Green Eyes - Jily escrita por Vitória Serafim


Capítulo 14
Se ele é o cara certo, ele não lhe deixará


Notas iniciais do capítulo

Gente! Que saudades eu estava de vocês, meus leitores maravilhosos!
Bem, cá estou eu mais uma vez. Eu disse que ia demorar um pouquinho hihi.
Esse capítulo não ficou tão ao nível de tiros quanto os outros, mas tá bem amorzinho.
Já estou providenciando a revisão dos primeiros capítulos (que estão me incomodando DEMAIS) e os aesthetics bem maras pra vocês, que eu passei a colocar desde o capítulo passado.
Espero que vocês gostem :D
Nos vemos lá embaixo :*
[Capítulo betado por Alinezinha lacre do meu coração]



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Duas semanas tinham se passado após o funeral do pai de Lily e exatamente uma do garoto Harry, que apesar das sessões de quimioterapia, acabou por não resistir muito tempo. Lilian estava totalmente destroçada, seu chão havia sido tirado com tamanha brutalidade que agora ela evitava até mesmo a minha presença. Jessica tinha se mudado para o apartamento da filha, provavelmente por não suportar entrar na mesma casa que seu marido morou e agora já não mora mais; enquanto Petúnia fora morar com Vernon.

            A casa tinha sido deixada da maneira que estava desde o dia do incidente. Tinha ido semana retrasada na casa dos Evans para ajudar Jessica a trazer suas roupas para o apartamento de minha namorada (ou sei lá o que éramos considerados agora), que agora passaria a ser dela também.

            Sirius sentia-se tão estupidamente culpado pelo acontecido que seus olhos se afundavam em profundas olheiras de possíveis noites mal dormidas; mesmo que Holly tentasse consolá-lo, nada parecia funcionar. Acreditava que ele só tornaria a viver em paz de novo quando conseguisse fazer Lily suportar ao menos olhá-lo; todos sabiam que mesmo que não quisesse, Lily o culpava pela morte de seu pai, fora a única escapatória que ela encontrara para justificar aquele assassinato inesperado.

            Nem eu mesmo tinha entendido por completo o que tinha se passado naquele dia 28, mas em poucas palavras (ou nem tão poucas assim), as coisas se resumiam em: aquela mesma quadrilha na qual eu tinha descoberto, coincidentemente era o grupo mais procurado da Inglaterra e era também responsável por tirar a vida de John Evans. O plano tinha sido muito bem elaborado, cautela era pouco para o quão genial eles tinham sido em relação àquele roteiro. Tudo o que tinha sido estranho nos últimos dias passou a fazer sentido depois que descobrimos o que realmente aconteceu.

            Primeiramente em relação a Peter, ele foi um covarde; o maior covarde que já conheci. Pensei que pudéssemos confiar nele, mas fui enganado profundamente. Pettigrew estava envolvido com aquela gente e foi o responsável por furtar o celular de Lily naquela noite de ano novo. Essa fora a hora em que me perguntei: “Por que ele quereria o celular de Lily?”.

Naquele dia que estávamos no casamento dos Longbottom e Peter havia sumido ele já tinha colocado o celular de Lily de volta ao bolso de seu casaco e deixara o recinto para receber instruções para a sua próxima missão. Ele sabia que colocaria não só a vida de Lily, mas a de diversas outras pessoas em risco, mas não se importou, contanto que estivesse livrando a sua própria pele.

            Os Comensais da Morte planejavam roubar o cofre de riquezas dentro do Palácio de Buckingham, mas não podiam entrar se não agissem com sua marca registrada: reféns. Reféns que logo ao final do showzinho criminal acabariam morrendo. Sirius era o refém escolhido. Como Peter não faria parte em nenhuma etapa do plano no dia do roubo – por ser covarde demais – ele teria de providenciar maior parte dos requesitos para que esse ocorresse e atrair Sirius com a desculpa de ajudar com a sua avó doente era a ideia perfeita.

Segundo os interrogatórios da equipe de investigações, o casal que eles reconheceram como Narcisa e Lúcio Malfoy foram os responsáveis por invadir o sistema de segurança e conseguir os padrões para desbloquearem o cofre. Snape tinha permanecido impassível, ainda não haviam retirado informação alguma dele, nem do chefe da quadrilha, Tom Riddle. No entanto, Peter falara tudo o que sabia, por ser medroso demais da conta.

            A grande questão era: como o pai de Lily foi morto se ele nem ao menos sabia sobre o roubo?

            E eu simplesmente digo que tudo se relacionava com o celular. Quando Peter levou o celular de Lily, ele foi hackeado e todos os contatos que tinham na agenda dela passaram para o sistema deles, isso serviu para chamar a atenção de John. Eles usaram um celular aleatório, por onde eles tinham acesso ao celular de Lily e ligaram para o pai da mesma, onde eles relataram que a tinham sequestrado e que deveria aparecer na frente do Palácio em meia hora antes que eles a “matassem”. Como sua filha sempre foi o que John mais prezara na vida, ele foi de encontro aos bandidos, que depois de passarem a real notícia deixou o pai de Lily furioso.

            Sirius era a moeda de troca. Os Comensais da Morte disseram que só o liberariam quando conseguissem deixar o palácio – que estava cercado por policiais que já tinham descoberto o plano – com metade da grana. Assim, o restante da segurança máxima teve que baixar a guarda para que o acordo fosse selado. Contudo, John no meio do caminho tentou salvar o rapaz antes que eles pudessem sair, o que infelizmente acarretou a sua morte.

            O restante fica um pouco mais confuso de entender, visto que ninguém quis admitir como realmente aconteceu o assassinato, mas pela perfuração e a cápsula da bala, se tratava de um Sniper. E então é tudo o que sabemos. Sabemos de tanta coisa e ao mesmo tempo não sabemos de nada, porque não sabemos do mais importante, a identidade do culpado.

             E agora lá estava eu, deitado no meu sofá, que era o lugar onde eu passava maior parte do meu dia depressivo. Já tinha substituído minha cadeira de rodas por uma bengala, com certeza era uma evolução das grandes. Já tinha começado minha fisioterapia na perna direita e muito em breve estaria voltando a andar mais uma vez. Meu braço esquerdo, entretanto, parecia nunca mudar de situação, afinal, eu tinha remendado a ulna, então não podia fazer muita coisa além de esperar ela se regenerar.

            Levantei com a ajuda da bengala e cambaleei até a porta pela milésima vez essa semana. Tentava visitar Lily sempre que podia, mas na maioria das vezes ela ficava dentro do quarto, ou dormia, ou simplesmente não queria receber visitas na hora em que eu chegava, mas como eu sou James Potter e nunca desisto de Lily Evans, continuo voltando na casa dela todos os dias.

            Toquei a campainha do apartamento e a porta não tardou a se abrir para dar de cara com a mãe de Lily, que tinha feições cansadas e habituadas a encarar o vizinho insistente que quer visitar a filha dela todo santo dia. Ela, ainda sim, sorriu para mim.

            – Entre, querido... Ela está no quarto – disse ela já sabendo que o motivo de minha visita era Lily.

            Manquei em minha bengala e dei dois toques suaves na porta do quarto da minha ruiva.

            – Entre... – eram as poucas palavras que eu escutava sair pela boca dela nessas duas últimas semanas. Tinha começado a explicar o plano dos Comensais aos poucos para ela ir digerindo com mais tranquilidade, então ela se deitava e eu me retirava, deixando-a descansar, tornando a fazer tudo de novo no dia seguinte.

