There Is a Smile of Love escrita por The Deserters


Capítulo 9
Fire and Silhouettes


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal, boa leitura!



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20 de agosto de 2015

17:01.

 

O quarto estava escuro. As luzes foram apagadas amarguradamente há poucos segundos e, mesmo que alguns feixes de luminosidade escapassem às cortinas, a figura que ali habitava se voltava para a escuridão como se amigas de longa data fossem.

Os cabelos espalhavam-se por toda a cama e o silêncio do cômodo se deixava ser corrompido pelos pensamentos altos da mulher.

Sua mente a traía e por mais que seu corpo gritasse pelo tão almejado descanso, absurdos e mais absurdos percorriam por sua cabeça a imobilizando e a inquietando. Se sentia uma contradição ambulante, incapaz de mover-se, mas agitada demais para dormir.

A vestimenta de mais um dia de trabalho pesava em seu corpo e parecia alheia ao conforto da cama, mas os músculos se negavam a se desvencilhar do tecido. Seus pés se mexiam desconfortavelmente, a fim de expelir as botas que os cobriam, e depois de alguns instantes de luta, enfim conseguira, libertando os dedos e esfregando-os em contato à seda dos lençóis.

Odiava a textura deles, lhe lembrava da pessoa que os havia escolhido – a mesma pessoa que os abandonara, assim como ela.

A respiração se tornava uniforme com o tempo. Talvez, finalmente teria seu merecido descanso no mundo dos sonhos nem que por uma questão de minutos – doces minutos fugindo da realidade que tanto lhe atormentava -, mas este não era o caso.

O som de chaves lhe chamara a atenção e, então, veio o gentil abrir da porta do apartamento. O medo afligia suas veias e corria por todo o seu corpo.

Fechara os olhos com força e se perguntava se estava presa em um de seus piores pesadelos.

Os passos seguiam pelo corredor e iam direção ao quarto. O barulho cessara de repente. A maçaneta girava lentamente e então restara imóvel, o quarto permanecia fechado e a pessoa do outro lado se mantinha inerte. A respiração de ambas se prendia naquela atmosfera ácida. A tensão era gritante e o peso do silêncio encrustava-se no peito de cada uma.

Por fim, os passos se distanciavam, voltavam em direção à sala de estar. Era possível ouvir o som de caixas sendo movidas. A dona do apartamento as havia separado com grande dificuldade nas últimas semanas e as depositara no canto do cômodo, junto à grande estante de livros – esta que um dia formara uma coleção vasta se metade do seu conteúdo não se encontrasse nas ditas caixas.

A porta se fechara.

Sansa finalmente soltara o soluço e o mar de lágrimas corria livremente, colorindo de um tom mais escuro o azul das cobertas.

 

01 de janeiro de 2016

13:00.

 

O sol invadia o cômodo de maneira desaforada, estava irritado com a persistência daqueles que desafiavam a atividade do dia em troca de uma cama desarrumada.

Apesar das cortinas, a luz penetrava o quarto em desafio e ameaçava acordar as duas figuras entrelaçadas num amontoado de cobertas e travesseiros.

A figura a quem pertencia o mar de cabelos ruivos remexia-se inquieta e, quase que instantaneamente, a outra se aproximou e lhe envolvera em um abraço sonolento. “Durma mais um pouco”, o sussurro rouco foi o suficiente para que os músculos da ruiva se enrijecessem e, despertando bruscamente, sentara-se na cama, fitando sua companhia.

“Eu sei que este seria o último lugar em que você desejaria acordar no momento, mas dormimos bem tarde...ou bem cedo a depender da perspectiva, você precisa descansar mais”, a morena, ainda deitada, soprara as palavras calmamente, o rosto sereno e os olhos cansados suplicavam mais uma vez à nortenha.

