurem seus fornos que esse capítulo tá bomba. Não sei se ficou do jeito que eu esperava, mas... Se vocês gostarem do tanto que deu trabalho pra escrever (demorei uma vida pra postar, ME DESCULPEM), então já vou estar feliz! Haha.
Bom, sem mais enrolações e boa leitura!

[Capítulo revisado pela minha beta maravilhosa, Aline ♥]



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— Lily, onde você colocou o seu cachecol? Ele estava aqui na última gaveta, eu me lembro de tê-lo colocado aqui... – Mamãe gritou do quarto com a voz abafada, provavelmente estava com a cabeça dentro do guarda-roupa.

            Mamãe e eu estávamos fazendo as malas, a viagem para a Austrália já era no final de semana (lê-se depois de amanhã). Somente James e eu iríamos, mas minha mãe estava tão empolgada que parecia que ela também nos acompanharia.

            Como amo minha mãe...

            – Não está junto das suas meias, mãe? – perguntei revirando o raque da sala à procura do meu carregador portátil, precisaria muito dele; e quando eu digo muito é muito mesmo. – Ah, droga! Mãe, você arrumou o raque e sumiu com o meu carregador portátil de novo?

            – Achei! – Ela exclamou eufórica.

            – O meu carregador? – Perguntei num salto e acabei por bater a cabeça na quina do raque. – Ai!— Levantei-me e saí para o quarto em disparada enquanto tentava massagear a área afetada.

            – Hm? – Ela ergueu o olhar, distraída, enquanto passava a mão pelo cachecol empoeirado.

            Revirei os olhos.

            – O meu carregador portátil, mãe! – Disse com impaciência.

            – Ah... Acho que Holly o levou quando veio jantar aqui ontem à noite – Lembrou-se. – Porcaria! Está sujo. Será que dá tempo de eu lavá-lo? – Ela passou ao meu lado apressada e encaminhou-se para a lavanderia.

            – Ótimo... Vou buscá-lo – Resmunguei e deixei o apartamento, atravessando o hall e tocando a campainha logo depois.

            Holly havia se mudado para o apartamento ao lado do de James; ela e o pai acharam que seria o melhor a se fazer, visto que tudo na sua antiga casa os lembrava de Christina. A casa havia sido posta à venda e eles estavam se estabilizando, tinham se mudado na semana passada.

            Um barulho enorme foi audível a partir do momento que Holly abriu a porta.

            – Ah, oi Lily! – Disse minha amiga assim que abriu a porta do apartamento, um sorriso largo preenchendo o rosto. – O que está fazendo de pijamas na porta da minha casa?

            Olhei para mim mesma e dei de ombros, era uma noite certamente fria e eu estava com preguiça de trocar de roupa só para recuperar a droga do carregador.

            – TRUCO! – Quase caí para trás quando ouvi a voz do pai de Holly soar daquela maneira. – Vai arregar? Vamos, Kennedy! Sei que é mulherzinha, mas pensei que soubesse jogar direito! – Ele berrava nas orelhas de um cara sentado à sua esquerda.

            Ergui as sobrancelhas, um pouco abismada com a situação e pus-me a rir.

            – Eu que pergunto o que está acontecendo aqui... – Disse mandando um “tchauzinho” para a tia de Holly que estava sentada na poltrona da sala de estar, as lágrimas escorrendo pelo rosto, tamanha era a graça que estava achando da situação.

            – Ah, é minha tia... Arrumou um namorado espanhol e aprendeu a jogar um jogo chamado truco. Meu pai gostou bastante – Disse Holly não contendo a risada.

            – Estou vendo – Observei a cena mais um pouco até que o Sr. Hall notou a minha presença na porta. Seu rosto assumiu um tom vermelho, porém ele não perdeu a sua postura de jogador.

            – Oi, Lily! Quer juntar-se a nós? Esse mané aqui já perdeu. Você entra com a Agatha na próxima rodada, ela é muito boa – Disse ele animado.

            – Ah, obrigada Phil. Mas eu só estou de passagem para pegar uma coisa que eu esqueci aqui – Disse sorridente até que ele se virasse e retornasse ao jogo. – Ou melhor... Que você pegou, não é, Holly? – Cruzei os braços fuzilando a garota com o olhar, esta ergueu as sobrancelhas sem entender. – Meu carregador, querida – Disse com um semblante de pura seriedade.

            – Ah, é verdade... Esqueci-me – Ela foi lá dentro e rapidamente retornou com o objeto em mãos. – Toma.

            – Ah, meu amor. Mamãe tava com saudades de você – Disse verificando o estado do carregador. – Devolveu sem carga, mas devolveu – Comentei rabugenta.

            – Não enche, Evans – Ela revirou os olhos. – Você também vive pegando minhas coisas emprestadas – Constatou e eu bufei dando de ombros.

            – Certo. Desculpe, é que estava um pouco desesperada. A viagem já é...

            – Depois de amanhã, eu sei... Você já falou isso cinquenta e três vezes essa semana – Ela riu negando com a cabeça.

            – É que é a Austrália, Holly... Nunca tive uma oportunidade dessas em toda a minha vida!

            – Eu sei, eu sei...

            – Mamãe está me ajudando com as malas. Se quiser vir, a gente pede pizza depois. – Trocamos um olhar furtivo.

            – Pra mim parece ótimo – Ela sorriu de volta. – Pai, vou aqui na Lily. Beijos! – Ela gritou da porta (o barulho era alto demais para que seu pai a ouvisse num tom de voz normal).

            – Tá bom. Tchau, filha. VOCÊ PEDIU 6 QUE EU OUVI!

            Continuamos a gargalhar e retornamos à minha casa. Terminamos de ajeitar as minhas coisas e acabamos por realmente pedir uma pizza. Dormimos na sala depois de assistirmos A Culpa é das Estrelas e chorarmos mais do que qualquer bebê imaginável.

***

            Tomamos café da manhã ao som do noticiário que passava na televisão. Comi pouca coisa e logo depois me precipitei em lavar a louça suja. Holly – que estava ao meu encalço – ofereceu-se para ajudar, enquanto mamãe começava a procurar alguma coisa legal para o almoço.

            “A polícia recebeu alertas de que um veículo havia atropelado transeuntes na London Bridge às 22h08m. Os avisos de emergência se multiplicaram e, pouco depois, a polícia confirmou que estava respondendo às informações de que pessoas tinham sido agredidas a faca no Borough Market, o conhecido centro que fica próximo à ponte. A polícia reagiu rapidamente, e os agentes enfrentaram os suspeitos, que foram abatidos.

            Essa era o tema principal de todos os telejornais de Londres dos últimos dias. A cidade estava tornando-se cada vez mais perigosa e não havia nada a se fazer a respeito. Era triste e ao mesmo tempo assustador.

            – Quer desligar esse noticiário ou eu vou ter que fazer isso sozinha? – Esbravejou mamãe. Troquei um olhar breve com minha amiga e sequei as mãos antes de ir até a sala e mudar de canal. Passava um discurso da Rainha. Deixei o controle em cima do balcão da cozinha e fui de encontro ao meu celular, que estava tocando no criado mudo do meu quarto.

            Kai quase havia começado a cantar a letra de Never Be Like You quando eu finalmente deslizei o dedo sobre a tela e atendi a chamada.

            – Srta. Evans?— Uma voz idosa soou do outro lado da linha e eu franzi o cenho fechando a porta do quarto.

            – Sim? – Aproximei-me da varanda e olhei para o horizonte enquanto aguardava a voz voltar a manifestar-se.

            – Alvo Dumbledore. Tenho um assunto a tratar com a senhorita. Será que pode vir à minha sala agora?— Estranhei.

            – Sobre o que seria exatamente? – Perguntei desconfiada.

            – Não é bom falar por telefone. Contar-lhe-ei tudo detalhadamente quando estiver frente a frente comigo. Há a possibilidade de a senhorita comparecer?

            — Acho que sim. Vou passar em um lugar antes e já estou indo aí – Disse passando a mão pelo rosto.

            – Excelente. Aguardo sua vinda— Constatou o senhor e desligou a chamada logo em seguida.

            Ainda um pouco atônita, retornei à cozinha e fui recebida com dois olhares curiosos.

            – Quem era? – mamãe disse enquanto colocava uma panela com água para ferver. Holly nada disse, porém observava a cena como se ela mesma tivesse feito a pergunta.

            – Dumbledore, meu antigo chefe. Disse que quer conversar comigo agora. Vou passar ao mercado comprar algumas coisas para comer à tarde e passo lá logo depois. Vem comigo Holly?

