Green Eyes - Jily escrita por Vitória Serafim


Capítulo 16
A Audiência


Notas iniciais do capítulo

Galeres! Meu Deus que saudade que eu tava de postar!
Tô aqui uma vez por mês trazendo capítulo. Tá complicada a vidinha.
Esse capítulo tá bem drama no começo, mas depois ó ♥ só o ouro (Gíria do meu irmão de 12 anos KKKKKKKKKKK)
Enfim, malzinho a demora e boa leitura :*

[Capítulo betado por Alie maravilhosa da vidinha da Torinha]



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Imediatamente estreitou os olhos e ajeitou a armação dos óculos o juizado. Era óbvio que, nem mesmo a figura excelentíssima, tinha conhecimento do que estava a se passar naquele tribunal.

— Por favor, Meritíssimo. Peço para que analise as provas que coletamos e acrescente esta mulher ao banco de réus – solicitou Matthew, entregando uma resma de papéis nas mãos do senhor, que se chamava Cornélio Fudge, segundo a plaquinha que se localizava na ponta da mesa.

O juiz varreu a primeira página com o olhar e fitou o policial por alguns instantes – um olhar mortal de "não-é-porque-temos-uma-boa-relação-amistosa-que-significa-que-você-pode-chegar-entrando-na-minha-audiência-assim" – e retornou à examinar a papelada. Cinco minutos se passaram aos murmúrios e então Fudge ergueu os olhos para o tribunal mais uma vez.

— Permissão para posicionar a suspeita junto aos demais réus concedida – o policial agradeceu com um olhar significativo, e a mãe de Holly sentou-se ao lado de Snape com as expressões totalmente vazias, parecia realmente não se importar com nada.

Os murmúrios tornaram-se relativamente audíveis.

— Ordem no tribunal – ordenou o juiz, juntamente com o soar do contato da madeira do malhete com suporte de mesmo material.

Fez-se silêncio mais uma vez enquanto a ruiva presenciava Holly sair pela porta dos fundos aos prantos com Sirius no seu encalço. Tudo o que Lily queria era ir atrás dela, consolá-la, todos sabiam disso, mas tinha de apoiar sua mãe, ela não podia ser deixada sozinha para representar o finado marido justo no dia da audiência que decidiria tudo. E eu, consequentemente, não podia deixar Lily, portanto, Sirius teria de correr atrás da namorada sozinho (se as meninas todas fossem atrás de Holly fariam a maior baderna naquele lugar).

— Como eu ia dizendo... Estamos aqui hoje para tratarmos do caso 240700, que se refere ao assassinato de John Evans, não só genitor de família, como também oficial de polícia da delegacia do centro de Londres – Fudge pronunciou-se, dando definitivo início à audiência em questão.

“Visto que se trata de um caso de homicídio, obrigatoriamente passamos a chamar o que temos aqui de processo ordinário."

"É de vital importância salientar que todos os acusados aqui presentes já foram previamente ouvidos e interrogados em companhia de um advogado a favor de sua defesa e que, hoje, estariam aqui somente para serem julgados e finalmente definidos os seus destinos finais."

"Contudo, com a chegada da nova acusada – a senhora Christina Grace Hall – temo que o julgamento tenha maior duração do que o previsto."

Todos estavam totalmente vidrados nas palavras do juiz, era evidente que os que compareceram estavam em choque com o aparecimento da senhora Hall e isso acabou mudando as expectativas para o julgamento, consequentemente.

Lily ainda estava totalmente inerte, não havia se mexido e nem dito uma única palavra sequer depois que sua amiga saíra chorando. A pior coisa era assistir àquela cena e não poder fazer nada a respeito.

Sempre era assim: Lily tinha um problema e eu dificilmente conseguia ajudá-la. Eu lhe garanto que é um saco, caro leitor.

— ... Eu posso assegurá-lo, Meritíssimo juiz. O meu cliente não teve nenhum tipo de envolvimento com o assassinato da vítima em questão, seu estado era de ingenuidade diante dos fatos. É claro que isso estava ligado há fatores que envolvem outro crime: o do assalto ao banco, mas ele não tinha absoluta certeza do que estava fazendo.

— O que o senhor insinua quando diz que o seu cliente não tinha certeza do que estava fazendo? O senhor Pettigrew me parece perfeitamente bem no dia de hoje. Acha que ele sofre de algum mal psicológico?

Covardia. Pensei.

Era ridículo julgar Peter pelo assassinato do pai de Lily. Ele certamente era cúmplice, mas covarde do jeito que era, nunca teria coragem de tirar a vida de alguém. Conhecíamos muito bem Rabicho para saber que ele não mata nem a própria fome, muito menos John.

— ... Mas o senhor admite que estava envolvido com o plano juntamente com a sua esposa? – Cornélio interpelou o rapaz de cabelos loiros.

— Todos nós estávamos envolvidos no roubo do banco, mas nenhum de nós havia planejado a morte do policial. Foi tudo meio inesperado – Lúcio respondeu dando de ombros.

Nada nessa vida é tão inesperado que não se possa prever. Roubar um banco é algo que requer muita inteligência e organização prévia. Era óbvio que a quadrilha faria o que fosse conveniente ao momento para que deixassem o local com o objetivo concluído; inclusive assassinar aqueles que querem combatê-los.

— ... Hall não fazia parte do nosso grupo, ela agiu sozinha. Se não fosse por ela, nenhum de nós estaria aqui hoje. Teríamos fugido com a grana – Bellatrix bufou revirando os olhos.

— Basta, senhora Lestrange. Não mais queremos suas visões sobre o ocorrido – o Meritíssimo juiz interrompeu-a formalmente. – Por favor, senhor Severo Snape e seu advogado de defesa.

Tudo se passava rápido demais. Talvez porque era uma novidade imensa presenciar pessoas sendo julgadas logo em minha frente. Os devaneios me atrapalhavam um pouco a prestar mais atenção no que acontecia.

Encarei Ranhoso com um pouco menos de raiva que o comum, lembrando que nem ele mesmo sabe que engravidou uma mulher e que esta, por sua vez, acabou abortando. Pela primeira vez na vida eu sentia pena de Severo Snape.

— ... Fiz muitas coisas erradas para contribuir com esse roubo, admito isso, Vossa Excelência. Coisas de que não me orgulho em ter feito, – ele direcionou seu olhar a Lily. Provavelmente se referia ao emprego que a tinha feito perder. – mas eu nunca mataria John Evans, ele é pai da única garota com quem já me importei – senti minhas têmporas arderem ao ouvir Snape finalizando seu discursinho.

PENA O CARAMBA! RETIRO O QUE DISSE.

