Green Eyes - Jily escrita por Vitória Serafim


Capítulo 15
O réu inesperado


Notas iniciais do capítulo

MEU DEUS! OLHA SÓ EU AQUI!

Pois é, galera. Eu não morri, não ainda.

PRIMEIRAMENTE JÁ VENHO PEDINDO MIL E UMA DESCULPAS, SIM! (Sério ;-;)

Venho tentando escrever há semanas, mas os estudos estão ficando cada vez mais intensos e a minha rotina corrida demais! Quase que não termino esse capítulo! MAS, UFA! SAIU.

Então polvo (falo assim agora com esse espírito ambíguo meu), em segundo lugar já vou avisando que quero teorias de cada um de vocês, vamos criar uma corrente? Não? Ah, tô nem aí, você vai brincar mesmo assim.
Eu quero que você diga nos comentários quem você acha que matou o pai da Lily. ANTES DE LER O CAPÍTULO!
Vamos ver quem acerta auhuahuahauhauhauh. VALENDO!

Hoje teremos duas revelações bombásticas. Espero que vocês gostem!
Bem, já sei que muita gente já vai estar querendo me matar, então vamos logo ao capítulo.
Boa leitura e... Nos vemos lá em baixo!



[Capítulo betadíssimo por Alie diva de minha life ♥]



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Não conseguia exprimir o quão feliz eu estava pelo dia ótimo que James tinha me proporcionado. Há alguns dias a possibilidade de sorrir era inimaginável, mas, felizmente, tudo estava caminhando razoavelmente bem, na medida do possível.

            Mal tive tempo de abrir a porta de casa que Ninfadora, Holly e Alice pularam em cima de mim.

            Alice havia chegado uma semana depois do funeral de meu pai – que era, consequentemente, a mesma semana do funeral de Harry – e como não tinha sido informada sobre os acontecimentos, provavelmente foi pega de surpresa quando as meninas lhe contaram. Quer dizer, elas tinham contado, certo?

            Lily! — as três exclamaram em um uníssono abafado por causa do abraço.

            – Oi, meninas... – comentei sentindo-me um pouco envergonhada. Tinha andado evitando-as há um bom tempo, sendo que elas que elas não mereciam isso. – Sinto muito por-

            – Ah, trate de calar a boca, Lily! — Holly disse impaciente e afastou-se de mim. – Quero que você nos conte tudo e agora! – ela disse de maneira autoritária, como se não desse a mínima para as minhas tentativas frustradas de me desculpar com elas.

            Assim que Holly se calou, Alice veio ao meu encontro e me abraçou sem dizer uma palavra. Era claro que ela estava chateada por eu não ter contado a ela sobre o funeral de meu pai, mas aquele abraço carregava tamanha tranquilidade que parecia que todas as mágoas tinham se esvairado e só o pesar da perda restara.

            – Vou ir para o quarto para deixarem você mais à vontade... – mamãe disse e sumiu no corredor.

            O baque da porta do quarto se fechando silenciou o ambiente. Agora estávamos todos em pé, uma olhando para a cara da outra. Respirei fundo e umedeci os lábios, Shanks passou entre minhas pernas, assustando as meninas.

            – O que este gato está fazendo aqui? – Dora perguntou em tom de estranhamento.

            – Ah... James me deu – sorri ao lembrar-me de Meryl e Sully. – Ele apareceu na casa dos avós de James e não estavam dando conta de cuidar, então vou ficar com ele, não é, Shanks? – sorri pegando o bichano nos braços.

            – Eu o achei uma graça – Alice sorriu, e as outras concordaram com um “awn”.

            – Tá. Agora chega de enrolação e fala logo de você e do James! – Holly insistiu.

            – Contei todos os mínimos detalhes. A cada frase que eu dizia era um gritinho eufórico, elas simplesmente me amavam por ter finalmente percebido que James era o cara certo.

            – Ai, gente o James é tão maravilhoso... Queria eu que o Sirius fosse amorzinho assim... – fuzilei-a com o olhar. – O que foi? É brincadeira. O Sirius é o mozão da minha life. E por favor, né? Eu não jogo olho gordo no relacionamento alheio, principalmente no da minha melhor amiga – caímos no chão gargalhando. Meu Deus, como eu amo as minhas amigas...

            — Ali! Me conta da viagem! – disse animada ao me lembrar de que ainda não tinha ficado sabendo de como tinha sido a lua de mel maravilhosa dela com Frank.

            – Ah, Lils... Foi maravilhosa, obviamente. Fomos ao sambódromo, Portela acabou ganhando o desfile, simplesmente incrível! – não entendia nada sobre esse negócio de samba, mas se ela tinha realmente se dive rtido, deveria ser ótimo. –... tirando o Cristo Redentor que é pra lá de esplêndido, né? Frank e eu passamos pelo calçadão e fomos naquela praia maravilhosa... Ai... Sem palavras. James não podia nos oferecer um presente melhor. Tínhamos planejado uma lua de mel, mas quem imaginaria que eu iria ganhar um presente desses? – a encaramos com um olhar sugestivo. – Certo. O presente é nosso — corrigiu ela incluindo Frank.

            Todas nós rimos mais uma vez.

            – Olha só... Toda diva viajando pra América... – comentei erguendo as sobrancelhas com um sorrisinho malicioso brincando nos lábios. Shanks tinha pulado do meu colo e agora explorava os escuros mistérios que era o mundo debaixo do sofá.

            – A Holly que está bem diva... Trabalhando pro Ministério. Totalmente bem sucedida na empresa dos Potter – Alice acrescentou e eu franzi o cenho.

            – Empresa dos Potter? – perguntei sentindo-me totalmente alheia ao assunto.

            – É... Ele não te contou? James? – Holly disse murchando o sorriso em estranhamento.

            – Não... Ele não me disse nada – contemplei o luar, pensativa.

            – Pensei que soubesse que o Ministério é uma empresa comprada pelo pai do James – Tonks pronunciou-se e eu suspirei.

            “Talvez ele só estivesse ocupado demais em tentar me animar que nem tivera tempo de me dizer”, pensei.

            – De qualquer forma... Estou feliz que tenha conseguido um emprego. Sua mãe deve ter ficado muito feliz... – o sorriso de Hall murchou pela segunda vez, mas agora era de frustração.

            – Na verdade ela tem andado distante depois que chegou de viagem... Só tem andado fora de casa, não deu muita atenção pra mim até agora... Então eu não contei – arregalamos os olhos, todas ao mesmo tempo.

            – Quê?!— soamos em coro.

            – Como assim você não contou para a sua mãe? – Tonks perguntou abismada expressando-se por todas nós.

            – Ah, não sei... Nós andamos um pouco distantes. Talvez eu deva falar com ela...

