There Is a Smile of Love escrita por The Deserters


Capítulo 8
If You Love Me, Don’t Let Go


Notas iniciais do capítulo

Olá, tudo bem?

Sei que as personagens encerraram o capítulo precedente em um momento de tensão e que todos aguardam ansiosamente pelas respostas em relação este final.
Sendo assim, espero que estejam preparados para festas de gala, tensão entre ambiciosos, discursos eloquentes e reencontros nem tão amistosos.

Boa leitura :)



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[Margaery’s POV]

 

31 de dezembro de 2015

23:40. Red Keep, King’s Landing.

 

Os burburinhos ao redor do glamoroso salão se perdiam junto ao eco da orquestra. As notas alegres de Vivaldi preenchiam o ambiente, levando-os a outro século. No entanto, os sorrisos forçados e as risadas escandalosas ajustavam-se à harmonia, tornando a atmosfera adocicadamente venenosa.

A morena controlava a vontade arrebatadora de revirar os olhos a tamanha hipocrisia, porém a substituiu por um sorriso radiante, enquanto circulava pela enorme sala que há eras teria abrigado juramentos de cavaleiros, belas damas da corte, inúmeros membros da realeza e seu respectivo trono – o famoso Trono de Ferro, cuja opulência agora se projetava apenas em contos e livros antigos de história.

Ao pensar nisso, não lhe parecia tão estranha a ideia de ter vestido sua própria armadura a fim de contemplar a guerra, nem conquanto que aprontara suas armas de batalha: suas companheiras “cortesia” e “elegância”, regadas ao toque de um aparente “interesse”.

Margaery caminhava delicadamente ao longo do salão, conversando com todos os dignitários e membros da alta classe de Westeros, bem como os representantes das famílias mais antigas e influentes do continente e além mar.

Era um impressionante baile de máscaras, só que estas se materializavam em sorrisos tortos e galanteios vazios ao invés do próprio objeto. Seria interessante se não fosse o fato de que o jogo sempre se repetia - os nomes nas peças poderiam até mudar, mas os sobrenomes destas se mantinham, a ordem das coisas sempre permanecia no mesmo ritmo tedioso.

E, por mais entediante que o fosse, este era o verdadeiro lar da herdeira dos Tyrell, o brilho em seu olhar ao conectar as desgastadas peças em uma jogada nova, desafiando aquela velha hierarquia do tabuleiro, mostrava que Margaery não seria quem era sem maquinar a ascensão de uma nova era.

Enquanto se infiltrava no covil de víboras que haviam reunido, observava as cortinas do espetáculo se abrindo. Lannisters por toda a parte e seus fiéis seguidores, loucos por riqueza e bajuladores inveterados.

Jaime e seu irmão mais novo, Tyrion, pareciam aproveitar a ausência da bruxa má do oeste que era a própria irmã, mas não sabiam se se divertiam à custa de um Robert Baratheon levemente atordoado, que jurava brigar com seu filho mais novo por ser “mole demais”, ou se explicavam ao Primeiro Ministro que este, em seu estado de senilidade alcóolica, reprendia um primo distante dos dois no lugar de Tommen

Era cômico como os dois irmãos eram tão contrastantes, mas tão próximos. Margaery se contraíra quando há pouco tempo escutara o apelido jocoso aos dois: o belo e a fera.

Do outro lado do salão, Varys e seus pequenos espiões disfarçados em seus delicados trajes vagavam, armazenando as mais importantes informações da noite. Era impressionante o quanto a aranha era violenta em sua forma silenciosa; transitava em meio aos Martells, Freys, Boltons e GreyJoys e, até mesmo, chegara a promover uma conversa peculiar com Stannis Baratheon – quão singular e incomum seria esta troca de palavras.

A morena deslizava pelo cenário, observando tudo com olhos atentos e sorrisos convidativos, enquanto buscava seu noivo. Era curioso como ao mesmo tempo em que articulava sua independência como artista política, o teatro a fincava às aparências e, assim, à falta de uma das peças principais, era seu dever preenchê-la perante a iminência de um espetáculo.

Foi então que seu mundo parara, rodopiava a atenção e distorcia os sentidos de seu corpo.

Os Stark haviam, enfim, feito a sua entrada.

