Photograph escrita por Day


Capítulo 15
XIV — E mesmo que passe o tempo...


Notas iniciais do capítulo

LEIAM TODAS AS NOTAS INICIAIS!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
LEIAM TODAS AS NOTAS INICIAIS!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
LEIAM TODAS AS NOTAS INICIAIS!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

consegui a atenção de vocês? ai que bom. eu vou contar uma coisa, e espero muito que vocês leiam tudo.

não era pra eu estar postando hoje (06/02/2017) e sim dia 22/02/2017. por quê? porque dia 22 faz um ano que uma pessoa mt importante pra mim morreu. triste e pesado. a Nathalia era um ano mais velha do que eu e estudou 3 anos comigo, até que ela foi embora pra Goiânia fazer cursinho pra entrar em medicina na federal. ela era incrível só por isso.
mas, duas semanas (DUAS SEMANAS, GENTE. D U A S) depois que ela se mudou, logo que saia do cursinho, um casal numa moto a abordou e, claro, ela entregou tudo o que tinha, mas não foi suficiente. Nathalia levou um tiro no ombro esquerdo, que atravessou os dois pulmões e ficou alojado no lado direito.
eu nunca achei que ia chorar tanto. ela tava tão longe de tudo, dos amigos, da família, da vida dela aqui, em prol de um sonho e teve toda sua trajetória interrompida muito bruscamente.

ela era incrível (já falei isso, mas preciso reforçar). era a melhor aluna da turma (e do curso!!!! de 8 turmas, ela era A MELHOR ALUNA DE TODAS), era uma jogadora de futsal/futebol/vôlei maravilhosa, ela era ótima em tudo o que fazia. e dói saber que ela não vai mais ser "tão ótima" nunca mais.
quando a notícia chegou pra gente, todo o campus (nós estudávamos no if daqui) ficou quieto, em um silêncio horrível e, claro, de luto. me chamaram pra ir ao velório dela junto com a turma que tinha sucedido a dela, mas eu recusei. eu não queria ir, não queria precisar ver a Nathalia deitada, sem vida, gelada e morta num caixão.

ah, mas eu não me aguentei e fui. fiquei sem ar quando a vi ali, com a ponta dos dedos roxas pela hemorragia, muitos quilos a menos e uma maquiagem excessiva que pudesse cobrir a palidez da morte. eu prometi que não ia chorar na frente da mãe dela, então, assim que cheguei em casa, eu desabei. chorei só de lembrar da imagem dela, em um caixão branco, rodeada por tanta gente que a admirava.

ninguém sabe, mas a música que eu usei como base da fanfic me faz lembrar da Nathalia toda vez. T O D A V E Z. não tem uma só vez que toque Photograph e a imagem dela sorrindo não me venha à mente. e essa associação só existe porque a irmã dela, alguns dias depois do enterro, postou uma foto com o refrão da música como legenda. e eu chorei de novo.

e eu vou chorar para sempre, porque eu amava a Nathalia, eu e muitas outras pessoas. e ela faz uma falta absurda e indescritível aqui. ♥

PS: o capítulo começa com um acontecimento à frente do tempo da narrativa. ficou confuso, mas enfim. boa leitura.



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James percorria aquele caminho, que já conhecia tão bem, com a mesma calma de sempre. Não havia existido uma só vez, em todos aqueles anos, em que caminhara com pressa de chegar no destino de sempre. Não tinha motivo para apressar-se em dar meia dúzia de passos, empurrar uma porta pesada de vidro, subir alguns andares e não ter surpresa alguma ao entrar no quarto 201.

Já ia àquele lugar há tanto tempo que era conhecido pelos funcionários responsáveis por todos os setores que ele precisava percorrer até chegar onde queria. Não tinha levado nem um mês completo para que todos se afeiçoassem a ele, ou que passassem a tratá-lo como tratavam as outras pessoas na mesma posição dele.

No elevador, era sempre como se a ansiedade de James aumentasse de tamanho. Mas, de novo, não haveria nenhuma novidade conforme ele seguia os mesmos passo de todos os dias. Se, por acaso, existisse algo de novo, não seria lá tão agradável ou bem-vindo.

