Photograph escrita por Day


Capítulo 14
XIII — Há males que vêm para o bem


Notas iniciais do capítulo

OI GENTEEEEEEEEEEEEEE!!!!!!!!!!! DESCULPA ESSA DEMORA GIGANTESCA, MAS É QUE EU COMECEI A TRABALHAR RSRSRS E ISSO TOMA TODO MEU TEMPO

pra compensar a demora eu fiz esse capítulo ENORME, até tentei dividir, mas não ficou legal, então vai assim mesmo hehehe. eu terminei de escrever ontem, então não revisei pq fiquei super ansiosa de vir postar pra vocês. logo, se tiver algum erro, PODEM ME FALAR (vivo achando uns errinhos no cap que não reviso e vcs nunca me avisam. sad)

é isso mesmo, eu espero muitooooooooooo que vcs gostem desse cap pq eu já o amo ♥

boa leitura!



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O que poderia ser considerado um estrago estando ela a dois dias de se casar?

Lily Evans não tinha um caso muito bom com a bebida, na verdade nunca teve. Mas, ela não parecia muito determinada a levar isso em conta quando sentou no balcão do bar e pediu pela dose da tequila mais forte que estivesse disponível naquela noite.

Ela queria beber sozinha, longe de tudo e todos, principalmente dos convidados para o casamento. Queria beber longe dos olhares julgadores, que com certeza viriam, e longe dos olhares de reprovação que todos, sem exceção, lhe lançariam ao vê-la com uma tequila em mãos.

Mas, principalmente, ela queria estar um pouco longe de Amos Diggory. Queria alguns minutos sozinha, para curtir ninguém além de si mesma, e organizar todos os vários pensamentos que povoavam sua mente. A dois dias de dizer sim definitivamente para alguém, era compreensível que ela estivesse uma pilha de nervos.

Ainda mais depois do encontro nada planejado, e com certeza nada esperado, com James Potter, seu affair mal resolvido de anos atrás. Quais poderiam ter sido as chances de aquilo acontecer? Quase nulas, mas, ainda assim, lá estava ele, presente no casamento dela. Se fosse preciso escolher, de todas as situações estranhas que já teve na vida, aquela seria a campeã.

— Aqui — o rapaz alto e magricela atrás do balcão lhe entregou um copo pequeno cheio do líquido amarelado.

— Cuidado com essas coisas — ela ouviu ao longe. — Essas coisas fazem mal.

— Receio que essa é a única coisa que vai me causar algum bem agora — respondeu sem muito entusiasmo, enquanto via-se ganhar uma companhia. — O que faz aqui a essa hora?

— Eu não consigo dormir. E você? — Lily concordou, também não conseguia dormir, mas talvez conseguisse depois de todas as doses de tequila que pretendia tomar.

E então, bastou alguns segundos para que ela estivesse acompanhada de James Potter, em um bar, bebendo tequila. De novo. Das duas outras vezes em que a situação os envolvia, junto de álcool, os resultados não foram nada bom ou proveitosos. Mais do que nunca, Lily teve receio do que aconteceria se por acaso bebesse.

Mas, de modo algum, aquilo era algum tipo de impedimento.

James se perguntava o porquê de ela não conseguir dormir. Talvez até soubesse, se conseguisse se imaginar no lugar dela por um segundo, com um casamento inteiro pela frente e provavelmente muitos detalhes a serem decididos ainda. O que ele não entendia mesmo era o motivo de Lily continuar insistindo em beber, quando essa era uma coisa que nunca tinha bons resultados.

Os dois permaneceram ali, em um silêncio absoluto, durante alguns minutos. A única coisa que ouviam eram conversas alheias e distantes, e o barulho constante de vidro vindo de trás do balcão. Lily, vez ou outra, bebericava sua bebida, receosa de virar a dose de uma vez — como sempre fazia. Alguma coisa a fazia sentir como se não fosse o mais correto a fazer, e talvez isso fosse a presença de James.

— Peça uma também — incentivou. — Não é educado deixar uma dama beber sozinha.

E assim ele fez. Uma, duas, três, quatro vezes. Talvez estivesse bebendo, no início, para realmente não a deixar beber sozinha, mas depois de algumas doses, passou a saciar uma vontade por álcool que não sabia que tinha. Há muitos meses que James tinha decidido que era hora de deixar a bebida de lado, mas, pelo visto, era preciso pouco para que ele voltasse atrás na decisão.

Como se fossem velhos amigos, os dois beberam juntos. O líquido quente contrastava com o clima ventoso do lado de fora e, por hora, os deixava aquecidos, além de mais receptivos um com o outro. Era inegável que, durante todo o tempo que passaram juntos durante a tarde, na presença de Diggory, tinha os deixado claramente desconfortáveis. Não tinha motivo para isso, mas fora inevitável.

Agora, não tinha nada e nem ninguém que os pudesse causar qualquer desconforto.

— Ouvi que vai ter um casamento aqui depois de amanhã, eu acho — eles ouviram uma mulher comentando, provavelmente ao telefone. — Vi uma parte da decoração, ficou maravilhosa. Queria poder falar com a noiva...

— A noiva sou eu — Lily, já meio alterada, interrompeu a conversa.

A mulher a olhou e sorriu de imediato, notando a presença de James em seguida. Seu sorriso mudou de algo como apenas felicidade por conhecer a noiva para algo que podia ser algo como felicidade por conhecer o casal. Ou, pelo menos, era isso que seu olhar também dizia.

— Felicidades a vocês!

— Nós não... — ele tentou corrigi-la, mas, tão rápido quanto começou a falar, também foi interrompido.