No entanto, não se tratavam do Sr. e Sra. Stark. Afinal, Ned e Caitlyn não puderam comparecer em razão de uma vil enfermidade que assolava o seu filho mais novo. Não, em seu lugar vieram os representantes mais sensatos: seus herdeiros mais próximos – Robb e Sansa Stark; ruivos e bravos como a matriarca do clã, mas destemidos e ponderados como o patriarca regente da família

O coração de Margaery parecia explodir. Faltava apenas 12 minutos para a queima de fogos e a inauguração de um novo ano, mas aquele ruivo lhe turvava a visão e lhe fazia tremer as mãos.

“Por onde andava Renly?”, se perguntara em seu momento de aflição. Precisava de seu porto seguro. Precisava que o jogo continuasse com as peças certas, apesar dos imprevistos e, apesar dos tons avermelhados que lhe invadiam a mente.

Pela primeira vez, Margaery se viu flagrada pela vontade insaciável de ter a garganta acalentada pelo álcool e, assim, se fez satisfeito o instinto em mais uma taça de champanhe. O sabor adocicado lhe percorria a garganta e o amargor de suas memórias lhe trazia à tona o verdadeiro risco desta noite. Não poderia se dar ao luxo de perder o controle.

“Srta. Tyrell, eu lhe aconselharia a resistir à tentação de mais uma taça”, a voz era macia, porém gélida - lhe lembrava o ronronar de um felino traiçoeiro. O conselho fora seguido e a morena depositara a dita taça na bandeja à sua frente, o servente alheio à tensão da dama.

“Sr. Baelish, mas que prazer imensurável em vê-lo novamente”, Margaery se virara para cumprimentar o conselheiro com um largo sorriso, os olhos brilhavam em desafio, ao passo que o homem respondera com uma de suas expressões soturnas.

“O prazer é todo meu srta., mas já lhe disse inúmeras vezes que não precisa de tamanha formalidade...Petyr é o suficiente”, o sorriso deste se alargara ao recitar o próprio nome - quão egocêntricos poderiam ser os mais ambiciosos de Westeros?

“Sr. Baelish, infelizmente creio que esta seja uma formalidade necessária. Afinal, não poderia tratar de um dos conselheiros da capital sem o devido respeito que merece”. Margaery sentia o ego dele se deliciar com suas palavras e o sorriso predatório deste agora vinha acompanhado de um olhar curioso.

“Creio que tenha percebido o fato de que a festa recebera a adição de mais alguns nortenhos...”, o coração da Tyrell se apertava ao tom conspiratório de sua companhia, “...o ponto positivo, é claro, reside na ausência de Eddard, enquanto o mesmo não pode ser dito da querida Caitlyn. No entanto, verdade seja dita, a beleza de sua filha é tão radiante quanto a da mãe em sua juventude”.

Os ouvidos de Margaery pareciam queimar com a afirmação e a raiva explodia em seu âmago, seu coração gritava “Como ousas? ”, mas sua postura permanecia, pois sabia que suas reações estavam sendo observadas nos mais mínimos detalhes pelo homem à sua frente. Ela, então, assentira lentamente, acompanhando o olhar de Petyr, que não se desprendiam da vista mais bela da noite – Sansa Stark em seu vestido de seda cinza. O vestido lhe caia tão bem e a elegância do seu andar a faziam parecer uma dama da realeza perdida de Westeros. Não, a comparação não lhe fazia jus. O olhar feroz da nortenha não lhe identificava mais com uma mera dama impotente, mais lhe parecia coincidir com a personificação de uma rainha intrépida. A Rainha de todo o Norte, nos sonhos de Margaery.

“Realmente, a jovem Srta. Stark é de uma beleza estonteante, sr. Baelish. E vejo, inclusive, que isso em muito lhe agrada”, as palavras saíam ocas de sua boca, ásperas e sem vida, cortantes em suas extremidades e ferozes a seu destinatário.

“Em outras circunstâncias, ela poderia ter sido minha filha”, Petyr falara pesaroso, suas mãos se contorciam a seu lado, mas seu olhar continuava fixo na ruiva. Homens. Ainda que Baelish jurasse que seu coração residia nas mãos de Caitlyn, não hesitava em cobiçar o fantasma de sua juventude, ainda que fosse na forma da filha desta. Desprezível.

