Adrien tinha uma sessão fotográfica no dia seguinte. Estava habituado àquele tipo de trabalhos desde pequeno no entanto, estava a ser difícil concentrar-se, naquele momento e o fotografo não parecia nada satisfeito com o sorriso doce que Adrien não conseguia tirar da cara desde o dia anterior.

As fotografias iriam promover um dos perfumes mais caros de França e Adrien tinha de transmitir uma atmosfera séria e sofisticada. Não um sorriso de adolescente apaixonado. Por isso, chateado porque achava que tinha acabado de desperdiçar a sua manhã, o fotografo decidiu acabar com a sessão fotográfica e adiá-la para o dia seguinte.

Adrien continuou a sorrir e quase saltitava em direção ao carro, seguido por Nathalie. No entanto, o Gorila, que tinha estado a ajudar na sessão fotográfica, foi detido pelo fotografo.

— Foi um grande risco, aceitar um rapaz com a idade do Adrien. – disse o fotografo – Mas o senhor Agreste garantiu-me que ele seria completamente profissional durante as sessões fotográficas.

Nathalie, que tinha notado o atraso do Gorila, voltou para trás. – Há algum problema?

— Eu não posso trabalhar com o Adrien, assim. – disse o fotografo, virando-se agora para Nathalie – Eu usei-o para modelo também porque ele é filho do senhor Agreste. Mas tive as minhas dúvidas. O senhor Agreste garantiu-me que o filho não seria afetado por nenhumas emoções durante as sessões, mas ele está claramente apaixonado e isso vê-se facilmente. Não vou puder usar nenhuma das fotografias que tirei hoje.

Nathalie olhou rapidamente para trás, onde Adrien mandava mensagens para Marinette, sentado dentro do carro.

— Eu falarei com o senhor Agreste sobre o assunto. – disse Nathalie, virando-se para o fotografo outra vez – Não tem que se preocupar.

— Que seja rápido. O meu cliente é importante e eu não quero perdê-lo. – avisou o fotografo – Se o Adrien não estiver em condições para a sessão fotografa de amanhã, vou ter de mudar de modelo.

— Mais uma vez, não tem que se preocupar com nada. – repetiu Nathalie – O Adrien vai dar o seu melhor, amanhã.

Ainda chateado, o fotografo pegou nas suas coisas e foi embora sem se despedir de nenhum deles. Nathalie voltou para o carro, seguida por Gorila. Não disse nada, durante o caminho inteiro de volta a casa. Nem mesmo quando Adrien perguntou o que é que o fotografo lhes tinha dito.

Quando chegaram, Nathalie dirigiu-se imediatamente ao escritório de Gabriel e expôs-lhe a situação. Um minuto depois, Adrien foi chamado ao escritório do pai. Ainda a sorrir, Adrien entrou e perguntou ao pai se ia demorar muito. Tinha um encontro planeado com os amigos.

No entanto, quando o pai se levantou, o sorriso de Adrien desapareceu. Tinha acontecido alguma coisa. Nathalie tinha dito alguma coisa ao pai.

— Como é que estão as coisas com a senhorita Duppein-Cheng? – perguntou Gabriel.

— A Marinette? – perguntou Adrien, vendo o pai pôr as mãos atrás das costas. Nunca um bom sinal – Porquê a pergunta súbita?

— Eu lembro-me que há algum tempo atrás, a senhorita Duppein-Cheng opôs-se veementemente aos meus planos para ti. – disse Gabriel, sem responder à pergunta do filho – Também me lembro que a protegeste quando eu te disse que ela não era suficiente para ti. Lembro-me que estavas disposto a adicionar o nome Agreste ao nome dela. Isso significa que tinhas sentimentos por ela.

— Não estou…

— Esses sentimentos, evoluíram durante este tempo? – perguntou Gabriel, agora indo direto ao assunto – Estão a sair juntos?

— Dizer isso…do nada… - murmurou Adrien, que não estava a perceber onde é que ele queria chegar. O que é que queria que ele dissesse – O que é que se passa?

— Tu sabes que eu só quero o melhor para ti. Para o teu futuro, certo? – perguntou Gabriel, saindo detrás da sua secretária – O teu convívio com a senhorita Duppein-Cheng não é do meu agrado, mas eu permiti-o, uma vez que ela parece ser uma boa pessoa. No entanto, o teu futuro, da maneira como tu pareces desejar, com ela não existe. O teu futuro é com a senhorita Burgois. Pensava que já tínhamos conversado sobre isso.

— Porque é que estamos a ter esta conversa, agora? – perguntou Adrien, dando um passo atrás.