            – Deve mesmo – disse. – Quem já se viu? Consegue um trabalho desses e não fala pra mãe... – comentei e Holly suspirou em concordância.

            Era difícil lidar. Holly tinha pais divorciados e na viagem para a Romênia eles tinham ido juntos, visto que trabalhavam na mesma equipe. Isso com certeza tinha abalado a mãe de Holly de alguma maneira, o que a manteve afastada da filha desde o dia em que chegou. Aposto que tudo seria esclarecido com a boa e velha conversa.

            – Bem... Porque não vamos ao shopping amanhã comprar umas coisinhas e aliviar esse climão? Faz tempo que não saímos juntas... – Tonks sugeriu e eu assenti.

            – Por hoje podemos ficar por aqui e maratonar umas séries básicas para colocar as conversas em dia... – Holly acrescentou e eu sorri animada.

            – Eu acho ótimo. Vamos dormir aqui na sala mesmo, já que a minha mãe provavelmente deve estar roncando lá na minha cama – disse entre risinhos.

            A partir daí as coisas pareciam claramente prestes a melhorar. A onda de alegria havia me atingido depois de muito tempo e eu não podia me sentir mais grata.

            Peguei todos os travesseiros que consegui e algumas roupas confortáveis para as meninas. Liguei na Netflix e rolei a ala Minha Lista enquanto Alice terminava o seu banho. Vi que havia ali uma série na qual eu tinha marcado para assistir há meses, mas não tinha assistido ainda e como era um gênero que agradava a todas nós, apertei no play. Assim que o primeiro episódio começou a passar, Alice saiu do banheiro em alta velocidade, caindo em cima de mim no sofá.

            – Não acredito que vocês não estavam esperando por mim – ela falou fazendo biquinho. – Que série é essa?

            – Stranger Things. Tem só oito episódios, então achei que nós podíamos assistir tudo hoje – constatei coçando a cabeça, enquanto tentava me acomodar no sofá onde três de nós tentavam nos acomodar em um sofá só. A sortuda da Holly que tinha sorte de ter chegado primeiro à poltrona ao lado esquerda da sala.

            – Solta logo, Lils. Se não a gente não termina hoje – Dora me apressou e eu ri, dando play.

            Passamos a madrugada assistindo, e de tão intrigadas com o final, acabamos dormindo quase ao nascer do sol, o que não era muito comum na minha rotina. Acabei por acordar ao meio dia, minhas amigas estavam destruídas demais para levantar junto, então tomei um banho e fui até meu quarto. Minha mãe tinha deixado tudo em perfeito estado – tendo ela plena consciência que eu não gostava de nada bagunçado – vesti uma roupa casual das minhas mais típicas – camiseta gola polo e shorts – procurei por meu violoncelo e não o achei. Dei-me conta de que o tinha esquecido na casa de James naquele dia em que tínhamos dormido juntos. Tinha passado quinze dias sem tocar e meus dedos há essas horas clamavam pelas cordas do meu violoncelo. Cada átomo do meu corpo clamava pela música.

            Fui até a geladeira e tirei dali um galão de leite puro. Servi-me de um copo e um pedaço de torta de blueberry que mamãe provavelmente tinha feito no dia anterior. Só depois de levar o copo sujo para a pia que eu notei que minha mãe havia deixado uma mensagem para mim em cima do balcão. Era um dos meus Post-it’s.

            “Oi, filha. tive de dar uma saída para a delegacia. Não se preocupe, não é nada de grave. Só preciso assinar algumas papeladas. Volto no fim da tarde.

            PS: Tem torta no forno.

                                                                                           Mamãe.”

            Papeladas. Sabia muito bem a que ela se referia quando mencionada essa palavra. Era tudo relacionado ao testamento e coisas do tipo. Quando alguém morre, é direito da família de ficar com toda a herança que era dele, e aí está a função do testamento. Era bem complicado, no nosso principalmente, já que papai era um oficial da polícia. Mesmo que os profissionais da delegacia nos tratassem muito bem e agilizassem tudo para nós ainda continuava sendo complicado. Sempre era complicado.

            Respirei fundo e sacudi a cabeça. Eu não queria voltar a ser atingida pela angústia de semanas atrás e se eu acompanhasse minha mãe nesse processo, eu certamente voltaria para casa aos prantos e, definitivamente, não era isso que eu queria para mim.

            Amassei o recado e o joguei na lata de lixo da cozinha. Já que minhas amigas não acordariam tão cedo, decidir dar uma passada na casa de James para resgatar o meu instrumento musical. Acompanhei Shanks passar o rabo peludo nas narinas de Holly e ela espirrou assustando o bichano, que correu para o quarto. Ri baixinho e peguei o meu casaco no quarto antes de sair atravessar o hall e apertar a campainha do apartamento de meu namorado.

            Passaram-se um, dois, três, quatro, cinco minutos, mas ninguém saiu para o lado de fora do apartamento. Suspirei me dando por vencida, ele não estava em casa. Provavelmente tinha voltado para a casa dos pais junto com Sirius ou passado a noite na casa de um dos marotos. Ajeitei o cabelo e quando me virei para retornar ao meu apartamento, a porta do elevador se abriu, dando visão a uma senhora, a linha e a agulha de tricô em mãos.

            – Sra. Figg... Boa tarde – acenei sorridente.

            A anciã ergueu os olhos miúdos em minha direção e demorou uns três segundos para identificar quem se dirigia a ela.

            – Ah... Lily. Boa tarde, querida – ela sorriu ostentando o seu dente de ouro, como sempre. – Como vai?

            – Vou ótima, e a senhora?

            – Vou bem, vou bem – ela saiu do elevador e colocou-se em minha frente. – Procurando pelo rapaz? – ela perguntou concentrada em tricotar um pulôver de lã marrom escura.

            – Ahn... Na verdade sim, mas parece que ele não está em casa – disse coçando a nuca dando de ombros.

            – Ah não, não. Ele saiu com aquele outro rapaz de cabelos negros, tão bonito quanto ele – ela disse.

            – Sirius... – deduzi em voz alta.

            – De qualquer maneira, ele não parecia muito contente quando entrou no carro do outro rapazinho bonito. Alguma coisa parecia ter acontecido. Eu vi quando ele chegou com você ontem à noite... Costumo observar o céu estrelado enquanto tricoto – ela admitiu e sorriu mais uma vez, mas logo depois franziu o cenho, parecendo estranhar as próprias atitudes.

            – A senhora ouviu alguma coisa? – perguntei tentando ao máximo não parecer preocupada ou assustada com a situação, que, com certeza, não era o caso.

            – Não... Estava ouvindo a rádio noturna, passam umas músicas dos anos sessenta muito boas, tempos que eu ia para as festas com meu marido – ela sonhava acordada. Piscou rapidamente e olhou em volta. – Espere... Esse é o sétimo andar? Pensei que era o terceiro... Tenho que terminar esse pulôver com uma amiga minha. Devo ter apertado o botão errado. Tolice, tolice... – ela riu sozinha e voltou a adentrar o elevador. Dessa vez eu a acompanhei.