— Obrigada! E desculpa por interromper sua ligação — ela respondeu, sorrindo o tanto quanto podia. A mulher apenas concordou e, ainda com um sorriso no rosto, seguiu o caminho que fazia antes. — Acho que nós já passamos a fase de corrigir quem acha que somos um casal, não passamos?

James apenas concordou, sem dizer nada. Afinal, se ela, que tinha negado com tanta veemência na primeira vez em que acharam que os dois eram um casal, parecia estar de bem com isso, por que ele iria se preocupar em negar?

Voltaram às doses de tequila que tinham sido deliberadamente abandonadas em cima do balcão. Beberam mais uma, duas, três, quatro, cinco vezes. Já era notória a alteração nos sentidos dos dois, mas em especial nos sentidos de Lily, que já não falava coisas com muita coerência.

O bartender, a certo ponto da noite, levou para eles uma vasilha repleta de limão e sal, dizendo que não podia faltar aquilo com a tequila. E realmente não podia. De repente, mais do que em qualquer outro momento de antes, aquela noite parecia um flashback do dia em que se conheceram, há alguns anos. Parecia que tudo tinha acontecido há tanto tempo, muito mais do que a verdade.

— Eu faço as honras! — Lily se prontificou. Fez toda a sequência da tequila, sal e limão tão rápido que, assim que terminou, seus olhos tinham lacrimejado. Depois, sem dizer nada, indicou que James fizesse o mesmo, e ele prontamente repetiu seus movimentos. — Sua boca está suja.

— Limpa para mim — ele pediu sem qualquer outra intenção. Ela, por outro lado, não parecia ter entendido isso dessa forma.

Lily inclinou-se para frente e, num ímpeto de uma coragem até então desconhecida, fez mais do que limpar o sal que tinha ficado ao redor da boca dele. Sem qualquer fagulha de hesitação, ela o beijou. Pura e simplesmente isso.  E, de novo, era como se estivessem revivendo a noite em que se conheceram.

James, de início, ficou surpreso com o que estava acontecendo, mas, alguns segundos depois, se viu correspondendo àquilo. Ele não sabia, até aquele segundo, que alguma parte de si queria que pudesse beijá-la de novo, mesmo depois de cinco longos anos. E era bom, era muito bom e nenhum deles podia negar isso, mas também era errado, na mesma proporção.

Ela iria se casar em dois dias e estava ali, aos beijos com outro homem. No momento em que isso fez total e absoluto sentido para ele, foi como se, tão rápido quanto se uniram, tiveram de se separar. Quando a ficha disso caiu, James a olhou com o mais puro sentimento de choque.

— Lily... é melhor parar, você...

— Eu sou adulta, e sei o que eu quero. E eu quero isso.

— Você tem um casamento marcado para dois dias.

— Faça disso minha despedida de solteira então — ela respondeu, aproximando-se dele novamente. Lily tinha determinação na voz e uma segurança nas frases típica de quem sabia totalmente o que queria. No segundo em que James fechou os olhos, foi como um consentimento silencioso de que iriam continuar. — Aqui, moço.

Lily deixou as notas que tinha consigo em cima do balcão e não se importou se deveria receber algum troco pela quantia ou não, isso não importava naquela hora. Dessa vez, mesmo bêbada, ela estava consciente de cada uma de suas ações, e com certeza se lembraria delas na manhã seguinte.

— Vamos. Rápido — chamou-o, enquanto começava a seguir caminho até os quartos.

James começou a segui-la e, pelos céus, ele sabia que o que estava prestes a fazer era errado. E como era. Mas, não podia afirmar que estava sendo obrigado a qualquer coisa, porque não estava. Era uma vontade própria que ele não sabia que estava ali, em algum lugar, esperando que fosse convidada a se manifestar.

O caminho do bar até os elevadores nunca foi tão longo e tão repleto de expectativas. Lily sabia o que estava fazendo, sabia bem demais, tinha plena consciência dos seus atos e, ainda assim, queria ir até o fim. Ou, pelo menos, até onde fosse possível ir. Ela sabia, também, que não era o certo a fazer.

Mas, desde quando suas ações eram sempre certas?

— Para onde você vai? O meu quarto ou o seu? — a pergunta dele era subjetiva demais. Lily, sem emitir um som sequer, sibilou seu, e James automaticamente entendeu o recado.

Toda a sequência de fatos aconteceu muito rápido. De repente, estavam aos beijos na porta do quarto de James, esquivando-se de olhares alheios que pudessem reconhecê-la e causar problemas. Em seguida, dividiam a atenção entre trocar alguns outros beijos e livrarem-se de qualquer peça de roupa que os pudesse atrapalhar.

Lily sentia uma adrenalina perpassando sua espinha e correndo em suas veias. Quanto mais fazia aquilo, quanto mais traía seu futuro marido, mais excitação lhe percorria todo o corpo. Era como se continuar com aquilo tudo, continuar com o errado, o pecado, o imoral, fosse um estímulo e ir mais adiante.

Contudo, em um único segundo, ela hesitou. Hesitou em dar a continuidade que o momento precisava. Até tentou disfarçar, mas em vão.

— Nós podemos parar a qualquer hora. Eu vou entender se você quiser.

— Eu quero continuar — ela respondeu, sem sombra alguma de hesitação.

E eles continuaram. Por algumas horas seguintes, apenas continuaram.