“...a noite passada...foi um erro...você sabe muito bem disso”. Sansa não podia ignorar o fato de se sentir presa a um clichê – dormira nos braços daquela a quem jurava não mais perdoar. Quão impotente e traída pelo próprio corpo se sentia. O pensamento a fizera se cobrir ainda mais nos lençóis. Sua mente tentava em vão ignorar a morena, decorando os detalhes do quarto em sua volta – era tão impessoal e frio, sem dúvidas projetado ao nível de elegância, beleza e distância emocional de um Tyrell.

“...não considero um erro. Pelo contrário, pela primeira vez em meses consegui dormir...a quem quero enganar, pela primeira vez sinto que posso respirar de novo. Sansa, eu...”

“Pare. ”, a voz cansada da nortenha se sobrepunha firmemente.

“Por quê? ”, a Tyrell suspirava, era palpável sua exaustão.

“Eu não posso deixar que brinque com os meus sentimentos mais do que já permiti”, a intensidade dos orbes azulados desafiava os olhos da morena, esta que mordera a língua para conter suas explicações. “Eu sei que você teve seus motivos para ter feito o que fez e sei também que o cenário atual não mudou, você não pode me dar aquilo de que preciso nem está disposta a isso...E eu também não irei pedir”.

Sansa se levantara da cama, pouco lhe valia se preocupar com sua virtude a esta altura e passara a procurar pelas vestimentas da noite anterior. O único pensamento concreto era de que precisava sair daquele quarto, porém tal pensamento não impedira o rubor em seu rosto ao achar suas roupas íntimas jogadas no tapete da morena.

A tensão mais uma vez se fazia presente dentre as duas - sua densidade corrompia o ar e pesava no peito da ruiva, que se negava a vislumbrar o rosto de sua companhia e esta, por sua vez, parecia imóvel em seu silêncio. Sansa podia sentir o mover das engrenagens na mente da morena e temia o resultado de se prender mais uma vez à teia de manipulações da Tyrell.

Perdida em suas contemplações, a nortenha sentira seu corpo lhe trair mais uma vez ao toque dos braços de Margaery envolvendo sua cintura e soltara um longo suspiro. Pensara em desprender-se do abraço, porém a voz macia em seu ouvido a detivera. “Por favor, me escute. Só por uns poucos segundos mais e te deixarei ir”. A ruiva assentira fracamente com a cabeça e sentira o alívio percorrer no corpo colado ao seu.

“Estou cansada de não ter aquilo que realmente quero, Sansa. Por muito tempo eu pensei que conquistar minhas ambições seria o suficiente...que eu não seria quem sou sem vencer o maldito jogo dos tronos, que eu não seria suficiente se não fosse a mais inteligente no cômodo, se não fosse a única a mudar as regras deste país afogado em corrupção e loucuras arbitrárias, se não fosse alguém renomada dentre todos os outros que governam e arrasam o nome de Westeros. Isso foi até te conhecer...”, o discurso se interrompera com um suspiro pesado, Sansa engolira em seco ao sentir os lábios da morena encontrarem seu ombro. O abraço se intensificara e a ruiva deixou suas mãos encontrarem as daquela que lhe segurava.

“Você me fez acredita que eu poderia ser feliz sem o peso de ser uma Tyrell, sem toda a responsabilidade de continuar um legado. Você me mostrou que eu poderia ter um futuro com você, um futuro com nossas ternas alegrias e eu queria isso...eu estaria mentido se dissesse que não quero isso mais que tudo, mas...as circunstâncias me impedem. Sansa, eu preciso fazer isto. Eu sei muito bem que ressentiria de mim mesma e até mesmo de você se não tentasse seguir com os meus sonhos. E eu sei que a sua felicidade estaria comprometida se você permanecesse ao meu lado...até mesmo a sua segurança. Eu não queria te prender a mim, sabendo que não te daria tudo aquilo que você precisa, Sansa. Não poderia ser egoísta ao ponto de exigir que sua vida ao meu lado fosse um segredo nem poderia suportar se você sofresse qualquer repercussão diante de todos os esquemas de manipulação que existem em meio ao jogo. Você merece muito mais do que ser algo colateral”.