Parado em frente à porta do quarto 201, como se estivesse repetindo um ritual sagrado, respirou fundo e, mesmo sem necessidade, arrumou o cabelo. Era isso todos os dias. Todos os dias, sem falta. Talvez fosse sua assiduidade impecável que o tivesse tornado tão conhecido por todas as pessoas. Mesmo com toda a experiência, sua mão ainda tremia antes de mesmo de girar a maçaneta.

Dia após dia, a imagem que via ao abrir a porta o deixava um pouco mais devastado. Pouco a pouco, todo aquele otimismo que sempre teve se esvaia até não sobrar muita coisa com o que se alegrar. Ainda que sentisse vontade de desabar ou desistir de tudo e deixar que o fosse preciso acontecer acontecesse, James precisava manter-se aparentemente forte.

Forte o bastante para ver, em uma rotina interminável, todos aqueles aparelhos mantendo Lily, sua Lily, viva. Desde quando ela tinha passado a precisar daquilo tudo para fazer algo tão simples quanto respirar? Em qual momento, naqueles anos todos, as coisas passaram a dar errado para terminar daquele jeito?

— Você veio — a voz fraca dela repetia as mesmas palavras todos os dias.

— Sempre.

···

Algumas horas depois de Lily ter dito não e acabado com o próprio casamento, era como se o peso de suas atitudes tivesse finalmente caído sobre seus ombros. Ela sabia que, mais cedo ou mais tarde, todas as pessoas que estavam presentes iriam confrontá-la, enchê-la de perguntas e querer entender o que, de fato, a tinha levado a dizer o que disse.

Enquanto isso — ainda — não acontecia, tudo o que a restava fazer era arrumar todas suas coisas e ir embora. Não iria para casa, no entanto, ou morreria ao ouvir tudo o que Petunia certamente falaria. Um hotelzinho afastado do centro da cidade bastaria. Por dois dias, bastou.

Com a presença de James Potter constante ao seu lado, ficava cada vez mais difícil não pensar no que tinha feito. Também, não era como se ele estivesse ali por nada além de vontade própria. Restavam alguns dias de permanência em San Diego, e nada o impedia de passa-los na companhia de Lily.

Quando, inevitavelmente, ela precisou falar com Amos Diggory, foi quase o pior momento de sua vida. Ela ainda não tinha vivido algo que fosse ruim o bastante para receber o título de pior momento da vida, mas, com certeza, não seria aquele.

Era claro que Diggory estaria furioso, confuso e, sobretudo, heartbroken. Estava envergonhado e falido, afinal, havia gasto todo seu dinheiro em um casamento arruinado e em uma lua de mel que jamais viria a acontecer. Culpava-a por ter dado tudo errado — o que, a grosso modo, não estava errado — e, assim que notou a presença de James, foi como se tudo fizesse algum sentido em seu cérebro.

— Vagabunda! Vadia interesseira! — Amos gritava alto o suficiente para outras pessoas ouvirem.

Toda aquela sessão de xingamentos continuou por algum tempo, até se tornar insuportável. De início, apenas deixaram que ele falasse o quisesse, como se precisasse daquilo para aliviar o             que sentia. Lily, que deveria fazer alguma coisa — qualquer coisa —, tinha como sua única ação ficar parada no canto, com um princípio de remorso e vontade de voltar no tempo e nunca ter aceitado o pedido de casamento.

James, que, a princípio, não deveria se intrometer naquilo, não aguentou ouvir aquelas coisas por muito tempo. Não estava prestes a dizer qualquer coisa por causa de Lily, não só por isso, mas por seu lado sensato chegar à conclusão óbvia de cada palavra que saía da boca de Diggory jamais deveria ser dita a mulher nenhuma, independentemente de qual fosse situação.

— Cale a porra da boca! Não a chame assim!

— Não me faça rir, Potter! — ele respondeu, cuspindo as palavras. — Você não precisa fazer isso para ela te dar hoje, ou amanhã, ou depois. Ela é tão fácil que você nem precisa se esforçar.