···

O corpo de James doía por completo. Sua cabeça parecia estar prestes a explodir e era como se vários pesos estivessem colocados sobre seus braços e pernas, impedindo-os de serem movidos. Com certa dificuldade, conseguiu abrir os olhos e mantê-los abertos sem que a claridade do dia o fizesse sentir como se tivesse olhando diretamente para o fogo.

Percebeu que, ao seu lado, alguém ressonava na maior tranquilidade. Ele não precisaria nem ao menos notar o cabelo ruivo para sabem quem era. Dessa vez, sua memória estava vívida o bastante para não ter dúvida alguma do que tinha acontecido nas últimas horas. E, pelos céus, ele não queria que as lembranças se perdessem.

Devagar e com movimentos, Lily parecia estar acordando. Ela também tinha dores em todo o corpo e sua cabeça iria explodir a qualquer segundo. Era mais um dia que acordava com uma ressaca daquelas, mas, diferente de outras ocasiões, tinha plena certeza de tudo o que tinha acontecido e de todas as coisas que tinha feito. Ela, por exemplo, tinha total certeza de quem a olhava naquele segundo.

— Bom dia — James sussurrou.

De repente, a ficha caiu para Lily. Àquela hora, seu noivo provavelmente começaria a procurar por ela em todos os lugares possíveis, e, para que nada desse muito errado, ela precisava sair dali. Rápido. De preferência, antes que a mais remota possibilidade de Amos passar pela porta pudesse acontecer.

— Eu preciso ir — disse, enquanto levantava-se para alcançar suas roupas, jogadas pelo chão do quarto. Com movimentos rápidos, Lily conseguiu fazer daquela vez, a mais rápida troca de roupa de sua vida inteira. — Depois a gente conversa.

Sem nem olhar para trás, e sentindo o olhar confuso de James sobre si, ela caminhou até a porta. Claro que ele a estaria olhando com certo desentendimento e curiosidade. Afinal, algumas horas antes, Lily não parecia nem um pouco preocupada em sair às pressas daquele jeito.

— Bom dia também — respondeu, antes de fechar a porta do quarto atrás de si.

Agora, precisava ir atrás da única pessoa que poderia acobertá-la sem fazer qualquer pergunta. Marlene McKinnon. Lene, com toda certeza, diria a qualquer coisa e qualquer pessoa que tinha passado a noite inteira com Lily, inventaria a desculpa que fosse necessária sem questionar o porquê de precisar fazer aquilo.

Afinal, era para isso que as amizades verdadeiras serviam.

Lene ainda parecia ser outra pessoa completamente diferente com a barriga, ainda pequena, de grávida. Era surreal demais para Lily que ela, Marlene, estivesse a poucos meses de se tornar mãe. A ideia de vê-la com um bebê nos braços em pouco tempo ainda era inconcebível.

Sem muita paciência, e com pouco tempo disponível, Lily apenas explicou que ela precisava sustentar a história de que as duas tiveram uma noite do pijama, ou qualquer coisa desse tipo, que dormiram juntas como nos velhos tempos, e coisas assim. Como era de esperar, Marlene concordou e não perguntou nada.

Mas, isso não significava que ela não perguntaria futuramente.

Seu quarto, uma suíte grande demais, que dividia com Amos ficava no final do mesmo corredor onde era o quarto de James, o que a forçava a passar em frente à porta número 247 e saber que, lá dentro, Potter provavelmente ainda tentava entender sua escapada repentina.

— Onde você passou a noite? — Lily respirou fundo ao ouvir essa pergunta no mesmo segundo em que abriu a porta.

— Junto com a Lene. Acabei dormindo com ela — respondeu, num tom cínico demais. — E você?

— Aqui. Aliás, hoje, às três, nós temos um ensaio de alguma coisa, que eu não me lembro o que é, mas é importante.

— Quem vai estar presente? Só nós dois?

— Nós, os padrinhos, e o fotógrafo. É bom que ele registre todos os momentos — ver Amos falando daquele jeito, num tom tão... inocente e, ao mesmo tempo, animado, deixava-a com um princípio de remorso. Contudo, a pior parte era que Lily não queria sentir remorso, ela não se arrependia de nada. — Tudo bem?

— Tudo bem — respondeu sem um terço de toda a animação do noivo.

···

James não achou que veria Lily de novo tão cedo, mas não poderia estar mais errado. Às três da tarde, lá estava ele, esperando que o casal de noivos chegasse para que mais momentos de suas felicidades retumbantes fossem registrados. Era tão bom vê-la sem toda aquela aversão à câmera, soltando-se mais para as fotos, fazendo as poses pedidas sem qualquer resistência.

Assim, era muito mais fácil, simples e natural capturar as expressões de Lily. Desde seu sorriso torto e sem humor quando algo não lhe agradava e ela era obrigada a disfarçar, até seu sorriso mais verdadeiro, cheio de uma alegria nata e indescritível, que dispensava qualquer descrição.

Algumas vozes distantes começavam a se aproximar e ele soube que já não estaria mais sozinho. Era possível distinguir claramente a voz de Marlene, sempre mais animada que qualquer outra pessoa de quem estivesse junto, e sempre falando rápido demais.

Talvez ainda levasse algum tempo para que James se acostumasse a vê-la grávida. Ainda mais grávida de Sirius, Sirius Black! Era informação demais em uma pessoa tão pequena como Lene.

— Potter! — ela correu até ele, abraçando-o pelo pescoço. — Você parece cansado.

E estava, de verdade. Não tinha se recuperado totalmente de todo o álcool que tinha bebido na noite anterior, e as poucas horas que dormira também não tinham sido de grande ajuda. Seu rosto não conseguia disfarçar todo o cansaço e, mesmo que conseguisse, as olheiras sob seus olhos o evidenciavam.