— Porque alguma coisa parece ter acontecido e, se eu tivesse de adivinhar, diria que foi entre ti e a senhorita Duppein-Cheng. – respondeu Gabriel – Mas tu sabes que eu não gosto de adivinhar.

— Mesmo que tivesse acontecido alguma coisa… - disse Adrien, com cuidado – Não vejo qual é o problema.

— O teu trabalho é o problema. – explicou Gabriel, agora num tom mais grave – A Nathalie reportou que o fotografo queria fazer um contrato com um modelo diferente, porque tu estavas a comportar-te como um pirralho apaixonado.

Adrien fez uma pausa, para pensar que tipo de resposta ou explicação é que podia dar ao pai.

— E se não fosse com a Marinette? – perguntou Adrien – E se tivesse acontecido alguma coisa com a Chloé e fosse essa a causa para a minha distração?

— A senhorita Burgois sabe que não deve interferir com o teu trabalho. – disse Gabriel, surpreendendo Adrien – Até conseguires trabalhos sem teres de usar o meu nome, ela está proibida de fazer qualquer coisa que possa afetar-te.

— Não me diga que falou com ela sobre isso. – o silêncio do pai foi a resposta de Adrien – Como é que pôde fazer isso?

— Não vejo qual é o problema. Ela aceitou sem qualquer hesitação. – disse Gabriel – Porque ela sabe que isso é o melhor para o teu futuro. Para o vosso futuro. Para o futuro da nossa e da família dela.

— Isso… - Adrien abanou a cabeça – Nesses planos todos que fez para o meu futuro, alguma vez pensou na minha felicidade como pessoa?

Gabriel ficou em silêncio durante alguns segundos, como se se tivesse esquecido dessa parte.

— A menina Burgois é tua amiga desde pequena. Ela conhece-te talvez melhor do que eu. – disse Gabriel – Porque é que não haverias de ser feliz com ela?

— O pai disse bem. Ela é minha amiga. – disse Adrien – É muito diferente de…

— É muito diferente do que o quê? – perguntou Gabriel, interrompendo Adrien.

— É muito diferente do que o que eu sinto pela Marinette. – disse Adrien, fazendo com que o pai franzisse as sobrancelhas – E aposto que o pai também não pensou muito no futuro da família quando se apaixonou pela mãe e se casou com ela!

— Adrien! – exclamou Gabriel.

Adrien sabia que não devia falar sobre essas coisas com o pai, mas decidir o futuro dele daquela maneira? Não era certo.

— Eu vou redimir-me e fazer o meu trabalho apropriadamente. – disse Adrien, abrindo a porta – Por isso, não se meta na minha vida pessoal. Nunca pareceu gostar disso, de qualquer maneira.

Gabriel abriu a boca, mas Adrien saiu do escritório antes de Gabriel ter tempo de dizer mais alguma coisa.

Nathalie foi a próxima a entrar, depois de ver Adrien sair.

— O que é que o Adrien vai fazer agora? – perguntou Gabriel, sentando-se atrás da sua secretária.

— O professor de piano acabou de chegar. – respondeu Nathalie – Ele vai estar com o Adrien durante duas horas.

— Chama a menina Duppein-Cheng ao meu escritório. – ordenou Gabriel – Não informes o meu filho sobre a presença dela.

— Sim, senhor Agreste. – disse Nathalie.

Gabriel suspirou quando a assistente saiu do escritório. Já tinha tido a conversa sobre o futuro do filho com a menina Duppein-Cheng e, mesmo assim, ela tinha-o ignorado. Não sabia o que podia fazer mais. Mas não podia deixar que ela se aproximasse mais do filho.

…

Ao contrário de Adrien, Marinette não entrou no escritório de Gabriel com um sorriso no rosto. Ela nunca entrava no escritório dele com um sorriso no rosto…porque sabia que ele não gostava muito dela e, quando a chamava ali era sempre para a tentar manipular ou ameaça-la.

Por outro lado, Gabriel também era uma grande inspiração, por isso não queria estragar a relação entre eles, mais do que já estava estragada.

Quando ele a tinha chamado ali, Marinette já podia imaginar mais ou menos que aquilo tinha a ver com o que tinha acontecido no dia anterior e, apesar de querer sorrir, como Adrien, ou corar, ela continuou com uma expressão fria, impressionando Gabriel.

— Menina Duppein-Cheng, sabe porque é que a chamei aqui? – perguntou Gabriel, olhando de lado para o brinco dela.

— Não, senhor. – respondeu Marinette. Quando notou que Gabriel estava a olhar para o seu brinco, semicerrou os olhos – Algum problema com a minha orelha?

Gabriel voltou a si e abanou a cabeça.