            Ela ia apertando o botão do oitavo andar quando eu a impedi.

            – Deixe que eu aperte para a senhora – disse e pressionei o botão de número três.

            Assim que o elevador abriu as portas no terceiro andar, a senhora saiu e olhou brevemente.

            – Obrigada, Srtª Evans. A senhorita é muito gentil – ela comentou e deu as costas.

             – Disponha, Sra. Figg – sorri e cliquei no botão do térreo imediatamente.

            Será que estava tudo bem? Não é da índole de James sair com cara de desesperado por aí, muito pelo contrário. Se tinha alguma coisa acontecendo eu tinha que descobrir e logo. Estava tão apressada que só fui me dar conta de que não sabia para onde ir quando já estava andando pela calçada da minha rua. A única maneira de comunicação que me restara fora o telefone público, visto que tinha esquecido o celular em casa e não estava nem um pouco a fim de voltar para buscar.

            Caminhei uma quadra e alcancei a esquina do ponto de ônibus que eu uma vez aguardei com Snape e mais tarde com James. Ali tinha uma cabine telefônica. Andei a passos largos até adentrá-la e suspirei tentando desvendar como se fazia uma ligação naquilo. O que eu tenho que enfrentar pelos meus acessos de preguiça...

            “Para uma ligação de até cinco minutos insira £2”, era o que se lia na tabela ali presente. Fucei no meu bolso e por sorte havia uma moeda. Inseri e tirei o telefone do gancho fechando os olhos para tentar me lembrar do número do celular de James.

            Um minuto tinha se passado e eu decidi arriscar uma combinação.

            – Alô? — uma voz soou do outro lado da linha.

            — James?

            – Ah, me desculpe acho que você ligou errado — ruborizei.

            – Ah, claro, claro... Desculpe-me pelo incômodo – disse rapidamente e voltei a colocar o telefone no gancho bufando. – Nem queria fazer ligação daqui mesmo... – resmunguei sabendo que não teria a sorte de vasculhar o bolso do short e achar outra moeda.

            Suspirei e decidi que enfrentar a preguiça seria a melhor opção. Afinal, o que era preguiça quando se colocava o bem-estar de James Potter em jogo?

            Voltei para o prédio caminhando rápido e mal pude me conter ao ver o próprio James entrando no elevador apressado, mancava como um velho com uma prótese, mas fazia de tudo para continuar em sua velocidade atual.

            – James... – disse, mas era tarde demais. As portas do elevador já tinham sido fechadas e eu tinha ficado para o lado de fora. Bufei frustrada mais uma vez e subi pelas escadas.

            Cheguei ofegante no sétimo andar, mas para o bem dos meus pulmões cheguei ao mesmo tempo em que meu namorado pisara seus pés no hall.

            – James? – perguntei tentando recuperar o fôlego e ele, ao notar minha presença, virou-se.

Conhecia bem aquelas expressões estampadas em seu rosto. Seus olhos inchados, como se tivesse passado horas chorando. Tinha passado pela mesma experiência por tanto tempo que era impossível não saber identificar quando alguém chorava. Tentei não me desesperar.

            Aproximei-me dele gradualmente e pousei minha mão sobre seu ombro direito.

            – James, o que aconteceu? – perguntei com a voz deixando transparecer preocupação. Mais desgraças não...  

            Ele me olhou nos olhos, piscou algumas vezes com a boca entreaberta, mas nada disse. Comprimindo os lábios ele abaixou a cabeça e reprimiu o choro.

            – Hey... – sussurrei e ele me abraçou, pondo-se a chorar. Arregalei os olhos por um momento.

            Meus braços – que antes se encontravam retos ao lado do corpo – foram envolvidos num abraço desajeitado e choroso. Apertei James contra mim e deixei que ele desabasse. Quantas vezes ele não tinha sido o ombro amigo de minhas lágrimas?

            – Está tudo bem... – sussurrei para ele afagando seus cabelos.

            – Eu... – ele parou. Senti meu estômago embrulhar.

            – Você o quê? – separei-me dele e coloquei minha mão sobre o seu rosto, olhando em seus olhos castanho-esverdeados.

            Ele engoliu em seco. Parecia lhe doer muito tentar falar.

            – Eu... Eu não... Eu não serei mais pai — ele me encarou. As sobrancelhas baixas mostrando sua decepção. Minha respiração entrecortou um momento.

            – Ah meu Deus, James... – ofeguei e encostei minha cabeça no peito dele. Por um instante eu achei que fosse desmaiar. – E-Eu sinto muito... – segurei sua camisa, só parando para perceber agora que ele ainda vestia a mesma roupa do dia anterior. Provavelmente tinha passado a noite de luto prestando apoio a Izzy.

            – Eu nunca senti nada por Izzy ou por esse bebê – ele fungou e negou com a cabeça, ergui meu olhar para ele. – Mas parece que só aprendemos a dar valor a certas coisas quando elas se vão... – ele acrescentou e eu tive vontade de chorar.

            Era totalmente verdade tudo aquilo que ele dizia, eu sabia como era a sensação. Eu sabia exatamente como era passar a valorizar alguma coisa por achar que a perdeu. James Potter era essa coisa. Nunca tinha o valorizado um dia sequer na vida, mas só depois daquele acidente, na qual pensei que poderia tê-lo perdido que eu aprendi que deveria abrir os olhos. Eu agradeço a todas as forças do universo por terem me dado uma chance de recomeçar. Recomeçar a minha vida só que ao lado de James Potter.

            – Sabe de uma coisa? – ele já tinha aberto a porta de seu apartamento e agora já estava sentado no sofá, a mão saudável cobrindo o rosto úmido.

Ao ouvir minha voz, James ergueu os olhos para mim. Sentei-me ao seu lado e tirei algumas mechas que impediam seus olhos de enxergarem.

— Eu sei muito bem o que você está passando... Eu passei por isso – ele franziu o cenho. – Bem... Não exatamente como você está passando, mas por algo parecido... – suspirei. – Sempre te odiei, James. E essa era para ser o meu legado: Odiar James Potter. E assim tentei fazê-lo – soltei uma risada nasalada.

“Realmente as pessoas só aprendem a dar valor às coisas que têm quando as perdem. E, por Deus, James... Eu pensei que o perderia naquela noite em que foi atropelado... Talvez se não fosse por aquilo eu ainda seria uma ruiva idiota e sem noção que fingia odiar um garoto... Então às vezes coisas acontecem, e, com o tempo, essas coisas se tornam responsáveis pelo seu amadurecimento.”