            Rodei a maçaneta com a minha mão direita e a vi sentada em cima da cama, ainda de pijamas de frio – apesar do inverno já estar em seu cabo – abraçando o seu travesseiro. Lily sempre fora uma mulher linda, ainda é... Mas seu semblante já estava mais desanimado do que o normal, os cabelos rubros mais desbotados, embaraçados e os olhos... Os olhos verdes dela que costumavam ser vívidos ao me ver, agora tinham se tornado apagados. Realmente parte da Lilian que eu conheci está morta a sete palmos do chão junto ao seu pai.

            – Hey... – disse num murmuro e ela me olhou brevemente, ainda não deixando sua posição inicial.

            – Hey... – respondeu numa voz monótona.

            – Vim ver como está – acrescentei, mesmo sabendo que era a coisa mais estúpida que diria no dia.

            – Estou ótima – replicou na mesma hora, tendo seus olhos fixos na cortina fechada de seu quarto que cobria a porta de vidro que levava a sacada. Há tempos ela não via a claridade do dia.

            Suspirei e com um pouco de dificuldade me sentei na cama, pondo-me em sua frente. Era difícil lidar com a depressão de Lily, era contagiosa, de certa forma, mas eu nunca desistiria enquanto não fizesse alguma coisa para melhorar a situação dela. De alguma forma era como se John tivesse deixado essa missão para mim; disse que se sentiria honrado em ter nós dois juntos como uma família, e eu daria o máximo de mim para que aquilo se tornasse, de fato, concreto.

            – Lily... Olhe pra mim – ela desviou os olhos arregalados que antes devaneavam em alguma coisa e me olhou. Suspirei, piscando surpreso. Era a primeira vez em duas semanas que ela me olhava nos olhos. – Sabe que estou aqui por você. Pode falar o que quiser, não direi nada para te contrariar. Sempre estarei aqui por você – estendi minha mão para tocá-la no rosto, mas ela se desvencilhou. De alguma forma ela ainda me evitava.

            Suas reações eram piores do que o ódio que ela nutria por mim em um passado não muito distante. Sentia-me aturdido o tempo inteiro por estar ali e não poder fazer nada para desfazer o que já havia sido feito. Lily evitar meus olhares, meus toques e nem ao menos trocar uma palavra nem comigo nem com ninguém. Era a pior das dores que eu sentia desde a noite do dia 28, onde ela passara a noite chorando antes de ir ao funeral no dia seguinte.

            Eu queria ser o porto seguro de Lily. Na verdade, eu já era o porto seguro dela, só precisava fazê-la enxergar isso; enxergar que pode estar comigo e que podemos enfrentar qualquer obstáculo se estivermos juntos, unidos como um só, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, para sempre.

            Antes de receber a notícia do falecimento de John Evans, mil e uma cenas de como eu pediria Lily em casamento passavam pela minha cabeça, visto que seus pais tinham me dado as bênçãos. Era cedo, todos nós sabíamos disso... Mas por que esperar? Já não éramos tão jovens assim e amor era uma coisa que ambos nutríamos um pelo outro, então casamento não seria um passo maior que nossas pernas pudessem dar. Pelo menos não até aquele momento.

            Agora com tudo isso acontecendo... Era inimaginável o que se passava pela cabeça de Lily nesse momento. Ela não tinha mais pai, emprego, Harry... Tinha perdido tudo. Ou quase tudo. Eu ainda estava ali por ela... Eu significava alguma coisa para ela, não significava?

            — Olha... Eu sei que não é uma boa hora para falamos nesse assunto, mas... Como estamos? – perguntei direto. Queria esclarecer as coisas de uma vez por todas. Ela, pela primeira vez em semanas arregalou os olhos e corou. Ela esperava que eu terminasse com ela...

            – Não sei do que está falando... – ela agarrou os joelhos e abaixou a cabeça.

            – Claro que sabe. Somos namorados, Lily. Gostaria de ser bem mais do que você está me considerando agora... Eu posso ser muito mais— ela suspirou.

            – Meu pai morreu, James – ela disse e eu senti uma facada no meu peito no mesmo instante.

            – Eu sei, meu amor. E eu vou te ajudar a superar, mas só se você se permitir ser ajudada – disse paciente e ela inesperadamente me abraçou e afundou a cabeça no meu pescoço, como se quisesse aspirar todo o perfume que pudesse em uma inspirada só.

            Não tive outra reação a não ser retribuir o abraço com todo o carinho que eu tinha guardado para esse momento em específico. Ela tinha começado a chorar mais uma vez.

            – Eu não tenho mais n-ninguém – ela soluçou enquanto segurava firme na minha camiseta molhada agora com suas lágrimas.

            – Não seja boba, Lily. Você tem a mim, a sua mãe, suas amigas. Todos nós queremos ver você recuperada. Podemos dar um jeito nas coisas... – sussurrei enquanto deslizava minhas mãos pelos cabelos enozados dela.

            – Eu... Eu nem pude dizer adeus... – ela comentou depois de alguns minutos em silêncio. – Eles precisam pagar... – ela disse já retornando ao seu estado inicial de devaneios.

            – Lily... Hey... Shh... – ergui seu queixo em minha mão direita,  fazendo com que ela olhasse para mim. – Vamos superar isso, okay? Estou aqui com você...

            – Está aqui comigo agora, não é? — ela gritou descontrolando-se. – Daqui a pouco voltará a falar com ele, isso é tudo culpa dele, James... — ela se levantou passando a andar de um lado para o outro, perturbada.

            Tinha esquecido da parte que mais me tocava. Lily tinha passado a ter minutos de surto. Conversávamos, parecia que ela iria começar a melhorar e então tudo voltava ao início mais uma vez. Ela voltava a acusar Sirius.

            – Não é culpa dele... Entenda, por favor...

            – Não! Você é que não entende! — ela gritava histérica. Jessica logo apareceria na porta do quarto. Ela respirou ofegante e por um momento pensei que ela estaria tendo ataques de asma.

            – Hey... Acalme-se... – segurei a mão dela e a sentei na cama. Ela escondeu o rosto nas mãos e passou alguns segundos ali. – Vou deixar você sozinha... Volto amanhã, ok? – disse e fiz menção de me levantar, mas senti sua mão segura em volta do meu pulso.

            – Espera... Fica... – ela se repreendeu e encostou a cabeça no meu ombro.

            – Faz mal você ficar dentro de casa o dia todo... O que você acha da gente sair? Não precisa ser muita coisa... – a olhei e ela apertando as próprias mãos acabou assentindo. – Hoje à noite então eu venho te buscar, tá bom? – ela me abraçou mais uma vez e eu saí do quarto.

            Na sala, Jessica Evans seguia instruções em uma vídeo aula de tricô no YouTube da TV Smart da sala. Fui até ela e umedeci os lábios esperando que ela me olhasse.

            – Convenci Lily a sair comigo hoje à noite – disse e a mulher levantou-se do sofá de um salto.

            – Mesmo?! Ah, James... Você é um rapaz tão bom... – ela me abraçou um pouco desajeitada por estar sendo obstruída por meu apoio intenso na bengala.

            Mesmo de modo desajeitado retribuí o abraço sorrindo.

            – Não precisa agradecer, Jessica. Sabe que Lily é muito importante para mim... Vou fazer de tudo para que ela melhore – a Sra. Evans passou a mão pelo rosto úmido e exausto a fim de parar de executar uma ação que viera executando incansavelmente nas últimas duas semanas. Chorar.

            – Sei... E eu fico muito feliz por vocês – ela acrescentou. – Que horas virá buscá-la?

            – As dezesseis, pode ser. Acredito que ela nunca chegou a ver o pôr do sol de cima do London Eye.

