Green Eyes - Jily escrita por Vitória Serafim


Capítulo 1
A Mudança


Notas iniciais do capítulo

Oi gente! Tudo bem? Bem... Essa é a minha segunda fanfic, mas não menos importante, já que se trata do meu otp. Nessa fanfic eu vou trazer o casal Jily, porém fora do mundo mágico, vou tentar colocar os marotos e os outros personagens da mesma era. Espero que vocês gostem! Bem, aí vai...

[Capítulo Revisado]



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— Lily! O café está na mesa, querida! – gritou minha mãe do andar de baixo.

— Já estou indo, mãe! – disse olhando-me no reflexo do espelho que era fixo na porta do meu guarda-roupa.

Arrumei meus cabelos ruivos, que estavam um pouco embaraçados e peguei minha mala que estava ao pé da porta. Hoje seria o grande dia, o dia em que eu deixaria minha casa definitivamente para começar a minha carreira na medicina em Londres, finalmente anos de faculdade seriam usados. Respirei fundo ajeitando o pingente que tinha o formato de um pequeno animal banhado em prata que se aproximava da aparência de um cervo, já que era uma semi-jóia. Meu pai me dera esse pingente no natal do ano passado, uma noite maravilhosa em família à luz da lareira da nossa casa e com uma vista para um jardim branco, forrado pela neve do mês de dezembro do lado de fora. Balancei minha cabeça saindo de meus devaneios e suspirei encaixando a bolsa do meu instrumento musical mais querido sobre o meu corpo, o violoncelo.

O violoncelo sempre fora o instrumento que me movia – eu respirava a música e as notas que eram emitidas da mesma forma que eu inspirava o oxigênio para dentro de meus pulmões. Assim como minha família, a música era a minha vida. Por ironia do destino eu também tinha uma paixão pela medicina, o que fez com que as minhas habilidades de canto e música fossem deixadas para segundo plano – meu pai me deu um quando eu tinha 11 anos, que fora a idade que eu comecei a me interessar pelas aulas de música na escola, eu era uma das poucas pessoas que se interessavam no ramo, até porque a maioria só ligava para o violão e o teclado, desprezando inteiramente a singela beleza de um instrumento tão delicado e suave como o violoncelo.

— Ok... Respira, Evans. Vai dar tudo certo – murmurei para mim mesma e saí do quarto puxando a mala comigo.

Desci as escadas com uma certa dificuldade por conta do peso da mala que não era em vão, já que eu estava me mudando. Meu pai notou o meu esforço e subiu os últimos degraus da escada para me ajudar.

— Deixa comigo, querida – ele disse com a simpatia de sempre, o sorriso que ele costuma abrir sempre que falava comigo já não estava com tanta força assim, talvez porque ele estaria deixando a sua garotinha seguir em frente.

            – Obrigada, pai – abri um sorriso delicado e desci as escadas logo atrás dele.

Ao chegar à cozinha, notei a mesa farta. Mamãe tinha preparado tanta coisa que eu estava me sentindo mal por ter feito ela ter tanto trabalho assim. Havia infinitas combinações para o café da manhã, desde bolos e tortas até pães e torradas de diferentes sabores, as bebidas incluíam o café, obviamente, leite, suco de abóbora e água.

— Mãe... – comecei, mas fui interrompida.

— Não quero que se preocupe com isso, Lily. Sabe que é o último dia que você vai morar nessa casa, então eu tenho todo o direito de fazer um café da manhã digno para você – ela disse insistente e se sentou à mesa onde minha irmã Petúnia já estava acomodada, ela era mais velha do que eu, mas resolveu viver às custas de nossos pais (o que me dava nos nervos), já que papai e mamãe eram bondosos demais para recusarem a presença de suas próprias filhas em sua casa.

Encostei meu violoncelo na ponta da mesa, sentei-me ao lado de papai e peguei uma torrada acompanhada de um copo de suco de abóbora. Estava ansiosa para começar a minha nova vida, embora eu soubesse que seria relativamente difícil ficar longe da minha família, exceto por Petúnia, que era um pé no saco e me atormentava o tempo todo dizendo que eu era a queridinha do papai. Bufei só de pensar nisso e comecei a tomar o meu café. Enquanto isso a conversa se iniciara do lado oposto da mesa.

— Já disse para não deixar as suas roupas espalhadas pelo quarto, Petúnia – mamãe começara enquanto cortava uma fatia da torta de blueberry que estava com uma cara ótima.

— Ah mãe... Você sabe que eu gosto do meu quarto desse jeito, só consigo achar as minhas coisas se ele estiver do jeito que eu o deixei, é a minha bagunça. – Petúnia terminara com uma voz que se assemelhava com a de uma criança de cinco anos quando passa na frente de uma loja de doces e fica emburrada ao ver que não iria comprar as suas tão desejadas varinhas de alcaçuz.

— Não precisa ser arrumado como o de Lily, mas você poderia pelo menos se dar o luxo de tirar as roupas do chão.

Minha irmã bufou e se levantou da mesa com cinco biscoitos e um copo de leite puro, subindo as escadas. Ser comparada comigo era uma das coisas que Petúnia mais odiava na vida, ela era a magrela rebelde que fazia o que lhe dava na telha e eu era a garota certinha, que sempre dava o seu máximo para atingir as melhores notas no que quer que fosse; esse era com certeza um dos principais motivos de minha irmã nutrir sentimentos tão impuros por mim.  Ela mal se dera o trabalho de se despedir, onde eu por outro lado não estava dando a mínima para isso também. Escutou-se o estrondo da porta batendo no piso superior e então papai suspirou com pesar sem dizer nada sobre o assunto.

Depois que terminamos de comer, ficamos conversando por mais alguns minutos, então eu me dei conta de que já era hora de ir. Levantei-me e depois de voltar a carregar meu violoncelo dentro da bolsa, me encaminhei até a porta, onde minha mala já estava a minha espera, virei para me despedir de meus pais e rolei os olhos sorrindo boba ao ver que mamãe estava chorando.

— Prometa que vai nos telefonar sempre que puder! – ela disse me tomando num abraço apertado enquanto enterrava o rosto em meus cabelos. Sorri e depois de alguns segundos que pareciam mais uma eternidade, me recuei para encará-la, passei a mão pelo seu rosto úmido, secando maior parte de suas lágrimas.