            Meu gato imediatamente colocou-se aos meus pés e eu não pude conter um sorriso.

            – Ainda temos o resto da noite juntos, Shanks. Você pode ajudar mamãe com o almoço, certo? – Mamãe riu e afirmou com a cabeça.

            Assim que minha amiga confirmou que me acompanharia, peguei um casaco no cabideiro – que mamãe havia comprado recentemente – próximo à porta e mandei um beijo de longe para a mesma antes de deixar o apartamento com Holly no meu encalço.

            Pegamos um táxi até o mercado e compramos poucas coisas (que provavelmente me arrependeria de comer, visto que sou muito daquelas que tem desejo de alguma coisa, mas depois que come fica com remorso), foram apenas duas sacolas que continham um pote de sorvete de morango, chocolates e alguns tipos de salgadinhos.

            Logo depois disso, andamos umas quatro quadras até chegarmos ao LPH. A nostalgia que aquele lugar me trazia era aterrorizante, fora ali que tudo havia começado. Todas as desgraças que tinham se impregnado em partes do meu ser... O lugar na qual eu mais almejara trabalhar na vida agora tornava-se motivo de repulsão.

            Assim que passei pelas portas automáticas da entrada senti aquela velha vibração me atingir de novo. Ser médica, salvar vidas. Sinceramente não era um bom ano para isso. Grata estava por tempos como esse terem permanecido no passado. Demorei-me ainda alguns instantes para só depois tomar mais proximidade com o balcão da recepção. Como o esperado, lá estava Minerva McGonnagall, sentada sobre sua cadeira, cuidando de inúmeras papeladas, como de praxe. Não foi preciso dizer uma só palavra, a senhora aparentemente percebeu minha presença e fez as honras de iniciar o diálogo.

            – Srta. Evans? – Disse ela terminando de assinar uma ficha ainda sem olhar-me nos olhos. Confesso que às vezes ela chegava a me assustar, nem em mil anos conseguiria pressentir alguém em minha frente e iniciar uma conversa enquanto preenchia formulários e assinava laudos.

            – Sim. Como vai a senhora, Dra. McGonnagall? – Perguntei sentindo nenhum pouco de mágoa pela mulher. Afinal, os velhos tempos foram deixados para trás, certo?

            – Perfeitamente bem, obrigada. Chegou em boa hora. O Doutor Dumbledore a aguarda em sua sala – Comentou finalmente realizando seu gesto típico de arrumar a armação dos oclinhos formato hexagonal sobre a superfície do rosto, uma mistura de polidez e complicação, pelo nariz um tanto afilado que possuía – Logo ao término de sua fala voltou aos seus afazeres, sem, no entanto, desviar-se da conversa.

            – Recebi a ligação dele, obrigada – Assim que me precipitava em direção à sala da diretoria do hospital, ouvi a voz falha de Minerva soar mais uma vez.

            – Suponho que seja melhor que sua amiga ficasse do lado de fora da sala enquanto o diretor conversa com a senhorita – Aconselhou a senhora.

            Lancei um olhar pesaroso para Holly e deixei a sacola que carregava com ela antes de bater duas vezes à porta de madeira onde se lia “Diretoria”.

            – Entre – A voz de Alvo Dumbledore soou e, assim, adentrei o lugar.

            Ao contrário do restante do hospital, a sala do diretor estava totalmente diferente da ultima vez em que ali estive. Um novo computador havia sido comprado – muito mais moderno, por sinal –, novos livros nas prateleiras – sim, eu reparo essas coisas, sendo eu a perfeccionista dos livros em ordem alfabética –, uma luminária fora acrescentada à decoração da mesma mesa de madeira. As únicas coisas que não haviam mudado foram: aquela pequena miniatura de pêndulos, estes que continuavam a balançar incessantemente; e as longas barbas acinzentadas do ancião em minha frente; além da vista esplêndida da grande vidraçaria que preenchia uma das paredes da sala.

            – Fico feliz que tenha vindo, senhorita Evans. Por favor, sente-se – Ele indicou o assento acolchoado de frente para ele. – Aceita chá? – Ofereceu assim que me viu sentada. Fiz que não com a cabeça e agradeci em seguida.

            – Parece que muita coisa mudou desde que estive aqui pela primeira vez... – Meu comentário foi seguido de uma risada nasalada.

            – Realmente não sei por que inventaram de mudar tudo isso, eu nem mesmo sei como se mexe nessa coisa – Disse ele referindo-se claramente ao novo computador da Apple.

            – Acredite, nem eu mesma sei. Essa marca é uma negação para o meu entendimento – Disse.

            Ele riu e depois que alguns esperados segundos em silêncio, ele finalmente deu início ao assunto na qual realmente queria tratar.

            – Bem, suponho que tenha lhe despertado certa curiosidade em relação às razões de tê-la chamado numa hora tão inesperada... – Começou o diretor entrelaçando seus dedos da mão sobre a mesa.

            – Para falar a verdade, sim – Umedeci os lábios e esperei que ele prosseguisse.

            – Queira me desculpar. Não foi a minha intenção amedrontá-la – Ele fez uma breve pausa.

            – Não há problema.

            O senhor olhou alguns segundos para o objeto que se movimentava sobre sua mesa antes de retornar ao seu raciocínio. A demora de Dumbledore em chegar ao ponto chegava a ser irritante, por mil diabos...

            – A questão é que consegui com que o caso de Harry Lancaster fosse solucionado e como o culpado assumiu totalmente a culpa sobre o ocorrido, a senhorita é absolvida de todas as acusações. A mãe do garoto estava abrindo um processo em relação a esse assunto e não pretendia parar até que o responsável fosse pego e colocado na cadeia. Para que tudo fosse melhor e mais rapidamente analisado, a polícia coletou filmagens das câmeras de segurança do dia em que as amostras de sangue foram forjadas, e finalmente o suspeito foi encontrado.

            Ótimo, o caso estava encerrado. Agora eu já podia ir, não podia?

            – Severo Snape. Ele disse que eram amigos. Bem, suponho que não mais... – Ele suspirou, aparentando estar brevemente desapontado. – De qualquer forma, sinto muito por tê-la afastado de seu cargo quando a senhorita não teve nenhuma culpa sobre o acontecido. Agora já não vejo mais motivos para que continuemos com esse impasse. – Concluiu com uma tossida seca.

            – O que o senhor insinua com isso? – Perguntei curiosa, apesar de já poder prever a resposta.

            – Devo dizer que a senhorita tem talento e habilidades imensuráveis, além de realizar o seu trabalho com excelência. Portanto, é justo que tenha o seu emprego de volta se ainda estiver disposta.

            E como num passe de mágica tudo voltava à tona. O meu sonho de tornar-me uma médica renomada, com descobertas inovadoras, a revolucionária que marcaria o nome Evans na história da medicina. O que mais almejava há exatamente um ano, já não me trazia o mesmo prazer, o mesmo frio na barriga de ansiedade.

Assim como a sala de Dumbledore, a minha vida havia mudado radicalmente. Eu já não era a Lily imatura sonhadora e medrosa de arriscar as coisas na vida. Tinha me transformado em alguém que nunca imaginara que poderia vir a ser. Havia passado por tanto em tão pouco tempo que um choque ocorrera. Muitos dizem que quando alguém passa por um trauma muito profundo na vida, seus valores podem vir a mudar, e os meus mudaram. Meus valores mudaram não só em relação à minha vida profissional, mas à minha vida pessoal; meus amigos, familiares, namorado... Tudo passava a fazer mais sentido em conjunto, e era lindo que eu pudesse finalmente enxergar que mudanças também podem ser positivas.

Ser médica agora não estaria preenchendo o vazio que eu pretendia preencher. Eu mal sabia o que era aquilo, poderia levar dias, meses, anos ou até a vida inteira para conhecê-lo por completo. Então por que não estudá-lo?

— Eu agradeço muito, senhor. Sinto-me realmente lisonjeada por suas palavras e feliz pela resolução do caso, mas infelizmente terei de recusar a sua oferta. Temo que o meu retorno não seja o melhor para este lugar no momento, tenho passado por mudanças drásticas e minhas opiniões mudaram também. Acho que não nasci para isso aqui – Suspirei comprimindo os beiços.

— Entendo – Ele comentou com um sorrisinho de quem não estava surpreso com a minha resposta. – Já esperava por esse retorno. – Concluiu e eu afirmei com a cabeça, tendo a impressão de que a conversa já estava encerrada.

Precipitei-me a levantar e ajeitar as calças antes de me encaminhar até a porta.