Sem pensar muito no que fazia, James fechou a mão em punho e acertou em cheio o olho esquerdo de Amos. O que se seguiu foi uma sequência de agressões aparentemente interminável. Lily, chocada demais diante do que via, não era capaz de fazer nada além de gritar para que eles se soltassem, em vão.

No fim das contas, havia dois homens adultos e maduros o bastante com cortes no lábio ou no supercílio, e uma mulher em completa histeria e choque.

···

Alguns meses depois, eles cederam às circunstâncias e embarcaram em um relacionamento à distância. Mais precisamente, um oceano inteiro. Não podia negar que era complicado, cansativo e desgastante. Os horários que tinham para se verem eram restritos às noites ou às manhãs — cedo demais. Consideravam terminar quase todos os dias. Mas, ainda assim, inventavam algum motivo que pudesse fazê-los seguir com aquilo tudo.

Quando o bebê de Marlene nasceu — uma menininha totalmente adorável chamada Violet —, foi como se James e Lily precisassem daquilo para continuarem juntos. A vontade que ela tinha de gastar todo seu dinheiro em uma passagem de avião e passar dias em Londres se sobrepunha a qualquer parte racional de sua mente.

Mas, seu emprego a impedia de ir. Agora, o máximo de contato que tinha com quem estava em Londres era através de chamadas de vídeo pelo Skype ou ligações que duravam horas — e que, na maioria das vezes, atrapalhava os horários de alguma das partes.

— Eu preciso desligar — Lily lutava contra o sono, mais uma vez. Já passava das três da manhã e ela precisaria acordar em algumas horas para trabalhar. Mas, era sua vez de perder algumas horas de sono ao telefone. — Beijos.

Boa noite. Dorme bem, te amo — as palavras dele a deixaram sem resposta, exceto por uma risada nervosa.

Lily não respondeu o mesmo, não daquela vez, mas tinha pensando nisso mais vezes do que podia contar nos dedos.

Naquela noite, durante as poucas horas que tinha de sono, sua mente trabalhou como um disco quebrado, repetindo as duas últimas palavras de James sem pausa, até que ela ficasse cansada demais mesmo para ficar imersa na melhor sensação que podia ter.

···

A primeira vez em que se viram pessoalmente, como um casal, foi no aniversário de um ano da filha de Marlene. Lily permaneceu durante as treze horas do voo apreensiva, sem saber direito o que a esperava assim que pousasse, ou como deveria agir ou o que deveria fazer. James, por outro lado, parecia estar tão tranquilo quanto podia estar.

O saguão de desembarque do aeroporto de Londres era, constantemente, assim como aeroportos ao redor do mundo, palco de encontros, e reencontros, de casais com as mais diversas histórias. Nada importava no exato segundo em que beijos e abraços eram compartilhados ali, no meio de estranhos.

Lily, que tinha sido sempre reservada e sempre tentou manter-se o mais na sua possível, não se importou em largar suas malas pelo caminho e correr, no sentido mais literal da palavra, até poder estar abraçada a James de novo. Dessa vez, parecia simples, fácil e necessário que tivessem aquele momento; não era estranho, não parecia impróprio e certamente não tinha a sensação de ser errado.

— Senti saudade — ela murmurou, ainda abraçada a ele, apertando o tecido de sua camisa com força, como se precisasse daquilo para uma confirmação mental de que realmente estava acontecendo.

Do aeroporto, seguiram até o prédio de Marlene. Com o mais puro sentimento de nostalgia, Lily observou as ruas de Londres com a mesma atenção e curiosidade que as observou há quase sete anos. O tempo tinha passado muito rápido, tanta coisa aconteceu desde a última vez que ela esteve ali, que era quase impossível começar a listar cada uma delas.

Talvez a mais significativa delas fosse que, desde que estivera ali pela primeira vez, Lily não imaginava que um dia voltaria para conhecer a filha de Marlene. Mesmo que a tenha visto grávida, e visto e pequena Violet mais vezes do que podia contar, a ficha ainda não tinha caído por completo. Ela só iria acreditar, cem por cento, assim que visse a menina pessoalmente.