— Resultado de uma noite intensa demais — respondeu, evasivo. Marlene estreitou os olhos, na sua atitude mais típica de curiosidade, mas, antes que falasse mais do que devia, James achou melhor mudar de assunto. — E você, como está?

— É difícil carregar esse peso extra — respondeu, pousando as mãos sobre a barriga. — Mas eu consigo. Acho que consigo.

A breve conversa dos dois foi interrompida pela animação excessiva, mesmo sob um sol escaldante, de Amos Diggory. Ele sorria tanto quanto podia, deixando claro a todos ali o quão feliz estava. E ele tinha razão e motivos para isso, afinal estava a um dia de se casar.

Parada ao seu lado, sem tanta expressividade no rosto, Lily não exalava um terço da euforia de seu futuro marido. Calada e sem olhar para lugar nenhum que não fosse os próprios pés, ela mal conseguia disfarçar que algo a incomodava. Talvez nem estivesse assim, tão evidente, e aquilo fosse parte dele que sentia algo semelhante à culpa pelo que fizeram na noite anterior.

— Então, como vão ser as fotos hoje? — James perguntou, quebrando o silêncio que, a certa altura, começava a ser incômodo.

— É um ensaio. Da entrada dos padrinhos, representados só pela Marlene hoje, e dos noivos — Diggory respondeu, falando cada palavra com orgulho palpável. — Eu queria que você deixasse tudo registrado, se possível.

— Claro que é possível! — havia uma animação forjada naquela resposta. — Fiquem à vontade para começar.

E eles começaram. Primeiro, Amos percorreu e passarela de alguns metros, sem deixar de externar a felicidade que sentia, e se posicionou exatamente onde estaria o altar no dia seguinte. Em seguida, Marlene fez o mesmo, parando ao lado de Diggory e recebendo alguns olhares de canto de olho dele. Era claro que não existia qualquer outra intenção naquilo, mas James não pôde deixar de imaginar o que Sirius pensaria se estivesse presente.

Afinal, mesmo com muitas, muitas, idas e vindas, depois do anúncio da gravidez, Padfoot e Lene finalmente deram o braço a torcer e deixaram de brigar, discutir e — fingir — se separarem por qualquer coisinha. Em todos aqueles anos, tinham aprendido a conviver juntos e a lidar com as diferenças — e sobretudo as semelhanças — que tinham.

Por último, era a vez de Lily. James a imaginou no dia seguinte, usando o mesmo vestido da última tarde, fazendo aquele mesmo caminho até o altar. Ela estaria maravilhosa, ou mais do que isso, com toda certeza. Todos os olhares e a atenção completa do local estariam voltados para ela, mas, por enquanto, o máximo de foco que tinha era da câmera dele.

— Lily — ele a chamou e, quando os olhos verdes ela o olharam, era como se não houvesse mais ninguém no mundo além dos dois. Mas, isso não era verdade, e tampouco deveria ser notado pelos outros presentes. — Sorria.

E então, ela sorriu. E foi a foto mais bonita que James fez naquela tarde.

···

— Anda, Lily, conta! — Marlene insistia. — Não pode deixar uma mulher grávida curiosa!

O ensaio tinha acabado há pouco mais de uma hora e, sem deixar passar um único segundo, Marlene começou a bombardear a amiga com perguntas. Embora estivesse a encobrindo muito bem, dizendo a todos que perguntava que, sim, ela e Lily tinham estado juntas a noite inteira, ela ainda queria saber o real motivo de estar mentindo sobre isso.

Na cabeça de Lene, passava todo tipo de possibilidade. Desde uma fuga para alguma cidade vizinha, onde Lily pudesse espairecer, até mesmo a chance de ela estar cogitando cancelar tudo por medo do que ainda não conhecia. Qualquer uma das duas coisas parecia provável vindo da ruiva.

— Você o ama? Ele, Diggory, você o ama?

Claro que sim! — Lily respondeu, enfática e, ao mesmo tempo, chocada com a pergunta. — Que tipo de pergunta é essa? Se eu vou me casar com ele amanhã, deve ser porque eu o amo!

— Então onde você estava ontem à noite?

— Com Potter — Marlene não conseguiu disfarçar o choque que foi ouvir aquilo, e provavelmente todo seu rosto tinha se convertido em uma expressão mista de, claro, choque e certa expectativa. Ela não podia negar que esperava que, mais cedo ou mais tarde, os dois tivessem alguma coisa. — Pronto.

— Conte cada detalhe. Agora.

Lily a conhecia bem o suficiente para saber que não adiantaria de nada tentar negar ou não fazer o que Marlene pedia, até porque persuasão era seu segundo nome. Então, para evitar que tudo aquilo virasse uma disputa de insistência, e também para tirar aquele peso da consciência, acabou contando.

Ela falou de cada coisa que tinha acontecido na noite anterior, deixando de lado os detalhes que importavam apenas para ela e James. Falou da sua intenção inicial, que era apenas beber um pouco e espairecer; falou da mulher que a parabenizou pelo casamento com o homem errado — e Marlene não pôde conter uma risadinha.

Em seguida, Lily contou que acabou pagando por uma garrafa inteira de tequila, mesmo tendo bebido poucas doses, do desafio de limão e sal, e que isso tinha saído do controle, levando tudo a um único resultado. Com um leve pesar na voz, falou, por fim, que mal tinham conversado naquele dia além de algumas frases no ensaio.

— E foi bom? — Lily concordou, abaixando a cabeça para evitar o olhar de Marlene. — Então por que você fala como se não tivesse sido?