            – Ainda que deva ressaltar que a senhorita está muito bem-vinda caso mude de ideia – Constatou com uma piscadela disfarçada enquanto mexia o mouse do computador, despertando a tela do computador na janela do jogo Paciência.

Sorri enquanto meneava a cabeça num gesto simplório de agradecimento.

— Com licença, senhor. – Falei, por fim, e ele nada mais disse, agora totalmente focado no jogo.

Deixei a sala e fui ao encontro de Holly, que estava ao celular do outro lado do corredor. Ela, percebendo minha aproximação, bloqueou a tela do aparelho e guardou-o no bolso da calça, erguendo o olhar para mim.

— E aí? – Ela perguntou.

Contei toda a história enquanto caminhávamos até em casa.

— Ele realmente achou que você aceitaria o emprego? Quer dizer, foi pra isso que ele te chamou, não foi?

— Não acho que ele tenha pensado que eu aceitaria. Ele pareceu normal demais diante da minha resposta. Se ele não estivesse esperando por ela, tenho certeza de que reagiria de maneira diferente. Dumbledore é um homem sábio... – Disse por fim.

— Ele tem um jeito peculiar. É difícil encontrar velhos sãos hoje em dia. – Comentou Holly. Reprimi-a com um olhar. – O que foi? É verdade...

Suspirei.

— De qualquer forma, eu fiquei surpresa pela atitude de Snape. Queria saber mais sobre isso.

Minha amiga lançou um olhar desconfiado na mesma hora, como se mais uma vez soubesse o que viria a seguir.

— E o que você sugere? – Perguntou, obviamente, de maneira retórica.

— Queria visitá-lo. Talvez eu possa descobrir mais sobre esse caso e do porquê dele ter assumido a culpa. Não é da índole de Severo assumir nada.

— Ah, não! Não me venha com essa, Lily Evans. O cara finalmente está na cadeia pagando pelos erros que cometeu. Nem assim você enxerga que tipo de pessoa que ele é? – Resmungou Hall, revirando os olhos.

— Se você me acompanhasse, poderíamos visitar a sua mãe juntas...

Silêncio.

Holly ainda não havia visitado a mãe desde que tinha sido trancafiada em Azkaban. Era triste ver como as coisas vinham se desenrolando ultimamente.

— Na verdade, mudei de ideia. Vamos a Azkaban, mas quero ficar cara a cara com minha mãe, sozinha. Se você conversar com Snape e eu com minha mãe ganharemos tempo e podemos nos trancar no quarto antes que você passe uma semana longe de mim – Ela disse de maneira possessiva.

Sorri de canto.

— Por mim tudo bem.

***

O estado de Snape era deplorável, ou talvez nem tanto assim. Trajava laranja, tal como todos os presos imagináveis poderiam trajar. Sentava na cadeira do outro lado do vidro que nos separava. O homem com os olhos mais sem vida que eu já vira.

Retirei o fone do gancho e olhei em seus olhos como se tentasse descobrir tudo que queria saber só de vê-lo.

— Lily... – Ele evitou-me. – Não deveria estar aqui.

— Não seja bobo, Severo. Estava bem com a minha vida, quando de repente alguém me liga e oferece meu emprego de volta. Não acreditei quando Dumbledore disse que você havia assumido a culpa. – Pude ouvir Snape ofegar.

— Era o mínimo que eu podia fazer. Eu estraguei a sua carreira – Ele disse, ainda com o rosto sem emoção. Como nada disse, ele continuou. – Eu sou um idiota, Lily. Não mereço que venha me visitar, por que não pega suas coisas e volta para o hospital, fazer o que você gosta?

Sorri, sarcástica.

— Eu não aceitei a oferta. – Ele arregalou os olhos.

— O quê? Porque não? – Perguntou abismado.

— Sinto que aquele hospital não é mais o meu lugar. James e eu estamos prestes a iniciarmos uma carreira juntos...

— Sabia. – Interrompeu-me. – Tinha que ser algo relacionado a Potter. Sempre foi, não é, Lily? Tudo bem... Eu entendo – disse ele, os olhos brilhando em sarcasmo. – e você... Saiba que vai se arrepender profundamente por não voltar para o hospital. Era a chance da sua vida, o lugar que você sempre almejou estar... Agora tudo se esvai.

— Chega! – Agora fora a minha vez de interrompê-lo, incrédula. – Não sei por que insisti em vir aqui vê-lo. Pensei que tivesse alguma coisa dentro de você que ainda acreditasse que pode melhorar, mas estava enganada. Você realmente não dá a mínima para mim, ou melhor, para ninguém. Sempre tão descontrolado... – Neguei com a cabeça. – As coisas não funcionam assim, Severo. Sinto muito que tenha que passar o resto da sua vida aqui, mas eu simplesmente não tenho o poder de resolver isso, afinal, quem comete crimes deve pagar por estes. Passar bem – Disse por fim, bufando, voltando o fone para o gancho.

Snape pareceu arrependido diante do que falara, tentou dizer alguma coisa, mas já era tarde, já não o ouvia mais. Era melhor assim. O que eu esperava que acontecesse? Era algo tão óbvio... Os tempos em que Severo ainda tinha humanidade ficaram para trás. Aceitemos.

Assim que cheguei do lado de fora, Holly estava sentada na guia da calçada, totalmente absorta em seus pensamentos. Quando parei logo atrás dela, virou-se, o rosto em lágrimas. Não me surpreendi.

— Alguma sorte com Snape? – Ela perguntou, levantando-se enquanto enxugava o rosto úmido com a gola da blusa que usava; típico gesto de moleca Hall.

— Não. Você estava certa... Foi uma péssima ideia virmos aqui. Conseguiu ver sua mãe? – perguntei.

— Consegui. – Respondeu ela brevemente. – Ela está tão diferente... – Meneou a cabeça. – Eu não... – Levantou seu olhar para mim. – Não a reconheço mais. Não puxei muito assunto com ela, mas o tanto que ela falou já foi o suficiente para notar que ela não se arrepende de nada que fez. A frieza na voz dela... Eu perdi minha mãe para sempre, Lily... – Ela comprimiu os beiços, engolindo o choro.

— Não se preocupe com ela, Holly. Você tem um pai presente, um namorado que faz de tudo para te ver feliz, uma tia viciada em truco... – Ela riu e eu segurei suas mãos. – E principalmente, não só uma, mas três amigas que te amam. Além do namorado da sua melhor amiga, que, por acaso, também é seu melhor amigo. Então coloca um sorriso nesse rosto e vamos curtir essa vida, porque dela a gente tem que desfrutar. – Ambas sorrimos e nos abraçamos.

— Obrigada, Lily... – Ela sussurrou.

***

O restante do dia foi pra lá de divertido, todas as meninas vieram para minha casa, enquanto mamãe socializava com Phil no apartamento dos Hall. O pai de Holly havia convidado mamãe para jantar, nada de muito romântico, é claro. Eles iriam jogar truco juntos (mamãe estava tentando aprender). Minhas amigas e eu passamos até as vinte e duas jogando conversa fora e então chegou a hora de nos despedirmos, levaram uns trinta minutos de chororô para eu finalmente tomar um banho quente e me deitar na cama.

Não sabia como tinha conseguido passar o dia sem falar com James, talvez porque passaria a semana toda ao seu lado...

O som de Never Be Like You soou no ambiente e eu, com o sonho leve que tenho, acabei despertando.

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[04h00min] Chamada perdida de James Potter.

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Cocei os olhos a fim de amenizar a sensibilidade à claridade que a tela do celular emanava. Franzi o cenho e liguei de volta, o coração pulando para fora do peito. Não era a cara de James ligar de madrugada por qualquer coisa. O celular chamou umas três vezes antes que Potter atendesse a ligação.

Alô?

— James? Está tudo bem? – Perguntei assustada.

Bom dia, meu amor. Melhor agora... Já estava com saudades de ouvir a sua voz. — Ele respondeu com uma voz maliciosa.

— Também estava com saudades, bobinho. Ah... Quase me matou do coração me ligando uma hora dessas! – Suspirei aliviada.

Talvez porque eu esteja planejando fazer uma coisa antes de partirmos para a nossa viagem.

Sorri.

— Potter, Potter... – Alarmei-o.

Relaxa, ruiva. Tenho certeza de que vai gostar, mas se preferir voltar a dormir eu posso...

 – Não! – Ele riu do outro lado da linha. – Vou só tomar um banho e já te encontro no hall. Fico pronta às quatro e meia no máximo, contando com os quinze minutos de despedida da minha mãe. – Disse rolando os olhos rindo.