— Pode deixar mãe. Vou te atormentar todas as vezes que eu puder – abri um sorriso singelo. Ela levou uma de suas mãos até o meu rosto e tirou uma mecha de cabelo ruivo que caía sobre o meu olho me olhando com ternura. – Eu te amo, mãe – ela me beijou na bochecha ainda chorosa e assentiu com a cabeça, o sorriso largo estampado no rosto. – E a propósito... Obrigada pelo café, estava divino! – seu sorriso se alargou ainda mais.

— Eu também te amo, filha. E o café... Bem... Não foi nada... – ela corou delicadamente.

Logo depois, meu pai e eu deixamos a casa relutantemente. Enquanto ele se ocupava em colocar a minha estufada mala no porta-malas do carro eu fiquei ali a admirar a casa que eu tanto amava, o lugar na qual eu tinha crescido e vivido até minha vida adulta. Aquele jardim tão lindo e vivo, acho que as memórias só tornam as coisas mais interessantes.

Lembro-me como se fosse ontem ainda na minha sétima noite de natal, papai e eu tínhamos combinado de brincar na neve, convidamos a todos daquela casa, o que deu bastante certo, exceto pela imagem de uma Petúnia muito enraivecida sentada à cadeira de balanço com um livro em mãos fingindo lê-lo enquanto me fuzilava com o olhar. Aquele com certeza não fora somente um dos melhores natais, mas também um dos melhores dias da minha vida; felicidade era a palavra correta para descrever aquele momento. O jardim coberto de neve e eu parecendo um frenesi de tão empolgada que estava com o fato de estar escapando das bolas de neve que mamãe propositalmente não acertava em mim, e de principalmente ter conseguido derrubar papai no chão branco e aveludado do nosso jardim. Só percebi que estava hipnotizada com a cena quando escutei um pigarreio vindo das minhas costas.

— Pronta? – meu pai me interrogou com um sorriso fraco no rosto, na qual eu retribuí apenas um gesto afirmativo com a cabeça.

Entramos no carro e assim que o motor ligou, papai fez o favor de ligar o rádio do carro. Uma das coisas que eu mais gostava era andar de carro com meu pai acompanhado de uma boa música no som, nossos gostos eram similares, o que só facilitava ainda mais a situação. Meu pai dominava as músicas mais antigas, sua banda favorita era Os Beatles, assim como a de vovô – e essa, talvez fosse uma das principais razões dele se chamar John, em homenagem a John Lennon, o cantor que meu avô mais admirava na banda – e fazia questão de acompanhar o ritmo ou até mesmo cantar junto com a música e comigo, é claro. Quando “In My Life começou a tocar com a voz de Ed Sheeran, o clima ficou mais suave e nós começamos o nosso pequeno show. Papai batucava as batidas mais secas no volante e balançava a cabeça no mesmo ritmo, enquanto eu assumia o papel de cantar a letra, que era muito linda por sinal.

There are places I'll remember
All my life, though some have changed
Some forever, not for better
Some have gone and some remain
All these places have their moments
With lovers and friends I still can recall
Some are dead and some are living
In my life, I've loved them all

But of all these friends and lovers
There is no one compares with you
And these memories lose their meaning
When I think of love as something new
Though I know I'll never lose affection
For people and things that went before
I know I'll often stop and think about them
In my life, I love you more

Though I know I'll never lose affection
For people and things that went before
I know I'll often stop and think about them
In my life, I love you more
In my life-- I love you more

Apesar da música que tocava ser um cover, papai me acompanhava com louvor, ele não se importava se a música fosse cantada por outra voz, para ele o importante era a essência da letra e o poder que ela trazia para quem a ouvia.

Demoramos apenas uns trinta minutos para chegarmos ao centro de Londres, onde passamos em frente ao palácio de Buckingham, na qual eu sempre ficava fascinada todas as vezes que admirava a imensidão que era a construção, os vastos jardins que ficavam nas redondezas e aqueles guardas engraçados que trajavam vermelho e um chapéu negro e aveludado no alto da cabeça; me engraçava no quão parados eles conseguiam ficar por tanto tempo. Logo mais à frente, avistamos o Big Ben e o London Eye, este último se trata de uma roda-gigante incrível, eu ficava me imaginando se algum dia teria o privilégio de andar nela.

Fazia mais de cinco anos que eu não retornava à Londres, a última vez fora quando eu ainda estudava no colégio em Cambridge, uma cidade ao norte da capital. O colégio era extremamente caro, e como meus pais não tinham condições financeiras para me bancar, eu estudei como uma louca e consegui passar em oitavo lugar e ganhei uma bolsa que bancava mais do que a metade das despesas, o que foi certamente um alívio para todos. Dessa vez as coisas seriam diferentes, eu moraria em Londres, o que era sem a menor sombra de dúvidas uma das melhores chances da minha vida.

Quando chegamos em frente ao edifício na qual eu ficaria, meu pai parou o carro num canto menos movimentado e saiu dele abrindo a porta para mim, sorri em agradecimento e desci do carro arrumando a bolsa em minhas costas mais uma vez e a saia do vestido que eu usava – eu não costumava usar muito vestido,  preferia roupas mais confortáveis, tais como minhas camisetas gola polo e minhas calças jeans extremamente gostosas de usar, mas achei que essa era uma ocasião especial e que merecia uma atenção maior – me ergui em postura e olhei em volta. O caminhão da mudança chegara logo depois, eu tinha chamado minhas duas melhores amigas para me ajudar com a mudança, Holly, minha melhor amiga, e Alice, que vinha com o seu namorado, Frank Longbottom. Eles saíram do caminhão que pertencia a Frank, que a propósito assumia a direção do mesmo. Abriram um largo sorriso ao me verem de longe com meu pai.

— Lily! – Holly gritou sorridente de longe e correu para me abraçar.

— Oi Holly! – a cumprimentei com simpatia e fiz o mesmo com Alice e Frank.

— Sr. Evans – os três disseram em uníssono enquanto o cumprimentavam com um aperto de mão, exceto Holly que era tão maluquinha que pulara nos braços do meu pai o abraçando com euforia.

— Olá pessoal – meu pai disse um pouco constrangido, ele sempre ficava assim quando estava perto dos meus amigos, mesmo sabendo que eles já eram de muito tempo atrás. – John, me chamem de John.