            A mãe de Lily abriu um sorriso de orelha a orelha.

            – Não mesmo! Ah... Ela vai adorar! Vou ajudá-la com a roupa... Ela vai estar linda para quando você chegar! – disse animada e eu sorri. Era bom ver que estava trazendo felicidade à elas, agora principalmente.

            – Estarei ansioso para isso – concluí sorrindo de maneira singela e me retirei do apartamento me despedindo da mulher.

            Logo depois da porta de número 5972 se fechar atrás de mim, retorno ao meu apartamento pela centésima vez em quinze dias. Era extremamente difícil saber que os Evans tinham que passar por tamanhas desgraças, uma após a outra.

            Gemi assustado ao entrar no meu quarto e deparar-me com a figura de Sirius Black estirada em cima da colcha desarrumada da cama.

            – Sirius... – adentrei o espaço mancando e encarei seus olhos acabados. Ele provavelmente não dormia uma noite inteira de sono sequer desde o dia vinte e oito.

            – Pontas... – ele despertou de seus devaneios e sentou-se para me encarar melhor. – Estava na casa de Lily?

            – Estava... – respondi sereno e sentei-me ao seu lado, deixando a bengala deitada no chão ao lado das pernas dianteiras da cama.

            – E aí? – ouvia aquela pergunta todo santo dia e temia não poder respondê-la de outro jeito. Era aterrorizante não poder mudar essa situação agonizante.

            – Ainda na mesma. Sinto muito, Six... – ele suspirou inconformado e desmontou mais uma vez sobre a cama.

            – Ela nunca vai me perdoar, cara... – ele cobriu o rosto com as mãos e ali permaneceu.

            Respirei fundo e apoiei a cabeça na mão direita suspirando pesaroso.

            – Não desista, Black... Consegui fazer Lily aceitar sair comigo hoje à tardinha. Talvez eu consiga falar com ela sobre isso e-

            – Vai mesmo?!— ele se levantou de súbito e sacudiu meus ombros como se tivesse acabado de arrumar um esquema para ele (se é que ele precisava disso).

            – Vou... Só preciso que você me ajude na carona. Sabe como é... – bufei e revirei os olhos lembrando que ainda estava recuperando meu corpo.

            Ele se ajeitou e assentiu com a cabeça.

            – Só... Não conta pra Holly nada disso, ok? – pedi e ele me encarou. – Sabe que ela está evitando as meninas também... Vou tentar convencê-la de voltar a falar com elas – ele suspirou e concordou.

            Conversamos mais alguns minutos e ele finalmente deixou o meu apartamento. Comi qualquer coisa que tinha na geladeira e corri para me aprontar, afinal, não gostava de me atrasar em nada que fazia – mesmo que a casa de Lily ficasse a menos de dois metros de distância da minha –, principalmente quando o assunto era encontros e com Lily Evans, ainda por cima...

            Coloquei uma camisa azul marinho e uma calça jeans preta que combinava. Ajeitei meus cabelos ainda longos – tinha aprendido a me acostumar com eles desta forma, dava um ar mais... Adulto— e coloquei o meu celular já carregado dentro do bolso dianteiro da calça e adiantei-me para o apartamento do meu Lírio. Quando fiz menção de tocar a campainha, a porta foi aberta e a mãe de Lily sorriu de orelha a orelha, assim como fizera de manhã. Ela já estava me aguardando, sabia que eu era pontual.

            – Oi Jess-

            – James! Ah, James! Você está tão lindo, querido... – ela me beijou na bochecha e passou a mão pelo meu rosto.

            – Obrigado – sorri e teria passado a mão entre os cabelos se não estivesse dependendo de uma bengala para sustentação.

            – Ah, pode esperá-la no quarto. Ela está terminando de se arrumar no banheiro... – ela disse e eu assenti com a cabeça, direcionando-me até o quarto de minha Lily.

            Admirei o ambiente e sorri ao ver que estava tudo arrumado, a janela estava aberta e a cama arrumada. A cama em que Lily e eu tivemos nossa primeira vez, a melhor noite da minha vida ou talvez de nossa. Sentei ali por um instante e olhei em direção à sua escrivaninha, ali havia alguns livros, um notebook e uma agenda aberta com algumas canetas extremamente alinhadas fora de um estojo que tinha os dizeres “Do what you love. Love what you do”.

            Aproximei-me dali e sem mexer em nada – era possível que Lily acabasse descobrindo que andava “bisbilhotando” as suas coisas –, fitei o caderno. Havia algumas anotações escritas à caneta e não tinha um erro ou borrão sequer. Lembrava-me perfeitamente do colegial quando ia até as coisas dela na hora do recreio para colocar bilhetinhos entre as páginas de seu caderno totalmente preenchido por sua caligrafia perfeita. Lily era tão perfeccionista que nem tinha corretivo na lista de seu material escolar, se errasse era mais adequado que ela arrancasse a folha de papel fora e começasse tudo outra vez.

            Sorri ao ver as coisas dela ali, ainda não conseguia administrar a ideia de que Lily era a minha namorada.

 Respirei fundo e quando estava prestes a me virar, vi uma folha de caderno dobrada embaixo de um livro de anatomia. Franzi meu cenho e senti meu peito apertar quando corri meus olhos pelas entrelinhas. Era um texto, tinha a mesma caligrafia presente na agendinha, entretanto, o papel se encontrava um pouco enrugado em certos pontos da folha. Ela estivera chorando enquanto escrevia estas palavras. As curvas trêmulas que a sua letra admitia em certos pontos deixava claro que ela tinha perdido o controle sobre si mesma. Pus-me a ler.

 “Naquela noite tudo se apagou. Nenhuma luz, nenhum movimento, a única cara visível era a do escuro e a sensação era de completa solidão. Estar em casa sozinha em pleno blackout não era nada fácil para Lily, ainda mais por ter que lidar com o sentimento avassalador da perda. Seu pai tinha ido para um lugar melhor, ela sabia, mas não aceitava.

Morte. Uma palavra que chega a causar calafrios e qualquer um que tenha amor à própria vida e Lily tinha. Mesmo que ela almejasse do fundo do coração que não temesse a morte, ela temia. Achava que vinte e três anos já era idade suficiente para se tornar mais madura e deixar de ter medos tão bobos quanto este, entretanto, era inevitável.

Ela esbugalhava os olhos estranhando a sensação de estarem abertos para não enxergar nada além da negritude que o seu quarto escuro emanava. Chegava a ser triste, até demais. A moça ergueu-se da cama sentindo suas pupilas arderem, tateou o chão com a ponto dos pés descalços e arrepiou-se ao sentir o frio tomar conta do seu corpo. Lembrou-se, por fim, que seu celular se localizava em cima do criado mudo, mas não fez menção alguma de alcançá-lo. Acreditava que não faria sentido tentar acender flashes de luz sendo que a sua vida estava imersa no escuro; fazia tanto sentido quanto tentar acender uma lareira com lenha úmida da chuva de verão.

Portanto, tornou a se enfiar entre as cobertas mais uma vez e fechou os olhos para sentir-se mais confortável. Talvez tentar dormir fosse sua melhor alternativa. Lily se sentia infeliz, pois sabia que aquele tipo de claridade nada lhe serviria. Estava imersa na sua própria escuridão, e provavelmente, nunca seria capaz de sair.”

Terminei a leitura sentindo uma lágrima descer silenciosamente pelo meu rosto. Lily tinha escrito em terceira pessoa tudo o que o seu coração estava sentindo depois da morte de seu pai. Era devastadora a sensação de ler aquelas palavras. Aposto que ela nunca teria coragem de desabafar com ninguém sobre esse assunto e resolveu que escrever fosse a melhor maneira de deixar todas as suas angústias mais profundas saírem.