Lene ainda morava no mesmo lugar, com a mesma fachada e o mesmo porteiro dos quais Lily se lembrava. Parecia que a sensação de déjà vu não iria embora tão cedo, não até que ela pôde abrir a porta do apartamento 317 e dar de cara com uma réplica de Marlene — e com um pouco mais de setenta centímetros.

Lily se derreteu pela criança antes mesmo de rever sua amiga. Durante todo o tempo em que esteve ali, não fez nada além de dedicar toda sua atenção à Violet e às suas distrações completamente adoráveis. Ela percebeu, enquanto deixava-se levar por uma brincadeira de esconder objetos aleatórios, que já era a sua hora de ser mãe, de ter um bebê que fosse seu.

Tarde da noite, muito mais tarde do que a pequena normalmente ia dormir, ela acabou pegando no sono, esgotada pelas horas que passou na presença da ruiva que só tinha tido a chance de ver antes pela tela de um computador — e que, mesmo assim, a reconheceu de imediato. Agora, era a vez dos adultos aproveitarem a companhia um do outro. Marlene não perdeu um só segundo antes de jogar-se nos braços de Lily.

— Eu não sei se aguento para sempre essa distância toda, Lils — choramingou, enquanto sentava no colo dela, como uma criança. — Acho que você deveria morar aqui, sabe? Londres é muito mais legal.

— Lene, você sabe que eu não posso. Mas, se eu pudesse, com certeza viria para cá. — ela respondeu, com pesar na voz. Vontade não faltava de largar toda sua vida nos Estados Unidos e começar do zero na Inglaterra. Contudo, por mais adepta que fosse das loucuras, aquela era grande demais. — Sirius está morando aqui?

— Não, e nem eu estou morando lá. É complicado porque nenhum de nós quer deixar o próprio apartamento, sabe? Então, às vezes, eu passo algumas noites lá ou ele aqui, e assim a gente vai levando.

— Isso não é ruim para a filha de vocês?

— É — Marlene respondeu, sem rodeios. — Podia ser pior, ele poderia se negar a fazer qualquer coisa, o que não é verdade — Lily pigarreou para começar a falar, mas foi interrompida. — Quando você for mãe, vai conseguir entender.

Aquela frase, em nada, parecia pertencer à Marlene que ela conhecia desde criança. Mas, de alguma forma, tinha sido exatamente isso que Lene dissera.

···

Lily não sabia quando se tornaria mãe, ou se isso realmente aconteceria. Não ficou depositando suas energias pensando nisso, imaginando o que mudaria na sua vida se, por acaso, acontecesse. Mas, quanto mais se esforçava em não pensar, mais acabava pensando. A cada foto que via, cada coisa que Marlene contava, ou cada criança desconhecida com a qual cruzava na rua era razão suficiente para despertar um lado materno que ela não sabia que tinha.

Todo o tempo que passou em Londres serviu para deixá-la submersa em pensamentos sobre uma maternidade que não era sua. Agora, contudo, depois de quase dois meses, era hora de voltar para casa, para seu emprego — que, com sorte, preencheria todo o tempo livre que ela destinava a pensar em outras coisas. Era hora de ter, de novo, um oceano inteiro a separando de Marlene, de James.

Trabalhando no setor de relações internacionais de uma multinacional, Lily tinha se acostumado a viajar de avião, especialmente porque seu cargo a forçava a viajar para Toronto a cada duas semanas. Claro que não existia muita comparação entre os voos — de San Diego a Toronto era pouco mais de quatro horas, enquanto que de San Diego a Londres eram treze.

Mas, ainda assim, ela já estava acostumada com qualquer coisa que pudesse acontecer, desde um voo tranquilo a um cheio de turbulência. Já sabia exatamente o que precisava fazer em determinada situação e as vezes em que permitia-se sentir medo eram tão raras quanto neve no deserto.