“Mas não vim aqui para debatermos sobre os nortistas. Temos uma situação que precisa de cuidados”, o homem agora lhe encarava com uma firmeza que a preocupava. “O seu noivo deveria ter mais cuidado com as ‘conversas’ que mantém com o seu futuro cunhado em espaços públicos. Um dos quartos de um castelo-museu dificilmente é um dos lugares mais adequados para discutir sobre determinadas questões. Principalmente, enquanto as pessoas demandam conhecer mais intimamente o novo conselheiro de King’s Landing”, os lábios desse se torciam ao comentar o fato.

“De fato, é algo de uma inconveniente imprudência. Porém, lhe asseguro que tal conduta não se repetirá de forma alguma e creio que ambos tenham o senso mínimo de discrição para acobertar possíveis ramificações indesejadas”, a morena replicara com um sorriso despreocupado nos lábios. Aparentava não se importar tanto quanto deveria à informação, acontece que as engrenagens na mente da jovem Tyrell já giravam em seu ritmo acelerado. Possibilidades e contingências eram preparadas.

De outro lado, não deixava de ser curioso que, durante sua conversa com o sr. Baelish, pudera sentir que alguém mais no salão a observava criticamente. Margaery sabia de quem se tratava e, por mais que lhe agradaria evitar o confronto a qualquer custo, este era necessário e era importante que se mantivesse focada para tanto. Precisava demonstrar sua competência para lidar reservadamente de seus próprios conflitos, além da desatenção daqueles dois.

“A Srta. confia bastante na pretensão de que os demais tenham a mesma capacidade de contornar seus descuidos como você os cuidaria. O que lhe garantiria de que nem mais uma alma sequer os tenha visto, ouvido ou até mesmo coletado informações de formas mais sutis e vis?”, o tom dele era jocoso e o arquear de suas sobrancelhas pareciam zombar de sua resposta.

“Se esperava atingir meu orgulho, temo que não o afligirá desta forma, sr. Baelish, mas, se tanto se preocupa com a situação, saiba que o assunto estará sob o devido controle. Agradeço sua companhia e mal posso esperar pelo nosso reencontro na reunião desta semana, mas preciso atender outras questões urgentes. Afinal, como dissera: os representantes nortistas fizeram sua entrada e seria injusto não lhes conferir a devida atenção”. Margaery já não podia mais guardar as ondas de irritação que percorriam seu corpo e com as seguintes palavras despediu-se de “Mindinho” - a ironia do apelido lhe parecera mais do que apropriada no momento.

Percorria o salão em seu ritmo obstinado, a ansiedade lhe atacava o estômago e a adrenalina era responsável pela bagunça que atormentava sua cabeça e o batimento incerto de seu coração.

Sentira, então, o toque suave em sua mão e virou-se para a expressão travessa de um jovem engravatado - sem dúvidas um dos “pequeninos” de Varys -, este lhe apontara para a direção da orquestra e, em tão pouco tempo, sumira despretensiosamente no mar de garçons e convidados de gala.

A confusão se instaurara até que a visão de seu noivo prestes a iniciar seu discurso a elucidara do contexto. Margaery agradecia silenciosamente pelo fato de Varys ser um de seus aliados e, de pronto, pôs-se a assumir o lado de Renly, como sua fiel companheira. Por ora, respirava aliviada. Seus demônios seriam confrontados mais tarde.

“Boa noite a todos e bem-vindos à celebração de mais um ano novo”, Renly iniciara a fala com todo o seu carisma, arriscando seu melhor tom aristocrático sem esforço algum. “Gostaria de agradecê-los por terem nos agraciado com a sua presença e espero que o momento que compartilhamos hoje seja um reflexo do que esperaremos no próximo ano: prosperidade, paz e sobretudo união. Como nação, Westeros permanecerá fortalecida e unida, assim como seus vínculos e relações com os demais cantos do globo. E, nesse preciso sentido, venho honrar a minha nomeação num dos cargos de suma importância de nossa ordem. Como conselheiro da capital, juro lutar pelo melhor interesse da comunidade de King’s Landing e de nossa nação, alcançando a máxima competência e eficiência, tal como meus colegas...”.