Ao ouvir a porta do banheiro ser destrancada, dobrei a folha e a coloquei embaixo do livro, exatamente onde estava. Passei a mão pelo rosto tentando me livrar de todo e qualquer resquício de choro dali e virei-me para a porta do quarto. Lily aparecera. Os cabelos ruivos penteados, uma blusa nude com alguns detalhes e uma calça preta com uma sapatilha de mesma cor. Segurava uma bolsinha, mais parecida com uma carteira retangular, com ambas as mãos e ainda não tinha levantado o olhar para mim, o que tornava visível a maquiagem no seu rosto, que dava mais delicadeza à ela, se é que era possível.

Cambaleei até ela e sorri ao perceber seus olhos encontrarem os meus. Ela parecia bem melhor do que de manhã cedo. Jessica certamente tinha falado com ela.

 – Preciso dizer que você está deslumbrante? – disse ao ver que ela corara em silêncio.

— Você também está bonito, Potter – ela comentou e eu sorri de canto processando o quão sexy era quando ela me chamava pelo sobrenome.

— Pra isso que eu existo, meu amor – comentei ajeitando a gola da minha camisa e ergui as sobrancelhas, ajeitando a armação dos óculos no rosto. Ela sorriu e eu senti uma felicidade incomum me invadir.

Ergui meu braço engessado e ela entrelaçou o braço nele. Andamos até sala, onde a mãe de Lily nos aguardava e ela bateu palminhas, animada.

— O melhor casal que eu respeito – ela disse e nós caímos na gargalhada.

— Obrigado, senhora Evans. Se me permite... Lily e eu já vamos indo. Nós... ahn... – pigarreei. – Não queremos perder... A senhora sabe – completei indagando que ela se lembrasse do lugar que eu tinha dito que levaria sua filha e que tudo tinha de ser surpresa.

— Ah, claro! – ela ergueu as sobrancelhas com uma cara de quem entendeu a referência e afirmou com a cabeça. – Vejo vocês depois então... – ela disse e nós saímos.

Ao sairmos do prédio, meu carro já estava parado em frente à fachada, só que quem o dirigia era meu pai. Sirius provavelmente achou que não seria uma boa ideia nos levar para o passeio – visto que ele era a causa dos surtos da ruiva – e então teve a brilhante iniciativa de chamar meu pai para ajudar. Salvo por algumas trocas de mensagem no decorrer das semanas. Não costumava conversar muito com meu pai, já que ele passava grande parte do tempo ocupado com o trabalho e isso era uma oportunidade para usufruir de sua presença.

Abri a porta traseira para Lily e esperei que ela entrasse. Ela cumprimentou meu pai de maneira simpática e eu adentrei o carro, também no banco de trás, a fim de não deixar minha namorada sozinha.

— Olha só... Meu filho. Um-

— Completo cavalheiro, eu sei – gabei-me completando a sentença que meu pai começara. – Meu nome é James Potter, esqueceu, pai? – acrescentei convencido e afivelei o cinto de segurança.

— Certamente que é – ele respondeu com um sorriso maroto. – Fico feliz por estar cuidando do meu filho, Lily – ele comentou.

Nós três sabíamos quem estava cuidando de quem no momento, mas sabe como é o meu pai, não é?

— Não foi nada, senhor Potter – Lily respondeu um pouco sem saída. – É um prazer estar ao lado de James – ela disse e eu sorri radiante. Meu pai piscou para mim pelo retrovisor e tornou a se concentrar na direção do carro.

Demoraram-se uns vinte minutos para chegarmos ao nosso destino. A conversa foi saudável no caminho. Lily parecia estar se animando cada vez mais e eu ficava ainda mais feliz a cada segundo.

— Obrigada pela carona, Sr. Pot... Digo, Fleamont – Lily disse depois de receber um olhar de censura de meu pai por ter solicitado a ela que deixasse de formalidades.

— Agradeça a Sirius, ele quem... – quando meu pai falou arregalei os olhos em sua direção. Estávamos indo tão bem...

            Lily imediatamente fechou as expressões e encarou os próprios pés. Olhei para meu pai sugestivamente e ele se despediu deixando-nos a sós. Lancei-o um último olhar de cuide do meu bebê/carro.

            – Vamos então? – perguntei oferecendo o meu braço esquerdo imobilizado enquanto me sustentava no outro. Tentei ignorar ao máximo o fato de meu pai ter citado o nome de Almofadinhas em má hora. Tinha planejado toda a nossa tarde e esse assunto, com certeza, não era apropriado no momento.

            Ela afirmou com a cabeça abrindo um sorriso singelo e olhou em volta respirando fundo.

            – Onde você está me levando? – ela perguntou erguendo uma das sobrancelhas. Ela sabia, só queria que eu dissesse em voz alta.

            – Para o alto dessa roda-gigante incrível para observarmos o pôr do sol – seus olhos brilharam e eu não pude deixar de sorrir. – Pode dizer... Eu sou maravilhoso, não sou? – pisquei meus olhos rapidamente fazendo biquinho. Ela riu.

            – Não seja tão estúpido, James Potter – ela revirou os olhos sorrindo. – Vamos logo ou vamos acabar vendo o sol se pôr daqui de baixo junto com todo esse seu convencimento... – ela concluiu e eu franzi o cenho com uma cara de “é mesmo?”.

            Tentei andar o mais rápido que pude – estava me sentindo um Sr.Gold da vida – e entrei na fila VIP.

            – Dois ingressos de entrada rápida, por favor – disse à moça que nos atendia. Ela digitou alguma coisa no computador e logo depois ergueu a cabeça para mim com o olhar sério.

            – São oitenta libras, senhor – tirei duas notas de cinquenta libras da carteira e entreguei-a, que não tardou a me devolver o troco. Olhei para Lily para certificar-me de que a sua reação era a mesma que eu estava imaginando.

            – Você é o desgraçado mais convencido que eu já conheci, Potter – ela comentou enquanto cortávamos a fila.

            – Muito obrigado. Eu também te amo, meu amor – disse e ela me socou de leve no braço.

            Esperamos uns dois minutos até que a próxima cabine chegasse e nós pudéssemos entrar. Aquilo era totalmente diferente de todas as outras cabines de roda-gigante que você já viu na vida, era tão grande quanto o meu quarto, não havia bancos para se sentar ou coisa assim. Ali você apreciava a vista andando de um lado para outro. Era como voar, só que com alguns vidros te cercando. Lily aproximou-se da superfície do vidro e observou as ruas da cidade ficando cada vez menores à medida que a roda-gigante ia nos levando para o alto.

            – Céus, James... – ela tocou vidro, como se pudesse tocar o sol com as mãos, que agora trazia um tom alaranjado às nuvens. – É... lindo— ela observou  mais um pouco e depois levou seu olhar para mim.

            Seus olhos verdes agora brilhavam como duas esmeraldas recém-polidas. Aproximei-me dela e tentei-me equilibrar sem a minha bengala imbecil. Toquei o rosto dela com as costas das mãos e sorri. Ela encostou a cabeça sobre o meu ombro e ficamos ali, abraçados, observando a beleza da natureza. Sentia meu peito se aquecer, não só por causa do sol que estava se pondo deleitoso, mas por estar ali, ao lado dela.

            – Obrigada... – ela sussurrou depois de alguns minutos que passamos aproveitando o nosso silêncio. Respirei fundo abrindo os olhos e beijei o alto de sua cabeça, sentindo o aroma de lírios exalar de seus cabelos. – Mas... Você não precisa fazer tudo isso só porque está com pena de mim.