— Certo, John – Holly disse com inquietude. – Pode deixar que vamos ajudar essa aqui em tudo o que ela precisar, não precisa se preocupar – ela disse como se eu fosse uma criança de 10 anos que não podia ficar sozinha em casa, caso contrário ela entraria em chamas em minutos. Meu pai riu.

— Ótimo. Obrigado, Holly – papai se manifestou ainda tentando conter a risada por ter que enfrentar o olhar penetrante que eu lançara a Holly há instantes atrás.

Depois disso começamos a conversar e decidir o que cada um poderia fazer para agilizar todo o processo da mudança.

— Alice, você pode ficar encarregada de limpar algumas coisas, comece pelos móveis; porque à medida que fomos desempacotando as coisas já vamos guardando tudo – ela concordou de imediato. – Frank, você pode ficar com a parte de carregar as caixas mais pesadas, já que só temos franzinas aqui – Holly olhava para o caminhão de mudança já aberto, enquanto separava as tarefas entre nós como se a mudança fosse dela. – Eu e Lily vamos ficar com as caixas mais leves e iremos desembalar tudo.

Meu pai pigarreara pela segunda vez essa manhã quando percebeu que provavelmente não estava se encaixando em nossas conversas. Virei-me para ele e o encarei, ele esboçava um sorriso simples, porém seus olhos mostravam um grande pesar. Suspirei e deixei Holly tagarelando com os outros enquanto me dirigi a ele abraçando-o com firmeza. Dessa vez eu realmente contive a vontade de chorar. Era impressionante que antes eu vira minha mãe aos prantos e nem mesmo me comovi, não que eu não a amasse, óbvio que eu a amo, mas com o meu pai era diferente, nós tínhamos uma conexão só nossa e eu era tão grata por ser a sua garotinha que eu não me via longe do seu abraço e dos seus conselhos totalmente reconfortantes. Recuei-me e senti uma lágrima escorrer involuntariamente pelo meu rosto, meu pai me olhou com ternura, assim como mamãe fizera mais cedo e sorriu mais uma vez levando sua mão ao meu rosto fazendo eu o encarar nos olhos.

Meu pai era uma das pessoas que eu mais prezava na vida, talvez pelo fato de ele ser um militar que viaja pelo mundo o tempo todo, era difícil eu vê-lo, e como se não bastasse as suas longas estadias nos Estados Unidos, por exemplo, eu passava a maior parte do tempo estudando para os exames de medicina, que eram extremamente difíceis por sinal. Éramos tão distantes que acabamos nos tornando mais próximos do que nunca.

 Ok, eu sei que é estranho, mas acredito que os pais puxam mais o saco das suas filhas mais novas e vice-versa.

— Hey... Você é forte Lily, sei que é. Você vai morar em Londres e vai realizar o seu sonho de trabalhar no hospital mais renomado daqui, sendo essa pessoa maravilhosa que você sempre foi, vai curar qualquer criancinha só com esse sorriso e carinho que só você tem – foi então que eu não me aguentei, ser elogiada por meu pai era demais para mim, era tão satisfatório que eu não podia descrever aquela sensação. Ele secou minhas lágrimas e beijou carinhosamente minha testa. – Eu tenho tanto orgulho de você, filha.

Funguei e passei as costas da minha mão pelos meus olhos tirando o excesso de umidade que ali existia e então fitei meu pai com uma serenidade inigualável no olhar.

— Obrigada pai. Sabe que eu te amo demais e eu devo tudo isso... – olhei em volta. ­– Ao senhor.

— Eu te amo, Lilian – ele sorriu novamente. – Qualquer coisa telefone a mim e sua mãe.

— Sim, senhor – disse sorrindo delicadamente e vi-o abrir a porta do carro também segurando as lágrimas. – Nos vemos em breve – disse por fim e ele assentiu.

— Tchau – ele entrou no carro e fechou a porta ainda sorridente.

— Tchau, pai... – disse num sussurro ao ver o carro se afastar até sumir de vista.

Respirei fundo, passei minhas mãos pelo meu rosto mais uma vez e tornei a me juntar aos meus amigos.

— Preciso que abra o apartamento para subirmos com as caixas – disse Alice de maneira meiga e acenei em afirmação.

Subi dois degraus da pequena escadaria da entrada e suspirei olhando para trás em busca de uma “mãozinha”. Frank entendeu a minha referência na mesma hora e veio ao meu auxílio, aproveitei e troquei a minha mala com a caixa que ele carregava.

— Nisso que dá uma mala só para carregar os seus 80% de livros e outros 20% de roupas – Holly gritou de longe e eu rolei os olhos negando com a cabeça. Alice, Frank e eu pegamos o elevador para o sétimo andar e desembarcamos no corredor.

 De longe era visível o número 5972 numa porta ao final do extenso corredor. Caminhei até lá e destranquei a porta. Tinha comprado um apartamento com todo o dinheiro que havia juntado da minha economia que vinha fazendo desde os meus 10 anos de idade, e sim, eu sou certinha a ponto de já pensar sobre o meu futuro com dez anos de idade e começar a guardar a minha mesada de vinte libras igual uma maluca. Ao abrir a porta me deparei com aquele lugar maravilhoso, todos os móveis estavam onde eu queria que estivessem. Eu tinha feito a compra deles logo no início da minha faculdade, vinha aqui de vez em quando para instalar os móveis aos poucos e finalmente tudo estava intacto, a não ser as grossas camadas de poeira encontradas em cima dos móveis, mas isso era o de menos, já que Alice seria de grande ajuda nesse quesito.

Ouvi Frank arfar ao meu lado e notei que ele tinha carregado a minha mala com sucesso até aqui, sorri.

— Obrigada Frank, prometo que não vou deixar você carregar essa coisinha aqui de novo – disse num tom de humor.

— Sem problemas, Lils – ele abriu um sorriso simpático dando de ombros e suspirou. – Bom, vou começar a subir as caixas – ele disse por fim e se retirou depois que eu assenti com a cabeça encostando o violoncelo no sofá empoeirado.

Lils era um apelido muito comum entre os meus amigos, eu gostava de ter toda essa intimidade com eles, era bom saber que havia pessoas que quando eu precisasse delas elas estariam ali por mim. Respirei fundo e me pus a abrir todas as janelas para que o ar circulasse e o pó se dispersasse mais. Quando retornei à sala vi Alice com um espanador, um pano e um borrifador em mãos.