Ranhoso, Ranhoso... Saia um dedinho da linha que eu mesmo acabo com você, seu desgraçado mentiroso...

Como o esperado, Lily ficou ali mordendo seus próprios beiços. O famoso "queria-te-esganar-mas-não-estou-em-posição-de-fazer-isso-no-momento".

— ... Aqui temos que a senhora ajudou o seu marido em todos os procedimentos que ele realizou. A senhora não confirma nada a respeito do caso que estamos a tratar agora? – perguntou Cornélio intercalando o olhar entre a resma de papéis e o rosto abatido de Narcisa Malfoy.

— Não tenho nada a declarar, Excelência. Meus depoimentos todos já foram dados através do interrogatório realizado em Azkaban.

Azkaban. Essa era prisão de segurança máxima de Londres. Era onde os prisioneiros responsáveis pelos piores crimes já vistos na história do Reino Unido residiam. Os acusados pelo assassinato de John foram todos àquele lugar enquanto aguardavam que o dia da audiência fosse agendado. Lá eles foram interrogados e todos os dados coletados foram analisados e organizados, agora se localizavam nas mãos da figura mais importante do tribunal.

— ... O meu cliente, o senhor Riddle, promete assumir todas as consequências por ter sido o principal responsável pelo planejamento do roubo do banco, entretanto, posso afirmar que ele já estava do lado de fora da unidade bancária quando a vítima foi atingida. De acordo com as câmeras de segurança da rua...

Era estranho como todos assumiam o envolvimento com o roubo do banco, visto que o que realmente teriam que assumir era o assassinato de John. Para os réus, roubar o banco parecia uma detenção de escola em comparação a anos de apodrecimento na cadeia por um assassinato.

— Senhora Hall, segundo as evidências de câmeras de segurança e provas criminais, a senhora está sendo indiciada pelo uso de uma arma de longa distância num assassinato...

Quando menos esperava o celular no meu bolso vibrou. Desliguei. O desespero de Almofadinhas se confirmou com a aparição das vinte mensagens na barra de notificações.

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Hoje:

[11:25] Almofadinhas: Pontas, preciso de ajuda.
[11:25] Almofadinhas: É a Holly.
[11:27] Almofadinhas: Atende a droga do celular!
[11:30] Almofadinhas: James, por favor!
[11:31] Almofadinhas: Ela tá trancada no banheiro chorando.
[11:32] Almofadinhas: Estou com medo do pior.

Mais 14 mensagens.

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Bastavam apenas seis mensagens para entender o que se passava.

Droga.                                      

Eu havia prometido a Lily que iria acompanhá-la nessa audiência, mas agora as coisas tinham chegado a um nível extremo de urgência. Era a vida de Holly ou o conforto de Lily.

— ... E que a viagem da senhora a Romênia teve como principal objetivo a obtenção ilegal dessa arma... – Cornélio continuava se pronunciando. A mãe de Holly tinha as expressões imutáveis diante do seu julgamento.

— Lily... – chamei-a num sussurro enquanto minha mão acariciava seu braço. Ela direcionou seu olhar a mim, um pouco desnorteada. – Vou precisar sair para resolver uma coisa...

Percebi sua respiração sumir por um instante.

— O que houve, James? – ela perguntou depois de sua voz falhar uma vez.

— Depois eu te explico. Eu juro que se não fosse urgente eu ficaria. Sabe que eu faço tudo por você – sussurrei.

— É a Holly, não é? – perguntou ela com os olhos marejados. Afirmei com a cabeça e beijei sua testa como numa despedida. – Não deixe que nada aconteça com ela, James... Por favor— ela me abraçou e Jessica me lançou um olhar de interrogação.

— Farei tudo que puder. Qualquer coisa me liga, ok? – passei a mão pelo seu rosto a fim de tirar o excesso de umidade causada por suas lágrimas e a beijei uma última vez antes de sair de mansinho do tribunal.

Fui direto para o carro e chequei minhas mensagens mais uma vez para me certificar onde eles estavam antes de acelerar em direção à casa dos Hall. 

Enquanto isso, mil e um pensamentos passavam pela minha cabeça: Lily no tribunal assistindo ao julgamento dos acusados pelo assassinato de seu pai; a mãe de Holly sendo apresentada de última hora na audiência; Holly em uma situação crítica prestes a "acionar o gatilho" sem nenhum Sirius para impedi-la, ou pelo menos um que tentasse.

Não demorou mais de cinco minutos para que tivesse estacionado o meu carro e adentrado a humilde casa dos Hall. Na última vez que tinha pisado na casa de Holly ainda estávamos no colegial, éramos meio que amigos de interesse – visto que ela tinha interesse em Sirius e eu em Lily – mas depois nos aproximamos e viramos amigos de verdade.

Segundo teorias universais, para que se confirme uma amizade verdadeira é necessário que os amigos sempre estejam ali um pelo outro durante momentos bons e ruins. Contudo, o meu vínculo com Holly se enfraqueceu drasticamente com o passar do tempo, tanto que mal chegávamos a ter uma conversa sobre qualquer tipo de besteira como séries ou sei lá. Bem, acho que nunca é tarde demais para se consertar as coisas.

Subi as escadas depressa e fui direto para o quarto. A voz da tentativa de contenção do desespero de Sirius ecoou pelo corredor do segundo piso.

— Holly... Hey... Você está me ouvindo? Por favor, abre essa porta. Sabe que estou aqui e que podemos passar por isso juntos.

A cena era triste de se ver. Sirius ajoelhado ao lado de fora da porta do banheiro do quarto da namorada com grossas lágrimas silenciosas escorrendo sobre seu rosto cansado. O choro da garota de dentro do cômodo desestabilizava qualquer que fosse o ouvinte, a dor excruciante que transparecia da voz de Holly era contagiosa.

Tínhamos passado por muito nos últimos dias, principalmente com toda a tensão que estava rolando entre Holly e a mãe, e também sobre a ansiedade extrema da audiência que se procedia nesse exato momento. A cada dia a nossa situação tendia a  sair de péssima à decadência total. Toda vez que algo estava prestes a estabilizar, alguma coisa acontecia e tirava, mais uma vez, o chão sob nossos pés. Sinceramente, estávamos cansados de cair, pelo menos eu estava farto.

— Pontas... Por favor... – Sirius implorou num sussurro enquanto uma de suas mãos apoiavam na branca superfície de madeira na qual era feita a porta.

— Acalme-se, Sirius – disse respirando fundo e me aproximando da porta.

Depois de fazê-lo respirar de novo, Sirius me esclarecera que estava tentando convencer Holly de largar a lâmina que segurava em uma das mãos. Ela queria cometer suicídio e como Sirius queria lhe impedir, correu para dentro do banheiro e se trancou. Ela estava em choque. Hall nunca tinha pensado em tirar a sua própria vida. Conhecia-a bem para afirmar que ela não estava em crise depressiva... Ou pelo menos costumava conhecer...