— Porque não me arrependo, mesmo que eu devesse. Eu deveria me arrepender?

— Não. Não se foi bom como você diz que foi — Lene tentava manter um tom aceitável, do tipo que não fizesse Lily se condenar por ter feito aquilo, mas que também deixasse evidente que tinha sido errado. Muito errado. — Arrependa-se apenas de não ter feito isso antes.

O que ela quis dizer com aquilo era explícito o suficiente para que qualquer pessoa pudesse entender, mas direto demais para ter uma resposta. Tudo o que Lily pôde fazer foi bebericar um pouco do chá de camomila que Marlene tinha pedido. Se existia alguma coisa no mundo que a pudesse deixar ainda mais estressada, essa coisa era chá de camomila, que, com ela, tinha o efeito completamente oposto.

Em qualquer outra situação, chá seria a última opção para beberem. Mas, tendo a versão grávida de Marlene à sua frente, ficava difícil manter o ritmo de sempre da amizade — que era, basicamente, Lily sendo obrigada a beber alguma coisa sob as ordens de Lene. Eram raras as vezes em que ela bebia por conta própria e, da última vez em que decidiu isso, acabou fazendo a última coisa que deveria.

— Se foi bom, como você diz, me tira uma dúvida... — Lily permaneceu em silêncio para que Marlene pudesse perguntar o que queria. Com certeza, não deveria ser nada. — Foi melhor que o Diggory?

— Vai soar muito ruim se eu disser que sim?

— Não — alguém, que não era nenhuma delas duas, respondeu. A resposta as deixou sem muita reação, mas em especial a ruiva, que compartilhava a mesma cor do cabelo por todo o rosto. — Posso sentar?

— Pode, inclusive no meu lugar, se quiser — Lene se levantou, deixando a cadeira onde estava sentada vazia. — Lily, se precisar de alguma coisa, já sabe qual meu quarto.

De repente, lá estava ela: frente a frente com a sua última e mais recente fraqueza. Ela só não sabia que, algum dia na sua vida, descobriria a aparência física de alguma fraqueza sua — ou que teria alguma. Sempre muito centrada e racional, Lily nunca achou que algo — ou alguém — pudesse fazê-la se sentir fraca.

Era tão estranho estar na presença de James Potter, ainda mais sem nenhuma outra pessoa por perto. Tinha aquela sensação de que algo de errado iria acontecer de novo, e ela se sentir ainda mais culpada por não estar arrependida de nada.

— Há quanto tempo você estava aqui?

— Tempo suficiente para te ouvir dizer que não se arrepende. E que foi melhor que o Diggory — ele tinha divertimento na voz enquanto falava, e não parecia disposto a esconder. — Eu fico lisonjeado com suas palavras. Obrigado.

Tudo o que Lily fez foi revirar os olhos em resposta. Ela se conhecia bem o bastante para saber o que poderia acontecer, estando naquela situação. Na verdade, ela tinha certo receio de qual efeito suas palavras causariam. Porque, com certeza, algum efeito teria.

De nada — respondeu, com o sarcasmo latente. — Olha, Potter, ontem pode ter acontecido algumas... coisas, mas eu ainda tenho um casamento marcado para amanhã. Aquilo tudo foi só um erro de percurso, que não vai se repetir. Então, acho que o melhor é fingir que, na verdade, não aconteceu nada. É melhor para mim, para você e para todo mundo — com todo mundo, ela claramente quis falar de Diggory. — Melhor ainda se nós não tivermos contato nenhum, ou o menos possível.

Lily tinha tanta certeza de suas palavras que tudo o que James pôde fazer foi concordar e vê-la deixando-o sozinho de novo, o que parecia ser uma cena fadada à repetição naquele dia.

···

No meio da madrugada, ela não conseguia dormir. De jeito algum. A ansiedade e expectativa pelo dia seguinte a consumia aos poucos, fazendo-a perder vários segundos de sono imaginando como seria cada detalhe do seu grande dia. E, quanto mais imaginava que estaria no centro das atenções, mais nervosa e apavorada ficava.

A algumas portas de distância, ele encarava o teto do quarto, imóvel, enquanto sua mente fervilhava em milhares de pensamentos diferentes. Sabia que precisava dormir, descansar, ou pelo menos relaxar, mas era incapaz de fazer alguma dessas coisas. Seus olhos simplesmente se recusavam a fechar, e seu subconsciente se negava a desligar.

Ela não conseguia parar de se mexer, revirando-se na cama de um lado para o outro, numa tentativa frustrada e já fadada ao fracasso — desde o início — de tentar pegar no sono. Era claro e óbvio que seria impossível dormir naquela hora. Permaneceu nesse ritual eterno de viradas no colchão até que fazer isso se tornou cansativo.

Ele precisava de ar, ou iria se sufocar dentro de si mesmo.

Ela precisava andar, ou acabaria tendo um ataque de ansiedade.

— Aonde você vai? — Amos perguntou assim que notou a ausência de Lily ao seu lado.

— Vou dormir com a Marlene de novo — ela respondeu a primeira, e talvez única, coisa que lhe vinha à mente. — Ficar perto de você está me deixando ansiosa — sua risada fraca, e forçada, pareceu dar veracidade à pior desculpa de toda sua vida.

Amos apenas sorriu e concordou.

Lily não sabia para onde queria ir, mas sabia para onde não queria ir. E era exatamente para lá que seus pés a haviam levado. Parada em frente à porta 247, ela sentia toda sua segurança e firmeza da tarde se esvair como água em um ralo. Deveria ser seu subconsciente tomando as rédeas de suas ações, e tornando real aquilo que, aparentemente, era sua vontade interna.