Tudo bem. Eu sei que por você eu carregaria qualquer coisa, mas não abuse do meu amor por você e traga cinquenta malas, se não vou ficar chateado. — Pude imaginar ele fazendo beicinho.

— Não se preocupe! – Gargalhei. – Dessa vez só vou levando uma.

Dessa vez? — Perguntou ele, malicioso. – Então isso significa que terá muitas outras viagens?

— Espero que sim. Agora chega de enrolação. Nos vemos daqui a pouco. – Disse, por fim.

Tchauzinho, meu amor. — Ele disse e eu ri mais uma vez, desligando logo em seguida.

Levantei-me num salto e abri a janela inutilmente, às quatro e meia da manhã a lua ainda se encontrava no céu, somente a claridade dos postes de luz da cidade irradiavam meu quarto. Tomei um breve banho e ajeitei meu cabelo numa maneira mais aceitável, uma roupa mais arrumada, porém verão.

            Mal podia acreditar que James e eu estávamos realmente próximos a gravar a nossa primeira música juntos. Em todo caso, é claro que é um processo muito lento o da composição de músicas, mas não podia negar que estava super ansiosa para começar. Finalmente estaria usando a música na minha vida, agora, mais do que nunca.

            Olhei-me no espelho e senti um cheiro de café vindo da cozinha.

Mamãe.

            – Bom dia! – Sorri ao entrar na cozinha e ver mamãe despejando café em duas xícaras sobre uma bandeja que continha alguns bolinhos ou coisas parecidas. Ela assustou-se.

            – Ah, bom dia, filha! Pensei que ainda estivesse na cama. Já estava levando o seu café. – Ela sorriu de volta e me deu um beijo de bom dia.

            – James pediu para irmos um pouquinho mais cedo. Parece que ele quer fazer uma surpresa. – Comentei e mamãe arregalou os olhos, eufórica, comemorando. – Mãe, qual é! Não, ele não vai me pedir em casamento. Pelo amor de Deus, acalme-se. – Falei e ela simplesmente ignorou, levando o café para a mesa totalmente alheia a tudo o que eu falava.

            – Como foi a sua noite com o senhor Hall ontem? – Perguntei dando uma mordida num cupcake que tinha sobrado do dia anterior.

            – Hm? – Ela disse sorrindo abobalhada.

            – O seu jantar com o Phil... Como foi? – Repeti.

            – Ah, foi legal – Ela continuou sorrindo. – Aprendi a jogar aquele jogo engraçado... Como era mesmo o nome?

            – Truco.

            – Perfeitamente! É... É realmente bem divertido.

            – Mas e aí...? – Ergui as sobrancelhas como se “Rolou alguma coisa?” estivesse escrito na minha testa.

            Ela cerrou os olhos tentando entender, segundos depois assustou-se:

            – Ah, não! Nós somos apenas parceiros de jogo. Ainda é muito cedo para isso, Lily, você sabe.

            – Eu sei... Desculpe. Estou sendo ridícula... É que a minha vontade de ser irmã da Holly fala mais alto. – Mamãe riu.

            Na verdade, sentia pena de mamãe. Ela só tinha a mim e a Petúnia, esta sempre estando ausente na maior parte do tempo, eu era a única pessoa a quem ela tinha a recorrer. Papai fazia tanta falta na minha vida... Devia fazer o dobro para mamãe. Eu só queria que ela tivesse alguém...

            – Querida... Quantas vezes vou ter que te dizer que vocês não precisam esperar que eu e Phil fiquemos juntos para se tratarem como irmãs, vocês já o fazem por si mesmas. – Comentou, bebericando o café.

            E realmente era isso.

            – É verdade. – Disse meneando a cabeça pensando num: “Para de ser idiota. Que falta de respeito com a sua mãe!”.

            Depois de alguns breves minutos de procrastinação sobre o que seria da minha mãe sem mim por uma semana, finalmente me despedi de Jessica Evans, deixando-a mais uma vez em lágrimas, assim como o dia em que saía de casa no dia da mudança. Tempos que não voltariam mais atrás...

            – Quero que você me mande fotos, muitas fotos! E me fale sobre como é lá! Ah, eu vou sentir tanto a sua falta, minha menina... – Ela abraçou-me.

            – Pode deixar, mãe – Sorri e beijei-a no rosto. – Também vou sentir saudade...

            Eram quatro e quinze em ponto quando deixei meu apartamento e encontrei James no hall, seu queixo foi até o bico dos sapatos quando me viu.

            – Estamos indo para o aeroporto ou para um concurso de Miss Universo? Meu Deus... – Ele disse totalmente chocado.

            Gargalhei.

            – Não exagere, James. Só estou vestida apropriadamente. – Contestei.

— Adoro o seu jeito de se vestir apropriadamente. – Ele sorriu perverso e foi até mim deixando um breve beijo em meus lábios. – Tá, agora vamos andando antes que cheguemos atrasados para o nosso compromisso. – Disse, arrastando sua mala até a porta do elevador, chamando-o. Ajeitei minha maleta do violoncelo nas costas e pousei minha mala ao lado da de James.

Ele levou-me até seu carro e o guiou num percurso de vinte minutos de duração, aproximadamente. Paramos em frente de um enorme edifício e assim que James deixou o carro e abriu a porta para que eu saísse, um homem o cumprimentou e rapidamente pôs-se dentro do carro, manobrando-o. Franzi o cenho e ergui meu olhar para a entrada do prédio.

Ilvermorny Co.”, lia-se na fachada.

Olhei para James, que entrelaçou nossos dedos. Era a empresa de seu pai. O que ele queria fazer na empresa dos Potter numa hora dessas? Tomar um café da manhã com Fleamont e Euphemia, talvez?

— Bom dia, senhor Potter. – A mulher da recepção cumprimentou-o de longe.

Diversos rostos viraram-se automaticamente em nossa direção. James sorriu.

— Bom dia, Rita. Essa é Lily Evans. – Disse lançando seu olhar sobre mim. – Minha namorada.

— Ah! A famosa Lily! – A mulher sorriu. – Prazer em conhecê-la, senhorita Evans.

Corei.

— Igualmente. – Disse sorrindo.

James, então, apressou-se e nos levou para dentro do elevador, pressionando o botão do último andar. Ergui uma sobrancelha umedecendo os lábios.

— Posso saber o que estamos fazendo na empresa do seu pai em plenas cinco horas da manhã? – Me pronunciei curiosa.

Em menos de um minuto, já estávamos no décimo quarto andar da construção, dando visão ao topo do prédio. Aproximamos-nos do batente que ali limitava a separação entre o prédio e os quarenta e dois metros de altura até a sarjeta. James sorriu de maneira singela, parecendo só agora ter ouvido a minha pergunta.

— Achei que deveríamos aproveitar uma última coisa de Londres antes de partirmos. – Abraçou-me por trás, tendo seu rosto encaixado perfeitamente na abertura do meu pescoço. – Quero ter a honra de poder mostrar-lhe os dois fenômenos da natureza que mais aprecio: o nascer e o pôr do sol. Acho que metade da minha tarefa já foi cumprida. – Disse. Na mesma hora lembrei-me do dia em que James me levara para London Eye, dias depois da morte de meu pai. Naquele dia, assistimos ao pôr do sol.

O dia clareava, assim como meus olhos, que mesmo sem poder vê-los, podia ter certeza de que estavam brilhando mais do que nunca. Fechei-os por um instante, apreciando o conforto que era ser envolvida pelo calor corporal de James e do recente sol que nascia no horizonte. Sentia-me até um pouco atônita, tamanha era a paz que aquele momento me trazia.

— Oh, isso é bom... – Disse apertando seus braços contra mim, ainda na good vibes. – Você é realmente incrível, Potter e não espere que eu diga isso de novo porque não direi. Pelo menos não em sã consciência. – Completei.

A risada rouca de James próxima à minha orelha fez-me estremecer.

— Sabia que gostaria. – Falou beijando meu rosto rosado delicadamente.

Respirei fundo e me virei para ele.

— Obrigada. – Sussurrei, enlaçando seu pescoço em meus braços encostando nossas testas. O calor de nossos hálitos colidindo como massas de ar quente em perfeita harmonia numa manhã de verão. Um sorriso surgiu nos lábios do rapaz em minha frente.

— Quantas vezes terei que te dizer que faço tudo para te ver feliz? – Ele deslizou sua mão pelo meu rosto, ajeitando uma mecha de cabelo ruivo atrás da orelha. Apenas sorri de volta e nos beijamos.

***

— Os passaportes, por favor? – Pediu o oficial, assim que chegamos à ala de imigração do aeroporto de Sydney.