Ela só não estava sabendo lidar com a sensação de mal-estar que sentia. Conforme o avião se movia no ar, Lily tinha a impressão de que todo seu almoço voltaria a qualquer segundo. Pela primeira vez, passou mais tempo da viagem trancada no banheiro do que sentada na poltrona.

Se ela se conhecia o suficiente, aquilo só poderia significar uma coisa. E, embora Lily tivesse pensado muito naquilo, a possibilidade de ser verdade a deixava no mais completo estado de pânico. Sua mão tremia só de imaginar, mal conseguindo equilibrar o telefone entre os dedos. Ela precisava fazer alguma coisa, mas, estando acima de nada além de água, isso era praticamente impossível.

Quando, longos e angustiantes minutos depois, o avião pousou na Filadélfia, para uma conexão, Lily não pôde fazer nada além de procurar algo que se parecesse com uma farmácia. Um aeroporto grande como aquele deveria ter uma farmácia, certo?

— Errado! — respondeu seu questionamento. Não tinha estabelecimento nenhum ali além de uma praça de alimentação e lojas de roupas ou suvenires.

Pela próxima hora, tudo o que ela fez foi contar quanto tempo faltava até estar em casa. Cinco horas e meia. Passaria rápido, ou pelo menos era o que ela esperava.

···

— Você o que? — Petunia perguntou, gritando. Tinha a mais pura descrença na voz e um princípio de sorriso nos lábios. — Mentira?

— Não, Tuney. Não é mentira. Eu fiz um teste e deu positivo — respondeu, sem tanta animação quanto deveria ter. — Estou grávida, de James Potter.

— Aquele que mora em Londres?

— Aquele que mora em Londres.

Lily ainda não tinha dito nenhuma daquelas palavras em voz alta, pelo menos não as colocando todas no mesmo contexto. E ouvi-las, ditas por si mesma, soava ainda mais surreal e inacreditável. Talvez, no fim das contas, aquilo tudo não passasse de uma sequência de acasos errados, e na manhã seguinte ela acordaria como sempre acordou: sem nenhuma companhia.

Petunia deu alguma desculpa, como sempre, e saiu. Provavelmente iria assistir a um jogo de futebol do filho — Dudley tinha recém completado seis anos e feito o maior drama que podia para conseguir entrar na escolinha de futebol — ou resolver qualquer coisa que seu marido tivesse pedido. Lily não conseguia se acostumar com a ideia de que, depois de tudo, Tuney ainda havia se casado com Vernon.

Depois que sua irmã fechou a porta, ela se viu sozinha em casa. Não totalmente sozinha, e a ideia de se acostumar com isso ainda precisava ser muito trabalhada. Mas, ainda antes disso, era preciso aprender a reagir a isso, decidir se contaria para todos ou se esperaria algum tempo a mais. Ela precisava, sobretudo, tomar a decisão mais importante e pesada de todas.

Se falaria ou não para James.

À beira de ter um ataque de ansiedade, ela esperou que a chamada de vídeo fosse atendida. Nunca antes Lily quis tanto que o único contato que tivesse com Potter fosse através da tela do computador. Sem muita habilidade para dar notícias, boas ou ruins, desde que se entendia por gente, ela só esperava que fosse mais simples pela internet.

— Precisamos conversar — avisou, assim que ele atendeu.

Sobre?

— James... eu te amo, de verdade, mas não sei se isso aqui vai dar certo — sua voz começou a pesar a cada palavra que dizia. — Eu não posso largar tudo aqui e ir morar aí, e nem você pode fazer o mesmo. Não dá para fingir que o oceano atlântico é pouca coisa entre a gente. Desculpa.

Lily, o que você...

— Adeus, Potter.

Sem dar a ele uma chance de resposta, Lily desligou tudo. De um segundo para o outro, imergiu em uma onda de arrependimento — por não ter contado sobre a gravidez, por ter terminado tudo pela internet — e de algum sentimento que ela ainda não conhecia. Talvez fosse uma insegurança não identificada, ou medo do que ainda não conhecia.