Com a mão esquerda levantada e prestes a bater, foi como se a coincidência do destino a impedisse de fazer alguma besteira. A porta foi aberta por um James Potter sem camisa e com o cabelo mais bagunçado do que ela jamais tinha tido a chance de ver. Ele não escondeu o quão surpreso estava de vê-la ali, mas, diferente do que Lily imaginou, não a mandou embora ou qualquer coisa assim.

— Precisa de alguma coisa, noiva?

— Não, nada. Eu só... não sei nem porque vim aqui. Desculpa, não era nem para eu ter parado na frente do seu quarto. Eu que falei para não termos contato, então, o que estou fazendo aqui? Desculpa... — respondeu, afobada demais com as próprias palavras.

— Menos palavras por segundo, Lily — ela levantou o olhar para ele ao ouvir seu nome. Era estranhamente agradável a sonoridade que a voz dele tinha ao chamá-la. — Se você quiser, pode entrar e ficar. Se quiser.

Ela queria, queria o bastante para não dizer nada ao concordar e simplesmente adentrar o quarto. A primeira coisa para a qual sua atenção foi direcionada foi a pequena peça de roupa feminina no canto do quarto. Seu sutiã continuava no mesmo lugar onde fora jogado na noite anterior. Claro que Lily tinha dado falta da peça, mas preferiu não pagar para ver se estava no quarto de James.

— Quer deitar? Você pode dormir, de novo, se quiser.

— Não precisa ficar repetindo isso o tempo todo — ela respondeu já praticamente deitando na cama. — E eu não quero é ficar aqui sozinha.

Apesar daquela frase soar com infinitos outros significados, o rosto cansado de Lily deixava evidente que ela realmente não queria dormir sozinha. Ainda mais por estar em quartos alheios. Um tanto receoso, mas com alguma experiência em dividir a cama com ela, James se ajeitou ao lado de Lily.

— Sabe de uma coisa? Aquela vez, no seu apartamento, quando fui para lá, aconteceu.

— E como você sabe disso?

— Posso ter tido alguns déjà vus ontem — Lily riu alto, tendo a boca tapada por uma das mãos de James. — Não faça tanto barulho — a repreendeu, baixinho.

Durante alguns minutos, os dois conversaram sobre aquela fatídica semana, há tantos anos, e ficaram impressionados com o quanto lembravam-se dos poucos dias que passaram juntos. A ansiedade dela e o nervosismo dele sumiram pouco a pouco, até não existirem mais, até eles não serem nada além de duas pessoas sonolentas.

Num segundo, era como se ela não tivesse dito nada daquilo durante a tarde; como se ela não tivesse um casamento marcado para o dia seguinte; como se o noivo dela não estivesse dormindo a algumas portas de distância dali. Lily não achou que seria má ideia esgueirar-se pelo colchão e se aninhar tão próximo dele quanto fosse possível. James a puxou para perto, deixando-os mais confortáveis.

Lily dormiu primeiro, alguns segundos depois do silêncio ter se instaurado no quarto. James, antes de cair no sono também, a olhou por alguns segundos e lembrou ao seu cérebro que, em algumas horas, ela se casaria com outro. Aqueles últimos minutos, junto da última noite, provavelmente não teriam significado algum para ela.

— Boa noite, Lily — murmurou enquanto afastava alguns fios de cabelo ruivo do rosto dela.

— Boa noite, James — ele ouviu, já depois de ter dito o mesmo, e pouco antes de dormir.

···

Batidas frenéticas na porta os acordaram logo cedo. Olhando pelo relógio, ele constatou que não eram nem oito da manhã ainda. Algumas brechas na cortina permitiam a entrada do sol, iluminando uma pequena parte do quarto. O dia provavelmente não tinha começado direito para qualquer um ali. Em especial, para a noiva adormecida ao seu lado.

Mais batidas na porta, dessa vez com mais força e menos paciência. Tão impaciente quanto a pessoa que estava do lado de fora, James se levantou e caminhou até lá. Pouco se importava que estivesse sem camisa ou com cara de sono, afinal, era cedo demais para ser incomodado.

Assim que levou a mão ao trinco, pensou nas possibilidades de quem poderia estar ali àquela hora. Pensou se seria Marlene, com alguma programação que exigia a presença de Lily, tendo a certeza que ela estaria ali. E, bom, se não fosse Lene, então só poderia ser outra pessoa com algum assunto que dizia respeito ao trabalho dele ali.

Contudo, assim que abriu a porta, sua respiração falhou um segundo. Amos Diggory parecia aflito à sua frente, aflito o bastante para não reparar na falta de roupas de James.

— Potter, por acaso você viu a Lily? — sim, a mente dele pensou, mas não disse nada. — Ela disse que dormiria com Marlene, mas não a encontro lá e nem em lugar nenhum.

— Não, eu não a vejo desde ontem — respondeu no tom mais natural que podia. — Espero que consiga encontrá-la.

Diggory assentiu e o deixou para trás. James sentia uma adrenalina estranha no corpo, o que acontecia toda vez que precisava mentir sobre alguma coisa. Naquela vez, em especial, a mentira parecia mais fácil do que nunca de ser descoberta. Afinal, bastava que Amos esticasse o pescoço para ver o amontoado de cabelo ruivo que dormia na cama de outro.