Sansa queria protestar, seu coração gritava o quanto merecia uma escolha, um dizer diante de tudo isso, porém sua razão a contivera, continuava a escutar as palavras pesarosas de sua amante.

“Você não sabe e me dói admitir desta forma, mas eu pensei em renunciar tudo isto por você. Eu estava disposta a esquecer minhas ambições se isso significasse acordar com você todos os dias pelo resto da minha vida, mas as alianças se formaram. Antes que eu pudesse perceber já tinha sido seduzida novamente pelas possibilidades de entrar e sair vitoriosa desta guerra. Ter terminado o nosso relacionamento daquela forma foi o pior erro da minha vida e me assombra a cada noite, a cada momento insone deste então, porém tinha certeza do caminho que tinha seguido, dos sacrifícios que foram necessários”.

“Irônico o quanto você se empenha em se tornar um mártir, Margaery”. A voz de Sansa escapara, seu tom aveludado parecia surpreender a morena. “Você poderia ter me dado a oportunidade de te escolher, eu queria que você tivesse lutado por nós, que não me enxergasse como um sacrifício ou um fardo...nós teríamos trabalhado nisso...juntas”. A ruiva então se virara e encarara a mulher nua em sua frente, os cabelos bagunçados e os olhos marejados.

“Eu tentei fazer o que era melhor para não machucar ainda mais seus sentimentos”, os olhos das duas se encontraram em um choque de arrependimentos e incredulidade.

“E ainda assim, me machucou e marcou meu coração de tal forma que não sei se conseguiria te perdoar. Diga o que quiser, Margaery...Você ainda me trocou pela chance de ter poder”, a raiva ecoava em pequenas ondas no corpo de Sansa e se chocavam à tristeza do ambiente, se dissipava ao sentir a vergonha nos olhos da morena.

“Bem, você não está inteiramente errada, nem inteiramente certa, Sansa”, o pequeno sorriso nos lábios da Tyrell era fraco, a morena quebrara o contato entre elas, vestindo o robe que se encontrava em sua cadeira de estudo. “O poder me seduziu, mas não a ponto de apagar o quanto te amo, nem o quanto me infligiu dor te perder...não, te deixar. Sansa, há muito mais nessa história do que o simples fato do meu querer ascender ao ápice do governo. Há muito mais em jogo e eu não gostaria que você, minha doce e gentil loba se envolvesse com esse covil de cobras”.

“Pare de me subestimar”, os orbes azuis endureciam como cristais de gelo, a frieza das palavras evocara um arrepio na morena que sorriu ainda mais. Era desconcertante. A ruiva se via distraída pela marca registrada de sua companhia.

“Aí que você me subestima, Sansa. Eu sei o quão sagaz você pode ser e as pessoas não te dão crédito suficiente por isso, mas eu queria preservar a sua integridade moral. Nem sempre tomarei ou enfrentarei decisões justas ou corretas e você entraria em conflito quanto a isso. Para destruir cascáveis deitadas às peles de leões devemos nos portar com uma certa postura escorregadia”, o sorriso se alargava e a irritação de Sansa fervilhava.

“Por isso fizera um acordo com Baelish? Está jogando nas duas frentes, ou devo dizer à frente e na retaguarda? ”, a ruiva desdenhava travessamente.

A morena parecia surpresa, porém qualquer que fosse o sinal de desnorteamento havia sido substituído por divertimento, as mãos tocavam a madeira da escrivaninha e a pose fazia com que o decote do robe se tornasse mais visível. O resto do discurso parecia se perder na garganta de Sansa, que se reprendera mentalmente pela distração.

“Muito bem, Sansa. Porém me perdoe se disser que está errada. Meu querido irmão não tem tantas informações quanto gostaria afinal e fiz bem em não as compartilhar”, Margaery se aproximava da ruiva e sussurrara em seu ouvido: “Baelish é apenas um bode expiatório, ele trabalha tanto para Cersei Lannister quanto para mim, por assim dizer, e creio que o desejo mais profundo dele seja sentar no comando de Westeros ao lado de uma bela nortenha. Algo que não permitiria nem sobre meu último suspiro”.