Para ser completamente honesta consigo mesma, ela não queria ter feito aquilo, não queria ter aparentado ser tão insensível ou qualquer outra coisa que James pudesse ter pensado. Mas, ela devesse preferir isso a uma relação disfuncional, como a de Marlene e Sirius, ainda mais sabendo que, mais cedo do que o esperado, uma criança estaria no meio disso tudo.

Lily tinha visto, por si mesma, o exemplo exato do que não queria em um relacionamento.  Se, mesmo morando na mesma cidade, Lene tinha certa dificuldade em conciliar tudo com Sirius, tendo um oceano inteiro os separando com certeza seria muito pior. Ela não queria isso, não queria essa dificuldade e esse empecilho todo. Ela queria facilidade, que talvez não encontraria se continuasse com ele.

···

James tentou ao máximo não fazer aquilo, mas seu lado inconsequente, como algumas outras vezes durante a vida, acabou falando mais alto. Tinha tempo e dinheiro suficiente para ir adiante com aquela ideia, no mínimo, louca. Embora Sirius insistisse que era loucura, e completamente desnecessário, havia alguma parte dele que discordava.

Nenhuma das palavras de impedimento que ouviu importou quando gastou parte do que tinha guardado em uma passagem. Ou quando, mesmo sob alguns protestos, embarcou num avião e voou treze horas até os Estados Unidos.

Assim que desembarcou, reconheceu Petunia de imediato, mesmo que a última vez que a tinha visto não fosse assim tão recente. Ela continuava, aparentemente, a mesma pessoa pouco simpática com qualquer um.

— Vou te levar até lá, depois vocês se resolvem.

Petunia, durante aquele tempo todo, tinha sido basicamente o que o ligava à Lily, de maneira indireta. James nunca achou que precisaria de ajuda dela, mas não era como se ele tivesse muitas opções. Então, como tinha feito desde que contatou Tuney pela primeira vez, há algumas semanas, ele apenas concordou.

Já fazia alguns anos desde que ele esteve em San Diego pela — primeira e — última vez. Não se lembrava com muita clareza da cidade, mas, ainda assim, pôde ter uma sensação de nostalgia enquanto passava por alguma das ruas mais movimentadas. Quando, enfim, parou em frente ao prédio de Lily, foi como se tivesse voltado quase seis anos no tempo.

— O apartamento ainda é o mesmo, 488. Cuidado com o que vai fazer, Potter.

Com um sorriso frouxo, ele concordou e caminhou para o prédio. Ignorou por completo a mala que tinha trago, pois sabia que, como parte do combinado, Petunia cuidaria dessa parte. James não podia dizer que estava relaxado, porque essa deveria ser a última característica que poderia descrevê-lo assim que apertou o número 4 do elevador.

Poucos segundos e alguns passos o separavam de saber o que, de fato, tinha acontecido para que Lily terminasse tudo tão repentinamente. Ele insistiria em ter uma resposta plausível para essa que deveria ser uma de suas maiores dúvidas. Não podia se lembrar de ter feito alguma coisa que fosse grava o bastante para resultar em um término por meio de Skype.

De muitas das coisas que James não imaginou, entre elas certamente estava o fato de sua mão tremer mais do que o normal ao bater na porta do 488. Apesar de ter parecido horas, talvez não tenha demorado mais de alguns segundos até que Lily aparecesse à sua frente, diferente demais de como ele pensou que a veria de novo.

Com o cabelo preso de qualquer jeito e um vestido solto, mas não tão solto que fosse capaz de esconder a pequena barrida proeminente, ela parecia tão adorável quanto fosse possível. E, era claro, sua expressão de choque ao vê-lo parado na sua porta era impossível de ser contida.

— O que você está fazendo aqui?

— Lily, nós precisamos conversar, de verdade e pessoalmente agora — ela abriu a boca para responder, mas foi interrompida antes mesmo de começar a falar. — Me deixa entrar e eu prometo não falar sobre isso — apontou a barriga dela. — Por enquanto.

Menos por pressão, e mais porque queria que ele entrasse, Lily deu passagem para dentro de seu apartamento. Tudo ainda estava como James se lembrava, desde a posição dos móveis até a disposição de fotos na estante ao lado da televisão. Algumas coisas, de fato, nunca mudavam.