Fiz uma breve pausa e voltei meu olhar para ele, que estava totalmente fixado em mim. Seus olhos me observavam com tamanha intensidade que eu senti um frio na boca do estômago, aposto que estaria corada neste exato momento.

— Já te disse que te amo? – ele disse com uma sinceridade tão enorme que eu senti o frio espalhar da boca do estômago para o restante do corpo.

Aproximei-me dele e o beijei breve e delicadamente.

— Eu também te amo, James – segurei sua mão e suspirei fechando os olhos. – Eu sei o quanto pode estar sendo difícil para você, mas eu... – abri os olhos. – Não quero de desista.

— Como posso desistir quando tenho você ao meu lado? – ele disse e eu sorri.

— Não nesse sentido, bobinho – senti meu corpo entrar em combustão antes mesmo antes de começar a falar. – Digo... – passei a língua pelos beiços e desviei meus olhos dele. –... Em relação a ser pai – não estava olhando para ele, mas sabia perfeitamente que ele estava boquiaberto.

Abri meus olhos e minhas teorias foram confirmadas.

— Podemos ter filhos, James. Quer dizer... Se você quis-

— Ah meu Deus, Lily! – James riu parecendo não lidar com tanta felicidade de uma vez só, me beijou rápida e repetidamente. – Não me faça querer pedi-la em casamento sem nem ao menos ter planejado... – ele sussurrou e eu sorri.

Ficamos numa troca de olhares intensa por algum tempo ainda, mas decidimos que não era o momento certo para aprofundarmos mais as coisas, afinal, apesar da reação eufórica de Potter à minha constatação, ele ainda estava de luto.

Fiquei ali, no sofá da sala de estar de James, com a cabeça escorada em seu peito e minha mão brincando com o gesso do seu braço esquerdo, enquanto o seu direito me envolvia de maneira acolhedora.

Era tão indescritível a sensação de estar ao lado de alguém que não perturba o seu silêncio, não tira a sua paz, consegue ouvir até quando não está falando, e, acima de tudo, entende que o amor não é ter que demonstrar a cada segundo. O amor é justamente o contrário: Está ali, o tempo inteiro. Estampado na cara. Em cada significado que um olhar traz. No toque das mãos e no soar dos diafragmas.

E estar ali ao lado dele me trazia essa sensação indescritível. Era como se eu tivesse passado a vida inteira procurando um “Príncipe Encantado” quando não se precisa de um. Para quê se quer um príncipe quando se tem alguém que tem o dom de te fazer sentir especial?

— Quer falar sobre isso? – perguntei depois de mais ou menos vinte minutos de pleno silêncio, cada um preso a seus próprios devaneios.

Ele suspirou.

— Segundo Izzy, ela estava sentindo algumas dores agudas há alguns dias... Mas nada que fosse grave para se ir ao médico, bem, pelo menos pra ela.

“Você tinha acabado de sair quando recebi uma ligação dela. Ela disse que achava que... – ele parou por um instante. – Que estava abortando. Disse que sangue escorria pelas suas pernas... Ela sabia que não teria mais jeito para nada, mas estava apavorada... Assim como eu.”

“Cheguei à casa de Izzy com a ajuda de Sirius e ela estava sentada no chão do banheiro. Eu não tive alternativa. Tive de pedir para que Sirius a carregasse para o carro – ele suspirou. – A partir daí foram horas preocupantes na sala de espera, somente. O doutor me passou a informação que tinha tirado a placenta dela só agora de manhã. Não é um processo muito rápido ou agradável, acredito – ele calou-se. A voz num tom monótono explícito de dor.”

— Mas Izzy está bem?

— Na medida do possível, sim— ele concluiu e eu decidi que aquela conversa se encerraria ali. Não valeria a pena reviver momentos tão dolorosos. Assim como James não pedia para falarmos sobre a morte de meu pai, não pediria a ele para falar sobre a morte de seu filho.

— Fico feliz... – comentei e tornei a me aquietar por alguns instantes. – Deixei meu violoncelo aqui? – perguntei tentando cair na realidade. Já havia devaneado demais para um dia só.

— Deixou. Estava tão preocupado com você nos últimos dias que mal tive tempo de me lembrar de entregá-lo a você. Está no meu quarto – ele fez menção de erguer-se para buscar o instrumento, mas eu o barrei.

— Não se preocupe, deixe que eu cuide disso... – disse e levantei-me indo até o quarto e peguei a minha maleta querida. Voltei à sala com a maleta nas costas e deixei que meus braços descansassem ao lado de minha silhueta. – As meninas dormiram lá em casa ontem. Vou ver se preparo alguma coisa pra elas, já que a torta de mamãe não vai dar pra nada... – dei as costas para deixar o apartamento quando ouvi meu nome soar com a voz de James.

— Lily...

Virei-me.

— Obrigado – ele disse e eu sorri sentindo minhas bochechas esquentarem, como se dissesse um “não-precisa-agradecer”e deixei o apartamento fechando a porta atrás de mim.

Era bom estar ao lado de James, principalmente quando eu sabia que ele precisava do meu apoio. Além do mais, ele esteve lá por mim, incansavelmente, durante duas semanas, nada mais justo de eu também estar ali por ele.

Quando entrei em casa, deparei-me com o som de pequenas risadinhas vindas do quarto. A sala se encontrava em plena desordem. Os cobertores e travesseiros estavam todos esparramados pela sala.

Elas tinham acordado.

Direcionei-me ao quarto e vi Alice, Holly e Tonks em cólicas de tantos risos abafados.

— Eu me lembro desse dia! Foi o dia em que James a beijou. Eu até tive de dar espaço para os pombinhos – Holly comentou absorta em pensamentos enquanto olhava diretamente para alguma coisa em suas mãos. As meninas se agruparam ao seu redor.

Apoiei a mão na cintura e encostei-me no batente da porta aberta, observando-as. Se Tonks não tivesse caído no chão no meio da crise de riso, talvez ninguém teria percebido minha presença.

— L-Lily... – ela engasgou brevemente e as outras se viraram estranhando a situação.

— Posso saber o que vocês estão fazendo com o meu álbum? – perguntei erguendo as sobrancelhas.

— Só dando uma espiadinha em como o James era fissurado em você – Holly respondeu imediatamente com um tom provocante de pura malícia. Alice riu.

Revirei meus olhos e tomei o álbum da mão de Hall.

— Hey! – ela protestou.

— Não vou deixar vocês curiarem. Esse presente – apontei para o álbum – James e Remus fizeram exclusivamente...

Remus? — Ninfadora perguntou alarmada. – Como assim ele ajudou no álbum e não me disse nada?

— O álbum não era necessariamente para mim... Ele só estava ajudando com as fotos. O álbum ia ficar com o James, mas ele decidiu dá-lo para mim – esclareci.

— Ah, sim... – ela suspirou aliviada.