— Holly? Está aí? É o James... – a resposta foram mais lamentos desgostosos. - Ouça... Podemos conversar?

— Não quero conversar! Vocês não entendem. Nenhum de vocês entende! – ela gritava.

Olhei brevemente para Sirius que agora andava de um lado a outro do quarto com os dedos entrelaçados nos cabelos, totalmente aflito.

— Escute... Eu sei que é uma situação difícil-

— Não me venha com essa, James Potter! – ela abriu a porta. A lâmina ainda em mãos, o rosto mergulhado em lágrimas, os traços negros da diluição de seu lápis de olho marcando cada feição. – Você não tem uma mãe assassina! A psicopata da senhora Christina aparentemente não se satisfez em matar o próprio filho como também precisou matar o pai da minha melhor amiga! Lily nunca vai me perdoar!

— Como assim tirou a vida do filho? – Sirius perguntou abismado.

— Pois é, Black. Minha mãe estava grávida de um menino quando foi para a Romênia, mas ela pediu para que eu não dissesse nada a ninguém enquanto ela estivesse fora, e era para que eu a esperasse voltar para que nós pudéssemos dar essa notícia para vocês, juntas— ela enfatizou. Meneou a cabeça. – Mal pude acreditar que papai me ligou há uma semana dizendo que ela abortou. Ela assassinou o meu irmão! Vocês tem ideia da dimensão disso? Eu estava suposta a ter um irmão... – as lágrimas não paravam. Sirius ia se aproximando para abraçá-la, mas ela ergueu a lâmina na altura do pescoço, o impedindo de prosseguir.

Passaram-se alguns segundos de silêncio antes que a dor de Sirius se tornasse audível.

— Holly, por favor. Não faça isso... Lily não pode perder mais ninguém. Eu não posso perder você— Sirius implorou.

— Lily nunca me perdoará. Tenho certeza que ela ficaria muito melhor sem mim e sem minha mãe, que morrerá também, só que na cadeia.

— Lily sabe muito bem que você não tem nada a ver com esse acontecido, ela entend-

Entende? — ela riu com sarcasmo interrompendo minha fala. – Como ela vai olhar para mim depois de saber que eu carrego o sobrenome da pessoa que levou a vida da pessoa com quem ela mais se importava na vida, James? Huh? Ah é... Ela não vai, porque pra mim já chega. Chega de aguentar as psicopatias da minha mãe! Chega de causar dor para os outros...

Senti meu peito apertar. Era extremamente difícil ver aquela cena e não poder se mexer. O medo de piorar as coisas era esmagador. Respirei fundo e tentei controlar a mim mesmo. Estava tão nervoso que era possível ouvir as batidas do meu coração a quadras de distância, Sirius provavelmente estava do mesmo jeito. Mandei um olhar significativo a ele como se pedisse para que ligasse para alguém que pudesse ajudar, ele saiu do quarto, deixando-nos a sós.

— Hey... Olhe pra mim – chamei-a. – Lembra do dia que eu vim aqui estudar para a prova de francês da escola e você me ajudou? Eu realmente era um fracassado – ri negando com a cabeça. – Costumávamos ser melhores amigos, não costumávamos? – ela me olhou e piscou os olhos umas três vezes antes de abaixar o olhar para a lâmina de barbear que segurava nas mãos. – Conversávamos sobre tudo: os estudos, sobre basquete, videogame, violão... Você me fez muito bem, Holly. Sabe que você foi a minha única melhor amiga na escola? Você aguentou me ouvir falar de Lily o tempo todo, assim como eu te ouvi xingar o Sirius por ser um cachorro idiota – ela riu. – Você é uma pessoa incrível, Holly Hall e não é porque a vida te derruba que você deixa a multidão te pisotear. Você tem que aprender a se levantar e ter consciência que pode não conseguir pela primeira vez, mas que sempre vai haver alguém para te ajudar nas demais tentativas.

Holly permanecia inerte, as lágrimas silenciosas caíam em tamanha quantidade que sua blusa estava ensopada. Era demais para ela. Aguentar a perda do irmão – que morreu antes mesmo de vir ao mundo – e a morte do pai de Lily desencadeou uma série de problemas que Holly já vinha enfrentando com sua família e consigo mesma. Tirando o fato de que ela já sofria previamente pela convivência com a mãe, que é divorciada e há algum tempo agia de maneira suspeita, mal dando ouvidos para o que ela tinha a dizer todos os dias. Talvez Lily fosse o seu único porto seguro de verdade e o medo de ser rejeitada a trouxesse ideias absurdas, como a de tirar a própria vida.

— Eu não consigo, James... – ela disse fechando os olhos, os beiços moldando uma nova onda de lágrimas que viria. – Eu estou totalmente derrubada. Não há nada que possa me levantar... – ela segurou a lâmina com mais firmeza.

— Eu estou aqui – disse me aproximando dela com calma.

— Eu também estou – a voz mais doce que poderia ouvir no resto do dia invadiu o ambiente.

Lily avançou em direção à amiga, que arregalou os olhos quando percebeu sua presença.

— Eu sempre vou te ajudar a levantar, Holly. Diante qualquer circunstância... – ela sussurrou e tirou a lâmina das mãos da garota em lágrimas, tomando-a num abraço, ambas estavam ajoelhadas, ao mesmo tempo sustentavam-se.

— Me d-desculpe, Lily... Eu sinto muito por ter que vir me socorrer quando você deveria estar na audiência... – sua voz saía abafada por estar com o rosto escondido por entre as mechas de cabelo da minha ruiva incrível.

Shh... Não se preocupe... Mamãe está lá. Vai dar tudo certo. Eu não te culpo por nada, você está me entendendo? – a garota afirmou com a cabeça. – Você não tem culpa de nada...

            Fui para fora do quarto, deixando para trás as duas amigas. Lily afagando os cabelos de Holly, confortando-a. Desci as escadas e de longe avistei Sirius de costas, ele olhava através da janela fechada da sala o dia sem vida, não chovia, não fazia sol, era só mais um dia... Morto.

            – Não queria tê-la trazido – ele disse assim que me pus ao seu lado. – Mas tive que fazê-lo. Caso contrário... – optou por não concluir. Sabia muito bem o que ele queria dizer.

            – Eu sei, Almofadinhas – suspirei e olhei através da janela também. Uma garota e um garoto de mais ou menos uns seis anos de idade brincavam do outro lado da rua.

