Reverso escrita por Camila J Pereira


Capítulo 24
Capítulo 24


Notas iniciais do capítulo

Ai gente... alguns provavelmente vão querer me matar depois de ler esse capítulo.
Mas... o que não seria de uma história sem grandes emoções.
Lembre-se disso quando chegarem ao final do capítulo: ainda faltam mais dois para o fim.



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“Eu descobri onde a minha mãe está hoje. Não é uma contradição? Seu namorado veio me dizer que eles a mantiveram em uma clínica todo esse tempo. Ele a enviou para Boston e me ofereceu essa vaga na escola de música para que eu deixe a cidade e você. Como eles puderam.... Todos esses anos! ”

A visita, as palavras de Jared, todas as lembranças não saiam da sua cabeça. Por isso, ela não dormiu e assim que viu as primeiras luzes da manhã, levantou-se. Deixou um bilhete para Alice, para quando acordasse. Ficar parada dentro de quatro paredes não estava ajudando.

Dirigiu até a costa, dentro do carro ficou olhando para o mar, o movimento das ondas, aquele contínuo vai e vem.  “Você não pode me dizer que sim, que tudo vai ficar bem um dia? Eu acreditaria se falasse para mim. ” Queria muito acreditar que sim, por isso no final afirmou para o amigo que tudo fiaria bem e ele a beijou. Bella não se afastou, pelo contrário, retribuiu. Talvez por um tipo de ligação que se formou naquele momento, mas ela sabia que era só aquilo. Seu coração só poderia pertencer a Edward, por isso ela sofria naquele momento.

Era duro admitir que seu namorado havia aprendido corretamente as lições com seu pai e que as duas pessoas que ela mais amava, tinham essa inclinação para agirem incorretamente. Como ela podia lidar com aquilo? Ela que se sentia a mais frágil, que até a pouco tempo não tinha força de vontade para lutar pelos seus ideais. Tudo tinha sido despertado por Jared e agradecia imensamente. Dessa forma, não poderia abandoná-lo.

Mas o que faria com Edward e seu pai? Não sabia se havia uma maneira de corrigir aquilo. Ela teria que se afastar dos dois completamente ou tentar mostrar-lhes pelo convívio que havia maneiras de se vencer obstáculos sem ser magoando e passando por cima das pessoas?

Assim que amanheceu completamente, saiu do carro e caminhou na areia da praia. Sentia a areia entrando entre seus dedos, era fofa e ainda estava fresca. Seus sapatos nas mãos, via algumas poucas pessoas já se exercitando. Ela não deveria agir tão levianamente naquele momento, caso voltasse para Edward e também para o seu pai, ela teria que saber o que lhe aguardava. Uma grande responsabilidade é amar aqueles dois.

Sentou-se debaixo de um coqueiro buscando a sua sombra. Fechou os olhos sentindo o vento, ouvindo o barulho da água chegando até a costa, as folhas dançando sobre ela. Tudo aquilo era tranquilizador e poderia viver dessa forma longe dos dois. Como Edward havia proposto: Deixar o nome Volturi para trás.

“Onde você está? Está mesmo bem? Volte logo. ”— Alice mandou uma mensagem. Sorriu, ela tinha adquirido muitas coisas boas sendo Bella Volturi, inclusive suas amizades.

Tinha que admitir que Edward estava tentando mudar nos últimos tempos e ela sentia que sim. Porém, haveria sempre essa possibilidade sua de passar dos limites. Ele não sabia quando parar, não respeitava a dor dos outros.

Bella adormeceu na praia, estava tranquila a ponto de dormir longamente. Acordou assustada com algumas crianças brincando na água ali perto. O sol queimava seus pés e ela os encolheu para fugir do calor. Tateou o celular, estava perto do meio dia e achou impossível. Viu que havia uma mensagem de Edward: “Vamos conversar, por favor me procure. Sinto muito a sua falta. ”

Sentiu seu estômago roncar, com fome ela não poderia pensar corretamente. Voltou a caminhar e encontrou um restaurante. Quando terminou de almoçar, quis verificar algumas notícias, fez isso em seu celular. Havia algo sobre a empresa do pai, estavam falando sobre o prêmio que ela receberia aquela noite. Ela tinha prometido que iria, no entanto, tantas coisas haviam acontecido durante a semana e ele provavelmente iria sozinho o que a mídia toda iria comentar.