Não foi uma conversa fácil, para nenhum dos dois. Ela caiu no choro antes que pudesse pensar em evitar isso e ele não soube muito bem se deveria consolá-la, mas acabou por fazer. Ainda era indescritivelmente bom abraça-la, independente de quanto tempo passassem separados.

Lily explicou que a distância era um ponto negativo muito forte, e que nenhum dos dois poderia largar a vida que tinham e ir morar do outro lado do mundo. Tinham família, amigos e empregos em seus respectivos países e nenhuma dessas coisas era passível de ser deixada para trás de uma hora para outra. Por último, ela afirmou que não suportava um relacionamento que se baseava em vídeo chamadas.

James, por outro lado, afirmou várias vezes que valia a tentativa, que talvez eles devessem tentar até realmente não dar mais. E, no ponto em que estavam, antes de não estarem mais em ponto nenhum, ainda dava para terem algumas tentativas. Não parecia justo jogar tudo fora por algo que poderia, sim, ser driblado. Ele estava tão disposto a provar isso que cruzou o atlântico só para olhar nos olhos dela e dizer:

— Por favor, Lily — ela suspirou, sem dizer nada por alguns segundos, mantendo-se inexpressiva.

— E se der tudo errado? Se, mesmo que a gente tente, se esforce, faça tudo certo, no fim, ainda dê tudo errado? Eu não quero pagar para ver. Não mesmo — respondeu, antes de levar uma das mãos à barriga e, consequentemente, chamando a atenção dele para seu movimento. Lily pigarreou antes de falar. — Acho que é melhor se você...

— Se você disser o que é isso — o tom de James não era acusatório, tampouco autoritário. Não era como se ele cobrasse aquela resposta ou estivesse prestes a insinuar alguma coisa. Na verdade, não passava de uma pontada de curiosidade.

Então, ela contou. Desde o mal-estar no voo de volta, de todo o pensamento negativo que teve ao pensar na relação de Sirius e Marlene — que, por consequência, a levou a terminar tudo —, sobre os enjoos que teve e, principalmente, tudo o que planejava para dali até o final da gravidez.

Mesmo que ela não tivesse dito, e embora tenha ficado implícito, ele precisou perguntar, só para acalmar uma parte de si que precisava dessa confirmação.

— E é meu? — Lily concordou, sem olhá-lo. — Por que diabos você não me contou? Não é como se eu não fosse fazer nada a respeito disso! Você ia fazer tudo sozinha?

— Talvez.

— Talvez, Lily? Talvez? — James, sem dizer nada, aproximou-se dela, puxando-a para outro abraço. — Eu estou aqui, e eu vou ficar aqui, queira você ou não.

···

Harry, que era uma cópia fiel de seu pai, com exceção dos olhos, era uma criança extraordinária. Desde as feições físicas explicitamente iguais às de James, ele também tinha herdado grande parte da personalidade — como o altruísmo, a mania de adiar a realização de coisas importantes e, sobretudo, o gosto por fotografias. Desde que alguém podia se lembrar, ele não se retraía por completo diante de uma câmera, como sua mãe — quase — sempre fez.

Lily, a cada dia que passava com Harry, descobria mais o sentido do que sua mãe tinha lhe dito há muitos anos atrás. Um dia, Lily, você vai perceber que é possível amar mais outra pessoa do que a si mesma. O dia em que você for mãe também. Já tinha sido a vez de Petunia, e ela pôde ver que sua mãe tinha razão, mas, ainda assim, ela não entendia por completo.

Pelo menos até o dia em que, finalmente, teve a chance de ver Harry pessoalmente, e não precisou mais imaginar como ele seria. Vê-lo ali, à sua frente, de verdade, seria para sempre o momento mais importante de toda sua vida. Poder, enfim pegá-lo no colo e sentir que ele se sentia mais seguro na sua presença fez Lily, finalmente, saber que amava alguém mais do que a si mesma.

E nada no mundo era capaz de mudar isso.