Assim que se virou para Lily, a viu caminhando até seu sutiã, que estivera jogado ali no chão já desde algum tempo. Ela não tinha a melhor das expressões e claramente estava apressada demais em fazer as coisas. Ao invés de questioná-la ou falar alguma coisa, qualquer coisa, James preferiu apenas dedicar toda sua atenção aos movimentos dela.

Lily parecia ter uma leveza em cada ação que tomava, até mesmo quando estava afobada e com pressa. Fosse no ensaio de sua caminhada até o altar, ou na procura por uma peça de roupa que tinha deixado ali na hora de voltar para seu quarto depois de uma noite um tanto quanto memorável.

— O que foi? Ele já sabe, Potter, ele já sabe!

— Quem? Quem sabe o que?

— Amos! Eu o conheço o suficiente para saber que ele não bateria na sua porta para perguntar se você sabe onde eu estou! Pense um pouco, só um pouco — ela dizia, aumentando algumas oitavas da voz a cada palavra. — Preciso voltar para o meu quarto, aquele que foi destinado à noiva e o noivo, muito felizes e fieis um ao outro, e inventar uma desculpa boa o bastante. Alguma sugestão que me faça soar convincente o suficiente para ele não cancelar tudo?

— Primeiro, acalme-se. Não precisa disso tudo — Lily o olhou com ódio estampado nos olhos. — Calma. Você pode dizer que passou a noite em algum outro hotel, ou no seu apartamento. E, claro, você pode dizer a verdade — concluiu, com um sorriso indecente ladeado nos lábios.

De jeito nenhum!

E, pisando firme no chão, ela andou até o lado de fora do quarto. Ainda de pijama e com cara de sono, era bem pouco convincente dizer que havia passado a noite no próprio apartamento. Sem dinheiro algum, ficava difícil de acreditar que ela pudesse ter dormido em algum outro hotel. Talvez, só talvez, não fosse assim tão impossível dizer a verdade.

Não era possível predizer qual seria a reação de Amos ao ouvir o que tinha acontecido, e, bom, cancelar um casamento que aconteceria em poucas horas parecia loucura demais. Até mesmo para ele. Mas, naquela situação em especial, ela achou que seria melhor ocultar a verdade do que correr um risco daquele tamanho.

E foi exatamente isso que ela fez. E ele acreditou — ou fingiu acreditar. Tudo estava como deveria estar.

···

Lily estava sentada, com o rosto para cima e os olhos fechados quando James entrou na sala. Deveria ser mais um momento em que ele tiraria fotos para eternizar o momento em que ela se preparava para, enfim, se casar. Era só isso que deveria acontecer ali, mas, tratando-se deles dois e dos últimos acontecimentos, com certeza seria muito mais do que alguns simples cliques.

Uma das mulheres que a preparava o chamou com um aceno. Sem perder um segundo, James caminhou até lá e demorou alguns milésimos de minuto para associar o que via à sua frente. Cada detalhe do rosto dela, desde a volta no queixo, até os olhos grandes e verdes, estavam bem destacados com a maquiagem. Na boca, um batom vermelho sangue exaltava os lábios cheios.

Lily estava maravilhosa. Tanto quanto podia e deveria estar.

Posicionando a câmera acima do rosto dela, James pediu que ela abrisse os olhos devagar. Cada pequeno movimento feito na simples ação de abrir os olhos foi capturado, e, antes mesmo de ver, ele sabia que tinha ficado ótimo. Não precisava nem checar as fotos.

— Oi, Potter — ela o cumprimentou, muito mais seca do que o esperado.

— Oi, Evans — respondeu, no mesmo tom.

Pelos próximos segundos, enquanto estiveram na presença de outras pessoas, não trocaram palavras nenhumas. Na verdade, se não fosse preciso que James registrasse toda aquela preparação de Lily, talvez eles nem olhassem um para o outro. E, que ficasse claro, que isso tudo partia dela. O que ele fazia era, apenas trata-la da mesma forma que era tratado.

No bolso, tinha o que ele já deveria ter sido entregue — e, embora não tenha faltado oportunidade, faltou momento certo para isso. James não poderia continuar guardando aquilo sem antes mostrar a Lily e dar a ela o poder de decisão sobre o que fazer.

Quando a maquiagem já estava completa e as duas mulheres que a tinham cuidado saíram do quarto, deixando-os sozinhos, ele soube que era naquela hora ou nunca mais.

— Isso é para você — James entregou um papel foto, um pouco danificado por ter sido dobrado ao meio. — Achei que, dessa vez, você fosse gostar de ver isso antes de fazer alguma coisa.

Era uma foto de Lily, no dia anterior, durante o ensaio, no exato momento em que ele tinha pedido que ela sorrisse, e ela sorriu. E, de novo, ela sorriu enquanto via-se ali, eternamente sorrindo.

— Você continua tirando boas fotos minhas.

— É meu trabalho.

— Quer saber? Pode ficar com ela — Lily estendeu a foto para ele, devolvendo-a. — Ficou boa demais, em um dia bom demais e eu não mereço. Se quiser — imitou o tom de voz de James — pode guardá-la, não sei, no bolso. Você pode me guardar no bolso daquele seu jeans rasgado.

— Tem certeza? — ela concordou. — Ficou boa demais para ficar guardada comigo.

— Guarde-me com você.

James apenas sorriu, pegando a foto e guardando-a de volta. Em poucos minutos — e por poucos, significava dez, talvez vinte, no máximo — Lily daria seus últimos passos como uma pessoa solteira. A alguns metros dali, Amos Diggory a esperava em um completo estado de ansiedade, junto dos convidados.