            – Sinto falta desse tempo... Tempo que eu não precisava me preocupar com absolutamente nada. Só brincava e era feliz o tempo todo... – o encarei erguendo uma das sobrancelhas. – Tá... Nem sempre.... Quando você me vencia no basquete eu ficava muito bolado – soltei uma breve risada nasalada.

            – Sempre fui melhor – comentei e ele revirou os olhos.

            – Acha que ela teria o feito? – perguntou Sirius depois de alguns instantes. – Digo... Acha mesmo que... Ela... – ele me olhou, mas as palavras fugiram mais uma vez.

            – Não sei... – umedeci os lábios meneando a cabeça enquanto suspirava. – Eu sinceramente não sei, Sirius. Só sei que ela já estava enfrentando muita coisa sozinha. Ela pode não ter te contado por não ter se sentido muito à vontade, não se sinta mal por isso. Quer dizer, parece que nem Lily sabia sobre nada disso. Então era realmente muito pessoal esse lance do irmão dela.

            – Sei... – murmurou Sirius, pesaroso.

            – E Remus? Ficou na audiência? – perguntei estranhando a ausência de Aluado.

            – Ficou. Ele queria ter vindo quando apareci lá para buscar Lily, mas eu lhe pedi que ficasse com a senhora Evans. Prestar apoio, sabe?

            – Sim... – suspirei. – Tudo parecia estar caminhando tão bem, não? A audiência seria o nosso último desafio a enfrentar e depois poderíamos viver nossas vidas normalmente, mas é bem mais do que isso...

            – É como se tivesse algum cosmos maligno sobre nós. Não podemos terminar de nos livrar de uma desgraça e já vem outra. Precisamos parar isso, James. Ninguém aguenta mais. É insuportável.

            – Esse é o problema. Não sabemos de onde vem toda essa vibração e nem como pará-la.

            Suspiramos em uníssono e nos sentamos no sofá da sala de frente para uma mesa de centro de vidro. Em cima dela se apoiava um pequeno vaso com um cacto artificial. Como se não bastasse ter um cacto em plena sala de estar, ainda tinha de ser falso.

            Fui tirado de meus devaneios quando o barulho de passos descendo as escadas aumentou. Lily parou em nossa frente, os braços cruzados, feições fechadas, obviamente estava exausta.

            – Como ela está? – perguntou Sirius assim que viu a minha ruiva.

            – Melhor. Eu acho. Consegui convencê-la de tomar um banho e ir se deitar. Agora ela está lá em cima dormindo...

            – Vou passar o dia com ela... – precipitou-se em dizer meu amigo. – Não precisa se preocupar – ele se levantou, passou por Lily e subiu as escadas.

            – Ainda quer voltar para a audiência? Se não quiser eu posso ficar aqui com você... – expliquei deixando claro que eu estaria do lado dela de qualquer maneira.

            – Quero ver o que vai resultar essa história toda da mãe da Holly. Preciso me informar melhor para depois poder informar tudo a ela, além disso, tem as meninas que ficaram lá a meu pedido, para que eu não perdesse nenhum detalhe – ela constatou suspirando profundamente e tornando a ajeitar a bolsa (que deixara em cima do sofá mais cedo) em seu ombro. Ela voltou-se para mim e esperou que eu fosse até ela.

            – Certo. Vamos, então...

***

Levaram mais cinco minutos para retornarmos ao tribunal. Lily e eu não trocamos nenhuma palavra no caminho, até porque não precisava disso. Ambos estávamos imersos em nossos próprios devaneios. Talvez o fato de que Holly tenha pensado em tirar a sua própria vida tenha sido o suficiente para tirar nossa sanidade por um dia só.

E no silêncio adentramos no tribunal pela última vez. Aparentemente todos já tinham sido interrogados mais uma vez. Restava a decisão final.

Assim que Lily parou ao lado da mãe, esta a bombardeou de perguntas. Todos no tribunal cochichavam. Cornélio Fudge não mais ocupava seu lugar naquele momento. Segundo Jessica Evans, ele havia se reunido aos demais júris para entrar em um consenso sobre o caso em discussão.

Sentei-me no banco onde ficavam Tonks e Lupin.

— Onde está Sirius? – Remus perguntou assim que sentei.

— Ficou com Holly – respondi prontamente soltando um longo suspiro.

— Quer me situar logo aqui? Fiquei o julgamento inteiro inquieto querendo sair sem poder. Juro que se não fosse por Tonks me controlando eu teria ido atrás de você – reclamou.

— É complicado, Aluado – murmurei passando as mãos pelo rosto, cansado. – Te explico assim que formos para casa. Aqui não, ok?

Meu amigo bufou em impaciência, concordando por fim, depois de ter sua nuca acariciada pela namorada. Nunca tinha visto alguém fazer tão bem a Remus quanto Ninfadora.

Entrementes, Jessica Evans conversava com a filha e, pelas expressões de Lily, não parecia ser nada bom. Provavelmente a grande questão era situá-la sobre tudo o que havia acontecido enquanto ela estava fora. Obviamente Lily não estaria contando sobre Holly, visto que ainda estávamos preocupados demais com o resultado do julgamento. Papai e mamãe me olhavam a todo o momento.

Snape e os demais réus tinham seus olhos mergulhados em desespero, exceto Christina Hall e Tom Riddle.

Nunca tinha visto Ranhoso com medo de nada. Ele se dizia valentão desde a época da escola e nunca havia mostrado nenhum sinal de fraqueza, até agora. Querendo ou não, todos possuem um medo e cedo ou tarde esse medo colocará tudo a perder.

O meu medo já havia sido testado, assim como o de Lily – o primeiro na noite do casamento dos Longbottom, o segundo no dia do roubo do banco –, a diferença era que, infelizmente, o medo de Lily se concretizara, o meu não.

O tribunal foi imerso em tensão quando Fudge retornou ao seu lugar e ajeitou a resma de papéis em suas mãos enrugadas. Ele arrumou o oclinhos sobre o rosto e ergueu o olhar impassível, ofegando uma vez antes de prosseguir com suas palavras. Tenho certeza que pude escutar Lily ofegar ao mesmo tempo do outro lado da arquibancada.

— Senhoras e senhores, depois do encaminhamento dos dados obtidos na audiência para os júris, finalmente foi estabelecido um consenso – o velho fez uma pausa para recuperar o fôlego e retomou à sua fala. – A senhora Christina Grace Hall é julgada culpada diante das acusações, visto que as provas...

O tribunal foi à loucura. Não era muito comum um réu chegar de última hora numa audiência e no final dela ser o real culpado, deixando os demais que eram para ser incluídos nisso serem absolvidos.

— Ordem! – ele pedia pela terceira vez consecutiva. – Os demais acusados serão encaminhados para uma segunda audiência onde serão julgados e, se culpados, penalizados pela tentativa de roubo.