— O problema é a sua relação com o meu filho. Mas nós já falamos sobre isso. – disse Gabriel – Porque é que me continua a desafiar? Acha que eu não sou capaz de…

— De? – perguntou Marinette – O que é que pode fazer ou dizer mais do que já fez e disse até agora? Não tenho qualquer intenção de prejudicar o futuro do seu filho. Mas o futuro do seu filho é dele. Não é seu.

Gabriel ficou calado. Tinha-se esquecido por breves momentos que ela era a Ladybug. E o que seria esperado de uma super-heróina? Não se deixaria intimidar tão facilmente.

Pelo contrário, agora que já sabia quem ela era, devia estar a tentar convencê-la a juntar-se a ele e não a afastá-la.

— Menina Duppein-Cheng. – Gabriel pensou numa maneira para fazer controlo de danos sem parecer muito óbvio – Mostre-me que é digna de fazer parte do futuro do meu filho.

Marinette levantou uma sobrancelha. – Desculpe?

— Traga a sua família para jantar, hoje. – explicou Gabriel, vendo-a com uma expressão confusa – No final de contas, apesar de achar que você não é a melhor escolha para o futuro do Adrien, não quero que o meu filho viva miseravelmente.

— O futuro…?

— Não sei se tem conhecimento, mas o meu filho fala de si como se quisesse tê-la no futuro dele durante um longo tempo. – disse Gabriel, vendo Marinette corar – Eu conheço o pai da menina Burgois. Sem muito bem que ele é uma boa pessoa. Mas nunca tive a ocasião de socializar com os seus pais. E já que Adrien quer tê-la ao seu lado durante algum tempo, eu também terei de passar tempo com os seus pais.

Marinette não sabia o que dizer. Devia dizer que os pais provavelmente não deviam querer comer com ele? Mas isso seria rude e ele parecia estar verdadeiramente a preocupar-se com o Adrien, naquele momento. Será que ele não via que ia ser estranho comerem juntos? Ou talvez ele quisesse jantar com os pais mas não com ela. Esse seria o melhor dos cenários que podia imaginar.

— A Nathalie vai tratar de ligar aos seus pais. – Gabriel fez uma pequena pausa, como se estivesse a ganhar coragem para dizer o que se seguia – Ela também lhe vai dar um vestido. Pode mudar-se no quarto de hospedes. Este vai ser um jantar formal. Os seus pais e o Adrien também serão avisados.

— Por favor, espere lá fora. – pediu Nathalie, apontando para a porta.

Ainda um bocado confusa, Marinette saiu do escritório sem saber que o estava a fazer.

— Senhor Agreste. – disse Nathalie, depois de Marinette ter saído – Não temos nenhuns vestidos nesta casa.

— Temos bastantes vestidos. – contrariou Gabriel, voltando a olhar para o computador.

— Mas…senhor Agreste.

— É uma ordem Nathalie. – disse Gabriel, fechando os olhos com a assistente saiu.

Aquele ia ser um dia cansativo. Mas tinha de fazer aquele tipo de sacrifícios dali em diante se se queria aproximar mais da Ladybug.

Depois de conseguir o que queria, podia livrar-se dela imediatamente.

…

Marinette dirigiu-se para o quarto de hospedes sozinha, uma vez que já tinha lá estado e sabia o caminho de cor.

Depois de ligar para os pais de Marinette e estes terem concordado imediatamente, sem fazerem nenhumas perguntas, Nathalie levou um vestido formal para o quarto de hospedes. Não era um vestido de gala, pomposo. Era um vestido simples, cor-de-rosa, com finas alças. Na outra mão, Nathalie trazia sapatos a condizer.

— Se precisar ajuda com o cabelo, só precisa chamar. – disse Nathalie, pondo o vestido cuidadosamente em cima da cama e os sapatos no chão – O vestido é um bocado grande mas, com os sapatos, deve servir-lhe.

O que é que tinha de mal a maneira como o seu cabelo estava arranjado?, perguntou-se Marinette, um pouco chateada.

— Foi o senhor Agreste que desenhou este vestido? – perguntou Marinette, um pouco curiosa – Não parece ser bem o estilo dele.

— Esse vestido pertence à mãe do Adrien. – respondeu Nathalie, fazendo Marinette abrir a boca – Apesar de eu não gostasse que o usasse, o senhor Agreste deu ordens especificas para que escolhesse um para si. – Nathalie abriu a porta – Esse tom de cor-de-rosa deve-lhe ficar bem.

Marinette queria dizer alguma coisa mas não sabia o quê e, mesmo que quisesse, Nathalie saiu antes que ela pudesse pará-la. Estranhamente, Nathalie parecia apegada às coisas da mãe do Adrien.

Mas…como é que o Adrien ia reagir quando a visse com o vestido da mãe dele?