Ela não estava pronta para isso, realmente não estava. Suas mãos tremiam e, por muito pouco, precisou se controlar para não cair em lágrimas antes mesmo do casamento ter início. Como todas as outras vezes na vida em que ficou naquele grau de nervosismo, sentiu que o ar lhe faltava e respirar, de repente, tornou-se a mais difícil tarefa de todas.

Lily assentiu quando James perguntou se estava tudo bem. E estava, de verdade. Aquilo era passageiro e, assim que ela visse toda a cerimônia pronta, passaria a se sentir muito melhor e mais leve. Sempre tinha sido assim, e continuaria sendo da mesma forma pelo resto da vida.

Alguns minutos depois, era a hora. Finalmente, ela pensou. Mesmo se, no dia anterior, não tivesse ensaiado aquela caminhada até o altar, Lily conseguiria tê-la feito com maestria. Diferente do que pensou, seus pés não fraquejaram e não a fizeram querer percorrer outro caminho que não fosse aquele, ou seguir outro destino que não terminasse à frente de seu noivo — e, em muito breve, marido.

Uma das melhores partes da profissão, na visão de James, era poder viver o momento dos outros através da lente da câmera. Ser o responsável por eternizar um acontecimento que, para alguém, significava muito. Era responsabilidade demais; eram muitos fatores que influenciavam se, no final das contas, a foto ficaria boa ou não. Mas, não tinha tido uma única vez em que ele falhara em serviço.

Naquele dia, não seria diferente. Cada olhar emocionado, cada sorriso de canto, cada choro segurado — grande parte, por Marlene — foram registrados.

— Amos Diggory, você aceita Lily Evans como sua legítima esposa? — o padre deu início à melhor parte de toda a cerimônia. — Promete amá-la e respeitá-la, por todos os dias de sua vida, até que a morte os separe?

Sim — ele respondeu com uma certeza absurda na voz. Lily sorriu.

— Lily Evans, você aceita Amos Diggory como seu legítimo esposo? Promete amá-lo e respeitá-lo, por todos os dias de sua vida, até que a morte os separe?

Deveria ser uma resposta fácil, simples e rápida, mas ela hesitou. Todo seu corpo resetou ao ouvir a pergunta, e parecia que, finalmente, tinha se dado conta do que fazia ali. Casando-se. Ela o amava, tinha certeza absoluta e certa disso, mas aquilo talvez não estivesse tão claro em sua mente assim que o padre lhe dirigiu a palavra.

Se aquilo tudo estivesse acontecendo há uma semana, antes de tudo o que tinha feito; antes de beber mais do que devia, de fazer o que não devia, antes de James Potter e cinco anos de um assunto inacabado, talvez Lily respondesse com tanta segurança quanto Amos. Mas, sempre fora uma pessoa curiosa e incerta demais, não poderia viver com a dúvida de saber o que poderia ter sido se tivesse tentado. Merecia dar a si mesma a chance da tentativa de início antes de dar um fim.

Lá no canto, afastado do casal e dos padrinhos, com a câmera na mão e a expectativa estampada no rosto, ele a observava, assim como todos os presentes, enquanto ela permanecia em silêncio. James tinha a respiração pesada, e talvez isso se devesse à ansiedade pela resposta de Lily, o anseio de ouvi-la dizer um sim com tanta segurança quanto seu noivo tinha acabado de dizer.

Mas, ele não ouviria. Nem ele e nem ninguém ali.

— Desculpa, eu... eu não posso — respondeu, chocando cada um que a observava. — Desculpa, Amos, eu te amo, mas não sei se consigo.

— Lily, o que você quer dizer com isso? — ele sabia, mas perguntou apenas para ter certeza de que sua ideia estava certa, mesmo devendo estar certa.

— Eu não posso me casar com você. Sinto muito.

Correndo pelo mesmo caminho por onde entrou, ela se afastou o máximo que pôde de todos que ainda tentavam entender o que tinha acontecido de fato. Num ímpeto de raiva contra si mesma, rasgou o vestido em várias partes, até que se tornasse uma peça curta o bastante para não a atrapalhar a correr mais um pouco.

Longe o bastante da cerimônia — agora arruinada —, Lily sentou-se escorada em uma parede qualquer. Chorava copiosamente, estragando a maquiagem que levara muito tempo até ficar pronta. Abraçou os próprios joelhos e enterrou o rosto entre eles, evitando de ver alguém e de ser vista. Mas, pelo visto, ela não estava sozinha. O pouco do sol que ainda iluminava o fim da tarde foi substituído por uma sombra, e ela implorou que não fosse quem imaginava que era.

— O que foi aquilo? — respirou aliviada ao ouvir a voz de James e não a de Marlene, ela com certeza estava no mais puro estado de nervos e não mediria as palavras. — Por que você esperou chegar até aquela hora e desistir de tudo?

Ao invés de dar alguma resposta racional — que não existia —, Lily se levantou e o beijou, sem culpa alguma. Talvez isso servisse como resposta, mas talvez não. Não se importava que estivesse usando um vestido de noiva todo rasgado ou uma maquiagem inteira borrada, tampouco se importou em pensar no que os outros achariam, não naquele momento.

No momento em que James correspondeu ao beijo, Lily percebeu que, sim, alguns males vinham para o bem.


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Notas finais do capítulo

AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA muita coisa no mesmo capítulo

comentem tudo o que vcs acharam, ok? além de me deixar feliz, posso saber a opinião de vocês sobre a fic e etc.

ps: eu não esqueci os bônus, só to super sem tempo de escrever qualquer coisa (aliás, agora mesmo, já tenho que ir pro work work work)

beijos, até o próximo! ♥



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