Enquanto os floreios do jovem Baratheon se dissipavam no ar e encantavam os dignitários presentes, Margaery somente conseguia se concentrar nos olhos azulados que se fixaram em sua figura. A mulher que tanto lhe assombrava os sonhos agora se vingava com o olhar mais gélido que poderia testemunhar. Era desconcertante ver aquele espectro de puro desafio e fúria reinar naqueles orbes que antes lhe acalentaram com ternura e tanto amor.

“...E, por fim, caros amigos. Um feliz e próspero 2016 a todos. Que os deuses nos guiem e que o espírito de todos seja elevado com a consecução de nossos objetivos e sonhos”. O fim do discurso roubara a atenção da morena, que retornara a sua melhor interpretação de olhar amoroso ao homem que sorria vitorioso à multidão. A contagem regressiva já tinha seu início, quando os olhos dos dois se encontraram. Foi, então, que ao observar a alegria do amigo, Margaery notou que se sentia menos sozinha e atormentada.

O espetáculo chegara em seu ápice, a contagem encontrara seu fim, e os gritos e comemorações eram ouvidos por todo o salão, enquanto observavam pelas vidraças a grande queima de fogos – o que lhe lembrara de que, apesar do caráter histórico do castelo, seu projeto de restauração em parceria com a Lannister Ltda. sofrera alterações a fim de modernizá-lo da melhor forma estética possível.

O cenário não poderia ser mais perfeito e Margaery lutava contra a ideia de que as peças da jogada estavam trocadas, mas chegada a hora do ato principal, acenara e Renly encaixara a mão em seu rosto, cobrindo seus lábios com os dele. A salva de palmas que se seguiu, demonstrara o efeito esperado, e os dois se separaram rindo como crianças travessas.

Era uma boa encenação, além do mais, já haviam aperfeiçoado a sua apresentação por várias vezes, mas nada e nenhum desses precedentes poderia preparar a morena para momento em que se deparara com o desprezo da mulher que tanto amava. Sansa Stark a encarava com uma expressão tão sombria e desprovida de empatia que afligia o coração de Margaery perceber quanta dor causara à ruiva. Era difícil assimilar que sua Sansa não estava ali e a culpa cabia somente a si mesma.

“Você deveria ir até lá”, Renly falara ternamente, dando-lhe um de seus sorrisos tentativos de canto de boca. “Pode ser um inferno de conversa, mas vale mais a pena do que se atormentar com os ‘se’ e ‘talvez’ ”. A morena fechara os olhos. Concentrava-se em sua respiração, quando sentira o toque dos lábios dele em sua testa. “Eu realmente acho que a Sansa Stark de hoje deve ser tão fria quanto o inverno do Grande Norte, mas ninguém resiste ao calor de um sorriso Tyrell. Portanto, sorria, minha flor”.

“E você? E o resto da festa? Petyr já se incomodara o suficiente com o fato de você estar perambulando sozinho por aí”, repreendia zombeteiramente a morena.

“Primeiro, eu sou um homem crescido, minha cara noiva. Segundo, a festa só seguirá por algumas rodadas a mais de champanhe, você sabe muito bem disso. E, por último, o Baelish pode procurar usar o Mindinho dele para cutucar outras coisas mais interessantes...sem querer ser rude”, Margaery gargalhava em resposta e encarava incrédula o rapaz.

“Meu irmão realmente é uma péssima influência”, retrucara, arrancando uma gargalhada estrondosa do Baratheon.

“Isso, de fato, ele é. E, apesar de ele estar em algum lugar confraternizando a contragosto com o meu sobrinho querido, creio que ele também concordaria com a afirmação e com o conselho que lhe dei”. A compreensividade no tom de seu querido amigo era um alerta bem-vindo. Não poderia mais adiar o confronto. Desde o telefonema há uma semana, Margaery não conseguia dormir mais que três a quatro horas, atormentada pela voz de Sansa e pelo eco do sinal de chamada terminada.

Decidida, a herdeira dos Tyrell se despedira com um silencioso obrigada e cruzara o enorme cômodo mais uma vez à procura da onda de cabelos ruivos tão conhecidos. Era como um labirinto formado por pessoas, todos concentrados em suas próprias comemorações.

Margaery caminhava em direção ao bar, quando avistara o tom avermelhado desaparecer pelo corredor principal. O salão parecia rodar por alguns segundos, mas se pôs a segui-la. O corredor lhe parecia deserto, porém o toque rubro e o contraste do vestido cinza se apressavam às escadas.