            – Sempre estarei aqui por você, Lily – respondi e me afastei um pouco para que pudesse olhá-la nos olhos. – Olhe... Eu sei que pode parecer um pouco cedo, até demais, mas... Eu te amo e você é a pessoa com quem eu mais me importo na vida – suspirei e ela me olhou sem entender. – Não estou com pena de você. Estou te apoiando, porque isso é tudo o que eu sei fazer.

            Nossas mentes estavam totalmente exaustas e confusas devido a tantos acontecimentos repentinos – dos ruins pelo menos –, mas o que custaria só mais um pra coleção? Dessa vez seria diferente... Estaríamos ali pro que der e vier, enfrentando os obstáculos juntos.

            Ela uniu os dedos indicadores várias vezes, pensativa.

            – Sinto muito por ter feito você ir à minha casa todos os dias sendo que eu não deixava você nem ao menos... – ela suspirou fechando os olhos.

            – Hey...  – levantei o rosto dela. – Não se preocupe comigo... Eu te visitei todos os dias porque eu quis. Acha que eu conseguiria passar um dia só sem ver a pessoa que eu mais amo nesse mundo? – disse e ela sorriu corada, me abraçando.

            – Não sei por que demorei tanto para perceber... – suspirou.

            – O quê?

            – Que a culpa não é do Sirius... – franzi o cenho. Até hoje de manhã ela estava culpando-o como responsável pela morte do pai...

            – O que a fez enxergar isso? Ou melhor... Quem? – perguntei calmo.

            – Minha mãe... – ela desviou o olhar para o sol ainda poente. – Ela tem me ajudado muito com... Você sabe. Você também tem me ajudado, mas... Ela também o perdeu, assim como eu. Deve estar sentindo muito mais a falta dele do que eu sinto e ainda teve forças para ajudar a sua filha depressiva.

            – Você não está depressiva... – ela me fitou. – Só perdeu alguém que você ama. É normal, Lily. Mesmo que doa agora... Com o tempo, talvez, passe a doer menos... – disse e ela assentiu com a cabeça.

            – Eu devo a ele desculpas...

            – Ele ficará muito feliz em saber que o perdoou. Esteve perturbado com isso – constatei lembrando a profundidade que as olheiras de Sirius tinham dado em seu rosto. Ela assentiu.

            Lily tirou o celular – um novo que eu tinha comprado para ela, já que o dela tinha sido levado para a investigação – do bolso e tirou uma foto do pôr do sol.

            – Pra guardar de recordação... – quando comentou, já tinha tirado uma foto dela.

Ainda pretendia preencher aquele Álbum da Ruiva até que todas as folhas estivessem completas. Suspirei e fiquei ali a admirando por um bom tempo. Como eu era caído por ela... Por Deus.

 – James? – saí de meus devaneios. – Você não vem? – ela me chamou quando a porta da cabine tinha aberto. Acompanhei-a.

Caminhamos pela calçada – eu, no caso, manquei – até o ponto de ônibus e nos sentamos ali, esperando o de número 934, que passava na frente da casa dos meus pais. Lily franziu o cenho estranhando.

— O que estamos fazendo aqui? – ela perguntou e eu vi o ônibus se aproximando do ponto. Ergui a mão e ele parou.

— Quero te mostrar uma coisa... – disse e segurei a mão dela, adentrando o ônibus vermelho. Sentamo-nos no mesmo andar, visto que, se fôssemos para o andar superior seria mais difícil para a minha locomoção. Lily se sentia desconfortável, talvez porque já estava anoitecendo e queria voltar para casa. – Não se assuste. Ainda estamos dentro do horário. Além do mais, você está ao meu lado, não tem nada a temer – acrescentei afagando seus cabelos depois de sentarmos lado a lado, ela na janela e eu no corredor.

— Não é isso... Você não me amedronta, muito pelo contrário... – ela sorriu. – É só que... Da última vez que eu entrei num ônibus eu estava com... – afastei minha cabeça para encará-la.

— Com quem? – ela permaneceu em silêncio e eu voltei meus olhos para a janela. – Ranhoso... – ela afirmou com a cabeça. – Mas isso não importa, ele está preso agora. Está na cadeia. Não há como ele fazer mal a mais ninguém.

— Mamãe disse que ainda é temporário. Ele não é culpado até que se prove o contrário – suspirei negando com a cabeça.

— Mas de qualquer forma ele estava envolvido. E foi ele que causou toda a discórdia do Harry, então não podemos tratá-lo como inocente de maneira alguma – afirmei.

— Mal posso imaginar como vai ser no dia da audiência... Já não fui grande coisa quando prestei depoimento – ela murmurou.

Havia seis principais suspeitos: Tom Riddle, Bellatrix Lestrange, Narcisa Malfoy, Lúcio Malfoy, Peter Pettigrew e Severo Snape. Nenhum deles tinha recebido alguma acusação adicional, o que só piorava a nossa situação. Eu, mesmo estando extremamente surpreso com o envolvimento de Peter, esperava que alguém fosse descoberto e logo. Lily e a família não mereciam ficar esperando que o assassino fosse encontrado.

— Sei que é difícil, mas precisa deixar esse assunto um pouco de lado... O caso está em investigação constante e logo os detetives virão com resultados. Você vai ver... – falei e ela permaneceu quieta. Acatei o seu silêncio como uma aceitação às minhas palavras.

Ficamos em silêncio pelo restante do percurso, que foi só uns vinte minutos. Cada um parecia mais absorto em pensamentos do que o outro. Descemos do ônibus e andamos uns duzentos metros até darmos de cara com a mansão onde eu tinha crescido. Lily abriu a boca num perfeito “o”.

— Por Deus, James. Isso é a sua casa ou a da rainha Elizabeth II? – ela perguntou abismada e eu caí na gargalhada.

— É no que dá quando o seu pai tem uma empresa de sucesso – eu disse e ela revirou os olhos em minha direção, voltando seus olhos para tudo o que conseguisse ver.

Guiei-a até o grande portão e o segurança anão que trabalhava para nós desde que eu era um moleque acenou para mim ao me reconhecer.

— O pequeno Potter! Nem é mais tão pequeno assim. Bem-vindo de volta! – ele disse colocando a cabecinha miúda na janela aberta da guarita.

— Grampo! Obrigado – sorri para ele. – Meu pai está em casa? – perguntei atravessando o portão logo atrás de Lily.

— Não, senhor. O senhor Potter tinha uma reunião muito importante e inadiável com alguns dos sócios dele e pretende voltar dentro de dois dias – ele respondeu e eu suspirei. Meu pai tinha levado Lily e eu para o London Eye há poucas horas atrás e já estava em reuniões. Coisas de chefe...

— Ah, entendi. Obrigado, Grampo. Caso receba outra notícia dele, por favor, me deixe saber – acrescentei.

— Pode deixar, senhor.

Caminhei alguns passos adentro até chegar à entrada da mansão. Estava muito diferente de alguns meses atrás, que fora a última vez que eu havia visitado aquele lugar. Sempre ficava dentro do meu cubículo de apartamento e nunca tinha disposição de ir à casa de meus pais. Lily segurava meu braço esquerdo, ainda admirada com a imensidão que era aquele lugar.

— Por que nunca me disse que tinha uma mansão? – ela perguntou observando o lustre que iluminava o ambiente da porta de entrada da mansão. Apressei-me a girar a maçaneta e abrir espaço para que ela entrasse.

— Talvez porque você passou a me aturar há pouco tempo? – disse com um sorriso irônico brincando nos lábios e ela riu.

— Faz sentido – ela completou.