A relação entre Remus e Ninfadora não era padrão Frank e Alice de perfeição, mas eles eram bem próximos disso. Nunca escondiam coisas um do outro. Eram como melhores amigos com algo a mais. Tinham tudo o que um casal precisa para ser feliz. Eu queria ser assim com James também. Uma relação sem segredos é a utopia de qualquer relacionamento.

James e eu também tínhamos de tudo para sermos felizes, acredito eu.

— Eu estou louca para começar o meu primeiro dia no Ministério. Imagina só eu, na recepção do prédio das empresas Potter... Ajudando o pai de James sempre que precisar. Céus, eu estou feita! – Holly comentou com os olhos brilhando.

— E eu vou editar o último vídeo sobre “Tente não rir” que gravei com Remus, o Profeta Diário está se tornando cada vez mais renomado e... Lily! Esqueci-me de te mostrar! Olha esse cover que o James gravou em dezembro do ano passado! Meu Deus, você vai surtar – Tonks comentou animada e me entregou o seu celular em minhas mãos.

Franzi meu cenho. Cover? Não sabia que James também tinha entrado na onda do Sirius... Ou melhor, Sirius que teria entrado na onda dele.

O nome da música era Coldest Winter, conhecia-a tão bem que só pelo ritmo do violão no começo do vídeo já foi possível identificá-la.

Quando Tonks entregou-me seu celular observei a página aberta do blog que ela e Remus administravam, James, em nenhum momento, olhou para a tela ou coisa parecida, ele só... tocava. Potter não só tocava com intensidade, mas também cantava como se o mundo fosse acabar no dia seguinte. Como ele pôde gravar esse tipo de coisa e não me dizer nada?

Pensando por outro lado, James e eu nos acertamos recentemente e já temos passado por muito desde o começo do nosso relacionamento, o que não restou muitas brechas para que conversas como essa fossem colocadas em dia. Mesmo estando surpresa, eu não me zango com ele por causa disso, afinal, mesmo que tudo indicasse, não se podia ter certeza de que aquela música era ou não dedicada a mim. Talvez fosse só um cover qualquer, apesar da tradução ter muito em comum com o que James poderia achar sobre mim.

— Quem posta esses vídeos aqui? – perguntei ainda totalmente concentrada em observar o movimento dos lábios de James ao pronunciar cada pedaço da letra da música.

Os lábios dele realizavam um movimento tão suave que era evidente, de certa forma, que ele cantava aquela canção em minha homenagem. Pode parecer egoísta, mas eu não queria que aquele vídeo fosse dedicado a qualquer outra pessoa além de mim.

Senti um sorriso moldar-se em meus lábios. Fazia menos de cinco minutos que havia deixado o apartamento de Potter e podia afirmar que já carecia o calor e o conforto que era estar envolvida por seu abraço. Quem diria que Lily Evans estaria sob total dependência de James Potter...

— Lily – fui despertada de meus devaneios ao ouvir a voz de Alice. – Não vai atender o celular?

Franzi o cenho e finalmente pude ouvir Never Be Like You soar do bolso dianteiro da calça. Digamos que eu tenha certo trauma de atender chamadas depois da morte de papai. É como se eu pudesse receber uma notícia trágica a qualquer momento.

Mergulhei minha mão direita no bolso e peguei meu celular deslizando o dedo sobre a tela.

— M-Mãe? – gaguejei.

— Filha? Está tudo bem?

— Ah... – olhei para minhas amigas em função de recuperar o fôlego. – Claro. Eu vi o bilhete que você me deixou... Como vão as coisas por aí?

— Será que você pode vir aqui? – ela perguntou parecendo evitar.

— Aconteceu alguma coisa? – fui direto ao ponto.

— Não, é só que preciso tomar uma decisão ao lado das minhas filhas, e Petúnia não-

— Claro, mãe – sacudi a cabeça como se pudesse fazer a paranoia escapar pelos ouvidos. – Já estou indo aí. Tchau – desliguei a ligação e suspirei. – Eu ainda morro hoje... – passei a mão pelo rosto respirando fundo.

— O que foi? – as três interpelaram-me, aflitas.

— Nada. Só a minha mãe querendo ajuda com uma coisa. Vemos-nos depois, ok? Qualquer coisa liguem para mim – elas afirmaram com a cabeça e então me retirei.

Peguei uma fatia de torta que havia sobrado e lembrei-me de que minhas amigas não haviam comido.

— Tem coisa para comer na geladeira! – gritei da porta com a boca cheia (obviamente não me orgulhando pelos maus modos) e deixei meu apartamento.

Passei direto pela porta de James, sentindo-me evidentemente tentada a atravessá-la. Desci até o térreo sentindo minha garganta apertada. Tinha comido rápido demais.

Peguei o primeiro ônibus que passou pelo ponto e desci em frente à delegacia. Observei o estabelecimento por alguns segundos antes de adentrá-lo.

Policiais e pessoas bem vestidas corriam de um lado para o outro. O soar dos telefones preenchia ainda mais a ausência de silêncio do lugar. Nunca imaginei que um departamento de polícia fosse tão movimentado. Se não tivesse sido abraçada por minha mãe era provável que teria passado o restante do dia absorta nos pensamentos.

— Lily! Ah! Graças a Deus! – ela chorava.

Franzi o cenho retribuindo o aperto que seus braços faziam ao me abraçar.

— Mãe? – a olhei. – O que aconte-

— Houve um acidente na frente do Big Bem e a polícia fora informada logo depois que você desligou... Oh, céus! Eu fiquei tão preocupada...

— Tudo bem, mãe... – abracei-a mais uma vez.

O policial, que provavelmente estava resolvendo as papeladas com a minha mãe, apareceu e guiou-a a um assento próximo.

Era comum ver minha mãe com o rosto banhado em lágrimas ultimamente. Era explícito que ela sofria mais que eu, afinal, o amor de sua vida se fora, portanto, qualquer tipo de susto que ela venha a levar é considerado uma explosão para ela.

— Aceita um copo de água, Srtª Evans? – o oficial perguntou enquanto presenciava a ruiva chorosa em sua frente tentando passar para dentro os duzentos e cinquenta mililitros de água que preenchiam o copo aos soluços.

— Por favor, Matt – suspirei lembrando que ainda me sentia entalada por ter comido aquele pedaço de torta sem mastigar direito.

Matthew Stevens era colega de trabalho de meu pai. O conhecia por meio das festas que a equipe policial realizava a cada dois meses, uma confraternização entre colegas para aliviar o stress do trabalho duro que era ser um oficial de polícia. Ele era muito legal e fora o primeiro da equipe a se pronunciar no funeral de papai; além de estar prestando total apoio à mamãe quando decidiu responsabilizar-se pela investigação do homicídio.