— Fique à vontade, Ali, vou ajudar os outros a subirem as caixas e já venho para te ajudar.

— Não se preocupe, deixa que eu cuido da limpeza – ela sorriu.

Alice era uma garota muito humilde, simpática e meiga, era uma ótima companheira e a mais tímida do nosso grupo, era uma santa comparada à Holly, que sempre estava atrás de algum garoto.

 – Tudo bem então – disse dando de ombros e desci de elevador até o térreo para pegar mais algumas caixas.

Depois de aproximadamente cinco horas de trabalho pesado, no que se resumia a limpeza – não só pelo pó, mas a bagunça causada pelas caixas de papelão e pedaços de fita adesiva grudadas no piso de madeira do meu apartamento – desempacotamento, arrumação das louças e objetos de decoração, estoque de alimentos e arrumação das roupas no meu closet e meus livros nas minhas prateleiras, que tinham de ser obrigatoriamente em ordem alfabética, caso contrário os meus instintos de perfeccionista iriam me deixar desconcertada até que o “problema” fosse solucionado. Depois de acabarmos tudo, me joguei no sofá junto a Alice. Frank e Holly estavam tão destruídos que mal se deram o trabalho de se deitar no outro sofá, simplesmente se deitaram no tapete e ficavam se queixando do quão cansados estavam.

— Mas valeu a pena. Obrigada gente – disse depois de ouvir Holly choramingar que suas costas ardiam de tanto tempo que ela ficara curvada arrumando o armário da cozinha.

— Disponha, Lils – os três disseram em uníssono.

Sorri e suspirei fechando meus olhos por um momento enquanto apreciava o conforto daquela posição, que se eu não estivesse tão desgastada não seria considerada da mesma maneira. Então depois de alguns segundos de silêncio Frank se manifestou.

— O que vocês acham de irmos ao Três Vassouras comermos alguma coisa? Estou faminto.

Realmente, estávamos todos famintos, apesar de termos feito algumas pausas para comer algumas besteiras que se resumiam a alguns salgadinhos e outros pacotes de feijõezinhos de todos os sabores (balinhas que tinham sabores variados, meu doce preferido) que Holly trouxera consigo na vinda para cá.

— Eu estava com desejo de cerveja amanteigada de qualquer maneira – disse Alice dando de ombros.

— Por mim parece ótimo. Vou tomar um banho e nos vemos às 21, combinado? – disse aos três que confirmaram animados. Podíamos passar o dia todo trabalhando como elfos domésticos (criaturas mágicas citadas em alguns contos que mamãe sempre lia para mim antes de cair no sono, que trabalhavam incansavelmente com o intuito de servir aos seus mestres, não tinham período de descanso definido), mas na hora da diversão a animação surgia das cinzas e nós nos levantávamos e seguíamos a vida.

— Ótimo. Assim, eu também posso me livrar desse fedor horrível que estou sentindo agora – Holly completou fazendo uma careta e nós todos rimos.

Depois de mais alguns momentos conversando, Holly, Alice e Frank deixaram minha casa e desapareceram no caminhão de mudança já vazio, estava na sacada quando os vi desaparecer pela esquina. Suspirei e tornei a adentrar no meu cafofo, eu mal podia acreditar que finalmente eu tinha a minha própria casa e eu começaria a minha rotina de residente no dia primeiro de agosto, o que era segunda-feira da semana seguinte. Hoje era sexta-feira e era dia de sair e curtir esse novo passo que eu estava dando na minha vida. Sorri embasbacada ao sentir a minha ficha finalmente cair e balancei a cabeça seguindo para o banheiro.

Minutos depois lá estava eu, mais uma vez em frente ao espelho, desta vez de minha penteadeira, passava um batom de cor clara que eu usava frequentemente no intuito de apenas evitar o ressecamento dos lábios, e na maioria das vezes funcionava a não ser nos tempos frios de mais, como no Natal. Ergui-me e caminhei para o espelho maior, que tomava espaço de mais ou menos um terço de uma das paredes do meu quarto e me observei. Estava mais arrumada do que costumava estar, vestia uma camiseta gola polo da cor vinho, um short escuro, uma meia calça preta e uma bota da cor caramelo, meu cabelo estava solto e o secador, que utilizara há alguns minutos, realçara os meus cachos. A maquiagem não estava muito forte e eu estava me sentindo totalmente confortável.

Peguei minha bolsa com algumas coisas bobas, meu celular e deixei o apartamento indo em direção ao elevador, quando a porta se abre no piso térreo vejo uma senhora baixa de cabelos grisalhos, ela me cumprimenta com um sorriso simpático.

            – Lilian! Como vai, querida? – ela diz com uma voz um pouco falha de quem já é idosa.

            – Senhora Figg! Estou bem e a senhora, como vai? ­– a abracei com delicadeza. A sra. Figg era uma senhora que vivia no térreo e já tinha a visto algumas vezes quando trouxe os móveis para minha casa há alguns meses, ela era muito carinhosa e sempre que nos encontrávamos ela me chamava para um chá – na qual eu sempre recusava por estar, de fato, bastante ocupada – era um milagre que dessa vez ela não tenha feito o mesmo.

            – Ah eu estou ótima, melhor impossível – ela sorriu mostrando a sua dentadura gasta que já abusava de um dente de ouro. – Quer me acompanhar até em casa para um chá? – Ok, acho que me precipitei um pouquinho.

            – Er... Sinto muito, é que eu estava de saída – sorri um pouco constrangida.

            – Entendi – ela deu aquela gargalhadinha fraca que acabou engasgando um pouco. – Tudo bem. Fica para outro dia – disse ela e eu saí caminhando, quando percebi que ela ainda falava, me virei. – E a propósito, você está muito bonita, vai se encontrar com o namorado? – ela me olhou sonhadora e eu senti minhas bochechas esquentarem.

            – Ah! Não! Eu vou me encontrar com uns amigos – disse rapidamente.

            – Tudo bem, tudo bem. Vá. Vai acabar chegando atrasada – eu me despedi dela, mas ela pareceu estar concentrada demais apertando o botão do elevador que acabou não escutando, dei de ombros.

