There Is a Smile of Love escrita por The Deserters


Capítulo 7
Danse Macabre (pt. 2)


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoal!
A história finalmente chegou a um estágio, em que o ponto de vista da Margaery não poderia ser dispensado. Espero que este capítulo seja um pouco esclarecedor em relação a algumas dúvidas que venho nutrindo no enredo e que tenham gostado da introdução do Renly.

Boa leitura e até breve.

P.s.: Muito obrigada à minha Beta (Você é um anjo ao revisar tudo em plena semana de provas)



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[Margaery’s POV]

 

20 de novembro de 2015

05:40. “Apartamento de Margaery e Renly”, King’s Landing.

 

Amanhecia. Os primeiros raios de sol coloriam a vista da varanda. Observava o reflexo nas vidraças dos prédios. O movimento da cidade – que nunca acabara -, já mostrava sinais de que se intensificaria. Pessoas acordavam em seus apartamentos, alguns mal-humorados, outros felizes e os demais indiferentes, todos desejando mais algumas horas de sono, amor, sexo, intimidade, descanso. Todos desejavam alguma coisa.

Margaery desejava que sua companhia partisse.

Sentia o vento frio de inverno tocar-lhe o rosto e a levar para longe, para seu antigo apartamento em Highgarden, para as lembranças de risadas travessas, café e tortas de limão.

Levou a caneca à boca, o chá a queimara e o sabor de rosas parecia amargurar o céu de sua boca. O estômago protestava com ansiedade.

Como não queria estar ali.

Mirou pelas cortinas do quarto e seguiu o contorno do corpo que ocupava sua cama, os cabelos ruivos espalhados pela coberta não tinham o tom correto, eram mais escuros; as sardas que cobriam o ombro à mostra não eram suficientes e a pele clara demais. Não tinha dúvidas de que a mulher era de uma beleza fenomenal, mas nada daquilo lhe importava. Tudo estava fora do lugar.

E, então, imersa nos seus pensamentos, mal percebera o movimento no quarto, a ruiva se espreguiçara pela cama e lhe recebia com um sorriso zombeteiro.

Mais um gole amargo e o fel cobria sua boca.

“Bom dia”, dissera a moça enrolada em suas cobertas. “Você precisa que eu saia agora? ”

“Sim. Tenho reuniões em poucas horas”, Margaery voltara seus olhos para a varanda, sentia o toque de desgosto percorrer sua pele. Isto está errado. Tão errado. “Loras entrará em contato quanto às implicações do nosso encontro de ontem, porém creio que as regras do contrato de privacidade sejam claras o suficiente ”.

“Eu conheço o procedimento, srta. Tyrell. Meus serviços são altamente recomendados por preservar a integridade e privacidade dos clientes”. A resposta lhe viera acompanhada de uma ironia adocicada. Margaery odiava as insinuações que preenchiam o ar, porém nada comentou. Ponderava sobre os compromissos do dia, enquanto a acompanhava de soslaio: a mulher se levantara rapidamente, sem mostrar qualquer embaraço com sua nudez enquanto vestia as roupas da noite anterior.

A morena pôs-se a caminhar em direção à porta do quarto, tinha a intenção de guiar sua companhia até a saída, mas esta a interrompeu. “Foi um prazer conhecê-la, srta. Tyrell. No entanto, creio que posso me retirar sozinha, afinal não seria do seu melhor interesse ser vista por olhos curiosos ao me acompanhar à saída a esta hora da manhã”, a mulher sussurrou em seu ouvido e ao obter um aceno em resposta, se despediu com uma piscadela.

Margaery mal prestara atenção, seu foco estava disperso. Suspirava ao olhar o horário em seu celular. 06:15. Ouviu o clique na porta que sinaliza o final definitivo da transação.

A morena fechou os olhos e se encostou no batente da porta de seu quarto, respirou profundamente por alguns minutos e se dirigiu ao aposento ao lado. Sentia o ar frio tocar-lhe as pernas aonde o robe deixara de cobri-las, em contrapartida, sua mente aceitava o frio contra sua pele, agarrando-se a ele.

Bateu levemente à porta e esperou pelo sinal do outro lado do quarto. Escutara sussurros, seguidos de um fraco “Pode entrar”.