Mesmo que pensasse seriamente e repetidamente que a sua vida seria muito melhor sem eles dois, como ela poderia realmente ter certeza? Era o amor incondicional que vale a pena no final, então, mesmo tento uma vida mais tranquila como caminhar ao amanhecer diante da praia, ela não teria o amor deles dois, não ao seu lado. Sempre se preocuparia: Eles estariam dormindo bem? Comendo? Estão cuidando da saúde? Os negócios estão bem? Eles estão se falando? Apesar de tudo ela os queria, mas seria nos seus termos.

Iria para casa e conversaria com Edward, a sua vida sem ele não fazia o menor sentido. Qualquer problema que houvesse, ela estava disposta a enfrentar com ele. Trabalhariam juntos para serem pessoas melhores, eles conseguiriam. Depois de todo esse tempo, não imaginou que pudesse ter como sonho, o seu sonho mais forte, estar ao lado dele. Houve até uma época que ela quase o odiou, mas ali estava ela, o amava mais do que tudo.  Sim.... Ela o queria para todo o sempre. E aí estava a resposta para a pergunta dele. Assim que ele quisesse, da maneira que achasse melhor, seria a sua esposa.

Correu para o seu apartamento, mas ele não estava lá. Sem bilhete e nenhuma indicação de onde estaria. Resolveu tomar um banho e ficar agradavelmente bonita para quando ele voltasse. Quando saiu do banho, tentou ligar para ele, mas Edward não atendia. Bella resolveu ligar para Emmet, talvez ele soubesse do Edward ou estivesse com ele.

— Oi, Bella. Como vai?

— Estou bem, Emmet. E como vão você e a Rose? - Perguntou educada, mas queria logo perguntar sobre Edward.

— Estamos bem.

— Que bom, Emmet. – Sorriu, estava sem jeito de tocar no assunto, mas se não fosse sobre Edward o que falaria com o Emmet? – Eu estou procurando pelo Edward...

— Ah sim, não faz muito tempo ele saiu daqui. Talvez ele esteja dirigindo e não quis atender.

— Entendo.

— Que bom que está procurando por ele. Edward estava quase louco.

— Obrigada, Emmet. – Nos despedimos e tentei novamente, mas mais uma vez não houve resposta.

***

Depois de sair da casa do Emmet, depois de ter chorado as suas mágoas para o amigo, ele resolveu distrair-se. Ficar trancafiado não estava ajudando, mesmo com um amigo do lado. Não queria pegar muito no pé da Bella, por isso se continha e não ligava. Mandou uma única mensagem para ela no final da manhã, mas até aquele momento não havia retorno. Ela precisava de mais tempo, então ficaria tranquilo.

Inconscientemente dirigiu até o DiFerro, não entrou. Do lado de fora observou tudo lá dentro. Aquele lugar fazia parte da sua vida e de Bella. Tinha sido lá que iam para comer e conversar, tinha sido ali que a pediu em namoro. Ele sorriu amargo quando pensou que provavelmente teria sido muito mais poético ter pedido Bella em casamento ali também. Não sabia agora se teria a Bella de volta ou mesmo o DiFerro. O seu tio poderia embargar aquilo tudo ou simplesmente designar outra pessoa. Dois sonhos destruídos porque ele havia agido novamente daquela maneira.

Não conseguia expressar o quanto lamentava. Se soubesse que ela se afastaria nunca teria feito aquilo. A sua vida sem ela era sombria, amarga, fria. Bella era tudo para ele, tudo o que sempre quis e ele tinha estragado. Caminhou até a ponte onde haviam trocado os primeiros carinhos. Ele olhou para baixo, para o rio que passava.  Ele era como aquele rio, apesar de na superfície sempre parecer tranquilo, por dentro, Edward sempre teve milhões de sentimentos em choque, esperando uma oportunidade. Bella conseguiu fazê-lo extravasar um pouco, ele conseguia demonstrar o amor, o medo de perder, o ciúme.  Precisava dela em sua vida, mas tinha que admitir que algo dentro dele não funcionava normalmente. Como poderia lidar com aquilo? Como poderia amá-la corretamente sendo aquele tipo de pessoa?