O hall de entrada ainda dava visão para duas escadas que se encontravam num ponto mais alto, as únicas coisas diferentes ali era o novo espelho pendurado logo em frente à porta e as tapeçarias que antes eram de linho e agora passaram a ser de voil, um tecido mais delicado e transparente que tinha perfeito caimento quando se tratava de cortinas. Tudo estava bem iluminado, era sinal de que a casa não estava vazia.

Escutei um vozerio vindo da cozinha e segui para o cômodo, onde fomos acolhidos com os sorrisos calorosos de minha mãe, Euphemia e meus avós, pais dela.

— James... Quanto tempo que não vejo o meu neto! – minha avó Meryl fez menção de levantar-se da cadeira, mas eu manquei até ela, dando-lhe um abraço apertado.

— Estava com saudades, vovó... – ela gargalhava.

— Olha só... Meu pequeno Jay – vovô Sully disse sorridente. Corri para abraçá-lo. – Como você está, garoto? – para o vovô eu sempre seria o garotinho que jogava basquete com ele.

— Estou ótimo – sorri. Ia perguntando como estavam as coisas quando vovó adiantou-se.

— Quem é aquela moça bonita ali na porta da cozinha, James? – perguntou com uma cara maliciosa de velhinha. Estava quase me esquecendo... Virei-me para a porta da cozinha e vi Lily com as mãos entrelaçadas, gesto típico de quando está passando por um momento de timidez.

— Ah... Essa é a garota de quem eu havia falado, a minha namorada – disse indo para perto dela. – Lily, esses são os meus avós... Meryl e Sully.

— Prazer em conhecê-los – ela sorriu, cumprimentando-os de longe. As maçãs do rosto rosadas.

— O prazer é todo nosso, querida – vovó comentou e eu sorri em resposta. Vovô apenas observava a cena com um sorriso no rosto.

— Bem... O Shanks está com vocês hoje? – perguntei passando a mão direita pelos cabelos.

Vovó olhou para seu marido como se quisesse que fosse lembrada de alguma coisa.

— Ele estava aqui hoje de manhã, não estava Sully? – inclinou a cabeça para verificar embaixo do balcão.

— Está no jardim. Foi a última vez que a vi – ele disse coçando a costeleta do lado esquerdo do rosto.

— Ótimo. É que sabem... O que tinha dito a você mãe... – direcionei-me à mulher sentada do outro lado do balcão da cozinha com um olhar sugestivo.

— Claro! Já falei com os seus avós sobre isso. Pode ficar tranquilo – ela sorriu e eu assenti.

— Ok. Bem, vou encontrá-la então. Obrigado – disse e vi com o canto do olho Lily acenar para eles.

Saímos pela porta dos fundos, onde demos de cara para o jardim. Ali havia diversos tipos de flores, lírios, inclusive. Andamos pelo caminho de pedras que levava a um pequeno lago de peixes e foi possível notar a enorme bola de pelos laranja gritante, vulgo Shanks.

— Seus avós são muito simpáticos – Lily comentou.

— Eles adoram você – ela franziu a testa confusa. – Venho falando de você para a minha família há anos, Lily. Sabia que você seria minha algum dia... – ela corou furiosamente, mas nada disse.

Sentei-me no gramado à beira da lagoa com um pouco de dificuldade e o gato não fez questão de subir em cima de mim como costumava fazer e eu sabia exatamente o porquê.

Shanks estava posicionado de uma maneira estranha, como se estivesse enrolando o próprio corpo peludo como uma serpente em repouso. Visitas estranhas o assustavam.

— Ei, rapaz. Deixe de bobeiras... Essa garota linda aqui veio te ver – apontei Lily e ele virou a cabeça entediado.

Lily observou o comportamento do bicho e aproximou-se sorrateiramente e tocou a cabeça do gato com as pontas dos dedos, Shanks fez menção de mordê-la, mas ela recuou-se a tempo. Não me mexi, deixei que ela tomasse suas próprias iniciativas.

— Hey... Não precisa ter medo – ela cochichava com o animal preguiçoso.

Tudo o que pude fazer fora admirá-la. Como alguém no mundo tinha a capacidade de portar tamanha beleza? Lily não era só bonita por fora, mas a compreensão, altruísmo e delicadeza que ela tinha eram as características que me faziam ficar cada vez mais apaixonado por ela. Era surreal.

Shanks era um gato preguiçoso que tinha chegado à casa de meus avós há alguns meses e tem trazido certas dores de cabeça, principalmente para a minha avó, que tem alergia a pelos de qualquer animal que seja e também tem agonia de ver o bicho dormindo por aí. Vovó Sully sempre dizia que gente preguiçosa atrai más vibrações e não era diferente com os animais de estimação.

A grande questão era que tinha falado com minha mãe no dia anterior e ela acabou me falando sobre o gato mais uma vez, e como ele estava sendo o motivo da discórdia na casa dos meus avós, talvez pudesse não ser na casa de Lily. Talvez Shanks pudesse distraí-la para que não pensasse em coisas ruins o tempo inteiro ou até mesmo pudesse trazer um pouco de... Felicidade.

— Shanks... Nome diferente... Quem deu? – Lily perguntou. Tinha passado tanto tempo devaneando que nem havia notado que agora o bichano já ronronava no seu colo. Ela levava jeito.

— Na verdade eu não sei... Estava na coleira dele quando o encontraram – suspirei incrédulo com a capacidade do gato de se acostumar tão rápido com Lily, o desgraçado tinha demorado uma semana para parar de miar feio pro meu lado e ela tinha levado só alguns minutos.

— Ele é um amor... – Lily disse em voz baixa acariciando a cabeça do animal, as bochechas vermelhas.

— Que bom que gostou dele, porque... Bem... – passei a mão pelos cabelos. – Estive falando com minha mãe e os meus avós e queríamos que... Queríamos que ficasse com ele – ela arregalou os olhos na mesma hora.

— Mas... Ele é dos seus avós...

— Bem, de certa forma, eles nunca foram muito fãs dele mesmo – soltei uma breve risada nasalada. – Sabe como é... São rabugentos pra essas coisas de animais... E também eu achei que você fosse gostar. Aliás, ele serviria como um amigo para você o dia inteiro, ele não pode discordar ou opinar sobre nada que você fale, porque ele é só um gato. E também ele combina com o seu cabelo – terminei e depois de alguns milésimos calada, ela desandou a rir. – O que foi?

            – Nada... É só que você fica fofo falando assim. Não estou acostumada ainda – ela disse e desviou sua atenção para Shanks mais uma vez. – Bem... Se essa coisa fofa aqui não for fazer falta a Meryl e Sully então eu aceito ficar com ele – sorri.

            – Excelente! – disse animado e me levantei. – Já que já estamos aqui, me acompanhe para eu lhe mostrar o resto da casa – ela animou-se e se levantou logo em seguida segurando o bichano nos braços.

            – Pra mim parece ótimo – ela completou e eu saí na frente entrando para a porta dos fundos mais uma vez.

            – Parece que nós finalmente achamos uma dona para o gato preguiçoso – vovô comemorou por alguns instantes antes de ser repreendido por sua esposa.

            – Sully! Não seja tão indelicado! – Meryl comentou. – Tenho certeza que você vai adorar ficar com ele, Lily – disse ela e eu pude sentir o duplo sentido da frase. Vovó, vovó...

            – Muito obrigada mesmo! – Lily disse em meio alguns risos simpáticos.

            – Ahn... Se não se importam... Vou mostrar o restante da casa para Lily – falei e eles afirmaram com a cabeça.