Como esperava, seu irmão ainda estava embrulhado nas cobertas, a cabeça apoiada em seu braço direito, enquanto fitara a sua entrada. “Bom dia, querida irmã. Preciso fazer controle de danos nessa bela manhã de sábado?”, a alfinetada deveria ter sido interpretada como uma mera brincadeira, mas por algum motivo a afetara, seu peito apertava.

Ela seguiu à cama e sentou-se ao lado dele, suas mãos imediatamente passaram a mexer naqueles cachos dourados. Seu irmão franziu a testa e a observava apreensivo, o sorriso que tinha no rosto desaparecia ao notar o semblante dela. “O que foi? Aconteceu alguma coisa?”.

Arqueara as sobrancelhas e encarou o irmão. “Nada. Só o de sempre, na verdade”. Loras não parecia aceitar a resposta e se pôs a sentar, vestindo a camisa que recolhera da cômoda ao lado da cama. “Marg...no que você está pensando?”.

“ ‘Aqueles que reprimem o desejo assim o fazem porque o seu desejo é fraco o suficiente para ser reprimido’, ela costumava dizer isto para impedir que eu me levantasse da cama cedo demais. É de William Blake, seu favorito. Mas eu discordo do sr. Blake, a repressão do seu próprio desejo não significa que este seja fraco, tão somente de que sua vontade e seu desejo colidem, sendo irreconciliáveis. E, quando ambos entram em conflito, gera o sofrimento inerente à frustação de não poder realizar os dois simultaneamente”, Margaery desviava o olhar do irmão e prestava atenção do som de água correndo. O chuveiro do banheiro estava ligado, se perguntava por quanto tempo Renly se esconderia ali - eles deveriam conversar sobre os planos antes da partida dele ao aeroporto e, em breve, teria que se arrumar para as reuniões com os comitês beneficentes.

“ O perfil da...sua acompanhante me chamou atenção por parecer com ela. Sei que o tom do ruivo era bem mais escuro do que os cabelos dela, mas achei que apreciaria”, Margaery reconhecia a insinceridade nele, sabia muito bem que seu irmão a amava, mas era inevitável que ressentisse dela por conta das decisões que havia tomado.

Ela sabia que a escolha fora proposital para magoá-la, Loras era como os dizeres de William Blake, achava que as linhas brancas e pretas não se cruzavam na vida, os tons acinzentados eram ignorados em favor de “verdades” e parâmetros absolutos. Seu próprio irmão era uma contradição que se negava a aceitar contradições. Ele e Sansa almejavam o simples diante da impossibilidade dos paradoxos da realidade.

A água parara de correr. O chuveiro havia sido desligado. A morena retirara as mãos do cabelo do rapaz e o olhou com pesar, deu-lhe um beijo no rosto e levantou-se da cama. Renly saia do banheiro com os cabelos ainda úmidos, a barba ainda por fazer e a camisa desabotoada. Margaery seguiu em sua direção e tomou os botões em seus dedos, ajudando-o.

O olhar do outro Tyrell fervia em sua nuca. Sentia que os rapazes trocavam olhares severos entre si e a morena fingiu estar alheia ao fato. Puxou a gravata das mãos de Renly e realizou o nó em seu pescoço – não tão apertado, mas firme e alinhado. “Essa será a sua última viagem como líder da delegação em Dorne. Animado?”

“De todos os adjetivos, animado seria quase um eufemismo, minha doce noiva”, Renly sorria galante ao tomar sua mão e beijar seus dedos. Os dois riam travessamente como duas crianças com planos para a noite dos dias das bruxas. Planejavam contra todas as outras crianças pela posse do maior prêmio de todos.

“Vocês dois me deixam enojado”, a voz de Loras, de fato, continha um quê de repulsa. Ambos reviraram os olhos e encararam o jovem Tyrell, que ainda se encontrava em seu refúgio na cama desarrumada.

“Você fala isso por ciúmes, querido. Só não sei de qual de nós dois você sente mais”, o Baratheon continha um brilho nos olhos que ao mesmo tempo desafiava e tranquilizava o outro. Margaery os invejava. Sob sua perspectiva, vislumbrava o casal como se fossem parte de um globo de neve, almejava o que tinham, mas se mantinha distante por uma redoma de vidro.