Mais barulho. Depois de Fudge ameaçar chamar os seguranças, o público finalmente cessou com a barulheira.

— Como tratou-se de um assassinato planejado, a senhora Hall está sendo imediatamente transportada para a penitenciária mais próxima para que dentro de 48 horas seja transferida para a prisão de segurança máxima de Azkaban.

Lily estava tão completamente chocada, que mal tive cabeça para ouvir mais que o juiz dizia. Só as suas expressões já ocupavam toda a minha cabeça. Aproximei-me dela, passando a mão por sua cintura. Ranhoso fez menção de chamá-la, mas meu olhar de "ela-não-está-com-cabeça-para-aguentar-você", obviamente o afastou, entretanto, Lily pediu um minuto para que ela pudesse falar com ele à sós. Fiquei a menos de cinco metros dela sentindo minhas têmporas pulsarem. Não conseguia entender como Lily ainda conseguia ficar perto daquele nojento.

Lupin, Tonks, Alice, Frank, Jessica, Petúnia, Vernon e meus pais estavam nos esperando do lado de fora quando voltei com Lily. Apesar de todos reunidos, ninguém tinha dito uma só palavra. Talvez o choque por todos os acontecimentos tenha transtornado a todos.

Os cinco casais ali presentes seguravam as mãos, Jessica Evans fora responsável por meio que segurar um baita candelabro. Lily, percebendo a situação assim como eu, soltou a minha mão e foi para perto da mãe. Era hora de irmos para casa e ouvirmos a verdade completa sobre o acontecido. Aliás, todos teriam verdades para serem ouvidas, uns sobre a audiência, outros pelo ocorrido na casa dos Hall.

Como já passava das duas da tarde e todos nós – eu principalmente – estávamos mortos de fome, papai e mamãe sugeriram de irmos para a minha casa, ou melhor, para a casa deles. Meus avós estariam em casa e talvez tivesse almoço pronto.

Já que estávamos em onze pessoas, Lily, a mãe e eu fomos na frente no meu carro e logo atrás vinha Alice no seu Corolla carregando o marido, Remus e Ninfadora. Meus pais foram no carro de papai e Petúnia e Vernon, apesar de não muito concordarem com o chamado para almoçar, acabaram por se juntarem a nós (talvez aquele cara estivesse realmente com fome).

Em menos de vinte minutos havíamos chegado.

— Jovem Potter! – exclamou Grampo da portaria. A última vez que tínhamos nos visto fora no dia em que tinha trazido Lily para se distrair um pouco.

— Grampo, e aí? – sorri da janela do carro de maneira simpática, ele me respondeu com um aceno de cabeça.

Assim que ele abriu o portão adentrei e estacionei o carro em frente à minha humilde casa, os demais carros atrás. Mandei uma mensagem a Sirius avisando sobre o almoço e sobre onde nós estávamos.

Esperei que todos saíssem dos carros e os guiei até a cozinha. Como Lily já estivera ali uma vez, ajudou-me no procedimento de recuperar o fôlego dos amigos. Sinceramente, a mansão Potter era sensacional.

— James! – vovó disse quando nos viu do jardim (para você que não lembra, a porta dos fundos da cozinha dá no jardim). Lá estava ela, ao lado de papai e uma senhorinha que identifiquei como...

— Sra. Figg? – Lily perguntou de longe e eu franzi o cenho.

— Oi, vovó... – a abracei sentindo seu cheirinho de camomila.

— Ah... Arabella é minha nova colega de costura e eu a chamei aqui para começarmos o nosso projeto de costurar uma cortina para a sala – vovó Meryl disse ansiosa.

— Estamos muito dedicadas a isso – completou a sra. Figg e metade dos presentes sorriram. Era lindo ver duas amigas, principalmente anciãs, com essas coisas de costura e tudo mais, coisa mais rara de se ver.

— Mãe, ainda temos sobras? – mamãe perguntou à vovó aproximando-se da geladeira.

Enquanto isso, Lily tinha a cabeça nas nuvens. Como mamãe ainda estava resolvendo o lance do almoço junto de Jessica Evans, por que não descobrir o que Snape queria com a minha namorada?

— Lily? – perguntei fazendo-a sair de seus devaneios.

— Hm?

— ... Eu vou só esquentar essa travessa. Podem ir entrando – mamãe dizia enquanto os anfitriões adentravam a cozinha mais uma vez. Éramos uma família rica sem manias podres de rica. Comíamos sobras, sim. Nunca fomos de ter frescura com nada que se relacionasse a bens materiais.

Levei Lily à beira do lago, longe de todos. Ela certamente sabia do que eu estava prestes a tratar com ela. Era óbvio.

— E então? – interpelei-a deixando que minhas mãos se encaixassem nos meus bolsos dianteiros da calça. Lily suspirou desviando o olhar para os peixinhos dourados que nadavam no pequeno lago.

Mesmo que fosse colocada toda a concentração do mundo na explicação da ruiva, não seria possível entendê-la visto que sua irmã estava irritantemente beijando seu namorado, causando ruídos perturbadores. Lily se virou e olhou o casal com um pouco de nojo.

— Parece que agora não é uma boa hora... – ela comentou e eu revirei os olhos impaciente. Se houvesse mais alguma outra interferência, levaria Evans comigo para o outro lado da cidade. Ranhoso conversara com a minha ruiva e eu tinha que saber o que ele queria.

Fiz menção de atravessar a cozinha puxando Lily, mas o almoço já estava servido. Mamãe nos impediu:

— Vamos almoçar primeiro, depois os pombinhos podem namorar à vontade – os demais sorriram com malícia. Eu, por outro lado, não achei graça. Suspirei e olhei para meu Lírio com um olhar sugestivo de quem deixa claro que não vai escapar depois do almoço.

Sentamos à mesa e como não havia cadeiras suficientes, Remus e eu sugerimos de irmos comer no balcão para que Lily pudesse sentar do lado das amigas. Servi-me de um copo de suco e me retirei para o canto mais afastado da cozinha.

— Qual é, James? – perguntou Aluado enquanto mordia uma maçã para entreter-se. Aparentemente a audiência não havia tirado a minha fome somente.

Suspirei.

— Você vai contar agora o que está havendo ou eu vou procurar Sirius e descobrir por mim mesmo! – estressou-se de modo que não escandalizasse tanto e que ninguém na mesa tivesse notado.

— Está bem, está bem... – dei-me por vencido e bufei.

Era horrível ter que voltar no mesmo assunto. Ficava a imaginar como seria ter que reviver essa cena todas as vezes que alguém perguntasse o motivo de Lily ter se ausentado na audiência do próprio pai.