            – Sabemos que você quer ficar sozinho com ela, James. Eu também era assim com a sua avó. Só... Não apresse muito as coisas, certo? – vovô acrescentou e Lily e eu trocamos um olhar admirado.

            – Sully! Não liguem para ele, meus amores. Pode ir, James. Mais uma vez foi um prazer imenso te conhecer pessoalmente, Lily. Você é realmente como o James costumava nos contar – corei na mesma hora.

            – Obrigada, Dona Meryl – ela sorriu. – Fico feliz por finalmente estar com James – era a segunda vez no dia que ela dizia para alguém da minha família que estava feliz por estar comigo. E como eu estava? Morrendo, obviamente.

            Despedimos-nos de meus avós e minha mãe e comecei a fazer um breve tour pela mansão. Aquilo servia até mesmo para eu ver o quanto tudo tinha mudado em alguns meses sem visita alguma à casa de meus pais. Quando tinha mostrado tudo, finalmente chegamos ao meu quarto. Ao abrir a porta, me deparei com um cômodo perfeitamente arrumado e ainda possuía tudo como eu havia deixado antes de me mudar para o meu apartamento, era tudo tão nostálgico...

            Lilian ficou tão absorta em prestar atenção em cada detalhe do quarto que deixou Shanks escapar de seus dedos. Ela foi até o fundo do quarto e deslizou uma das mãos pelo corpo do violão ali pendurado. Eu tinha variedades. Era como entrar em uma loja de artefatos musicais, afinal, eu sempre fora louco por música e como era realmente muita coisa tive que deixar maior parte dos meus instrumentos para trás na mudança para o meu apartamento. Tinham ali algumas coisas de Sirius, inclusive, visto que ele dormia no mesmo quarto que eu de vez em quando.

            – Uau... – ela deixou escapar. – Eu nunca teria tido coragem de deixar metade disso aqui pra trás – disse ela se direcionando agora à caderneta localizada em cima da minha escrivaninha, onde costumava usar para rascunhar algumas notas musicais. Meu sonho sempre fora me tornar um músico, ainda continua sendo.

            – Tive de ser forte para deixar os meus bebês pra trás – disse. – Sinto falta desse lugar... – murmurei suspirando enquanto observava cada mínimo detalhe de como o quarto se dispunha.

            – Por que saiu da casa dos seus pais? – ela perguntou virando-se brevemente para me olhar.

            – Achei que já estava na hora de desapegar dos meus pais e ir viver uma vida mais independente, entende? Começar a trabalhar e não depender mais deles sempre foi um dos objetivos que eu pretendia alcançar. Foi então que eu comecei a minha carreira de modelo. Consegui ganhar uma grana ainda de início, com o patrocínio eu já tinha saído em várias capas da Men Magazine e mais algumas outras empresas, mas então foi que eu percebi que não estava fazendo o que eu realmente gostava.

            Ela me fitou com um olhar compreensivo.

            – E como foi?

            – Frustrante. É difícil admitir para você mesmo que você está sendo enganado por si próprio, principalmente com alguém que costumava ter o ego tão inflado quanto o meu – ela suspirou.

            – Eu sempre quis medicina... – ela passou os dedos indicador e médio da mão direita sobre a escrivaninha, esfregando-os sobre o polegar para tirar o excesso de poeira. – Quer dizer... Quando eu não era do jardim de infância e queria ser uma dançarina de balé, é claro – ela sorriu e eu sorri de volta sentindo os meus olhos brilharem.

            – Eu queria ser astronauta no jardim de infância – escorei-me encarando a borracha que revestia a parte inferior da minha bengala, que por obséquio tinha sido pega emprestado do vovô Sully.

            – Imaginei – ela riu. – Todo garoto já quis ser algo assim – ela sorriu sentando na cama. – Mas sério, depois disso eu tomei vergonha na cara e parei para pensar o que eu realmente queria para a minha vida, foi aí que a medicina surgiu no meu mundo. Sempre gostei de brincar com as outras crianças até depois de adolescente, então tive certeza que a minha paixão era a pediatria sem a menor sombra de dúvidas. Me mudei para aquele apartamento no mesmo dia que nos encontramos no Três Vassouras— ela pronunciou-se.

Imediatamente flashes de lembranças perpassaram a minha mente. Tempos que eu ainda era modelo... Tempos que eu ainda namorava a Izzy... Tempos que eu ainda não tinha descoberto o meu verdadeiro eu.

— Lembro como se fosse ontem – comecei. – Você entrando no bar logo depois de Holly ter ido te dar uma bronca por ter atrasado. Tinha esquecido a carteira – ela sacudiu a cabeça.

— Como alguém vai para um bar sem levar a carteira? – ela perguntou distraída nos próprios pensamentos. Falava mais para si mesma do que para mim.

— Sinceramente eu não sei – gargalhei e ela depositou um leve soco no meu ombro.

— Deixe-me terminar a história da minha carreira – ela riu suplicante e eu parei de besteiras tornando a ficar em silêncio. – E então eu comecei a trabalhar no hospital. Achei que era a coisa mais certa na minha vida e então... Coisas começaram a dar errado, como você bem sabe e agora... – ela balançou a cabeça curvando o lábio inferior. – Eu não sei mais se o meu sonho é realmente o meu sonho – ela suspirou e eu senti meu peito apertar. – Acho que a música sempre foi uma coisa que nunca me abandonou, de certa forma.

— Posso dizer o mesmo. A música é o que me faz sentir... Vivo — recitamos essa última palavra em uníssono.

— Eu entendo – sentei-me ao lado dela na cama e levei minha mão ao seu rosto. Ela fechou os olhos por um instante. Parecia apreciar o conforto que minha mão lhe trazia e então continuou. – Sobre formarmos uma dupla... Eu gosto da ideia – ela disse e eu sorri encostando minha testa na dela.

Nossas respirações eram serenas, tranquilas como nunca tínhamos presenciado antes. Sentia tanta falta dela nas últimas semanas... Estava me sentindo totalmente realizado só por estar em sua presença agora. Suas mãos seguraram o meu rosto e nossos lábios roçaram.

— Eu adoro – sussurrei sorrindo ao ouvir como soava aquele duplo sentido maravilhoso e então a beijei.

A sensação era simplesmente incrível. Era como uma troca de necessidades, como se ambos fôssemos o combustível do outro. Lily não era só o combustível, mas o motor, os pneus, a embreagem e tudo o que um carro precisava para funcionar perfeitamente. E essa era a grande sacada: Eu nunca seria capaz de “funcionar” direito enquanto não estivesse ao lado dela.

Aproximei-a de mim pela cintura e aprofundei o beijo para largá-la no instante seguinte. Alguém adentrava o quarto. Lily congelou.

— Ah... Me desculpe... Não quis atrapalhar vocês... Eu posso voltar outra hora – Sirius falava da porta do quarto.

— Não! Espere! – Lily precipitou-se e ele hesitou. – Acho que... – ela abaixou o rosto evitando o seu olhar e segurou a minha mão. – Precisamos conversar – ela disse por fim e eu afirmei com a cabeça como se aprovasse a ideia.

Sirius se deu por vencido e adentrou o quarto fechando a porta.

— Posso esperar lá fora se quiser... – comecei, mas Lily engoliu em seco.

— Queria que ficasse aqui comigo – ela disse em voz baixa.

— Como quiser – disse retribuindo o aperto de sua mão.

Sirius engoliu em seco como se estivesse próximo a presenciar Lily assinar o atestado de seu óbito. Lancei-lhe um olhar para não se preocupar e desviei minha atenção para a janela do quarto, a fim de dar a eles um pouco de privacidade.

— Bem...

— Eu sinto muito, Lily – Sirius interrompeu-a mesmo antes dela começar a falar.