A morena mexia nervosamente no anel em sua mão esquerda, uma faixa dourada singela, adornada por safiras e diamantes. Renly o havia escolhido por combinar com seus olhos, porém Margaery não poderia deixar de pensar em outro anel não tão similar a este, mas do mesmo tom azulado. A faixa de ouro branco 18k era marcada por um floreio de água marinha e, por dentro desta, encontrava-se gravado os dizeres: “Aqui as rosas repousam junto aos lobos até seu terno fim”.

Em outro contexto, em outra época ou em outro universo, talvez aquele anel tivesse conhecido a mão a quem pertencia. Margaery se repreendia por ter sonhado tanto com a possibilidade, alimentando a ilusão de que poderia ter seu final feliz como nos contos de fadas com os quais crescera. Acontece que a realidade exige sacrifícios em nome da ambição.

“Marg...?”

“Margaery, você está bem?”

As vozes dos dois rapazes se atropelavam, chamando a sua atenção, percebia que a sua visão embaçava, mal notara as lágrimas se formando em seu rosto. A surpresa também contagiava a expressão deles.

Mordeu o lábio trêmulo e tentou conter as rajadas de emoção que percorriam violentamente por seu corpo. Limpou as lágrimas do rosto e sorriu tremulamente aos dois. Era tudo tão errado.

“Estou bem. Vocês sabem o quanto manhãs de inverno me deixam emotiva”, respondeu evasivamente.

Não permitiria que as rachaduras em sua compostura se aprofundassem mais, porém sentia o aperto e os cortes por dentro. A sensação não a abandonava desde aquele dia. Quanta falta lhe fazia o cheiro de tortas de limão, café e livros.

“Estou realmente bem, rapazes”, assegurou mais uma vez ao se deparar com a desconfiança de seus dois nobres cavaleiros.

Podia negar, podia atuar e fingir que não ao mundo, mas sabia que sentia falta daquela que mais lhe importava.

Sentia falta de Sansa Stark.

 

25 de dezembro de 2016

20:00. Tyrell’s Manor, Highgarden.

 

“Você está pronta?”

Margaery virou-se em direção à porta. Renly segurava o paletó em uma das mãos, enquanto tentava apertar a gravata com a outra. A morena o socorreu, levantando-se de sua penteadeira para arrumar o laço, pôs a gravata por baixo do colete que o Baratheon vestia e o esperou colocar a peça final do terno.

Era um hábito que haviam criado nos últimos meses, por mais que o rapaz pudesse o fazê-lo de olhos fechados, sempre deixara o nó de gravata para Margaery. A domesticidade da ação lhe lembrava o pouco da infância dele que lhe era querida, antes do divórcio em razão da infidelidade recorrente do pai e dos problemas de bebida da mãe.

Loras nunca entendera o porquê de seu namorado nunca ter lhe feito o pedido e, às vezes, Margaery gostaria de lembra-lo de que ele mesmo não sabia fazê-lo sem ao menos umas poucas horas de frente ao espelho, mas se continha. A birra de seu irmão era motivada por algo que não mudaria pelo simples fato de laçar ou não o nó correto em uma gravata, quando seu amado só estaria ao lado dele às escondidas.

“Os convidados já chegaram. Stannis e sua família não puderam comparecer, pois o jantar coincide com o culto ao Senhor da Luz. Você acredita nisso? Stannis é um homem convertido e isso nada tem a ver com o fato de seu amante ser uma das embaixadoras da dita divindade”. Era engraçado ouvir ironia na fala de Renly, o rapaz sempre se portava com tanta nobreza em sua conduta que mais lhe parecia uma tentativa malsucedida de sátira do que um comentário desdenhoso.

“Bem, Stannis nunca foi tão paciente com as amabilidades necessárias nesse tipo de ocasião. Aposto que Robert só compareceu por pressão de sua adorável esposa. Seria estranho à mídia, distanciamento entre vocês dois nos feriados, considerando a sua indicação e as críticas ao governo dele”, Margaery sorria amavelmente, apesar de sentir o gosto de bile ao falar de Cersei Lannister, mal podia esperar pelas trocas de farpas durante a refeição. “Além do mais, o que seria melhor do que alimentar a semente plantada pelo sr. Baelish: Tyrells, Baratheons e Lannisters, a aliança das três casas mais poderosas de Westeros”.