Depois que tomei o copo de água e mamãe acalmou o choro, o policial retomou ao lado oposto da sua escrivaninha e começou a falar:

— Bem, como vocês estão informadas a audiência será no sábado que vem, onde todos os réus serão apresentados e avaliados junto aos depoimentos da testemunha, que no caso é o senhor Sirius Black. Logo depois, haverá a intervenção dos advogados de cada suspeito e então a decisão será tomada pelo conselho judicial. Alguma pergunta até aqui?

Neguei com a cabeça.

— Ótimo. Sra. Evans gostaria de fazer algum esclarecimento no dia da audiência? Quer dizer, a senhora tem total direito de se pronunciar perante o tribunal, assim como a Srtª Evans – Stevens transladou o corpo em minha direção.

Minha mãe me encarou como se pedisse ajuda na decisão que estaria prestes a tomar e prendeu a respiração por um instante.

— Se quiser eu posso te ajudar a preparar alguma coisa – sussurrei.

Ela hesitou por um instante e suspirou, por fim.

— Não, obrigada – ela ergueu o olhar, decidida, para o oficial de polícia.

            Teria me sentido muito mal caso não tivesse percebido que minha mãe não respondia a mim, mas sim ao oficial.

            – Certo.

            O que a havia feito tomar essa decisão tão repentinamente?

            – Estão dispensados, então. Caso surja alguma dúvida no decorrer da semana é sé me ligarem... O número está escrito nesta folha, juntamente com o dia e o local da audiência.

            – Ok. Obrigada, Stevens – mamãe salientou e nos retiramos da delegacia.

            Ao chegarmos do lado de fora andamos em silêncio lado a lado em direção ao ponto de ônibus. Só depois de dez minutos foi que as palavras conseguiram sair de minha boca.

            – Por que tomou a decisão tão rápido?

            – Acho que quanto menos nos envolvermos, melhor. Eu sei que não faz muito sentido, mas é isso. É melhor deixarmos tudo nas mãos dos amigos do seu pai, que são policiais e sabem o que fazem.

            Suspirei. Era a mais pura verdade.

            – Semana que vem é aniversário do James... – digamos que as coisas entre minha mãe e eu ficam um pouco estranhas quando começarmos a falar sobre o papai. Coisas de filha órfã de pai, eu acho.

            – Sério?! Ah! Precisamos preparar uma coisa bem legal para ele! – exclamou mamãe.

            – Você tem alguma ideia original, mãe? Eu juro que estou tentando, mas não consigo parar de pensar nessa audiência... – suspirei e ergui o braço para que o ônibus parasse.

            – Bom, ideia eu tenho. Agora se é original eu não sei – ela riu e eu revirei os olhos indo na onda. Sentamos um ao lado da outra na segunda fileira de cadeiras do lado esquerdo.

            – Ah... Sendo uma ideia eu aceito... – disse sentindo um repentino calor. Amarrei o cabelo em um coque com meus próprios fios e encarei mamãe sorridente.

***

            – Shh! Fiquem quietos! Ele está chegando... – Holly disse ao dar uma breve espiada através da brecha da porta.

            – Apaga a luz!— Tonks sussurrou no meio da pequena aglomeração. Remus tomou as devidas providências e apertou o botão do interruptor.

            Estávamos todos reunidos no cubículo de apartamento que era de James neste dia 27 à espera do mesmo. Era uma festa surpresa, tudo ideia de Jessica Evans, obviamente.

            – Ah, sei lá Almofadinhas não sei se isso é... – James ia comentando ao abrir a porta do apartamento e cessou ao perceber que algo estava errado. Ele acendeu a luz e...

            – SURPRESA!— todos gritaram eufóricos e alguns apitos de língua de sogra foram ouvidos no fundo.

            Ou as bexigas penduradas, a aglomeração e a faixa escrita “Happy B-Day James” tinham deixado Potter totalmente sem expressão ou havia alguma coisa muito errada ali.

            – Mas o que...? – Sirius comentou. – Vocês decidiram preparar uma festa surpresa para o meu melhor amigo e não me chamaram?

            – Nós também não chamamos o Peter, não se reprima – rebati com uma risada não muito saudável que pareceu não contagiar o rosto de mais ninguém ali (todos sabiam no que ele havia se envolvido e não aceitavam que dissessem seu nome a não ser que este fosse dito por mim mesma). – Estou brincando, Sirius... Não te chamei para tudo parecer ainda mais real, eu sabia que você acompanharia o James até em casa, já que eu tinha marcado de ir no cinema com ele ver “Logan” e eu dei bolo.

            Agora todos os convidados iam ao encontro de Potter para desejá-lo um feliz aniversário, enquanto Sirius ainda padecia totalmente inconformado com aquela ideia toda da festa.

            Depois que todos os convidados falaram desejaram as felicitações, James forçou um sorriso aos presentes. Quando eu estava prestes a abraçá-lo ele aproximou-se e sussurrou:

            – Lily, precisamos conversar... – meu sorriso murchou na hora.

            – Não... Não no seu aniversário, James – neguei com a cabeça sentindo meus olhos marejarem só de imaginar a bomba que seria dita.

            – Não sei se o que eu tenho pra te contar é uma boa ou má notícia, mas acho que não vou conseguir me concentrar em mais nada se você não souber o que eu estou prestes a te contar... – ele disse e eu suspirei vencida.

            Ele me levou até o quarto e fechou a porta para abafar os ruídos de conversa e da música que era tocada em alto e bom som.

            – James, você está me assustan...

            – O filho que Izzy abortou não era meu – ele disse rapidamente e eu arregalei os olhos em sua direção.

            – O que disse? – perguntei incrédula.

            – O meu filho que morreu não era meu filho de verdade...

            – Ah meu Deus... – suspirei aliviada, mas na verdade não sabia realmente como reagir àquela situação.

             Era bom por ele não ter responsabilidade nenhuma sobre a morte da criança, ruim porque... Porque era uma vida.

            — Céus, James...

            – O filho é de Snape – minha respiração perdeu-se no ar. – Quer dizer... Era.

            — Como...? Como você descobriu isso?

            – Fui investigar sobre as causas que levaram o aborto de Izzy, já que ela tinha me dado uma explicação não muito aceitável, pelo menos não pra mim. Então tive acesso aos exames que ela tinha feito com o passar dos meses. Izzy vinha me escondendo isso... – ele suspirou. – Bem, no final eu acabei achando essa informação.

            – Ele encolheu os braços e comprimiu os lábios direcionando seu olhar a mim. Sustentei-o e aproximei-me dele procurando as palavras certas a dizer. Era difícil aconselhar alguém por alguma coisa que não é de fácil resolução.

            – De qualquer maneira... Eu estou aqui por você, James. Sempre vou estar aqui por você, ouviu? – segurei seu rosto em minhas mãos e ele assentiu com a cabeça, plantando um beijo terno em minha testa.