Sansa engolira em seco, a fragrância francesa da morena combinada ao cheiro de sexo embrenhado nela atingia seus sentidos e a confundia, o mais leve toque da outra em sua pele lhe causava arrepios – precisava se controlar, mas sua mente se perdia na mulher.

“Então qual o seu plano? ”, perguntara a nortenha atordoada.

“Oh minha cara, Sansa. Achava que já havia lhe dito, iremos livrar Westeros do câncer Lannisteriano e derrubar o sistema nobre que ainda reina neste país. Não há democracia aonde há a cultura arraigada do peso de um sobrenome”, Margaery falava lentamente.

“Então, você destruirá o bom nome Tyrell no caminho”.

“Esta é a intenção. Um nome deveria ser apenas um nome. Há muito tempo atrás você me disse que se casaria com a Margaery que te ama e não com a Margaery Tyrell. Eu quero que isso aconteça um dia, Sansa”. Margaery dissera firmemente, buscando na ruiva qualquer reação que pudesse confirmar que seus sentimentos eram correspondidos, apesar de tantas desventuras dentre as duas.

“Não pode achar que isto aconteça de fato. Margaery, como espera que eu reconsidere tudo que passamos e pule nos seus braços?”. Sansa encarava a outra de forma exasperada, os braços cruzados e um sorriso debochado adornavam sua figura.

A morena, por sua vez, retribuía o olhar fixo e respondera: “Não espero isso, Sansa. Só quero que me dê a chance de corrigir meus erros e te reconquistar”

“Não sei se posso fazer isso”, a frase ecoava pelo quarto, descontruindo esperanças e traçando contornos de incerteza e irresignação. A ruiva queria que sua fala tivesse sido mais forte, talvez assim, Margaery perceberia o ponto final que havia firmado na relação das duas e desistiria desta bagunça que tanto insistia.

A Tyrell negava com a cabeça e proferira sua resposta, a visão dos olhos avermelhados e a voz trêmula fizeram com que Sansa desviasse o olhar e pusesse as mãos junto ao peito que tremia incontrolavelmente de emoção. “E eu não sei se posso te deixar ir novamente sem lutar. Eu me contradisse tanto por você, Sansa. Eu tentei seguir meus sonhos sem você e eu percebi que realmente não são meus sonhos se você não estiver neles. Me daria a chance de tentar novamente e curar as feridas que te causei? ”

A cabeça da ruiva era um redemoinho de pensamentos incoerentes e incertos, sabia que deveria ser firme e evitar que seu coração ruísse ainda mais. No entanto, a visão de uma Margaery tão atormentada e arrependida a confundia mais ainda.  

“Margaery, eu...”

 

Toc Toc...

Toc Toc Toc...

Toc Toc Toc...

 

O som insistente e forte junto à madeira da porta quebrara a tensão e preenchia ambas de dúvida. Margaery ostentava um semblante irritado à interrupção e soara tão insatisfeita quanto parecia. “Quem é?”

“Margaery, sou eu. Loras...”

À afirmação, as duas se entreolharam e a morena reagiu, arguindo bruscamente: “O que é Loras? Não é um bom momento”.

A resposta viera com o devido impacto, ambas se encontravam paralisadas, o choque e a severidade da informação preenchia o cômodo de um silêncio profundo. O eco se fazia presente na mente de Sansa, o significado da afirmação lhe era desconhecido, mas sabia que as consequências seriam imensuráveis no cenário atual: “O Primeiro Ministro foi assassinado. Creio que não é um bom momento para ninguém.


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Notas finais do capítulo

Oi, obrigada pela leitura, espero que tenha gostado e mal posso esperar pelo seu feedback.

Desculpem mais uma vez o atraso. Eu sei que torturo vocês, desaparecendo, mas meu estudos estão exigindo cada vez mais dedicação e isso infelizmente me tira um pouco da escrita. Espero que compreendam e continuem lendo a história, apesar destas inconstâncias na atualização.

Até mais.



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