“Tens razão. O que não daria para não ter que lidar com as inconveniências que estão por vir, já até prevejo como as coisas correrão esta noite”, suspirava. Renly parecia abatido – não era perceptível a quem não estivesse procurando atentamente, mas os sinais estavam lá. A morena levou as mãos aos ombros dele e os massageou em círculos. “Loras vem te preocupando? ”

“Ele se escondeu o dia inteiro e a cada dia percebo que ele se distancia mais e mais de mim. A situação não é ideal, mas já conversamos tantas vezes e ele assentira a tudo; entendo o ponto de vista dele, mas cansei de ser tratado como vilão, como se não me importasse com ele. Podemos fazer coisa grandiosas. Você e eu, destruiremos dinastias e reformaremos este país. Ele escolheu ficar ao meu...ao nosso lado, ele sabia das implicações...”. O jovem Baratheon sustentava seu olhar e a morena entendia a angústia de seu parceiro, sua mão esquerda percorreu o braço dele e entrelaçou seus dedos.

“Sacrifícios são necessários. O fato de sabermos e aceitarmos isso não significa que as coisas sejam mais fáceis. Ele tem que conviver com a escolha das melhores perspectivas de nos fazer o casal mais carismático e influente neste circo. Alguns momentos podem pesar mais do que outros. Dê um tempo a ele. Loras nunca te abandonaria e nem ousaria fazer isto comigo”, o discurso surtira seu efeito, e o sorriso de Margaery fora retribuído.

Ao perceber o tardar do horário, os dois verificaram um ao outro clinicamente, buscando qualquer imperfeição. Uma vez satisfeitos com o que encontraram, sorriram conspirativamente e se dirigiram à sua sina.

20:40

O jantar se passava de forma desastrosa e Margaery não poderia estar mais furiosa. O motivo de sua frustração e irritação sentava ao seu lado e respirava tanta petulância quanto o vinho que consumia. A mão de Renly apertava a sua por debaixo da mesa, porém pouco fazia para acalmá-la.

Cersei Lannister - ou, melhor dizendo, Baratheon -, era uma mulher tão intragável que a ideia de solver arsênico se tornava menos dolorosa do que manter o jogo de ironias da mulher durante toda a noite.

Seria esta a sexta ou sétima vez que a loira havia insinuado sua falta de experiência em campanhas políticas em uma única conversação? E a cada uma das insinuações, a morena respondia diplomaticamente alegando, sempre com um adocicado sorriso, o seu currículo acadêmico. Parecia que a sra. Baratheon esquecia das qualificações de Margaery como uma das especialistas mais renomadas em ciências políticas em Westeros, apesar de sua juventude.

Havia trabalhado por três anos como professora titular da Univeridade de Highgarden, ao lado de nada menos do que Tywin e Tyrion Lannister – respectivamente, pai e irmão da sra. Baratheon; os quais debatiam animadamente as relações econômicas do país com sua avó e Robert, à mesa, sem qualquer preocupação ao embate que ocorria entre as duas.

Enquanto Renly interferia livremente na conversa principal, provendo observações pontuais e relevantes; a cada contribuição de Margaery, a sra. Baratheon se punha a contornar suas afirmações com perguntas irrelevantes.

Até Loras, que mantinha uma conversa pouco entusiasmada com os sobrinhos de seu amado, lutava para controlar a fúria em seu semblante em todo instante que a mulher falava.

A rotina se estendeu por toda uma hora até a chegada de Jaime Lannister, o qual encantadoramente apaziguara a amargura de sua irmã pelas poucas horas que restariam nesta tortura.

A dinâmica entre os dois irmãos era tão curiosa que passara a intrigar Margaery, em todo toque acidental, a calidez da voz que era destinada um ao outro, a intensidade na troca de olhares. Lembrara dos rumores que Peter Baelish a teria contado sobre os gêmeos Lannister e a natureza de seu relacionamento próximo e tentou disfarçar o sorriso diabólico ao contemplar os sinais da veracidade de tais boatos.