— Mas você não pode contar a Tonks. Não até que Lily decida contar a ela – alertei-o e ele revirou os olhos como se estivesse ciente disso desde que nasceu.

Contei a ele tudo o que consegui me lembrar. A feição estampada no rosto de meu amigo era de inquestionável incompreensão diante dos fatos. Afinal, qualquer um que convivesse com Holly saberia que ela nunca havia expressado nenhum indício de querer cometer suicídio.

— E como ela está agora?

O sorriso de Ninfadora era largo sobre a vibração que pairava sobre a mesa. Era triste ter que lidar com o fato de que mais tarde ela descobriria sobre a amiga.

— Está se recuperando do choque. Sirius está com ela agora. Disse a ele que se precisasse de qualquer coisa era só me mandar uma mensagem.

— Cara... – ele respirou fundo erguendo as sobrancelhas. – Como Dora vai reagir a isso?

— Sinceramente? Não faço ideia – passei as mãos pelo rosto, cansado e inquieto.

A pedra gelada que revestia a superfície do balcão me causava calafrios, juntamente com a paranoia que me preenchia em relação a Snape.

Mal deixei que Lily levantasse da mesa para me precipitar em segurá-la pelo braço e guiá-la para fora do cômodo.

— Não vai comer nada, querido? – mamãe perguntou e todos do ambiente se entreolharam fingindo que não estavam ouvindo a conversa.

— Não estou com fome. Mais tarde eu como alguma coisa... – concluí e direcionamo-nos ao hall da mansão.

Lily tinha os braços cruzados e varria o ambiente inteiro com o olhar. Ela estava me evitando.

— Lily... – ela suspirou. – Olhe pra mim.

Finalmente seus olhos pousaram sobre os meus.

— Por qual razão você não quer me contar sobre a sua conversa com Ranhoso?

Ela deixou que seus braços caíssem nas laterais do seu corpo meneando a cabeça.

— Estou com medo... – ela mordeu os lábios. Franzi o cenho.

— O que...? Mas você sabe que não precisa ter medo de me contar as coisas. Somos amigos além de um casal, não somos? – olhei para ela com um quê de desespero. Ela não podia estar perdendo a confiança em mim, não agora.

Ela virou-se de costas para mim.

— É só que... Achei estranho o jeito que ele agiu.

— Como assim? O que aconteceu, Lily? – perguntei com um tom mais urgente.

Ela pensou por um instante.

— Ele disse que esperava que um dia eu o perdoasse pelo que ele fez... E que... Assumiria a culpa sobre o roubo do banco, sozinho.

— Depois de tudo o que ele te fez, Lily. Nada mais justo que isso – disse sério.

— Por isso que eu não queria te contar. Você sempre acaba sendo assim...

Briga. Ótimo.

— Não deixe que ele te faça de tola, Lily. Ele sabe que você está frágil no momento. Vai tentar qualquer coisa para ter o seu perdão de volta, inclusive assumir justamente a pena de ser preso pelos seus atos.

— Mas sozinho? E aqueles que fizeram mal a Sirius? E Peter? Existem pessoas que fizeram muito, James. E todos eles merecem ser punidos – ela reclamou e eu suspirei negando com a cabeça.

— Mas e aí? Agora você acha que ele é uma boa pessoa só porque quer fazer sacrifícios que ele já deveria ter feito por pura obrigação? – retruquei enciumado.

— Deixe de ser tão insensível, James Potter! – bradou.

— Não! Sabe por quê? Porque ele é um estúpido que não parou de fazer merda desde que nasceu. Ele só trouxe desgraça para a sua vida, Lily! Será que não pode parar de defendê-lo um segundo na vida?

Paciência. Uma virtude que não conseguia possuir, pelo menos não quando se envolvia o nome Severo Snape na conversa.

— Quer saber? Avise à mamãe que fui para a casa de Holly. Já deu por hoje... – ela bufou e saiu da mansão batendo a porta.

Revirei os olhos.

Até quando eu teria que aguentar Lily amenizando a barra para o lado de Ranhoso? Todos nós sabíamos que tinha sido um dia cheio, para ela principalmente; mas isso não era motivo para que ela gritasse comigo e defendendo o seboso ainda por cima. Qual é! Ele matou Harry Lancaster! Por que era tão difícil de entender?

Suspirei e segui meu caminho de volta ao cômodo no qual todos estavam, exceto Petúnia e seu namorado que se fundiam a um canto do jardim.  

— ... Pois é. Ser condenado à prisão perpétua não é pra qualquer um – papai dizia.

— O quê? – perguntei abismado da porta. Senti todos os olhares da mesa pousarem sobre mim. Obviamente era o único que estava totalmente alheio ao assunto (e o casal no jardim, é claro).

Fleamont Potter passou um olhar de preocupação à esposa. Provavelmente pensavam que tinha enlouquecido. Qualquer um que estivesse no tribunal teria ouvido o juiz dizer sobre a mãe de Holly precisar passar o resto de sua vida infeliz em Azkaban.

— Prisão perpétua? – pronunciei as palavras que pareciam ser totalmente absurdas. Aparentemente o absurdo estava se concretizando.

— Sim... Infelizmente é o que se acontece quando se assassina um policial que serve à guarda oficial da Rainha – ele disse conformando-se.

— Por Deus... Quando Holly souber... – meneei a cabeça sentindo minhas têmporas latejarem ao ritmo do bombear de sangue por dentre minhas veias.

Aproximei-me da mesa e ocupei o lugar vazio ao lado de Ninfadora. Provavelmente se perguntavam o que acontecera com Lily, já que há instantes antes ela estava comigo e agora já não estava mais.

— Lily pediu para dizer que foi à casa de Holly – disse indiferente. Fingir que a nossa conversa nunca acontecera era a melhor opção. Não queria lembrar sobre os ditos de Snape, tampouco das palavras defensoras que escapavam pelos lábios do rosto que continha os olhos mais cobiçados da minha vida.

Remus lançou a mim um olhar perdido. Ninguém ali na mesa estava a par do acontecido com Holly, não obstante, era melhor que eles pensassem que a garota estava apenas em choque por ter descoberto de sua mãe no assassinato que soubessem que ela havia ameaçado tirar sua própria vida. Esse episódio seria contado num futuro mais distante, decerto.

O clima ainda estava tenso demais na mesa. Agradeci aos céus por vovó e sua mais nova amiga chegarem na hora de convidar a todos para um tour pela casa, a fim de mostrar todas as obras de arte penduradas nas paredes e os diversos tipos de tecidos que as cobriam. Aproveitei a oportunidade para chamar Aluado para um café, precisava de companhia. Frank, Alice e Ninfadora avisaram que iriam fazer uma visita, o que fez com que Remus recusasse o convite de sair com o melhor amigo aqui. Visto que teria de encarar Lily assim que chegasse lá, deixei que eles partissem e fui caminhando até a casa de chá da madame Puddifoot, enquanto os adultos permaneceram na mansão sob os programas de vovó.