            Saí do prédio e comecei a caminhar, a noite estava linda, o que não era nenhuma novidade quando se tratava de Londres, tudo estava iluminado e aqueles ônibus vermelhos de dois andares passavam a todo tempo, eu nunca tinha pegado um daqueles, devia ser porque eu morava mais no interior, onde eles não eram encontrados. Senti a brisa noturna bater sobre meu corpo e estremeci rapidamente, olhei o meu relógio banhado a ouro no meu pulso esquerdo e conferi as horas, eram 21:06.

            Droga.

            Acho que me distrai demais admirando o que estava a minha volta que esqueci para onde estava indo, sorte que eu estava há apenas um quarteirão do meu ponto de encontro e eu apressei o passo, me permitindo chegar ao meu destino em uns quatro minutos estourando. Se tinha uma coisa que eu odiava era perder o horário, meu sentido de perfeccionista simplesmente atacava e eu tinha um acesso de nervos, que era o que eu estava prestes a fazer no momento.

            Em apenas três minutos de caminhada cheguei ao lugar marcado. O Três Vassouras era um dos bares mais frequentados ali perto, pelo menos era o que eu mais conhecia, apesar de ter vindo a Londres o menor número de vezes possível, era um lugar ótimo para tomar uma cerveja amanteigada e comer alguns petiscos enquanto troca um dedo de prosa com alguns amigos, além do karaokê, é claro. Adentrei no estabelecimento ofegante e vi uma Holly eufórica correr para mim e me abraçar.

            – Lily! Aleluia! Já estava pra te ligar, você nunca atrasa – ela disse me esmagando no abraço, o que me sufocou, já que eu estava ofegante.

            – Ok, dessa vez eu acabei me enrolando com a senhora Figg, sabe como é – disse ajeitando as minhas roupas e suspirando já reestabelecendo a minha respiração. – E também... – ia continuar falando do quão fascinada eu estava por finalmente estar em Londres e esse fora um dos motivos que eu tinha me atrasado, porém ela estava centrada em outro assunto no momento e acabou me interrompendo.

Holly estava feliz demais e isso me assustava.

            – Ótimo. Você me conta o que aconteceu depois, agora você precisa ver quem eu encontrei – franzi o cenho e ela me guiou até a mesa onde ela estava sentada antes.

            – Holly eu... – abri minha bolsa ao me dar conta de que eu tinha esquecido a minha carteira.

 Como alguém tem a capacidade de esquecer a carteira quando se sai para algum lugar? Certo, nem eu mesma sei a resposta. Devo estar enlouquecendo.

Quando ergui meu olhar de volta percebi que estavam na mesa, Alice, Frank e de repente meu olhar caiu sobre alguém que eu realmente não esperava ver.

Era um garoto, olhos castanho-esverdeados, cabelo arrepiado como costumava ser, músculos mais definidos do que da última vez e a barba impressionantemente estava por fazer. Minha respiração sumiu ao ver que o olhar do rapaz pairara sobre mim, franzi o cenho, incrédula diante do que estava vendo, ele parecia estar da mesma forma.

— Potter? – permaneci imóvel e espiei pelo canto do olho que Holly sorria vitoriosa. Ótimo, isso só podia ser obra dela. Frank e Alice deixavam escapar risinhos e eu os fuzilei com o olhar.

            Pra você que ainda não entendeu o motivo de tanto espanto, não se preocupe, eu explico.

O rapaz que estava ali na mesa se trata de James Potter, o garoto mais convencido, imbecil e irritante que já conheci, nos conhecemos na escola há uns oito anos. Ele era o “pedaço de carne mais cobiçado da escola”, segundo ele, todas as garotas faziam de tudo para terem a oportunidade de sair com ele, e quando eu digo tudo, meus caros, eu digo tudo mesmo. Enfim, voltando. Com a minha decência e completa capacidade de possuir senso do ridículo, eu nunca fui nenhuma dessas garotas que estavam atrás de homens, sempre fui centrada em meus estudos e determinada para conseguir o que eu mais quero, que é a minha carreira. Potter, por outro lado, estava sempre nos cantos beijando alguém. Toda semana ele aparecia com uma diferente, o que simplesmente me causava ânsias.

Um belo dia ele resolveu que se apaixonar por mim seria uma boa ideia (e eu afirmo a vocês que se apaixonar por uma garota como eu, hahaha,é de longe o seu pior pesadelo. Não que eu não queira me apaixonar, mas enfim), o que ele pensou completamente errado. A partir de então, vim sendo atormentada todo santo dia por essa desgraça de ser humano. Nunca consegui enxergar nada em James Potter. Dizer “sim” para os seus pedidos para sair comigo sempre estiveram e ainda estão fora de cogitação. Concluindo, eu odeio o Potter.

            Ele ficara me fitando de cima abaixo embasbacado e eu ergui minhas sobrancelhas.

            – Vai um babador, Pontas? – uma voz atrás de mim se manifestou e eu me virei para me deparar com a figura de Sirius, acompanhado de seus melhores amigos, Remus e Peter, que também foram meus amigos na escola. Abri um grande sorriso.

            – Sirius! – o abracei imensamente feliz. Fazia tanto tempo que eu não via os Marotos que eu nem era capaz de medir a saudade que eu senti deles, exceto Potter, é claro.

            Marotos era como o grupinho formado por Remus, Peter, Sirius e Potter era chamado. Eles eram tão criativos que até cada um tinha o seu apelido, não sei se me recordo direito, mas eles eram Aluado, Rabicho, Almofadinhas e Pontas. A razão dos nomes serem assim ainda não chegou ao meu conhecimento. Toda essa história das travessuras dos marotos sempre era guardada entre eles, então só ficava sabendo quem realmente era digno de confiança, segundo eles, ou quem fosse bom o suficiente para descobrir por si mesmo, e eu esperava ser uma destas últimas.

            Apesar de sempre serem muito misteriosos com essas coisas, Sirius e Remus, em especial, eram muito próximos a mim, juntamente com Holly, Alice e Frank. Na época do ensino médio combinávamos de estudar na biblioteca e até sair para algumas festas juntos, e eu realmente me divertia muito. Sorri ao notar essas lembranças retornarem.

            – Ruivinha! – ele disse sorrindo depois de termos nos abraçado. – Caramba... Está mais bonita do que eu me lembrava... – tirando o cabelo mais curto e a barba por fazer, Sirius parecia o mesmo de oito anos atrás, pelo menos o meu apelido não tinha mudado. Revirei os olhos corando levemente.

            – Obrigada – disse e acompanhei com os olhos Remus se aproximar.