Tinha sentido muito frio na viagem, afinal, era verão em Londres, e em Sydney era começo de inverno nos meses de junho e julho. Sorte era minha mãe ter consciência das coisas conseguir me convencer de colocar roupas de frio na mala. Sentia-me uma galinha depenada no natal, vestia roupas de verão em pleno inverno, a neve chegaria em breve, segundo as últimas previsões feitas pelo piloto do avião.

Abri minha carteira e de lá tirei minha documentação, deixando-a nas mãos de James, este, por sua vez, entregou ambos os passaportes ao responsável pelo atendimento.

— O que lhes trazem à Austrália? – Perguntou digitalizando as folhas de passaporte.

— Minha namorada e eu viemos a lazer para assistirmos ao show de luzes que ocorre neste mês. – Constatou James, tranquilamente.

— Quantos dias pretendem passar aqui? – Perguntou devolvendo os documentos e teclando alguma coisa em seu computador.

— Uma semana.

— Certo. Senhorita Evans, pode ficar em frente a esta câmera e olhá-la diretamente, por gentileza? – Solicitou e rapidamente me pus em frente a uma espécie de webcam, James fez o mesmo logo em seguida.

A foto foi tirada e depois de mais algumas informações, finalmente fomos para a área de esteiras para a coleta das bagagens. Agarrei o braço de James como se a minha vida dependesse disso.

— Está com medo? – Perguntou Potter assim que percebeu minha apreensão em segurá-lo.

— É só que nunca estive em outro país antes... – Disse distraída por contemplar a incrível arquitetura do aeroporto. – Aquele cara parecia mesmo ter alguma coisa contra nós. Por Deus, pra quê tantas perguntas?

— Não se preocupe, todos são assim. Faz parte da regra de viagens internacionais; passar pela alfândega, ser interrogado sobre o que você está disposto a fazer no país do desembarque... Isso ajuda a descobrir se as pessoas que estão viajando de maneira ilegal. – Dizia ele logo depois de retirar a maleta de seu violão da esteira em movimento.

— Ainda bem que tenho a você para responder essas perguntas. Eu estava quieta e já estava tremendo com medo de dar alguma coisa errado, imagina se eu começasse a responder perguntas. Com certeza o oficial não teria respostas. – Potter riu.

— Verdade... Agradeça a mim. Afinal de contas, o que seria de você sem mim, huh? – Provocou e eu agarrei minha mala, puxando-a com esforço, James fez menção de me ajudar, mas recusei, finalmente colocando aquela geringonça de uma tonelada no chão.

— Tirando esse lance do interrogatório acho que não preciso de você. – Caçoei.

— Sei que é independente por si só, mas ainda acho que você não viveria sem mim. – Aproximou meu corpo do seu com o braço esquerdo, fazendo-me impactar contra ele.

Ele tinha razão.

***

Depois de pegarmos as malas e maletas aos pares, chamamos um táxi e fomos direto para o hotel que James havia reservado.

Era um lugar lindo, Sydney. A arquitetura era bem diferente da que eu estava acostumada a presenciar. Era uma cidade ainda mais movimentada que Londres, as pessoas do lado de fora do táxi pareciam estar ainda mais apressadas, assim como os prédios que passavam rapidamente pelo lado de fora do vidro da janela do táxi.

Potter parecia tão absorto em observar quanto eu e ele, apesar de distraídos, ainda nos encontrávamos de mãos dadas. Tem quem diga que isso é o maior clichê, mas eu posso afirmar que é uma delícia.

O carro estacionou em menos de vinte minutos e nossas bagagens foram tiradas do carro, sendo levadas para dentro do hotel logo em seguida. Fomos até a recepção e enquanto James fazia o check-in, me ocupava em observar meu reflexo no gigantesco espelho que preenchia uma das paredes, ali tirei uma foto e mandei para as meninas no grupo do WhatsApp com os dizeres: “Parece que alguém chegou na Austrália, não é mesmo?”, encaminhei a mesma foto para mamãe e bloqueei o celular assim que vi meu namorado guardar a carteira no bolso traseiro da calça jeans, ele escutava as últimas instruções sobre a instalação antes de seguirmos para o nosso quarto.

Assim que o cartão deslizou pela maçaneta, a porta se abriu e revelou um quarto de um luxo que se equiparava ao quarto de James Potter (tinha que ser); uma cama king size, uma vidraça que dava visão para o mar e, mais ao fundo, o amontoado de prédios. Depois de uma viagem de quase dezenove horas, finalmente deixei que meu corpo caísse sobre a cama.

— Ah, finalmente chegamos... – Suspirei fechando os olhos, permitindo-me sentir o conforto que era aquela cama.

— Mal via a hora. – Disse James, gemendo aliviado por livrar seus pés do aperto dos sapatos, por qual tivera que usar por tantas horas seguidas, parecendo tão em paz consigo mesmo que fez-me o favor de libertar também os meus.

Joguei minha bolsa no tapete ao lado da cama e espreguicei-me.

— Acho que preciso de um banho – comentei assim que senti o colchão mexer-se ao suportar o peso de Potter.

— Ok! – Falou com os olhos fechados.

Sorri e rodeei a cama, deixando um beijo em sua bochecha.

Caminhei até o pequeno cômodo ao lado e coloquei a banheira para encher enquanto tirava minhas peças de roupa aos poucos. Só fui perceber que estava sendo observada quando senti minhas costas queimarem ao olhar de um James encostado no batente da porta do banheiro, já sem camisa. Virei minha cabeça rapidamente em direção à banheira e espalhei alguns sais por ali, a fim de poder me controlar melhor.

— Precisa de alguma coisa? – Perguntei sentindo meus músculos ficarem tensos, afinal, estava de lingerie em frente a James Potter.

— Hm... Talvez... – Senti as mãos de James envolverem-me por trás e todo meu corpo entrou em colapso. Era um dia muito frio em Sydney e, com certeza, estar seminua e sendo tocada pelas mãos quentes de Potter não era uma boa combinação, era? Ah, claro que era. – Mas acho que você precisa de ajuda, huh?

Seus lábios trilharam beijos do meu rosto até minhas costas, passando pelo pescoço e omoplatas. Ele desenganchou meu sutiã e não pude me conter em me virar para beijá-lo. Uma de suas mãos segurou firme na minha cintura e a outra foi enterrada no emaranhado que era meus cabelos, ele gemeu quando sentiu o contato dos meus seios com o seu peitoral assim que enlacei-o com meus braços pelo pescoço. Ambos percebemos a urgência da situação em que nos encontrávamos.

Depois de ser encostada na cerâmica fria da parede, levei minhas mãos ao cinto de James e o desafivelei, apressada. Suas mãos fizeram-me o favor de acelerar o processo, os beijos não cessavam. Em um piscar de olhos ambos estávamos nus dentro da banheira, minhas pernas uma em cada lado de James, que estava com pouquíssima mobilidade; a água quente e o ambiente frio faziam com que aqueles movimentos que eram realizados fossem cada vez mais necessários.

Diferente do dia que acontecera a nossa noite de amor, James estava sedento, talvez porque da primeira vez ele não tinha capacidade de realizar movimentos bruscos, mas ainda sim fora muito delicado e proporcionou sensações incríveis não só a ele, mas também a mim.

— Nunca imaginei que algum dia faria sexo na banheira. – Murmurei sentindo as mãos de James massageando meus ombros. Estávamos sentados na banheira, ele acolhendo-me com serenidade. A espuma da água cobria, agora, a nudez de ambos os corpos.

— Eu faço coisas inimagináveis, meu amor... – Ele sussurrou com a boca próxima à minha orelha direita, fazendo me arrepiar. Meu cabelo pendia para o lado do meu ombro esquerdo e minhas mãos ocupavam-se em acariciar a camada de espuma cor de neve que nos rodeava.

Ri.

— Você é tão estupidamente convencido... – Comentei, virando meu pescoço para encará-lo, o sorriso brincando nos lábios.

— Sei que gosta. – Respondeu roubando um beijo.

Ficamos abraçados por mais alguns minutos, planejando pela milésima vez o que aconteceria pelo restante da semana e então decidi manifestar-me.

— Preciso levantar para terminar de lavar o cabelo. – Alertei-o.

— Tudo bem, dessa vez eu deixo você ter mais privacidade. – Ele beijou meu rosto uma última vez, rindo. Deixou o banheiro enrolado na toalha.