O dia estava nublado, nada que pudesse deixar a vibração pior do que já estava. Pessoas andavam pelas calçadas apressadas por conta dos pingos de chuva que começavam a cair. Ao longe, era possível ver o London Eye, fazendo-me recordar do dia em que levei...

A droga da minha pessoa era tão irritantemente louca por Lily Evans que o simples fato de andar na rua era o suficiente para que eu associasse alguma coisa a ela. Perguntava-me se papai pensava em mamãe do jeito que eu pensava em Lily, porque em caso contrário, ele bem que poderia me ensinar algumas táticas de como não ser tão obcecado pela sua namorada.

Chegando na casa de chá, sentei-me a uma mesa próxima ao vidro onde se lia “Cupcakes deliciosos por apenas £2,00” de trás para frente. Peguei o cardápio que descansava em cima da toalha de mesa e pus-me a analisar as opções.

— Posso ajudá-lo? – uma voz familiar soou e eu franzi o cenho desviando o olhar do menu ao rosto da mulher que eu menos esperava ver ali.

— Izzy? – estranhei. A loira que antes se ocupava em anotar alguma coisa na caderneta, levantar o olhar para mim.

— James... – ela sibilou como se tivesse vindo atender um mero desconhecido, mas errou de mesa. – Eu... Ah... Posso pedir para que outra pessoa venha te atender se preferir...

— Não... Não é isso! – precipitei-me erguendo as sobrancelhas. – Eu só não esperava encontrá-la trabalhando aqui. O que houve com a administração da agência? – perguntei pasmo. Era impossível que a mulher que era a minha chefe na agência de modelo estivesse trabalhando numa simples cafeteria. Seria o mundo dando suas malditas voltas?

— É melhor não falarmos sobre isso. O que vai pedir? – ela cortou o assunto. Era nítido que Izzy estava infeliz, e para evitar trazer menos desgraça, decidi que não tocaria no assunto.

— Certo... Ah... Vou querer um capp – Um café expresso, por favor – mais uma vez algo me lembra Lily Evans... Por mil diabos!

— Ótimo. Trago o acompanhamento em um minuto – ela anotou alguma coisa em sua caderneta e retirou-se.

A chuva havia engrossado. Agora, algumas pessoas corriam para proteger-se, enquanto outras sacavam seus guarda-chuvas. Era definitivamente um dia depressivo.

Ao longe, as luzinhas dos postes acendiam para iluminar a visão cinzenta que havia se tornado as ruas de Londres. O Big Ben batia às quatro da tarde. Era estranho como à uma hora dessas tudo estivesse tão sem vida, se é que tinha hora certa para as coisas serem sem vida quando você se sente perdido.

O café e o cupcake com gotas de chocolate, este sendo o acompanhamento, chegaram à minha mesa dentro de cinco minutos. Agradeci a Izzy com um aceno de cabeça e ela sorriu sem dar muita importância, deixando uma comanda ao lado do pires e afastando-se para atender as demais mesas.

Beberiquei o café e fechei os olhos por um instante, imaginando como seria a minha vida daqui para frente. Já estava desempregado há alguns meses, sendo totalmente sustentado por meus pais. Não podia deixar que as coisas tomassem novas proporções, já que dizem por aí que pessoas de classe alta só assim permanecem se continuarem trabalhando duro. Assim gostaria de ser visto: alguém que tem dinheiro porque merece tê-lo.

E então aconteceu. De uma hora para outra tudo à minha volta passou a servir, mesmo que sem intenção, como inspiração. A chuva, as pessoas, o calor que o vapor trazia às lentes embaçadas dos meus óculos, o relógio, Lily... Tudo.

Era hora de compor.

Virei o restante do café que se depositava no final da xícara de porcelana e pedi para que o cupcake fosse embalado para a viagem, pagando logo em seguida.

Ao atravessar a porta, não me importei em estar tomando chuva. Fui andando como se nada na vida importasse. Eu estava lavando a mim mesmo. E quando digo isso não me refiro ao tipo de lavagem física, mas a da alma. Era como se eu pudesse, a partir dali, tentar esquecer de todas as mágoas e todo o stress que tinham acabado comigo nas últimas semanas. Tive certeza de sentir os músculos dos ombros relaxarem.

Apesar de molhado, o pacote ainda protegera o cupcake da umidade. Chegara em casa com as roupas totalmente encharcadas. Era hora de um banho quente.

Descansei o saco com o bolinho em cima do balcão – talvez eu parasse para comê-lo mais tarde – e fui despindo-me gradualmente enquanto alcançava o cômodo do banho. Gemi ao sentir a água quente percorrer o meu corpo. Havia tempos que não conseguia ficar em paz por um minuto sequer. Eram sempre preocupações atrás de preocupações e mesmo que nenhuma delas fosse em relação a mim, sempre sobrava aquele stress que era transmitido através dos desabafos entre amigos.

Foram incontáveis os minutos que havia passado debaixo do chuveiro. Ninguém acreditaria se eu dissesse que consegui pensar em duas estrofes inteiras da minha música só ali, embaixo da água quente. Uma pequena onda de remorso me atingiu. Talvez eu tivesse acabado com mais de 50% de todo o abastecimento de água do Reino Unido com aquele banho – percebia-se pelas rugas que se formaram nas extremidades de meus dedos –, mas considerando a frase do mestre Aslan de As Crônicas de Narnia de que nada na vida acontece duas vezes da mesma maneira, caí em conformidade diante dos fatos.

Saí do box depois de seco e pendurei a toalha no seu devido lugar. Existem leis da vida que devem ser seguidas (ou pelo menos deveriam), uma delas é o fato de que quando se está sozinho em casa é aceitável que se ande despido, afinal, está somente você e a sua bela casa, certo?

Bem, pra você que é um pouco mais tímido isso pode se aplicar na sua trajetória do banheiro até o seu quartinho, onde você é suposto a pegar suas roupas. Se você não faz isso, minhas sinceras desculpas, mas você é um alienígena.

No caso eu não era só um despido, mas um despido ferrado. Quer dizer, isso depende do ponto de vista.

Se ainda não entendeu a situação... É bem simples: Eu, James Maravilhoso Potter, deixava o meu quarto como o Deus grego que sou e, ao entrar no meu aposento, deparo-me com nada mais nada menos do que Lily Evans, a garota que há menos de duas horas estava gritando comigo dizendo que eu era um insensível.