            – Lils. Quanto tempo! – ele disse me abraçando.

Remus era um dos marotos que eu mais me afeiçoara, não só pelo seu jeito simples, mas também porque ele tinha os mesmos costumes e hobbies que eu tinha, o que só facilitava tudo.

            – Remy! Caramba... Que saudade de vocês – cumprimentei Peter logo em seguida.

            – Eu sei, é muita emoção, Lils, mas vamos sentar logo antes que o Pontas te seque com o olhar dele – ouvi a voz de Holly e a fuzilei com o olhar. Ela adorava me provocar com as coisas que Potter fazia, até porque eles eram melhores amigos na época da escola, não sei se isso ainda continua a mesma coisa até porque eu pedi para que ela não mencionasse mais o nome dele em minha frente, o que milagrosamente ela cumpriu com louvor.

            Diante de tudo aquilo Potter ainda continuava sem exprimir nenhuma palavra, era como se a minha chegada tivesse sido um tremendo choque para ele, e talvez fosse, mas né?

 Seu olhar sobre mim o tempo todo me incomodava então resolvi que me manifestar seria uma boa ideia, afinal, já éramos maduros o suficiente para ficarmos no mesmo bar sem nos matar, o que por outro lado seria impossível há uns aninhos aí.

            – Que foi Potter? O gato comeu a sua língua? – disse apoiando meus braços sobre a mesa enquanto o fitava com as sobrancelhas erguidas. Ele por um momento continuou imóvel, e então seus lábios se moldaram em um sorriso de canto.

            – Bom te ver também, Lily – ele concluiu ainda me encarando com uma expressão típica dele mesmo.

            – Não preciso te lembrar de que pra você eu sou Evans, huh? – disse confirmando com a cabeça quando Holly me perguntara se eu gostaria do mesmo de sempre, em relação às bebidas.

            – Desculpe, mas não estamos mais no ensino médio, ruivinha— ele disse enfatizando o apelido que ele criara, Sirius, por ser melhor amigo dele, adotara o mesmo.

            Quando fui abrir a minha boca para falar alguma coisa vi uma mulher chegar e beijar o pescoço de James por trás, ela sorriu e se sentou animada mesmo sem ser convidada.

            – Cheguei, amor – ela disse em uma euforia não muito compatível com a situação, pelo jeito só os marotos não pareciam surpresos, porque eu tenho certeza de que eu vira Holly de queixos caídos só pela minha visão periférica.

            James parecia realmente constrangido com a cena, ele provavelmente não tinha contado a nenhum de nós quatro que ele se encontraria com a sua namorada, talvez ele até tivesse tentado, mas acho que Holly com a sua impulsividade de sempre deve tê-lo interrompido.

            – Definitivamente não estamos mais no ensino médio— murmurei ainda de sobrancelhas erguidas desviando meu olhar para Holly.

            – Oi gente! – a moça nos cumprimentou com um sorriso aberto de uma ponta a outra a outra.

            – Bem... – James começou passando a mão pelos cabelos – essa é a Izzy.

            – Oi, Izzy – dissemos em uníssono e ela passou o braço por trás de James e com a outra mão segurou a mão dele. Nesse momento eu senti uma repulsão dentro de mim, mais pra um nojo. A grande questão é que a mulher aparentava ser muito mais velha que ele, e quando eu digo isso é idade pra ser a mãe dele, acho que até a mãe dele é mais nova do que essa mulher, mas voltando...

            – Jay e eu estamos saindo, não é namoro oficial porque ainda estamos nos conhecendo, não é Jay? – ela falou radiante e eu tive um breve flash de minha mãe sorrindo quando ela ganhou o presente dela de dia das mães, sério, eu não me aguento.

            – É... – ele falou com o olhar meio perdido e forçou um sorriso.

            Foi naquela hora que o garçom chegou com as bebidas, Holly tinha pedido o nosso favorito que era a cerveja amanteigada – que na realidade não tinha nada de cerveja, era apenas uma bebida que se assemelhava à sua aparência, incluindo a espuma, cujo gosto eu nem sabia descrever, era uma receita secreta que só essa região tinha. – Frank e Alice pediram o mesmo. Já os marotos foram de vodka, juntamente com Izzy. Eu nunca gostei de beber muito. Gostava de coisas mais suaves como vinhos, champanhes e batidas, onde o gosto da fruta sobressaia o teor de álcool.

Ficamos mais um tempo na mesa ouvindo as incríveis aventuras de um mês de namoro não oficial de “Jay” e Izzy, enquanto Holly e eu mexíamos no canudo da nossa bebida. Ela teve a brilhante ideia de darmos uma volta, quer dizer, conversamos com o olhar e deu a entender que fora isso.

            – Gente, preciso ir ao banheiro – ela disse se levantando. – Vamos Lily?

            “Obrigada meu Deus por ter concedido tamanha inteligência a Holly Hall”, foi o que me veio à mente na hora.

            ­– Hm... Claro – disse pegando a minha bolsa e me levantei. – Com licença – disse de maneira breve e nós nos retiramos do recinto, bufei. – Obrigada por isso, estava precisando de um ar mesmo – arregalei os olhos enquanto ajeitava a alça a minha bolsa sobre o meu ombro.

            – Eu percebi. Caramba! Aquela mulher tem idade pra ser a mãe dele! – ela falou indignada.

            – Pois é. Eu pensei a mesma coisa... – disse ainda meio aérea por presenciar aquela situação estranha. Rodamos o bar e finalmente chegamos ao toalete. Holly tirou um estojo de maquiagem da bolsa e começou retocando o seu gloss labial. Holly era, de fato, uma moça linda, tinha cabelos castanhos e olhos claros, também tinha algumas sardas no rosto, e o seu sorriso com certeza desestabiliza qualquer um. Fiquei apenas encostada na parede pensativa.

            Onde será que James tinha encontrado essa mulher? Pelo amor de Deus, em que planeta James Potter “namora” com mulheres com o dobro da idade dele? E se ele tem uma “namorada”, por que ele ficou me olhando tanto?

 Descobri que estava viajando demais quando ouvi a voz de Holly ecoar pelo ambiente.

             — Lily? Você ouviu o que eu falei? – Holly me encarou enraivecida pelo reflexo do espelho.

            – Eu... er... não, me desculpe. O que foi que disse? – disse suspirando enquanto erguia meu olhar para mim.