James não seguia um caminho muito diferente. Embora estivesse sempre muito longe de Harry, fazia tudo o que estava ao seu alcance para ser tão presente quanto fosse possível. Mas, não era sempre que as condições tornavam sua presença mais do que uma vaga ideia. Não agradava a ninguém — nem a ele e nem a Lily — que fosse preciso esperar as férias e dinheiro suficiente para que os dois se encontrassem.

Ao longo dos sete anos de Harry, ele só tinha visto o pai pessoalmente duas vezes, das quais se lembrava, claro. Contando com o dia em que nasceu, foram três encontros pessoais. Uma tinha sido no seu aniversário de três anos, e, embora ele não tivesse muitas memórias desse dia, tinha sido o melhor presente que poderia ter ganhado. E a outra quando James o levou para Londres para conhecer a neve.

Apesar de tudo, Lily e James não tinham voltado a ser como antes. Ela mantinha a mesma opinião de antes, que era forte e grande o bastante para que eles mantivessem uma relação cordial em prol do filho que tinham. Porém, nada os impedia de relembrar os velhos tempos nas poucas oportunidades em que se viam pessoalmente.

— Lily, venha aqui! — Petunia a gritou. Estavam terminando de assistir a algum filme aleatório na televisão quando a campainha da casa de Tuney tocou. Não era tão incomum que as duas passassem finais de semana juntas, especialmente porque Vernon estava fora da cidade e, sem ele as coisas ficavam muito mais fáceis.

Contrariada por obrigar-se a sair da posição confortável em que estava na frente da TV, Lily caminhou até a porta. Não fazia a menor ideia de quem poderia atrás dela àquela hora, um final de tarde de domingo. Assim que abriu a porta, não pôde fazer nada além de deixar uma risada frouxa escapar e ficar em absoluto silêncio.

Ainda não tinha se acostumado com a mania que James tinha de aparecer em San Diego sem avisar. Sem pedir, ele passou para dentro da porta e a puxou para um abraço, que estava guardado há muito tempo. Não importava quanto tempo passasse, alguma coisa na relação dos dois sempre pareceria estranha ou deslocada.

— Pai! — Harry gritou ao vê-lo na sala.

Seria mais um aniversário dele em que James havia dado sua presença como presente. E, de novo, não poderia ser melhor.

···

No auge de seus treze anos, Harry finalmente viu os pais juntos. Literalmente. Sem toda a distância ou empecilhos que os dois colocavam para permanecerem separados. O fato era que, depois de muito tempo, de fato não havia mais que pudesse mantê-los afastados, nem mesmo um oceano inteiro.

James já não trabalhava mais na mesma companhia de fotografia, e todas as fotos que tirava agora eram de Harry ou de Lily, mesmo que ela sempre se mantivesse na defensiva ou fugindo das câmeras. Tinha se mudado para os Estados Unidos e, a partir do momento em que se casou com uma americana, conseguiu permanência definitiva no país.

Lily tinha continuado na mesma multinacional, indo a Toronto a cada duas semanas, por mais algum tempo até não dar mais conta. Depois disso, arrumou mais dois empregos, dos quais também pediu demissão. Passou a se dedicar integralmente a Harry, fazendo o melhor que podia para dar a ele tudo o que pudesse. Quando soube que James viria, mais uma vez, visita-la, nunca iria imaginar que seria definitivo — imaginaria menos que estaria, de novo, na posição de noiva.

Mas, dessa vez, tudo deu certo. E continuou assim até um certo médico dizer as palavras mais pesadas da vida deles.

— Receio em dizer que a senhora é portadora de leucemia. Sinto muito.


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Notas finais do capítulo

se, por um segundo, alguém achou que era tudo mentira, http://g1.globo.com/goias/noticia/2016/02/aluna-morta-ao-sair-de-cursinho-em-go-nao-teve-nada-roubado-cre-policia.html. tem outras matérias também, inclusive do pai dela dando entrevista logo depois de ver o corpo no IML.

PS: a reportagem deixa explícito onde ela mora. e eu moro na mesma cidade, então, se alguém for daqui, é só dar um alô.



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