Liguei a ducha para enxaguar o cabelo e retirei o pino do ralo da banheira, deixando a água usada ir embora. Sequei-me e logo me deparei com a ausência do roupão que eu sempre gostava de usar quando queria me locomover do banheiro para o quarto em dias frios.

— James? Você pode pegar o meu roupão que está na mala, por favor? – Disse enrolando-me na toalha.

Silêncio.

— James? – Franzi o cenho, colocando a cabeça do lado de fora.

Sorri ao ver um James seminu esparramado sobre a colcha branca da cama, plenamente adormecido. Caminhei até a mala e retirei de lá o meu pijama e minhas pantufas – precisaria destas na manhã seguinte – e me vesti. Sequei meu cabelo no banheiro e finalmente voltei para o quarto. Tentei ajeitar o corpo de Potter, a fim de passá-lo para baixo das cobertas. Depois de um esforcinho, deitei-me e adormeci observando a expressão tranquila nas feições do rapaz que dormia ao meu lado.

***

Acordei, mas não abri os olhos. Era pra lá de confortável aquela cama, precisaria de um colchão daqueles quando retornasse a Londres. Sorri ao me lembrar do homem que havia adormecido naquela mesma superfície. Estiquei os braços a fim de alcançá-lo, porém nada toquei além de meros lençóis amassados.

James não estava mais lá.

Franzi o cenho e ergui meu tronco colocando os pés para dentro das pantufas. Rodeei a cama e ao chegar ao lado onde James dormira, suspirei.

— James? – Chamei-o.

O próprio silêncio trouxe a resposta que eu procurava.

Caminhei até o banheiro, coçando os olhos e meu coração falhou uma batida assim que me deparei com um post-it grudado na superfície do espelho com os dizeres:

“desculpe-me por ter dormido ontem. Levantei mais cedo para resolver algumas coisas para a nossa viagem. Mande-me uma mensagem assim que terminar de ler isto”

J.

Sorri balançando a cabeça. Só Potter para fazer uma coisa daquelas.

Fiz as costumeiras higienes matinais e vesti-me de acordo com a impressão que o clima me passava do lado de fora da janela do quarto do hotel. Um sobretudo azul que cobria o vestido que usava com uma meia calça preta por baixo, não me esquecendo, obviamente, do tão prezado cachecol que mamãe fizera o favor de lavar para que eu o trouxesse comigo nesta viagem.

—_______________________________________________________

[09:02]Lily Evans: Já estou pronta, onde você está?

[09:04]Lily Evans: ?

[09:05]James Potter: Me encontre na cafeteria da esquina. Estou na primeira mesa à esquerda.

[09:05]Lily Evans: Ok.

—_______________________________________________________

Coloquei o celular dentro da bolsinha que pendia sobre meu ombro destro e deixei o quarto deslizando o cartão pela fechadura da porta, trancando-a.

Assim que dei com o lado de fora do hotel, a brisa gélida da manhã me atingiu, porém não tão fria quanto a da noite anterior, fazendo-me arrepiar brevemente. Olhei para os lados e avistei a cafeteria na esquina. Andei apressadamente através da faixa de pedestres, lembrando-me de tomar o devido cuidado (todos nós sabemos o histórico manchado que eu tenho quando se trata de atravessar ruas) e adentrei o ambiente.

James Potter estava onde disse que estaria: na primeira mesa do lado esquerdo. Ele sorri para mim assim que me vê entrar, ponho-me a rir.

— Bom dia, Evans – ele diz com um sorriso torto estampado no rosto. Cerrei os olhos.

— Bom dia, Potter. O que está aprontando? – Aproximei-me da mesa e pendurei a alça da bolsa na cadeira defronte à que ele ocupava e inclinei-me em sua direção, selando-o antes de finalmente sentar.

Sua cabeça pendeu para o lado direito, os olhos totalmente preocupados em fitar-me, o sorriso nunca deixando os lábios.

— Quer me dizer o que está havendo? – Não me contive em sorrir abertamente, o calor subira e concentrava-se em meu rosto agora, cobri-o com as mãos por um instante.

— Um lírio para um Lírio? – Assim que abrira passagem para o meu rosto novamente, avistara uma flor de lírio branco, sustentada pela mão direita de James.

Umedeci os lábios e fitei meu colo, brevemente envergonhada, antes de receber a flor.

— Obrigada. – O sorriso não me sumia dos lábios em momento algum. Afinal, como deixar de sorrir quando o próprio amor da minha vida estava em minha frente realizando incessantemente o mesmo feito? Claramente impossível.

James espiou pela janela mordendo os lábios por um instante e voltou seu olhar a mim mais uma vez.

— Como dormiu à noite? – Perguntou.

— Dormi tão bem essa noite que nem me lembro de termos dormido de conchinha, que é o que casais fazem. Não dormimos abraçados, dormimos? – Perguntei. Dois cafés e quatro muffins chegaram e James agradeceu à garçonete com um aceno de cabeça, esta se retirou logo em seguida.

— Não sei... Dormimos? – Ele ergueu as sobrancelhas e bebeu um gole do café, não tirando os olhos de mim.

— James Potter! – Exclamei rindo.

— Lily Evans? – Ele retrucou passando a língua entre os lábios, retirando o excesso de espuma dentre eles.

— O que há com você hoje?

— Nada. – Ele riu em estranhamento. – Não posso tomar café?

— Claro que pode, mas... – Estreitei os olhos em sua direção.

— Olhe... Já resolvi tudo o que precisava resolver pelo resto da semana, então uma coisa eu te garanto: com certeza vamos dormir abraçados no restante das noites, ok?

— Ok. – confirmei gargalhando.

— “O que há com você?”, essa é a pergunta que deveria se fazer. – Comentou rindo da minha cara.

— Você tá uma fofura hoje, James Potter – As bochechas dele coraram. Tomamos o restante do café e logo deixamos a cafeteria.

Iniciamos nossa caminhada pelas ruas de Sydney com os braços entrelaçados, não obstante nossas mãos ainda arrumavam uma maneira de ficarem dentro dos bolsos de nossas roupas.

— Consegui reservar um chalé para gente amanhã. – Disse ele e eu o olhei com os olhos arregalados. – Queria que fosse surpresa, mas eu claramente não sei guardar segredo, como você pode ver... – Ele passou a mão pelos cabelos, envergonhado.

Sorri e pulei para abraçá-lo.

— Eu sabia que estava planejando alguma coisa! Ah, James você é incrível!

— Sei que sou... – Soltei-o e ergui uma das sobrancelhas, repreendendo-o pelo convencimento.

O resto do dia voou. Visitamos alguns shoppings e na hora do almoço James me levou para um restaurante fino que era extremamente elegante e agradável, onde tive a oportunidade de experimentar de algumas comidas típicas e até do famoso brownie australiano. À tarde, fomos ao Royal Botanic Garden, que como o próprio nome diz, trata-se de um jardim botânico com os mais diversos tipos de flores; um lugar lindo que dá visão à Hardour Bridge e ao Opera House.

Quando finalmente deram seis horas, retornamos ao hotel e começamos a nos aprontar.

— Lily, vamos logo! Você está nesse banheiro há duas horas. Estamos indo para um show de luzes, não para um... – E então calou-se.

Abri a porta do banheiro assim que terminei de passar o batom vermelho contra os lábios. James virara-se e praticamente pude contemplar sua mandíbula caindo a quatro palmos do chão. Ok, exagero, mas ele estava realmente surpreso. Em poucas palavras: adoro.

— Uau... – Ele dissera ainda atônito.

— Você também está mais do que deslumbrante, senhor Potter. – Comentei. – Agora poupemo-nos da repetição da cena que fizemos antes de sairmos de Londres e vamos logo. Estamos atrasados.

Saí na frente e mesmo que não pudesse ver seu rosto com as costas, soube que ele estava sorrindo.

Assim que descemos até a recepção, um homem veio até James e entregou-lhe uma chave.

— O seu carro te espera na fachada do hotel, senhor Potter.

Franzi o cenho.

— Ok. Obrigado. – James tirou uma nota de vinte dólares australianos e o manobrista agradeceu com os olhos cintilantes.

— Potter?

— Evans?

Caminhávamos até o carro. Era um Corolla, mais moderno que o de Alice, simplesmente lindo. Meu namorado apressou-se para abrir a porta do banco do passageiro para mim.

— Não me diga que você comprou um carro só para passarmos uma semana aqui! – Comentei assim que ele adentrou o banco do motorista.

— Só aluguei. Achei que ficarmos dependendo de táxis por aqui não tem futuro. – retrucou. – Droga... Não estou acostumado com direções do lado esquerdo. – Disse ele encaixando a chave na ignição do carro.