O coração de Margaery valsava em seu peito e o desafio de subir as escadarias em espiral em salto alto de nada lhe importava no momento, rapidamente chegando ao topo destas.

A silhueta da Stark junto ao vitral que compunha o belo conjunto de janelas vitorianas poderia facilmente ser a mais bela visão que a Tyrell tivera em sua vida, o perfil perolado da ruiva à refração da luz dos fogos lhe tirava o fôlego, e o brilho do vestido, salientava o quanto o tecido lhe aderira à pele quase como se fosse parte desta.

“Sansa”, sua voz saíra irreconhecível, mais parecia um sussurro sôfrego e cansado do que um verdadeiro chamado. O desespero e o pesar eram evidentes, porém, cabia saudade imensurável em cada sílaba. “Sansa, eu...”

“Não”

“Sansa, por favor...”

“Não. Você não me deve palavra alguma e eu peço que nem tente”

A ruiva se virava para encará-la e o andar de Margaery se interrompera – a distância entre as duas poderia se encerrar em questões de poucos passos, mas a tensão era insuportável. Sansa a fitara intensamente, parecia cortar o âmago de sua alma à procura de qualquer vínculo que ainda guardasse com a Tyrell com a finalidade obstinada de findá-los.

Para Margaery, poderia muito bem terem se passado séculos nesse momento, tudo transpassava lentamente, seus pensamentos imobilizados e sua respiração se prendia inconscientemente.

A troca de olhares entre as duas mulheres se assimilava a uma batalha velada – amor e ódio confundiam-se em súplicas silenciosas e desdenhos ásperos.

“Sansa, por favor. Eu preciso que me ouça...Eu sinto muito pela forma com que lidei ao terminar o que havia entre nós, mas eu quero que entenda que não era a minha intenção te fazer sofrer...”

A jorrada nervosa de palavras se quebrara com um som seco e o eco eclodia por todo o corredor. Margaery levou a mão à face, tocando a bochecha que agora ardia e avermelhava, seu semblante carregava uma expressão de assombro aos eventos que transcorreram. Sansa, sua querida Sansa, havia lhe dado um tapa; e a ferocidade no rosto da ruiva demonstrava que esta não se sentia arrependida de forma alguma.

“Como ousas? Como ousas dizer que não tinha a intenção de me fazer sofrer? Como ousas sequer falar que sente muito pelo jeito com o qual você terminara as coisas entre nós? ”, a voz da nortenha se elevava a cada questionamento e a fúria em seu olhar estilhaçava Margaery por dentro, o peso em seu peito aumentava absurdamente e o princípio de lágrimas se formava em seu rosto.  “Como disse, Srta. Tyrell...ou melhor, futura sra. Baratheon...você não me deve palavra alguma e eu não pretendo aceitá-las. Não serei mais uma peça em seus jogos”

Sansa fazia sua saída no tom mais amargo, porém no momento em que seus sapatos começaram a ecoar clics e clacs no assoalho, Margaery lhe tomara o braço, apertando firmemente sua mão esquerda na pele clara da ruiva. “Sansa, não vá...não assim, por favor”, a súplica interrompera quase de imediato a jovem Stark, porém seu olhar não ousara se voltar aos da Tyrell e encontraram refúgio em seus próprios sapatos.

As lágrimas corriam livremente pelo rosto de Margaery, ainda sim levou a mão direita cuidadosamente ao rosto da nortista - sentia os músculos desta se endurecerem, mas conseguira trazer o rosto dela em sua direção -, a maciez lhe foi privada por tanto tempo que seu corpo regozijava por encontrar novamente aquele toque.

No entanto, o momento não durara por muito tempo, as defesas da ruiva se estendiam novamente e esta se voltara sem dúvidas para se desvencilhar da morena. Foi, então, que Margaery a prendera em seu corpo e lhe puxara para si. O toque dos seus lábios nos dela foi resistido por poucos segundos, seus corpos convergiam diante de tanta saudade e o beijo rapidamente se escalara. A muralha em volta da ruiva parecia indecisa, Margaery não sabia se estava as ruindo ou as fortalecendo, o fato era que Sansa correspondia vorazmente, tomando o controle.