            – Lilian Evans! Você está com ciúmes de James Potter com uma mãe de família? – Holly se virou para mim com um sorriso malicioso, revirei os olhos.

            – Claro que não. Não seja idiota, Holly. Nunca tive ciúmes do Potter e não é agora que isso vai mudar – disse com firmeza a encarando naqueles olhos azuis que eu conhecia tão bem quanto eu mesma.

            – Sei... – ela voltou a se olhar no espelho terminando de retocar o seu rímel e logo depois saímos do banheiro.

            – Holly... Será que podemos ir pra casa? Estou cansada para caramba. Trabalhamos duro hoje, acho que precisamos de uma pausa – disse parando ela no meio do caminho.

            – Mas Lils! Hoje é sexta-feira! Temos que curtir, afinal é o seu primeiro dia oficial como residente não só de Londres, mas do London Plainsboro Hospital. — olhei para ela com uma cara de “não-começa-por-favor” – Ah Lily... Só um pouquinho mais... Quando derem duas horas a gente vai – arregalei os olhos.

            – Tá louca?

            – Tá bem... Uma e meia – ela rolou os olhos e eu sorri satisfeita.

            – Melhorou. Mas quando der uma e vinte e nove eu quero a senhorita se despedindo de todo mundo, ouviu?

            – Sim, senhora – neguei com a cabeça rindo.

            Holly foi na frente quando eu disse que ia pegar mais alguma coisa pra beber. Não teria futuro nenhum voltar àquela mesa agora e continuar escutando Izzy falando a noite inteira, nós saímos para nos divertir não pra ficarmos babando em cima dos dois, apesar de ninguém são fazer isso. Encaminhei-me até o balcão e pedi uma batida de kiwi, talvez uma pequena dosesinha de álcool junto com a minha fruta preferida não seria mal. Sentei-me em uma cadeira e me despertei com o barulho do meu celular vibrando, sorri ao ver que se tratava de uma ligação de Snape.

            Severo Snape era o meu melhor amigo depois de Remus, tinha conhecido ele aqui em Londres pelo mesmo motivo que havia conhecido a Sra. Figg, ele morava bem próximo ao palácio de Buckingham, tinha uma casa incrível, por sinal. Desbloqueei o celular e atendi.

            – Lily!— ele disse com uma voz animada, que parecia estar carregada de sono por trás, talvez estivesse tão entediado a ponto de ligar para mim as meia noite e quinze.

            – Severo, tudo bem? – disse sorrindo em agradecimento ao garçom, que acabara de me entregar a bebida.

            – Ah. Sim, sim. Eu estou bem e você?— pela sua voz ele sorria.

            – Estou ótima. E adivinha quem está em Londres? – disse com animação bebericando a minha batida.

            – Não brinca! Caramba... Que máximo. Pensei que ainda tinha mais um semestre na faculdade.

            – Eu em... Cinco anos de faculdade não é o suficiente não? – disse num tom brincalhão e ouvi a sua gargalhada gostosa do outro lado da linha.

            – Mas então... Quando podemos nos ver? Quer dizer, antes de você começar a trabalhar.

            – Antes de segunda-feira você quis dizer?

            – Wow, ok, agora você me pegou. Onde vai ser?— ele parecia realmente surpreso e eu comecei a rir.

            – Bem, eu consegui uma vaga para residente no LPH. Podemos nos ver domingo, o que você acha? – disse sorrindo de leve e ele concordou com um “ótimo”.

Marcamos o lugar que seria o nosso reencontro e continuamos a conversar um pouco mais, quando ouço uma voz que eu realmente não estava a fim de ouvir no momento, bufei.

— Snape, será que podemos conversar depois? Tenho que desligar agora... Certo... Até.

            Virei minha cabeça para ver a imagem de James, revirei os olhos.

            – O que você quer Potter? – respirei fundo para me controlar e ser o mais educada e calma no padrão Evans de temperamento.

            – Nada, só vim beber um pouco, ué – ele diz sorrindo de lado e nota que eu nego com a cabeça.

            – O que deu em você pra namorar com uma mulher tão... – umedeci meus lábios procurando as palavras certas. – Madura? – ele deu uma risada nasalada. – Onde está aquele James Potter que gostava de ir a festas e beijar todas as garotas só por diversão?

            – Você quis dizer o James que era louco por você? – corei furiosamente. – É Lily... Não posso te esperar pela vida toda, concorda?

            – Ótimo, pensei que nunca ia desistir – sorri vitoriosa bebendo mais um gole pelo canudinho e ele negou com a cabeça. – Hm – limpei minha boca. – E é Evans – me levantei e ele me encarou mais uma vez com o seu olhar cortante. Deixei uma nota de vinte libras embaixo do meu copo vazio para que depois o garçom pudesse cobrar e saí andando.

            Precisava ir pra casa, pra mim hoje já dera o que tinha que dar. Retornei a mesa e vi que Holly e Sirius se beijavam insanamente, ergui as sobrancelhas e pigarreei. Alice e Frank estavam na pista de dança acompanhando uma música lenta e Izzy parecia já ter ido embora. Holly parou ofegante e ao ver que era eu fez um biquinho    .

— Ah Lilyyy, eu tava no meio de um beijo bom, porque você me atrapalhou? – ela disse com uma voz arrastada que qualquer idiota saberia que ela estava bêbada, Sirius estava da mesma forma.

            – Que ótimo, você bebeu demais... – disse negando com a cabeça.

            – Só um pouquinho – ela fez o gesto com os dedos indicador e polegar para simbolizar isso e deitou no colo de um Sirius fedorento a álcool se acabando de rir.

            – Holly, vem, vamos pra casa – disse puxando ela tentando em vão colocá-la de pé. – Six, onde está Remy e Peter?

            – Ahn? – ele disse se recompondo de um acesso de risos que mais cedo tivera com Holly.

            – Deixa pra lá – suspirei e senti a presença dele de novo, talvez porque ele ainda usasse o mesmo perfume que eu estava acostumada a sentir nele.

            James aparecera mais uma vez e dessa vez pegara uma Holly completamente embriagada nos braços. Ergui uma de minhas sobrancelhas o olhando.

            – Almofadinhas, vou deixar Lily e Holly em casa. Depois volto para te buscar – ele disse de maneira simples e depois sustentou o meu olhar. Sirius apenas se sentou sobre a mesa e fechou os olhos.