— Hey... – Chamei-o e ele levantou o olhar para mim. – Não precisa ficar gastando fortunas para me impressionar. Gosto de você por ser você, não pelo seu dinheiro...

— Não, não... Não estou querendo te impressionar. – Cruzei os braços, encarando-o. – Certo, talvez um pouco. Mas eu sei que você não é uma interesseira, Lily. Céus... Estou fazendo isso para termos uma viagem inesquecível. Se não estiver gost-

— Não! Não é isso! Eu estou amando, James. Pelo amor de Deus, não diga uma coisa dessas. – Respirei. – É só que... Eu não quero que isso pese pro seu lado, sabe?

— Fique tranquila, meu amor. Não precisa se preocupar com o dinheiro. Só relaxa, ok? – Ele disse, por fim e deu partida no carro, acelerando para parar no semáforo localizado duzentos metros à frente.

Ficamos em silêncio durante todo o percurso, até que enfim, chegamos ao Opera House. Estacionamos o carro e assim que deixamos o carro, entrelacei meu braço no de Potter; começamos a andar até o lugar onde haveria o show de luzes.

Antes que as luzes fossem acesas, fomos informados que haveria um show, que, por coincidência do destino, era das Esquisitonas, quase morri quando soube que estaríamos ingressando naquele lugar e além de assistir a um espetáculo incrível, ainda ficaríamos para assistir ao show da banda preferida de minhas amigas (elas com certeza pirariam).

Compramos dois ingressos para o camarote do estádio. Fiquei surpresa por não já terem esgotado, visto que sempre que acontecia um show em Londres os ingressos acabavam em menos de uma semana do início da disponibilização da compra das mesmas.

Assim que chegamos ao camarote, fomos servidos com uma taça de champanhe e uma voz ecoou pelo lugar dando as boas vindas para todos os presentes, anunciando que a abertura do show seria a reprodução do primeiro álbum das Esquisitonas e logo depois seguiriam com o cronograma planejado.

A banda começou a tocar e James estava tenso, mais calado que o normal. Não parecia estar se divertindo. Apenas bebia fundos goles da bebida que preenchia a taça de vidro que segurava. Suspirei e decidi mostrar minha preocupação diante da situação. Abracei-o.

— Me desculpe se te chateei com o que disse no carro. Só estava...

— Hm? – Perguntou ele distraído.

Minha cabeça estava aconchegada em frente ao seu tronco e, apesar do barulho, eu conseguia distinguir as batidas violentas do coração de Potter. Ele estava nervoso.

— Está tudo bem? – Soltei-o, erguendo o olhar para ele, preocupada.

            – Ah. Está sim... – Ele passou a mão direita pelo cabelo grande, embaraçando-o. Alguma coisa estava muito errada.

            – James, olhe pra mim. – Ele olhou. – O que houve? Não está se sentindo bem? – Segurei seu rosto conferindo sua sanidade. Parecia uma mãe se certificando se seu filho estava sóbrio depois de chegar da balada.

            – Está tudo bem, Lily... É só que... – Ele umedeceu os lábios.

            Não pude ouvir mais nada, o público ia ao delírio com o fim da primeira música. O vocalista tomara a palavra:

            – Estão gostando dessa noite maravilhosa? – O povo berrou em afirmação. – Sabemos que sim! Bem, recebemos uma notícia de última hora e parece que temos alguém apaixonado aí, huh?

            Meu coração falhou uma batida.

            – Estávamos indo para a segunda música do nosso CD, mas decidimos seguir um pedido que nos foi solicitado agora. Espero que gostem. Aproveitem o show.

            Todas as luzes do estádio se apagaram e eu ofeguei. Então Green Eyes, do Coldplay começou a ser tocado.

Honey, you are a rock upon which I stand...

            – James, o que está havendo? – Perguntei com os olhos arregalados. Ambos tínhamos consciência de que aquela era a nossa música.

            I come here to talk... I hope you understand...

            Uma paleta de cores diferentes preencheu o estádio, iluminando-o por completo. E então me surpreendi ao perceber que os três telões do palco retiniam uma filmagem ao vivo. Mal pude acreditar quando identifiquei a mim e James. Alguém nos filmava.

            The Green Eyes... Yeah, the spotlight, shines upon you...

            – Mas o que...?

            Era tarde demais.

            And how could anybody deny you?

            James agora sorria, o rosto totalmente enrubescido.   

            – I came here with a load... — Agora a voz de James seguia a do vocalista. Ele ainda sorria e olhava para as extremidades do estádio.

            As luzes se misturaram por um momento e formaram letras que organizaram-se e formaram os dizeres: “Marry me?”.

            And it feels so much lighter, now I met you...

            Meu coração já não batia mais. Minhas mãos foram em direção à minha boca e quando voltei meu olhar para James ele já estava ajoelhado, retirava uma caixinha aveludada do bolso do terno.

            – And honey you should know, that I could never go on without you — Ele cantou junto e abriu a caixinha, deixando mostrar um anel de brilhantes, uma única esmeralda brilhava no meio do mesmo e eu quis gritar.

            Ele segurou uma de minhas mãos frias e trêmulas e disse para o estádio inteiro ouvir (a banda agora só tocava o instrumental da música):

            – Sei que passamos por muitas desavenças e que as coisas podem estar fluindo mais rápido do que você previa, mas eu simplesmente não sei viver sem você – sentia que meu rosto poderia rasgar a qualquer momento, o sorriso não o abandonava, minha vista embaçava, talvez fossem as lágrimas. – Lily Evans eu estou completamente apaixonado por você, você é o amor da minha vida. Daria a honra de ser a minha esposa? – Disse ele depois de depositar um beijo em minha mão.

            Comecei a rir, não contendo tamanha felicidade dentro de mim. O público agora bradava: “Marry him!” continuamente, todos plenamente concentrados no telão que mostrava uma Lily totalmente desestabilizada e um James tenso ajoelhado aos seus pés, aguardando uma resposta. Demorou mais uns três segundos para que eu pudesse me “recompor” e as palavras saíssem:

            – Sim! Mil vezes sim! – Sesatei a chorar nos seus braços e ele ergueu-se, acolhendo-me.

            O público gritou em resposta e a banda, depois de fazer um comentário que eu não consegui identificar (pressão), retornou a cantar o restante da música. Entrementes, James retirava a joia reluzente de dentro da caixinha e a encaixava em meu dedo.

            – Ah meu Deus. Você é insano, James Potter! – Gritei voltando a abraçá-lo.

            Estava aí o motivo de tanta estranheza. O sorriso bobo estampado nos lábios dele no café da manhã; a pressa para sairmos de casa; a maneira atrapalhada na qual ele lidou com a chave na ignição do carro; o nervosismo e tensão a cada passo que dávamos... Agora tudo se explicava.

            – Eu te amo e também não consigo imaginar a minha vida sem você! – Disse depois de um enorme delay (dá um desconto... Ele estava me pedindo em casamento!).

            Depois disso, não houve música das Esquisitonas que me fez desviar minha atenção dos olhos castanhos do homem que era meu mais novo noivo. Eu simplesmente era a pessoa mais feliz do mundo.

            Três horas após o inesperado pedido de casamento, James me levara até o chalé que ele reservara mais cedo. O lugar era próximo ao topo de uma montanha que dava visão às Blue Mountains, que eram montanhas mais ao fundo.

            O chalé era todo feito de madeira, com dois ambientes. O térreo era um simples hall de entrada com um sofazinho sobre um tapete de crochê. O andar de cima era simplesmente deslumbrante: um quarto com uma cama de casal em frente à uma lareira e ao lado dele, ainda no mesmo ambiente, num patamar mais elevado que o piso normal, encontrava-se uma banheira dupla num pequeno cômodo sem paredes rodeado por vidro, ainda sim havia um telescópio ao lado, que permitia a contemplação da paisagem que a vidraça nos proporcionava.

            Sim, eu sei. É tão magnífico que nem eu mesma estou conseguindo descrever. Mas como descrever o indescritível? Tudo era tão perfeito que estava parecendo acontecer em um sonho.

            Como faltavam toalhas e panos de cama, James deixou-me no chalé para ir até a central buscá-las, não esquecendo, é claro de beijar-me uma última vez antes de sair.

            Admirei minha mão esquerda e sorri ao observar a esmeralda brilhar no anel de noivado. Sim, noivado.

            Eu estava noiva.

            – Eu estou noiva! – Disse caindo a minha ficha. – Preciso contar isso à mamãe! – Dei pequenos saltos e pulei em cima da cama discando o número da pessoa que pularia de alegria antes de eu dizer a minha novidade bombástica.