À medida que o beijo encontrava seu clímax, sentira a umidade regando ambos os rostos. A força do abraço laçava-as em um único arranjo de corpos e com a mesma intensidade com que se iniciara, já encontrava o seu fim. O beijo antes profundo se transformara em leves toques.

Os lábios inchados se partiam e voltavam a se unir em pequenos e rápidos encontros, as mãos de Margaery se firmavam na cintura da ruiva, enquanto esta prendia os dedos em seu cabelo, desfazendo seu penteado. Suas testas se uniam e conseguiam sentir a respiração ofegante uma da outra.

Ainda estavam abraçadas e Margaery esperava pacientemente que a outra se desvencilhasse de seu corpo, tal como pretendia antes, porém se surpreendera quando os braços de Sansa se apertaram ao redor de seu pescoço, os soluços e as lágrimas a faziam tremer. A morena a abraçou mais forte e beijou-lhe os cabelos.

Pela janela, os fogos se dissipavam, mas a luz do luar se refletia no abraço das duas. Longe da multidão, o silêncio rasgava-se pelos burburinhos que cessavam ao salão e à música – “Come, Gentle Night” de Abel Korzeniwoski preenchia o ar e encerrava a noite -, quão conveniente o ano se iniciar com as notas de um romance desesperado e tão trágico.

 

25 de dezembro de 2015

01:30. Tyrell’s Manor, Highgarden.

 

“Loras?”

“...”

“Desculpa pela hora tão tardia, mas a nossa conversa de hoje me atormentou a noite inteira.”

“...”

“Loras? Okay...eu acho que não a conseguiria perdoar...no momento, mas a falta que sinto dela, me faz pensar que talvez um dia isso seja possível. Eu entendo mais claramente os motivos...não concordo com eles...Deuses, como não concordo com eles e como odeio o fato de não me ser oferecida uma escolha, Margaery me privara de ponderar sobre o nosso futuro, como se coubesse apenas a ela decidir. E eu sinto raiva o tempo todo, isso me machuca enormemente, mas eu já desisti da ideia de não a amar. Acho que é impossível. Loras, você está me escutando?”

“...”

“Sinto muito por te incomodar, eu sei que é tarde. Eu só queria conversar com alguém e meus irmãos não seriam a melhor opção para isso”

“Sansa...”

“Margaery????”

“...”

“...”

“Boa noite, Sansa”

 

Chamada Terminada

01:37

 

“Eu sinto sua falta”, o sussurro se perdera na noite, enquanto Margaery deletava o histórico da chamada e subia para o seu quarto, tinha certeza de que Sansa lhe odiava um pouco mais agora, mas não sabia o que dizer, parecia que todas as palavras e poemas de redenção e perdão se perdiam em seu interior. Esta seria mais uma batalha perdida, mas o tabuleiro da morena continuava intacto, a guerra deveria, sem sombra de dúvidas, anunciá-la vencedora e para tanto, sacrifícios eram necessários e arrependimentos...Bem, aprenderia a superá-los...um dia.


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Notas finais do capítulo

Olá (de novo), pessoal.

Por onde começar a explicar a minha ausência de mais de dois meses?
Bem, primeiramente eu estive viajando muito nos últimos meses e realmente foi difícil manter qualquer rotina de escrita nesse meio tempo. Portanto, eu peço mil desculpas por deixá-los esperando por tanto tempo. Nem posso expressar em palavras o quanto sou grata pela paciência de vocês leitores.
Em compensação, coisas incríveis aconteceram, inclusive eu fiz meu primeiro mochilão em outro país e conheci a Natalie Dormer na Comic Con Experience.

— Momento fangirl -
MEU DEUS, ELA É INCRÍVEL. PENSEM NUMA MULHER LINDA, SUPER CARISMÁTICA, FINA E EDUCADA. EU MORRI DE AMORES *-*
— Fim do momento, por enquanto, pois ainda não superei a beleza desta mulher -

Enfim, espero que tenham gostado do capítulo e que perdoem a demora.
Por último, mas de uma importância tremenda, obrigada à minha Beta - esta pessoa maravilhosa que revisa minha história com tanta rapidez e me perturba toda semana pra que eu não esqueça de dar andamento ao meu lado literário.



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