— Deixe-me falar – ela solicitou e ele afirmou com a cabeça. Shanks pulou no colo de Sirius como se fornecesse conforto a ele. – Tem sido difícil... Saber que meu pai foi assassinado por alguém e... Não saber identificar esse alguém... Dói e muito. Fiquei duas semanas presa dentro do meu quarto junto as minhas inseguranças... Culpando alguém que não teve culpa nenhuma, no final das contas – ela falava com a voz firme. Parecia já ter tudo ensaiado. – Até me afastei das minhas amigas – ela riu sarcástica. – A vida estava se divertindo bastante com a minha desgraça... Mas graças à minha mãe eu pude enxergar que... – ela fez uma pausa. – Que você não é culpado.

Sirius soltou um suspiro de alívio, seus olhos marejavam.

— Muito obrigado, Lily... Você não sabe o quanto me sinto aliviado por...

— Meu pai sabia do que estava fazendo e não teria morrido para salvar você se não valesse realmente a pena – ele murchou por ter sido cortado. – Eu só quero que saiba que... Eu não te culpo mais pelo acontecido – ela concluiu.

Ficamos quietos por bons segundos e então a coisa mais inesperada de todos os tempos aconteceu. Sirius abraçou Lily e ela retribuiu. Meu amigo a apertava no abraço parecendo que era ele quem tinha acabado de perder o pai e não ela. Chorava como um bebê.

— Eu... Eu sinto muito, Lily. Muito mesmo – ele dizia em meio aos soluços.

Sirius Black não era homem de choro, mas dessa vez ele tinha realmente se sentido pressionado e principal responsável pela morte do pai de Lily, então foi meio que inevitável.

— Tudo bem... – ela sussurrou afagando os cabelos negros de Almofadinhas como uma irmã faz com o irmão mais novo quando este último acaba de acordar assustado de um pesadelo.

Sorri de maneira singela. Lily era tão maravilhosa que a sua personalidade trazia alivio e felicidade a todos ao seu redor. Não parava de pensar no quanto eu era sortudo por tê-la.

O clima foi cortado por um baque vindo da janela do quarto. Os dois que antes se abraçavam, soltaram-se e olharam assustados para a fonte do barulho. Foi então que reconheci a minha coruja, mais velha do que nunca, tinha feito menção de adentrar o quarto, mas a janela estava fechada. Corri até lá e a abri permitindo a sua passagem. Ela voou graciosamente até pousar em cima da cabeceira da cama piando.

— Nikita! – exclamei erguendo meu braço engessado e a coruja pulou sobre ele. – Quanto tempo, minha garota... – sorri alisando suas penas com os dedos.

Nikita era minha coruja desde meus dez anos de idade, seu nome fora dado por mim mesmo por ter crescido escutando a música Nikita do Elton John, era uma música que me trazia sossego na minha época de moleque, mesmo que aquele Jamezinho não soubesse nada sobre ter uma vida conturbada. Dizem que uma coruja vive em média de 15 a 20 anos, então a minha ainda estava bem.

— Ela tem aparecido aqui com frequência – Sirius comentou já com os olhos secos. – Acho que sente a sua falta...

— E você tem vindo bastante aqui, não é? – perguntei ao meu amigo ainda tendo meu olhar fixo em Nikita. Enquanto isso, Shanks ronronava, agora no colo de sua nova dona.

— Papai tem passado bastante tempo por aqui, então achei que não tinha nada a perder – ele coçou a cabeça. – Já voltou a falar com as meninas? – ele perguntou a Lily olhando o celular como se não pudesse se autoprivar de estar em contato com a ruiva.

— Ainda não... – ela suspirou. – Precisava de um tempo sozinha.

— Então acho bom você se apressar, porque a Holly acabou de me mandar uma mensagem e ela disse que está na sua casa agora com as meninas.

Assim que ele terminou de falar, Lily se levantou apressada.

O quê?!— ela arregalou os olhos. – Mamãe deve ter aberto a porta para elas – ela suspirou ao ouvir Shanks miar irritado. Era a segunda vez que ela se levantava e deixava o gato cair de seu colo. – Desculpa, Shanks. Já estamos indo pra casa... – ela pegou o bichano nos braços e olhou de mim para Sirius como se esperasse que alguém se dispusesse a levá-la, já que já passava das nove da noite e já estava escuro e perigoso demais para ela ir para casa sozinha.

— Eu posso te dar uma carona – Sirius disse. – Já que James também precisa voltar para casa...

— Vamos então – me levantei sorrindo e dei uma última afagada em Nikita antes de soltá-la para o lado de fora do quarto.

Descemos as escadas e falamos uma última vez com meus avós antes de deixarmos a mansão e adentrarmos o carro de Sirius. Demoramos por volta de quinze minutos para chegar em casa.

— Obrigada por hoje, James. Não sabe o quanto sinto grata por me fazer sair de casa e... Pelo Shanks – ela sorriu acariciando o gato.

— Sabe que eu faço qualquer coisa pra te ver feliz, Lily – disse e ela me puxou para perto iniciando um beijo.

— Sei que não passa nem perto, mas... – ela mordeu o meu lábio inferior rapidamente. – Acho que posso começar a te recompensar – sorriu.

— Hm... Estou começando a gostar disso – comentei e ela riu corada.

— Os pombinhos vão ficar aí o dia inteiro? Preciso trancar as portas – Sirius disse já do lado de fora.

— Pode trancar – falei em voz alta, o sorriso malicioso brincando em meus lábios.

— James! – Lily repreendeu-me e apressou-se a sair do carro. – Já estou indo. Obrigada, Six... – ela se despediu de Black e entrou no prédio com um sorriso meigo que me fez derreter por inteiro, mesmo que nem tivesse sido pra mim.

— Cara... Você é a pessoa mais melosa que eu já conheci – Almofadinhas comentou com o cenho franzido e eu ri.

— Efeitos colaterais de ser namorado da Evans... – comentei com as sobrancelhas erguidas e um sorriso maroto. – Você e a Holly realmente se acertaram? Duvido que eu seja mais meloso que ela. Nada contra, é claro – fechei a porta do carro e ele travou as portas com a chave do carro.

— Realmente... – ele gargalhou. – A propósito... Estamos bem, sim. Apesar de ela estar ocupada com esse lance do trabalho e tal...

— Ahn? Holly conseguiu um emprego? – perguntei desinformado.

— Conseguiu. Pensei que papai tinha te contado... Afinal, é pra empresa dele que ela começou a trabalhar. Por minha indicação, é claro – ele gabou-se.

— Caramba... Ele não contou – sacudi a cabeça. – Mas fico feliz que ela tenha finalmente começado a trabalhar e... – parei de chofre ao sentir o celular vibrar no meu bolso. Estranhei.

Parei na porta do elevador escorando-me na parede e tirei o celular do bolso atendendo.

James?— uma voz chorosa soou pelo outro lado da linha. Vanderwall.

— Izzy? Está tudo bem? – perguntei assustado.

Na verdade não... Eu... Eu acho que estou...

— Está o que, Izzy? – arregalei os olhos sentindo o desespero tomar conta de mim. Não podia ser o que eu estava pensando...

Eu acho que estou abortando.


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Notas finais do capítulo

Ui ui ui. Parece que temos um problema... heuheuheu
Que que será que o James vai fazer em? O filho dele em jogo... Perigoso.
Galeres, espero que vocês tenham gostado desse capítulo. O próximo vai demorar praticamente o mesmo que esse aqui demorou pra sair. Não se preocupem que sai! haha.
Um beijo enorme e até o capítulo 15 ;)



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