***

Decidiu não esperar mais. Pegou o carro e foi até o apartamento dele. Edward não havia ido lá desde o dia em que pegou o carro no estacionamento, tinha dito o porteiro. Ligou novamente para Emmet que também não conseguia falar com ele. Resolveu ligar para a Sue, foi difícil falar com ela. Sue estava muito preocupada e fazia todo o tipo de pergunta antes que ela conseguisse perguntar sobre o Edward, mas também não sabia sobre ele.

Bella foi até a empresa, não havia ninguém, era final de semana. Então lembrou-se do restaurante que ele amava, seu coração estava apertado. Pressentia algo ruim, algo tão perto e real. Queria vê-lo o quanto antes, queria abraça-lo e beijá-lo, dizer que não importava, iriam seguir juntos. Estava escurecendo e por isso apressou-se mais. Perto do DiFerro, Bella viu o carro dele. Olhou pelo vidro, com dificuldade viu que ele não estava lá dentro. Lembrou-se da ponte e foi em direção a ela.

***

Edward notou que estava sem celular, tateou em seus bolsos e lembrou que havia deixado o aparelho dentro do carro. Dando uma última olhada em volta e para baixo para o rio, sentiu um aperto em seu coração, tão forte quanto um pressentimento.

Tentando afastar aquele mal agouro, ele caminhou despreocupadamente de volta ao seu carro. Estava com as mãos nos bolsos do jeans e parou bem próximo a pista que iria atravessar. Lentamente ergueu a cabeça para a sua frente. Seu coração rapidamente preencheu-se, mas seu corpo estava pesado e preso ao chão. Bella estava parada do outro lado da rua, olhos e boca abertos, surpresa por vê-lo. Os cabelos lindamente desgrenhados, percebeu que tinha ficado emocionada, ele mesmo sentiu seus olhos marejarem. Edward sorriu torto para ela, o que a fez estar perto do pranto. Imaginou milhares de vezes aquele sorriso enquanto o procurava.

“Bella. Você estava procurando por mim?” – Edward moveu seus lábios sem emitir som para que ela lesse seus lábios. Bella assentiu caindo num choro emocionado, ele mesmo estava chorando agora, querendo-a em seus braços.

Algo aconteceu antes mesmo que ele pudesse contê-la. Bella correu para ele sem se importar com nada. Na verdade, ela não enxergava nada ao redor. Tudo tinha perdido o foco, estava extremamente preocupada com Edward, como ele estaria lidando com o seu afastamento que temeu que ele fizesse algo estúpido. Tarde demais percebeu que ela quem tinha feito. Ela parou no meio da pista, Edward estava em choque. Um grande barulho de freio, cheiro de pneu queimado e Bella no chão.

Agora os carros estavam parados, Edward correu até o corpo estendido no asfalto. Seus joelhos cederam perto dela, havia sangue em seu rosto e na sua cabeça, havia sangue no asfalto. Aquilo não podia ser, não era Bella ali com os olhos fechados, negava-se a acreditar. Não poderia ser ela. Estava tão trêmulo, suas mãos vacilavam enquanto tentava não a tocar.

— Chamarei uma ambulância. – Alguém falou ao seu lado. Da sua garganta saiu um grito de horror e ele chorou.

***

— Devemos prosseguir agora o quanto antes, caso contrário, a situação poderá piorar. – O médico lhe informava. Ele tinha repetido duas vezes para que ele entendesse.

— Vão abrir a cabeça dela? - Enfim encontrou a sua voz para verbalizar aquilo.

— De maneira grosseira, é isso. – Edward tentou não perder ele mesmo a consciência naquele momento. – Se a deixarmos nesse estado não haverá melhora.  

— Mas esse tipo de cirurgia...

— Como qualquer outra tem seus riscos. O que eu estou tentando explicar, senhor, é que se não a fizermos aí sim ela não terá chances.

— Tudo bem, podem fazer. – Ele não tinha escolha, tinha se apresentado como o seu noivo e estava responsável por ela.

Tentou não chorar novamente enquanto o médico se distanciava. Suas mãos, assim como todo o seu corpo, pareciam não lhe obedecer, mas ele forçou-se a procurar algum telefone. Assim que encontrou ligou para Sue. Todo o tempo que esteve falando com ela, ele tentou não desabar novamente, Sue tinha feito isso do outro lado da linha. Ela iria encontrar com ele no hospital. Durante o caminho, Sue ligou para o seu patrão chorando e o avisou do ocorrido. Aro desligou imediatamente, saiu da festa sem nem mesmo receber o seu prêmio e correu para o hospital.