            Não demorou três segundos para que a chamada fosse atendida. Mamãe estava chorando. Meu sorriso murchou instantaneamente.

            – Mamãe? Está tudo bem?

            – ... Me dá isso aqui. Ali, traga um copo de água pra ela — Era a voz de Holly na linha. – Oi, Lily!— Disse com a voz eufórica.

            – Holly? – Sentei-me num salto. – Por que mamãe está chorando? Aconteceu alguma...

            – Relaxe, Lily! Estávamos apenas assistindo a transmissão ao vivo do Vivid Sydney e a sua mãe pirou quando viu James te pedindo em casamento. Ela está assim há umas duas horas. Quer dizer, ela já sabia de tudo, ele contou tudo pra ela e ela contou tudo pra gente logo depois que vocês saíram. Quase liguei pra você berrando, mas lembrei de que tinha de ser uma surpresa, então espero que você não se zangue com o fato de que você está nos ligando para contar a novidade sendo que nós já sabíamos antes de você.

            Abri um grande sorriso.

            – Ah, eu não acredito! – Comecei a rir. – Passa o celular pra ela! – Pedi.

            – Parabéns, Lily! — Era a voz de Tonks no fundo. – Ela quer falar com você, Jess. Vamos, acalme-se.

            Comecei a rir aguardando na linha.

            – Filha? — Fungou mamãe.

            – Ah, mãe! Pare com isso! Você sabia de tudo isso e ainda está chorando desse tanto! Imagine eu que fui pega de surpresa. Eu estou simplesmente morrendo aqui! – Levantei-me e comecei a andar de um lado para o outro.

            – Ah, Lily! Eu só estou tão feliz por você! Por Deus, você era minha garotinha até um dia desses e...

            — Mãe... Eu sempre vou ser a sua garotinha, ouviu? Sempre. – Assegurei-a e ela pareceu assentiu, pois nada dissera e fizera barulho de quem estava reprimindo o choro.

            – Eu te amo, querida. — Ela disse, por fim. – Estou tão orgulhosa de você, por estar crescendo enormemente como a pessoa incrível que você é! Não sabe o quanto me orgulho de ser sua mãe...

            — Eu também te amo, mãe! – Senti meus olhos marejarem.

            – Seu pai também estaria muito orgulhoso de você. — Foi então que desatei a chorar. Falar do meu pai era demais pra mim.

            – Estaria sim... – Comentei em meio às lágrimas de alegria que inundavam meu rosto.

            Pude ouvir o barulho da porta bater no andar de baixo. James chegara, mas não me importei muito. Ele me daria um pouco de privacidade.

            Logo depois de falar com minha mãe, vieram Alice, Tonks, Holly e até Remus e Sirius que também tinham conhecimento do que viria a ocorrer esta noite estavam lá na casa de mamãe para assistir tudo ao vivo.

Como podia uma coisa dessas? Todos saberem que eu seria pedido de noivado, menos a própria noiva? Era injusto, de certa forma. Mas analisemos que não teria a mínima graça caso eu ficasse sabendo das coisas antes delas se realizarem, certo?

            Depois de uns vinte minutos no celular, finalmente desliguei-o e ouvi os passos de James subindo as escadas, o olhar um pouco perdido, ainda estava envergonhado do feito de algumas horas atrás. Sorri singelamente ao vê-lo daquele jeito. Deitei-me na cama apoiando meu cotovelo direito na mesma e minha cabeça na mão.

— Já contou pra sua mãe? – ele perguntou passando a mão pelos cabelos, embaraçando-os. Aproximou-se da cama, mas não se sentou nela.

— Na verdade... – Ergui minha sobrancelha. – Parece que todo mundo já estava sabendo, menos eu. – Ri, ele arregalou os olhos.

— Eu só contei para sua mãe porque queria a bênção dela, ninguém mais sabia além dela e dos marotos. – Esclareceu e sentou-se no pequeno estofado que jazia defronte à cama, seus olhos ocupados em me observarem.

— Minhas amigas todas já estavam sabendo quando eu liguei. Afinal, nós aparecemos ao vivo na TV. – Comecei a rir e me levantei indo até ele. – Você é a pessoa mais incrível que eu já conheci. – Disse sentando-me no seu colo, uma perna de cada lado de seu corpo.

— Opa, opa. Parece que alguém repetiu o que disse ontem de manhã... – Constatou; a malícia reluzindo nas pupilas de seus olhos.

— É... Acho que não estou em sã consciência. – Ironizei e ele gargalhou trazendo-me para um beijo.

***

— Já está aí logo cedo? – Desconcentrei-me assim que percebi a chegada de James.

— É, estava testando algumas notas novas... – Sorri e recostei meu violoncelo ao pé do banco. James se sentou ao meu lado, deixando a bolsa de seu violão de lado antes de me abraçar.

Ainda eram oito horas e eu havia acordado tão bem disposta que decidira que seria uma boa ideia ir para o lado de fora do chalé para tocar um pouco, já que fazia um bom tempo que não pegava no meu violoncelo.

Depois de alguns instantes em silêncio, manifestou-se:

— Pensei que estávamos supostos a acordar com a luz do sol batendo em nossos rostos... Eu acordando primeiro para ver você dormir, é claro. – Ele sorriu e deixou um beijo em minha testa.

— Quão clichê é você? – Caçoei e ele riu.

— Sempre fui, você que nunca me deu bola. – Fez beicinho, na qual não resisti em selar.

— Só estou um pouco ansiosa para começar a compor. – Olhei-o, seus braços ainda se entretiam em me envolver.

James observou o horizonte por alguns instantes, pensativo.

— Estive pensando muito nisso ultimamente, – comentou depois de um tempo, estava confortável a posição em que encontrávamo-nos. – e tive algumas ideias...

— Eu também. Procurei várias coisas na internet de como poderíamos fazer para harmonizar o violoncelo com o violão. Aprendi algumas técnicas e... – James me olhava abobalhado. – O que foi?

— Nada – desviou o olhar reprimindo um sorriso. – Só estou feliz por estar tão animada quanto eu.

— Claro que eu estou... Quer dizer, vai ser demais! Vamos fazer isso funcionar e seremos uma dupla. Vamos gravar covers dos singles mais ouvidos dos nossos artistas preferidos e até mesmo compor nossas próprias músicas... Vai ser maravilhoso, James.

— Vai sim, Lily – Respondeu sereno. – Já pensou em um nome para a nossa dupla?

— Pensei, mas é filosófico demais pra você. – Disse e ele me soltou erguendo as sobrancelhas. Na mesma hora, lembrei-me da expressão que minhas amigas faziam quando achavam uma situação absurda “tudo-bom-contigo?”, era igualzinha à cara de James. Pus-me a rir.

— Okay... Posso saber pelo menos de onde saiu toda essa Lily filosófica? – Rebateu.

— Só depois que um cara aí me disse que ia fundar uma dupla com a namorada dele, que na verdade virou sua noiva três semanas depois. – Falei com a maior naturalidade do mundo.

— Hm... Entendi. Mas você pode falar para mim, eu posso não ser tão inteligente quanto você, mas posso tentar decifrar. – Disse ele entrando no meu jogo.

— Bem... Pensei em Jily GC.

James mordeu o lábio inferior parecendo pensar.

— Ok, realmente... Isso é filosófico demais para mim. – Encenou cara de decepcionado, gargalhei.

— Jily você sabe... – Ele afirmou. – GC é a união das iniciais de guitar e cello.

— Lily Evans, você é genial! – Ele murmurou e beijou minha testa.

— Eu sei, eu sei... – Sorri.

— Está tão próxima a mim nos últimos dias que acho que acabei passando um quarto do meu convencimento para você. Isso me assusta.

— É melhor se acostumar. – Ele sorriu.

O sol nos aquecia cada vez mais, ou seria o calor de nossos corpos?

— Bem... – James disse depois de um tempo. – Com que música iremos começar?

Entreolhamos-nos. Acho que ambos sabíamos qual era a ideal.

— No três cantamos juntos, então? – perguntou James encaixando o violão sobre seu corpo.

Confirmei e sentei-me apropriadamente, o violoncelo a postos.

— 1... 2... 3.

Honey you are a rock...


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Notas finais do capítulo

AAAAAAA Foi lindo esse finalzinho né?
Comentem, comentem e comentem!!!!
GEnte (trocadilhooooo KKKKKK Tá, chega.), muito obrigada por lerem!
Aguardem o epílogo e é isso!
Nos vemos em breve ;)
Um beijo! ♥



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