            Abraçamo-nos.

            – Teremos filhos lindos e você vai ser o pai mais feliz do mundo, vai ver – disse para ele, que me soltou de maneira delicada.

            – Isso foi uma declaração de amor eterno, Lily Evans? – ele sorriu com o canto da boca.

            – Por quê? Você não quer ser amado pelo resto da eternidade? – perguntei com um sorriso largo, entrelaçando meus braços ao redor de seu pescoço.

            Ele riu e me beijou envolvendo ambas as mãos no meu quadril. Potter havia cumprido suas terapias diárias e agora conseguia andar sem precisar a muleta que seu avô tinha lhe emprestado.

            – Você é a melhor coisa que já me aconteceu, sabia? – ele sussurrou. Senti um frio na barriga na mesma hora, essa era a sensação de estar na constante presença de James Potter.

            – Eu...

            Ouviu-se um barulho e a porta do quarto se escancarou.

            – Ah! Aí está você, Pontas! – um rapaz, que reconheci como colega de ensino médio de James, adentrou o quarto mal se dando conta da minha presença.

            – Existe uma coisa chamada porta e você pode se sentir a vontade para bater nela antes de entrar no meu quarto – disse James friamente. O sorriso murchou no rosto do garoto.

            – Eu... Ah... Desculpe-me. Bem, só queria avisar que seus pai chegaram – ele disse sem graça e deixou o quarto fechando a porta.

            – Não precisava ter sido tão indelicado, Potter – bufei.

            – Ele nos interrompeu, Lily! E além do mais... Não estou com a maior paciência do mundo hoje – ele revirou os olhos.

            – É, mas você trate de se controlar, porque todos estão aqui por sua causa. Hoje é seu aniversário e mamãe, eu, as meninas, Lupin e Longbottom tivemos o maior trabalho de arrumar tudo. Então vê se coloca um sorriso nesse rosto e vai conversar com os seus convidados! – exclamei.

            – Sim, senhora – ele riu, me selou nos lábios e respirou fundo e deu uma última ajeitada nos cabelos.

            Saímos do cômodo e observamos os convidados indo de um lado para o outro, cada um com um copo na mão. Mesmo que as coisas soassem difíceis demais, não podia deixar que logo no seu aniversário, James ficasse para baixo. Isso são problemas que podem ser resolvidos com o tempo.

            – Oi Sra. Potter – sorri para a mãe de James logo depois que ela termina de abraçar o filho.

            – Euphemia, querida – ela sorriu solicitando que parássemos com formalidades, afinal, já éramos próximas. – Tudo bem? – ela perguntou me abraçando.

            Os Potter tinham contribuído demais com a minha família desde que papai se foi. Eu nunca seria capaz de dizer o quão grata eu estava por tamanha expressão de carinho proveniente deles.

            – Bem melhor e a senhora? – sorri e permaneci parada enquanto presenciava ela acariciar meus cabelos tão rubros quanto os dela.

            – Estou ótima – ela então se aproximou. – James lhe contou sobre o que descobriu, não contou?

            Afirmei com a cabeça.

            – Imaginei. O coitado do Carter deixou o quarto com uma feição de quem foi enxotado – ela cobriu a boca com a mão enquanto ria do rapaz, mas logo recuperou sua compostura. – Deve estar ciente de que a única pessoa que queremos que James tenha filhos é com você, então espero que não tenha problemas quanto a isso... – comentou Euphemia numa indireta bem direta.

            Senti meu rosto inteiro corar, a mãe de James percebeu, mas nada disse. Era normal ruivas corarem com maior facilidade, acredito eu.

            – Fico feliz em ouvir isso... Até porque acabei de dizer a James que ele não precisava se preocupar com essa história de ser pai, visto que poderíamos com certeza ter filhos no futuro – sorri colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha.

            Era estranho me ouvir dizer uma coisa dessas. Há meses atrás James Potter era fonte de maior nutrição de ódio da minha vida, agora eu já pensava nos filhos que teríamos juntos.

            – Num futuro próximo, você quis dizer... – ela corrigiu e cerrou os olhos provavelmente aguardando a minha reação escandalosa.

            – Eu... Ah... – mordi os beiços, pensativa. – Isso vai depender do...

            – De o meu filho te pedir em casamento, sei... – ela olhou em volta e aproximou a boca da lateral do meu rosto. – Mas não se preocupe, não vai demorar muito... – ela sussurrou e deu uma piscadela pegando um copo de suco da bandeja e se retirando em direção à sacada.

            Fleamont, que vinha logo atrás, cumprimentou-me com um beijo na bochecha e seguiu a esposa.

            A festa estava num clima muito agradável, apesar do tal de Carter encarar James feio depois da bronca que ele lhe deu. No som agora tocava “Water Under The Brigde” da Adele (playlist maravilhosa que eu tinha montado, a propósito). As meninas estavam todas sentadas a um canto da sala. Dora segurava a mão de Remus, eles finalmente tinham se tocado que eram feitos um para o outro. Holly se queixava das idiotices de Sirius e Alice observava a festa ao lado de seu marido.

            – Eu ainda não acredito nessa história de que vocês arrumaram tudo isso e não disseram nada pra mim – Black reclamou.

            Todos que encontravam-se no canto da sala reviraram os olhos, inclusive James. 

            – Acredite, foi melhor assim – Holly comentou já perdendo a paciência.

            – Deixa ele falar merda – bufei. – Mal imagina ele que se tivesse vindo pra ajudar, mais teria atrapalhado – ri.

            – Muito engraçada, você – Almofadinhas disse com sarcasmo. Sua cara emburrada logo sumiu no ar quando Shanks pulou no seu colo.

            Chegava a ser cômica a situação, Sirius se dando bem com o meu gato, logo ele, o cachorro do grupo. Dizem que relação entre cão e gato não é das mais saudáveis, mas fazer o quê?

            – Mas brincadeiras a parte, Sirius. Como vão as expectativas para a audiência? – Remus comentou.

Tínhamos realmente chegado a esse assunto? Sim, era inevitável ultimamente, sendo que todos os meus amigos compareceriam no dia do julgamento. Sirius, como o esperado, suspirou. A audiência era um assunto considerado um tipo de mal necessário a ser discutido.

— Não vou dizer outra coisa além da verdade – ele disse com um semblante mais sério.

Era óbvio que alguém gostaria de comentar sobre, mas para o bem do clima da festa, todos permaneceram calados.

— Tenho mil e quinhentos relatórios pra preencher – Hall queixou-se apoiando a cabeça no ombro de Sirius, ajudando-o a aninhar o gato preguiçoso.

— Isso é bom. Pelo menos você tem um emprego – suspirei sentando-me numa das cadeiras enfileiradas ali próximo ao sofá.