No entanto, sua atenção fora tomada pela tensão que atingia o atual debate. As conversas paralelas se silenciavam e a atenção de todos voltara-se ao duende. Margaery sentia aperto de seu noivo se intensificar em sua mão e o seu coração acelerar, - Cersei e Jaime Lannister esquecidos ao som de uma única palavra.

“...Starks. Os nortenhos demonstram grande apoio à possibilidade de Ned assumir o governo de Winterfell, afinal ele tem sido um dos Conselheiros mais bem votados do Norte”, comentara Tyrion, enquanto contemplava sua taça de vinho.

“Ned Stark, um bom filho da mãe aquele lá”, dizia Robert sorridente, as bochechas ruborizadas já demonstravam que tinha atingido seu limite, mas parecia pouco se importar e continuou o discurso embolado, a língua presa tornava a pronúncia vagarosa. “Não acharia...homem mais honrado...nem um companheiro de bebidas melhor”.

“Resta saber se a ascensão dos Starks será certa ou se os Boltons tomarão a frente na disputa”, dizia Olenna pensativa, os olhos pareciam penetrar a carne de Margaery, vasculhando qualquer reação ao nome da família à qual seu coração tanto se prendia. A morena não se permitiu exibir qualquer que fosse expressão que não fosse a de curiosidade. Sua avó assentia satisfeita e virou para Tywin: “De qualquer forma, as alianças podem ser arranjadas em qualquer dos cenários”.

“Os Boltons nos devem favores. Já os Starks são cães leais. Se seus ideais coincidirem com os nossos, podem ser utilizados. O grande problema será se Ned Stark não sentir que sua moral resta junto ao lado que jura lealdade no momento”, respondera o Lannister num tom gélido e calculista. Tywin era um veterano de guerra, assim como Robert e Ned Stark, e tal com os dois, havia engajado no palco político e sucedido por muito tempo.

À época, ele e sua avó eram rivais, lutavam com garras e dentes pelo controle das peças mais importantes do jogo. Encerrara sua carreira ao perder de forma majestosa para Olenna Tyrell em busca pelo cargo de Primeiro Ministro. A matriarca da família das rosas se manteve por dois mandatos consecutivos com o maior índice de aprovação do Conselho da Capital e da população, enquanto o outro voltou-se aos empreendimentos empresariais da família e, ao passar a direção ao seu filho mais velho, seguiu à docência.

Era curioso como Tywin e sua avó conseguiram formar tal aliança e mais curioso ainda que permanecessem sem qualquer sinal de aversão um pelo outro, apesar de preservada a velha rivalidade.

A jovem Tyrell perguntava-se, caso a ocasião assim pedisse, se conseguiria conviver e compartilhar suas artimanhas com alguém como Cersei Lannister em busca de uma maior probabilidade de êxito. Margaery era ambiciosa, porém sua paciência não se estendia tão bem quanto sua sagacidade e inteligência. Este, talvez, teria sido o principal motivo pelo qual sua aliança com Renly funcionava tão bem, ambos compreendiam seus objetivos e o que seria necessário para atingi-los – não eram santos, afinal -, mas não se envolveriam com víboras sem qualquer tipo de reserva.

Seus pensamentos se dissipavam conforme o enfoque acerca dos Starks cedia espaço às especulações sobre o novo torneio esportivo sediado pela capital e os burburinhos ao redor da mesa retornaram como se não houvessem sofrido qualquer tipo de interrupção. O ar continuava tenso e as gafes de Robert não contribuíam para a situação.

Enfim, a sobremesa fora servida e Renly suspirava aliviado a seu lado, mal podia esperar para o término deste espetáculo de inconveniências. E, então, com o último brinde da noite, seguidos dos enfadonhos agradecimentos de sua avó, o show terminara, os jogadores voltavam a seus lugares prontos para derrubarem uns aos outros, enquanto trocavam despedidas e falsas cortesias.