Quando chegou na sala de espera, Sue estava abraçada chorando com o seu sobrinho.  Aro tentou controlar as suas emoções, respirou fundo antes de continuar a caminhar para eles. Ele parou diante dos dois, Sue e Edward separaram-se e Aro temeu ouvir as notícias. Sentiu suas pernas fraquejarem.

— Como ela está?

— Em cirurgia ainda. – Edward falou baixo com a voz embargada.

— Que tipo de cirurgia? - Ele tentava se manter informado, enquanto ele mesmo superava aquele abalo.

— Neurológica.  – Aro deu um passo para trás. Ele estava com muito medo naquele momento. - A pancada.... Ela feriu a cabeça... – Aro olhou para Edward, em sua roupa havia vestígio de sangue.

— Explique direito. – Exigiu.

— Ela bateu forte com a cabeça e está com um hematoma cerebral. Eles têm que abrir... – Edward sentiu-se enjoado e fraco e Sue voltou a chorar ao seu lado. – Como o hematoma está localizado em uma parte do seu cérebro, eles disseram que farão uma cirurgia de mínima invasão.

— O que isso quer dizer? - Edward tentava lembrar o básico do que o médico tentou explicar mais cedo.

— Não abrirão toda a cabeça, só a parte afetada. Isso diminui os riscos, ela poderá se recuperar mais depressa também. – Aro tentava digerir aquilo, ele tinha que ser racional naquele momento para o bem da sua família. Tomaria conta de todos como deveria ser.

— Há outros ferimentos?

— Seu braço direito, mas eles já trataram.

Aro deu alguns passos para os lados, tinha que esperar agora. Se pelo menos ele soubesse como pedir ajuda divina, mas ele não sabia e não merecia. No entanto, gostaria que poder pedir que a sua filha voltasse a ficar bem. Ele a amava tanto e tinha sido tão irredutível com ela. Não acreditava que tudo acabasse daquela maneira, os dois brigados. Aquilo o enchia de pânico.

Edward e Sue sentaram. Sue mantinha sua mão na do seu sobrinho. Edward sentia que precisava muito daquilo, estava prestes a enlouquecer. Não conseguia pensar muito bem, ele só sentia vontade de chorar. Enquanto ele ia com Bella na ambulância até o hospital, continuou revivendo todo o seu passado, era algo involuntário e o fazia perder ainda mais a razão.

Ele viu os noticiários sobre a morte dos seus pais e da Renée e reviveu em seu íntimo todo o sentimento passado. Estava tão triste e sozinho na época. Bella era seu único alento, e quando ele voltou do velório, Bella o abraçou forte. Estava tão assustado por ter passado por aquilo, seus pais não existiam mais.

Edward não chorou, preferiu ser forte para Bella. Ela tinha sido tão machucada que seu trauma a impedia de lembrar até de sua mãe. Trancou tudo dentro de si, dedicou-se ao tio e a ela. Mesmo que tenha sido machucado no decorrer de sua vida, ele simplesmente dava o troco, ele nunca chorava, nunca lamentava até aquele momento. Sentia-se destruído, sentia a cima de tudo medo. Se Bella não acordasse ele não teria mais pelo o que viver. Ela não podia fazer aquilo quando tinha decidido mudar completamente por ela.

Não deixou de pensar que se nunca tivesse se envolvido com a mãe do Jared, se não tivesse chantageado o ex amigo, Bella não estaria tão chocada. Claro que eles ainda estariam juntos, amando-se e não afastados. Ela nunca teria precisado sair para procura-lo e não estaria agora com a vida em risco. Todos que ele amava iam de maneira tão drástica? Não percebeu que chorava em silêncio. Aro viu o quão lamentável estava seu sobrinho. Aquilo só fazia seu próprio coração doer ainda mais. Tinha vivido de maneira tão dúbia até aquele momento, arrastando o sobrinho com ele. Aproximou-se de Edward e pôs a mão em seu ombro.

— Bella ficará bem, ela voltará para nós.


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