            – Mas você bebeu e... – fui interrompida.

            – Eu sou o mais sóbrio daqui, certo Lírio? – ele me provocou saindo em direção à porta e eu rolei os olhos.

            – Evans! – disse ainda me controlando para não começar a me avermelhar de raiva. – Se você vai nos levar pra casa onde está Izzy?

            – Foi embora, disse que tinha uma reunião amanhã cedo e não podia mais ficar – dei de ombros. – Por quê? Está com ciúmes, ruivinha? – ele sorriu com o canto dos lábios e eu estreitei os olhos.

            – Não seja tolo, Potter. Só fiquei curiosa em saber que você leva outras mulheres em casa ao invés de fazer isso com a sua namorada – disse caminhando ao lado dele pelo estacionamento enquanto Holly murmurava coisas sem pé nem cabeça nos braços de James.

            – Eu levo vocês duas para casa com o maior prazer, você sabe disso. E Izzy e eu não estamos namorando ainda – aquela ultima palavra me causou uma dorzinha na boca do estômago que eu justifiquei como fome, só havia bebido essa noite, meu metabolismo clamava por comida. – Estamos somente saindo se é o que você quer saber.

            Olhei para ele brevemente e neguei com a cabeça cruzando os braços enquanto andava e fiquei boquiaberta quando James destravou o seu carro. Era lindo, apesar de não conhecer muita coisa sobre carros eu conhecia esse muito bem, já que meu pai tinha um igualzinho em miniatura na cômoda do quarto dele. Um Ford Thunderbird 1955 da cor branca.

— Mas... Como... – ele deu uma pequena risada e me encarou.

— Meu pai me deu no dia da formatura do ensino médio, está na família desde a geração do meu avô, não só eu, mas a minha família inteira é fascinada por carros antigos – ele concluiu acariciando o capô do seu possante logo depois de colocar Holly deitada no banco de trás.

— O meu também é. Ele tem uma miniatura exatamente igual a esse carro. Parece que eu estou o vendo indo à loucura só de ver uma coisa dessas – sorri ao lembrar de meu querido pai.

— Na verdade eu já sabia disso... – ele passou a mão pelos cabelos e adentrou no banco do motorista e eu vi que essa era a hora que eu também entrava, dei a volta e sentei-me no banco ao seu lado. Franzi o cenho com os seus dizeres.

— Se esqueceu de que eu sei tudo sobre você? – o encarei por alguns segundos e desviei meu olhar para a janela para evitar mostrar a ele que meu rosto estava corado.

— Na verdade eu passei tanto tempo longe de você que eu talvez tenha esquecido de tudo um pouco – disse cruzando os braços e o carro foi ligado, saímos dali.

Pelo caminho em que estávamos eu pude prever que ele estava indo até a casa de Holly, umedeci meus lábios e ergui meu olhar para ele.

— Está indo para a casa de Holly? Na verdade acho melhor ela ir dormir lá em casa hoje, os pais dela viajaram para a Romênia e só voltam no fim do mês – ele me encarou por alguns segundos e por fim assentiu com a cabeça.

— Onde é a sua casa? – ele falou quando paramos no semáforo e uma mulher passou atravessando a rua segurando a mão de um garoto que aparentava uns dez anos, ele era realmente muito bonitinho e... – Lily?

Voltei à realidade pela milésima vez no dia e sacudi a cabeça, estava morta de sono.

— Ah sim. É só virar a direita daqui duas quadras – encostei a cabeça no vidro e esperei que o carro chegasse ao destino num carro totalmente imerso em silêncio que se resumia aos roncos da garota esparramada no banco traseiro. – É bem ali – disse apontando para o meu prédio.

— Mesmo? – ele me olhou surpreso.

— É por quê?

— Porque eu moro aqui também.

Senti tudo parar, os carros que antes passavam em alta velocidade pela avenida passavam mais devagar e meu olhar se encontrou com o dele, aqueles olhos que me encaravam o tempo todo no primeiro ano, quando notei que estava a tempo demais ali, desafivelei o meu cinto e saí do carro sem dizer nada. Não pode ser verdade, simplesmente não pode. Ele se demorou mais uns segundos do lado de dentro do carro e por fim acabou com Holly nos braços mais uma vez. Adentramos ainda em silencio e pegamos o elevador, com o clima extremamente tenso meus braços e pernas não pareciam obedecer mais meus comandos, estavam simplesmente em modo automático. Quando me dei conta já estava do lado de dentro do meu apartamento e James colocava Holly sobre a minha cama de casal que era suficientemente boa para dormir nós duas. Ele voltou a me encarar.

— Seria bom para ela um banho agora, mas... Tenho quase certeza de que não vou conseguir sustentar ela em pé sozinha.

— Está sugerindo que eu dê banho na sua amiga? – arregalei os olhos corando violentamente.

— Não! Claro que não, só estou dizendo o que seria melhor pra ela – umedeci meus lábios e o acompanhei até a porta. Ao passar pela cozinha já se notava que o relógio analógico mostravam as horas 02:57, arregalei os olhos mais uma vez e apressei os passos até a porta o empurrando para o lado de fora. Eu tinha que acordar cedo o bastante para dar uma caminhada e começar o meu final de semana revisando tudo o que eu precisaria saber para o dia de segunda, que a propósito era essencial para mim. – Bem... Obrigada pela carona, Potter.

— Não precisa agradecer, ruivinha. Se precisar de ajuda é só andar até o final do corredor, primeira porta a esquerda.

— Obrigada, mas não vou precisar de ajuda – disse rapidamente e ele sorriu de canto para mim. Esse homem só sabe me provocar, mas que ódio! — Boa noite, Potter – disse fechando a porta na cara dele e bufei encostando a cabeça na porta.

Encaminhei-me direto para o banheiro e tomei um longo banho, estava precisando relaxar depois disso tudo. Vesti meu pijama e me deitei em minha cama ao lado de Hall que estava num sono tão profundo que se podia ouvir ela ressonar.

Que ótimo jeito de começar a minha vida nova! James Potter, o garoto mais imbecil e convencido que já conheci estava não só morando na mesma cidade que eu, mas também na mesma rua, no mesmo prédio e no mesmo andar. Caraca Lily Evans, você é uma grande mulher de sorte!      


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Notas finais do capítulo

E então? O que vocês acharam do primeiro capítulo?



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