— Fica tranquila, Lily. Todos nós sabemos pela barra que você têm tido que segurar nas últimas semanas, é compreensível – ela suspirou também. – Pensando bem, não posso reclamar do que me sustenta, seria como reclamar das minhas próprias pernas sendo que são elas que me mantém de pé – dramatizou a garota. Todos nós desandamos a rir.

— E a sua mãe? Você contou para ela, não contou? – Alice perguntou.

Holly hesitou.

— Contei... Mas ela meio que não teve tanta reação assim. Ela... Ficou feliz por mim, pelo menos.

— Ah... – Dora, Alice e eu entreolhamo-nos como se escolhêssemos por telepatia o que devia ou não ser dito. – Isso é bom, não é? Ela ficar... Feliz por você? – perguntei sugestivamente.

— É... Claro que é. Mas, andamos tão distantes ultimamente, me sinto... Sozinha.

— Vamos levantar daí, galera! Vamos! Levantando, levantando! – mamãe tinha provavelmente observado a conversa depressiva de longe e veio combatê-la. Jessica Evans sendo Jessica Evans... – Isso aqui é uma festa, não um fun... – mamãe percebeu o que estava prestes a dizer e interrompeu-se na mesma hora.

Todos levantaram-se apenas trocando olhares em relação à estranheza que estava se tornando aquela festa. O melhor a se fazer era simplesmente tentar esquecer os problemas, mesmo que parecesse um pouco impossível, porque a festa de James se tornaria insuportável se continuássemos com aqueles papos de fossa.

James vinha em nossa direção bebendo um copo de refrigerante, ele estava animado. Era indescritível a sensação de vê-lo assim.

— Vamos dançar? – disse ele deixando o copo descartável numa bandeja com copos sujos e estendendo a mão em minha direção. Mesmo sem olhar, pude sentir a malícia exalando dos rostos de minhas amigas. James e eu éramos o ship supremo, segundo elas, eu até que concordava.

Sorri um pouco corada, mas aceitei o convite. Depois disso, todos também chamaram seus pares, a música “One” do U2, estava tocando. Seria uma boa noite.

***

            – Já está pronta, querida? – uma voz soou ao longe.

            Olhei minha mãe pelo reflexo do espelho e afirmei com a cabeça.

            – Só um minuto – pedi.

            Passei a mão sobre a gola do meu blazer e suspirei ao enxergar meu reflexo. Meu coração já estava a mil antes de começar a audiência, sabia Deus como eu reagiria quando eu pisasse meus pés naquele tribunal. Só sabia que assistiria como qualquer outro ouvinte, só falaria quando fosse necessário.

            Respirei fundo. Lembrei-me do dia que eu estava para sair de casa, o dia da mudança... O dia que papai me beijou na testa com tamanha ternura que eu nunca teria mais a oportunidade de sentir...

            Saí de meus devaneios ao sentir as mãos de James me envolverem pelo quadril.

            – Vamos? – ele murmurou e eu assenti com a cabeça.

            Respirei profundamente uma última vez e caminhamos até o lado de fora do apartamento. Todos estavam supostos a se encontrarem no tribunal, que era a poucos quilômetros da delegacia. James, mamãe e eu não tardamos em chegar ao local, visto que James já tinha voltado a dirigir seu carro devido às sessões de fisioterapia.

            Não demorou muito para que o tribunal ficasse cheio e a cada minuto que se passava meu peito apertava mais, era complicado ter que representar a vítima de um assassinato, principalmente quando se essa vítima era um oficial da polícia.

            – Calma, vai dar tudo certo. Você só precisa respirar e deixar as coisas acontecerem naturalmente. De qualquer maneira, alguém vai ter de sair culpado desse lugar e esse alguém com certeza não será você ou sua mãe – constatava James ao me pegar no meio de um dos meus surtos de hiperventilação.

            Realmente. Eu não tinha o que temer, eu só estava ali para ver quantos anos cada suspeito receberia de pena por terem participado do crime que levou a vida do meu pai.

            As primeiras fileiras de cadeiras do lado direito do tribunal – observando-se do ponto de vista do juizado – preenchiam-se com Petúnia, Vernon, os pais do rapaz, James, os pais, Holly, Sirius, Alice, Frank, Ninfadora Tonks e Lupin. Os demais bancos eram destinados a alguns parentes mais distantes e alguns colegas de trabalho do departamento de polícia. Já do lado esquerdo, os réus, juntamente com seus respectivos advogados, familiares e amigos.

            Na fila de suspeitos se observavam: Snape, com uma expressão de completo pesar; Tom Riddle, parecendo totalmente indiferente de estar ou não colocando a sua liberdade em jogo; Bellatrix Lestrange e a irmã Narcisa, ao lado do marido, Lúcio Malfoy; na ponta tremia o corpo de Peter, que mal conseguia erguer o olhar para encarar os integrantes do grupo, cujo um dia fez parte.

            Encarei Snape ainda sem conseguir entender de onde ele havia arranjado tanta coragem para me estraçalhar de todas as maneiras possíveis.

            – Bom dia, senhoras e senhores – o juiz ajeitou a armação dos óculos enquanto fixava o olhar em cima de uma papelada. – Hoje estamos aqui reunidos para discutirmos o processo de número...

            Então quando menos se esperou, um barulho forte dum abrir de portas soou no fundo do tribunal.

            – Com licença, meritíssimo juiz. Temos aqui um réu de última hora que se relaciona ao processo da vítima de assassinato, John Evans. A polícia do Reino Unido acredita que o processo deve ser alterado de simples para qualificado, visto que a Sra. Hall é suspeita de assassinato com provas autênticas obtidas nas últimas doze horas – um dos policiais se pronunciou da porta e outros dois oficiais da segurança máxima vieram carregando a mulher tão indiferente quanto Riddle para dentro do tribunal.

            Não pude distinguir o rosto da mulher por conta do nervosismo, mas, obviamente, a incredulidade foi explícita em meu rosto quando a voz de Holly soou no silêncio que tinha se tornado o salão de julgamento naquele instante.

            – M-Mãe?


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Notas finais do capítulo

ETA. AHUAHUAHUA E ESSE FINAL, COMO FICA?
Juro que vou parar com esses finais destruidores de psicológico heuheuhuehueh.
E aí? Acertaram? Não, né? KKKKK Eu, sei. Foi intencional.
Venho avisando que a fic está chegando na sua reta final.
AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA :(
Pois é! Mais uns 3 capítulos e aí acaba.
Mas eu já preparei um final maravilhoso pra vocês ^^ O epílogo se aproxima hehehe.
Também vou me desculpando antecipadamente porque o capítulo 16 vai demorar um pouco pra sair :C
Juro que faço de tudo pra postar rápido, mas tá difícil!
Bem, espero que vocês tenham gostado :D
Até o próximo capítulo ;)



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