Sua reação ao me flagrar naquela situação fora de longe extremamente cômica. As roupas que antes tinham sido espalhadas pela casa quando entrei, causavam um ruído abafado ao escaparem das mãos da ruiva e colidirem com o chão de madeira do quarto, tamanho era o choque da garota, que se virou instantaneamente com o rosto camuflado em seus cabelos rubros.

— James... Por Deus! Uma toalha não faria mal a ninguém... – ela disse levando as mãos aos olhos.

Apesar de um pouco constrangido no início, passei a gargalhar da reação de minha namorada.

— Não tem graça! Vista alguma coisa, !

Aproximei-me dela com um sorriso malicioso explícito no rosto.

— Qual é, Lírio? Nada que você não já tenha visto, huh? – perguntei sussurrando em seu ouvido, esbarrando propositalmente meus países baixos nela.

— Meu Deus... – ela suspirou meneando a cabeça em desaprovação depois de ter um pequeno espasmo.

— O que foi? – deixei que a risada sádica escapasse. – Você que apareceu no meu quarto... E afinal, quem não anda nu em casa quando está sozinho? – provoquei-a, mas continuou calada. – Admita.

Ela ficou tão nervosa que pude perceber a vermelhidão do seu rosto espalhar-se por seus ombros – pintados pelas sardas mais delicadas que já vira na vida – à medida que afastava algumas grossas mechas de cabelo para o lado, a fim de plantar nela a obrigação de desculpar-se por mais cedo.

— J-James... O que está fazendo? – ela gaguejou. A minha risada em resposta fora o suficiente para fazer o corpo inteiro dela estremecer, era tão visível que eu pude ter total convicção de que: sim, eu havia total controle sobre minha ruiva, assim como ela havia total controle sobre mim.

Digamos que o controle dela no momento não lhe servia de muita coisa.

— Nada... Só acho que um cão arrependido deve desculpar-se pelos seus ditos, não?

— Desculpar-me? Não seja ridículo... – ela revirou os olhos.

— Se não veio aqui para se desculpar, então acho que já podemos pular as preliminares, não acha meu amor? – Ah como era bom ser o James do colegial de novo... O James que Lily sempre odiou e que agora, perante ele, mostrava-se totalmente desestabilizada.

— O quê?! – ela exclamou encarando-me de olhos arregalados e virou-se logo em seguida, lembrando-se da situação constrangedora em que estava metida. – James?

— Sim? – perguntei com um sorriso largo enquanto cruzava os braços.

— Você não tem vergonha na cara?

— Ah... Acho que me falta um pouco... Mas não faz mal. Ranhoso tem com certeza muita...

— Certo, Certo! Agrr! — ela bufou. – Me desculpe por mais cedo! Agora vista a porcaria da roupa e me encontre na sala.

E então a porta bateu, assim como a onda de realização. Não sabia com o que me contentaria mais: Lily aceitando pular as preliminares ou o fato dela simplesmente não resistir à minha presença e finalmente largar a mão de ser durona e pedir desculpas.

Às vezes o meu amiguinho tinha utilidades mais relevantes, se é que me entende.

Vesti uma calça de moletom e depois de estender as roupas molhadas no varal da lavanderia, fui até a sala e encontrei Lily sentada no sofá mexendo no celular. Joguei-me no sofá, apoiando a cabeça no seu colo e fechei meus olhos.

— Sobre o que quer conversar? – perguntei depois de perceber que ela não pretendia começar o diálogo.

— Um minuto... – ela sibilou enquanto seus dedos digitavam freneticamente no celular.

— Eu estava prestes a compor uma música, mas ainda dá tempo de se juntar a mim – comentei e ela largou o celular na mesma hora. Ponto para mim! Era só tocar no assunto de música que Lily já mudava de compostura.

— Compor? – ela me olhou interessada. – Nunca pensei em compor nada...

— Na verdade eu também não, mas para tudo tem uma primeira vez, não é? – comentei e sorri abrindo os olhos, flagrando ela a me observar com curiosidade.

— Eu... Gostaria muito – presenciei seus olhos brilharem.

Passamos um momento a trocar olhares e então ela suspirou.

— O que houve? – perguntei, por fim.

— Não é nada. É só que Holly cochilou e acordou com vontade de desculpar-se com todo mundo, e já que, segundo Remus, você não estava mais na casa dos seus pais, tentei procurá-lo por aqui. Eu não teria vindo se o senhor tivesse atendido as cinco chamadas que eu te fiz... – franzi o cenho. A bateria, claro...

— Acho que o celular descarregou depois de todo aquele rolo hoje de manhã... Acho que Holly pode esperar até amanhã. Eu tinha uma novidade para te contar depois da audiência, mas aí aconteceu tanta coisa... – passei a mão pelo rosto manchando parte dos óculos, senti os dedos de Lily deslizarem entre meus cabelos.

— Vamos deixar isso pra lá por um momento. – ela pediu e eu afirmei com a cabeça. – Me conte a novidade... – ela prosseguiu assim que notou meus devaneios se tornarem intensos.

Sentei e ajeitei a armação dos óculos sobre o rosto. Sorri de canto ainda evitando olhá-la.

— James Potter... Desembucha! – começou a rir da minha cara.

— Bem... – passei a mão direita pelos cabelos. – Fiquei sabendo que no começo de junho vai estar acontecendo um festival de luzes em Sydney. Talvez lá seja um bom lugar para encontrar inspiração. No Opera House principalmente.

— O que você quer dizer com isso? – perguntou Evans, incrédula. – Nós não estamos prestes a...

— Oh se estamos... – disse sorrindo. – Estaremos em Sydney em menos de um mês. Prepare o seu violoncelo, porque acho que a dupla Jily vai começar muito em breve.

— Jily? – perguntou.

— James e Lily.

Mal houve tempo de terminar a minha fala que a ruiva pulou em cima de mim, fazendo com que ambos caíssemos no chão da sala às gargalhadas. Seria um bom fim de tarde.


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Notas finais do capítulo

Chega ao fim o penúltimo capítulo de GE. Prepara que o último vai ser ENORME (pelo menos eu planejo ser). A viagem vai ser uma maravilha.
Calma, não morram. O próximo capítulo vai ser o último CAPÍTULO. Vai ter o epílogo amorzinho pra vocês ainda ;)

Bem... Espero que vocês tenham gostado!
Jily...
FOFOS SIM OU NÃO? Sim, né? ADORO.
Pode chorar, surtar, berrar, me assassinar, conversar, desabafar ou qualquer coisa nos comentários tá bom? Titia Torinha tá aqui pra ajudá-los.
MUITO OBRIGADA PELA LEITURA! ♥
Até o próximo capítulo, meus anjinhos! >



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