Cersei parecia pouco se importar com o estado deplorável do marido, que tivera que ser carregado até o carro por Jaime e Loras; tampouco demonstrava qualquer reação ao comportamento mesquinho de seu primogênito que, por sua vez, atormentava seus irmãos com comentários rudes e cruéis. De mesmo modo, Tywin Lannister seguia sua retirada na mais pura desafeição aos seus familiares, sequer se despedindo de seu filho mais novo. Por fim, restara a Tyrion desculpar-se pelos inconvenientes destes e à Margaery destinou seus mais sinceros votos de felicidades ao noivado.

A morena identificara nas palavras do duende certa ternura e desapontamento que não lhe deixaram surpresa. Tyrion era um dos amigos mais estimados de Sansa em Highgarden, este que recebera a nortenha como um mentor. Não era algo inconcebível que o mais perspicaz dos Lannisters soubesse da natureza do relacionamento das duas. Margaery não atribuía o fato da descoberta de forma alguma à possibilidade de Sansa o ter contado - a palavra de um Stark valia até mais do que o juramento de cavaleiros a seus reis; no entanto, se questionava quanto ao poder de observação do homem. Em qualquer hipótese, reconhecia na postura dele que o segredo de ambas permaneceria intacto, não pela reputação dela, mas sim pela estima que o anão nutria pela ruiva.

Com a partida dos convidados, Olenna se despediu dos netos, dirigindo-se aos seus aposentos, enquanto os Tyrells restantes, e Renly, se acomodavam na pomposa sala de estar.

“É impressionante como cada cômodo desta bendita mansão cheira a rosas”, Loras dissera ao sentar-se no braço da poltrona em que se encontrava o outro rapaz. Renly gargalhava, permitindo que seu namorado lhe alisasse os cabelos e respondera zombeteiramente: “Meu amor, sinto lhe informar, mas vocês todos cheiram a rosas. Acho que é por causa disso que os Lannisters desprezam tanto Highgarden, o aroma de dinheiro e propina se perdem nestes vastos campos floridos”.

“Vejo que o vinho realmente afetou mais a você, meu querido noivo, do que o meu adorável irmão. Quem dera Garlas e Willas estivessem aqui para contemplar as particularidades das caretas que Loras fez durante o jantar. Devo admitir, irmão. Nunca vi alguém tão paciente ao conversar com o Joffrey”. O divertimento da morena era evidente, seus olhos brilhavam sob a perspectiva de desafiar o mal humor de seu irmão, odiava vê-lo tão taciturno.

“Você quer dizer que nunca viu alguém com bom senso o suficiente para não irritar aquele maldito projeto de psicopata. Vocês com certeza não o ouviram, mas ele não me deixou em paz até que eu concordasse em ajuda-lo com a esgrima. Só os Deuses para me livrar deste martírio”. Os olhos do cavaleiro das rosas pareciam queimar a pele de Renly em compensação pelo tormento que seu sobrinho lhe tinha causado; porém, este se limitou a gargalhar, abraçando a cintura do moço indignado. O gesto, Margaery observara, tinha sido o suficiente para aliviar a tensão de seu irmão e abrir um tímido sorriso em seu rosto.

O relógio marcava 01:30 e, embora a conversa dos três tenha sido mais prazerosa do que os eventos do dia que já se passara, se demonstrava ser um grande esforço a eles e o embate contra o cansaço já anunciava seu vencedor. Os rapazes despediram-se dela, cada qual com um leve beijo em seus cabelos castanhos, e partiram para o lance de escadas, Renly apoiado no ombro de Loras.

Margaery lia com olhos cansados as últimas notificações em seu celular e bebericava o vinho que restava de sua taça, quando o vibrar na mesa de centro chamou-lhe a atenção. A tela do celular de Loras brilhava e o aparelho dançava de encontro à madeira da mesinha.

A curiosidade lhe despertara e quando se deu conta, já alcançara o aparelho e contemplava atender a ligação. À primeira vista do contato, seu peito parecia se comprimir e respirar se tonara uma tarefa incrivelmente difícil, era como se o choque extinguisse os comandos de sensatez em sua mente e a morena fosse atingida por uma gélida neblina, sentia os arrepios correrem sua pele e o coração acelerar. Seus pensamentos se atropelavam e a ansiedade comprometia a estabilidade do seu aperto ao objeto.

 

Recebendo chamada.

Sansa Stark.

 

 

Aceitar.


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